domingo, 29 de setembro de 2013

China inaugura primeira zona franca como laboratório de reformas


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI



A China inaugurou ontem em Xangai a primeira zona franca do país, projetada como um laboratório das reformas que o governo promete para reduzir a presença do Estado na economia e torná-la mais atraente aos investidores estrangeiros. 

Além da livre conversão do yuan, a moeda chinesa, a zona franca de Xangai vai testar a adoção de taxas de juros determinadas pelo mercado e não pelo Banco do Povo da China (PBOC, o banco central do país).
O plano inclui o relaxamento de restrições ao investimento estrangeiro e ao fluxo de capitais. Será reduzido o controle sobre 18 áreas do setor de serviços, de transações financeiras ao comércio marítimo.

Outros setores até agora sob forte restrição, em que empresas estrangeiras poderão operar na nova zona franca de forma experimental, são educação, saúde, assessoria legal e engenharia. 

A expansão do setor de serviços é uma das prioridades do projeto de reformas do governo chinês, que busca aumentar o consumo nos próximos anos para depender menos de investimentos e da indústria exportadora. 

Na cerimônia de abertura, 36 empresas ganharam licença para operar na nova zona franca, que cobre uma área de 28,78 km2 na periferia de Xangai. Por ora, só dois bancos estrangeiros terão operações na área, Citigroup e DBS, de Cingapura. 

Em um sinal da expectativa gerada pela nova zona franca, a mídia estatal chegou a compará-la com a primeira Zona Econômica Especial de Shenzhen, criada em 1980, que tornou-se um símbolo da pioneira abertura econômica inaugurada pelo então presidente, Deng Xiaoping.

China inaugura primeira zona franca

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Carlos Barria/Reuters
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Operário trabalha na região da nova zona franca chinesa, inaugurada em Xangai
 
Considerado o pai do novo projeto de reformas, o premiê Li Keqiang era esperado na cerimônia de abertura, mas não apareceu. Sua ausência foi vista por observadores como um sinal de que o governo chinês quer baixar as expectativas em relação à zona franca. 

Analistas também manifestam cautela sobre os resultados a curto prazo. Numa sondagem realizada pela agência Bloomberg, 16 entre os 17 analistas consultados disseram que a zona franca terá impacto mínimo no crescimento econômico da China nos próximos anos. 

Inicialmente a nova zona franca não deverá ter impacto significativo para empresas brasileiras, afirmaram especialistas consultados pela Folha, que pediram para não ser identificados. 

Empresas financeiras brasileiras não costumam estar na vanguarda desse tipo de experimento, afirmam.
Como exemplo de oportunidade pouco explorada pelos brasileiros, um dos analistas citou a internacionalização do yuan iniciada em 2009, e a criação de serviços financeiros na moeda chinesa, como emissão de títulos. 

A Folha apurou que o Banco do Brasil foi convidado a operar na zona franca e está estudando a possibilidade. 

Presente na China com um escritório de representação desde 2010, o BB está com quase tudo pronto para abrir uma agência em Xangai, a primeira de um banco brasileiro no país. Isso deve ocorrer em janeiro.
Entre as informações que circularam no últimos mês esteve a de que a zona franca de Xangai passaria a centralizar o comércio de alimentos, inclusive tendo papel de formação de preços. 

Se confirmado, esse protagonismo poderia ter impacto na exportação de commodities agrícolas do Brasil.
Questionado pela Folha na entrevista de apresentação da zona franca, Yin Zong Hua, chefe de relações internacionais do ministério do Comércio, deu uma resposta vaga: "A meta é promover o comércio como um todo".

Sistema tributário brasileiro já foi mais pitoresco; conheça alguns casos curiosos


RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO



Embora sempre tenha sido complexo e improvisado, o sistema tributário brasileiro já foi mais pitoresco.
Se hoje há profusão de siglas --do ICMS ao impronunciável e desconhecido AFRMM (Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante)--, o passado brindava o brasileiros com tributos com nomes como "Imposição sobre as Bestas que vêm do Sul" ou "Imposto dos Solteiros". 

No caso das bestas, o imposto é do século 19 e bem representativo da tributação no país entre a descoberta e o fim da República Velha: arbitrária e com ênfase no consumo e circulação de mercadorias.
Na época, bastava uma carta para criar um imposto. Foi assim, em julho de 1810, que o príncipe regente dom João 6º escreveu ao governador da capitania de São Paulo determinando "que no registro de Sorocaba se receba 320 réis por cada besta muar que passar" vindo do Sul.

editoria de arte
A grande ruptura com esse modelo veio com a criação, após muita dificuldade, do Imposto de Renda. Vários políticos, a partir de 1867, defenderam tal tributo --falando, já no fim do século 19, na problemática (e então mais oculta no campo) desigualdade social do país.

O projeto foi rejeitado pelo Congresso em ao menos seis ocasiões --um dos argumentos era que ele seria complexo demais--, até finalmente passar em 1922.

Em comparação, o Reino Unido começou a cobrar imposto de renda em 1798. Os EUA, em 1861. Ainda hoje, o Brasil cobra mais imposto no consumo --que penaliza mais os pobres-- do que na renda --mais voltado aos ricos.

Já o Imposto dos Solteiros, dos anos 1940, resume a filosofia de tributação brasileira da criação do Imposto de Renda em diante. Trata-se da utilização ativa dos tributos para promover comportamentos (no caso, a família) ou setores da economia com eficácia questionável.

Houve ainda, desde sempre, a utilização de imunidades para beneficiar diversas alas da sociedade. Em 1600, foi dada uma curiosa "Isenção Até o Fim do Mundo" ao Mosteiro de São Bento, em São Paulo, para impostos municipais que já deixaram de existir.

Mais de 300 anos depois, em 1934, Getúlio Vargas isentou do IR, entre outros profissionais, jornalistas. Decretou ainda que eles pagariam meia passagem aérea. Nas memórias do jornalista Alberto Dines: "Nos anos 1950, quem trabalhava em Redação não tinha carro, casa nem nada, mas para viajar havia essa facilidade. Virou um negócio espúrio.

O Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro era uma agência de viagens, uma corrupção tremenda". Como o benefício não era até o fim do mundo, foi cancelado em 1964.

Aumenta chance de Eike pedir recuperação judicial; OGX deve dar calote de US$ 45 mi


DA REUTERS
DE SÃO PAULO



A petroleira OGX e a companhia de construção naval OSX, controladas pelo empresário Eike Batista, entrarão com pedidos de recuperação judicial nas próximas duas semanas, afirmou a revista "Veja" neste sábado, sem citar fontes.
Segundo a Folha antecipou na última sexta-feira, as negociações com os credores da OGX estão complicadas e a empresa caminha rapidamente para a recuperação judicial. 

Ricardo Moraes - 26.abr.2012/Reuters 
Eike Batista na comemoração do início de produção da OGX
Eike Batista na comemoração do início de produção da OGX

A recuperação judicial depende só da conversa com a malasiana Petronas, que havia se comprometido a comprar uma fatia em um campo de petróleo, mas desistiu. 

A OGX já vem, inclusive, procurando bancos em busca de linhas de crédito específicas para empresas em recuperação judicial. 

Procurados, porta-vozes da OGX e da holding EBX não foram encontrados. Um porta-voz da OSX não comentou a reportagem. 

As ações da OGX e da OSX recuaram para patamares mínimos na sexta-feira por temores de que a petroleira, incapaz de cumprir suas metas de produção de petróleo, fique sem dinheiro em breve.
Investidores temem que a OGX não pague à OSX pelo uso de uma embarcação usada como garantia para um bônus emitido pela companhia de construção naval. Se ocorrer um calote da OGX, a OSX pode ser obrigada a retomar a embarcação. 

A OGX deve 3,6 bilhões de dólares para detentores de bônus estrangeiros e 900 milhões de dólares para a OSX. 


CALOTE

 
A Folha antecipou na última sexta-feira que a OGX já havia decidido dar um calote de US$ 45 milhões de dólares referentes à remuneração desses títulos. 

Eike trocou os negociadores no final da última semana e pode alterar pontos relevantes da proposta de reestruturação da dívida, o que estressou ainda mais a relação com os credores, que inclui fundos como Pimco e BlackRock. 

A petroleira de Eike só tem caixa até o fim de outubro e, por isso, não vai pagar os US$ 45 milhões de remuneração dos títulos.

Ascensão e queda de Eike Batista

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Ricardo Moraes - 26.abr.12/Folhapress
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Eike Batista ao lado da presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de celebração do início da produção da OGX 
 
 
A OGX deve US$ 3,6 bilhões em títulos no exterior e US$ 900 milhões à OSX, referentes a indenização pelo cancelamento das encomendas de plataformas de petróleo. 

O problema é que os ativos da empresa não valem as dívidas, o que já significa um forte calote aos credores. No fim do processo, os credores teriam 80% da OGX, enquanto Eike, o principal acionista da OSX, ficaria com 20%. 

Segundo a Folha apurou, o empresário quer considerar só 25% do valor da dívida dos credores na hora da conversão em ações, porque o bônus já está sendo negociado a esse valor. Nesse caso, Eike teria uma fatia maior da empresa no fim do processo.

Entenda a opção de US$ 1 bi que Eike Batista não quer pagar




O empresário Eike Batista busca uma maneira de não pagar até US$ 1 bilhão na petrolífera fundada por ele, a OGX

 

O empresário Eike Batista questiona o pagamento de até US$ 1 bilhão à petrolífera fundada por ele, a OGX. O que Batista questiona é um contrato de opção que o obriga a comprar novas ações da companhia no valor de R$ 6,30. Atualmente, os papeis da empresa estão cotados em cerca de R$ 0,30.

 

O que Eike e a OGX fizeram foi uma opção de venda, um produto financeiro conhecido como derivativo. Os derivativos têm esse nome porque são contratos que são precificados com base em um ativo, ou seja, derivado do preço dele.

As opções são contratos que dão ao comprador a possibilidade de comprar ou vender um ativo a um determinado preço estabelecido. Já o vendedor de uma opção tem a obrigação de comprar ou vender um ativo a um preço estabelecido no fechamento do contrato.

Há opções de compra (call) e venda (put). Quem compra uma opção de compra acredita na alta de um ativo. Por exemplo: um negociador compra no dia 1º do mês uma opção de comprar uma ação A por R$ 13 na data do vencimento desse contrato, nesse caso, no dia 30 do mês. Neste primeiro momento de acerto do contrato, a ação A vale R$ 12. O que o comprador da opção de compra precisa é encontrar uma contraparte interessada em negociar essa opção com ele, ou seja, estar disposta a vender a ação A pelos R$ 13 no dia do vencimento do contrato. Essa contraparte vendedora sempre ganha um prêmio pela venda desse contrato.

Caso no dia do vencimento do contrato a ação A esteja cotada a um valor acima de R$ 13, nesse exemplo que ela estivesse a R$ 14, o comprador exerce seu direito de comprar a ação a R$ 13 e adquire um bem abaixo do preço negociado em mercado. Se imediatamente ao comprar a ação por R$ 13 ele a vender pelo valor de mercado, o comprador da opção embolsa um lucro de R$ 1 (diferença entre os R$ 13 pelo preço que comprou e os R$ 14 que vendeu ao mercado naquele momento), menos o prêmio que pagou para ter aquele direito e custos de negociação. Já o vendedor da opção de compra ganha o prêmio por se comprometer a vender o ativo em que esse derivativo se baseia, mas, nesse caso, perderá dinheiro, pois foi ao mercado comprar a ação da empresa A por R$ 14 e teve que revendê-la ao comprador da opção pelo preço combinado de R$ 13.

Porém, o vendedor da opção de compra também pode ganhar. Se no mesmo exemplo anterior a ação da empresa A valesse R$ 11 no dia do vencimento da opção, o comprador não iria exercer o direito de comprar o papel que vale R$ 11 por R$ 13. Nesse caso, o vendedor da opção de compra não seria “exercido” e embolsaria o prêmio recebido pela venda da opção como seu lucro. Já quem ficaria com o prejuízo seria o comprador da opção, que perderia o prêmio pago por essa opção não exercida.


Opção de venda

 
Há também os contratos de opção de venda (put). Neles, quem vende o contrato tem a obrigação de comprar um ativo por um preço estabelecido no momento de acerto do contrato; quem compra acredita na queda de um ativo e tem a possibilidade de vendê-lo a um determinado preço. Por exemplo, se para a mesma ação da empresa A, cotada a R$ 12 no dia do acerto do contrato um negociador resolvesse comprar uma opção de venda, ele estaria acordando com a contraparte que tem o direito de vender o ativo a um determinado preço no futuro. Nesse exemplo, ele fecha a opção de venda a R$ 10 e paga à contraparte um prêmio por adquirir esse direito.

Se no dia do vencimento do contrato a ação da empresa A estiver cotada a R$ 9, o comprador da opção exerce o direito de vender a R$ 10 um ativo que vale menos. Nesse caso, ele vai ao mercado comprar a ação por R$ 9, vende à contraparte por R$ 10 e embolsa essa diferença de R$ 1 como lucro (desconta desse valor o que pagou de prêmio pela opção mais custos de negociação). Já a contraparte é obrigada a comprar pelos R$ 10 acertados no contrato um ativo que vale naquele momento R$ 9.

Esse último exemplo é o que acontece com Eike Batista e a OGX. O empresário de comprometeu a comprar ações da empresa a R$ 6,30, mas hoje elas valem cerca de R$ 0,30.
Terra

Dilma diz, pelo Twitter, que quem aposta contra o Brasil sempre perde



A presidente Dilma Rousseff, que reativou sua conta na plataforma de microblog Twitter nesta sexta-feira (27), rebateu as críticas feitas pela revista britânica "The Economist" à economia brasileira.
Em dois tweets, a presidente escreveu: "Eles estão desinformados. O dólar estabilizou, a inflação está sob controle e somos o único grande país com pleno emprego. Somos a 3ª economia que mais cresceu no mundo no 2º trimestre. Quem aposta contra o Brasil, sempre perde".

A presidente estava sendo entrevistada por sua sósia nas redes sociais, a "Dilma Bolada" --na verdade, Jeferson Monteiro, que se encontrava no Palácio do Planalto junto com a presidente. Com estilo irreverente, a "Dilma Bolada" chamou a revista de "The Recalconomist":

Na quinta (26), a revista britânica "The Economist" voltou a estampar o Brasil na capa de sua edição para a América Latina e a Ásia. Com uma manipulação digital que mostra o Cristo Redentor afundando após um voo, a revista questiona: "Será que o Brasil estragou tudo?". A capa é uma referência da mesma revista, que, em 2009, mostrou o Cristo decolando como um foguete.


  • Capa da revista "The Economist" que será publicada nesta semana
  • Capa da mesma revista em matéria de novembro de 2009
"Uma economia estagnada, um Estado inchado e protestos em massa significam que Dilma Rousseff deve mudar o rumo", afirma a reportagem especial sobre o país.

A revista cita os protestos de junho, e se pergunta se a presidente Dilma Rousseff vai conseguir recolocar o país nos eixos. Além disso, pergunta se a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos vão ajudar a recuperação do Brasil ou simplesmente trazer mais dívidas.

'Voo de galinha'

A revista relembra o cenário otimista há quatro anos: a economia tinha se estabilizado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990, e acelerado no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, no começo dos anos 2000; sentiu pouco o colapso do banco Lehman Brothers, em 2008; cresceu 7,5% em 2010; foi escolhida como sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas; e Lula ainda conseguiu eleger Dilma Rousseff como sua sucessora.

"Desde então, o país tropeçou e voltou à realidade", diz. A reportagem cita o crescimento de 0,9% em 2012 e as manifestações que encheram as ruas do país em junho contra os altos custos de vida, a precariedade dos serviços públicos e a corrupção política.

"Muitos agora perderam a esperança de que seu país estava fadado ao sucesso e concluíram que foi apenas outro voo de galinha", afirma a revista, usando a expressão em português.

Você concorda com a revista: o Brasil estragou tudo?

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Investimentos em infraestrutura 'pequenos como biquíni fio-dental'

A revista afirma que muitas das políticas do ex-presidente Lula -"notavelmente o Bolsa Família"- são admiráveis. "Porém, o Brasil fez muito pouco para melhorar seu governo nos anos de crescimento."

A chance perdida não é exclusividade brasileira; aconteceu também com a Índia, segundo a reportagem.
No caso do Brasil, é pior, diz a "Economist", porque a carga tributária é muito alta e pesa demais sobre as empresas, enquanto o governo "tem seus gastos prioritários de cabeça para baixo".

Outro complicador, segundo a revista, é que, apesar de ser um país jovem, gasta demais com aposentadorias, e de menos com infraestrutura. "(...) apesar das dimensões continentais do país e péssimas conexões de transporte, os investimentos em infraestrutura são tão pequenos como um biquíni fio-dental", diz.

'Dilma interfere mais que pragmático Lula'

A revista faz, ainda, duras críticas à atuação da presidente Dilma Rousseff em relação a interferências do governo em assuntos privados. Segundo a revista, a atuação de Dilma teria afastado investidores dos projetos de infraestrutura.

"Esses problemas vêm se acumulando há gerações. Mas Rousseff não quis ou não conseguiu combatê-los, e criou novos problemas ao interferir muito mais do que o pragmático Lula."

Em vez de assumir indicadores desfavoráveis, afirma a "Economist", o governo lançou mão de "contabilidade criativa" e a dívida pública avançou para entre 60% e 70% do PIB. "Os mercados não confiam em Rousseff", diz.

Ouro verde no Norte Pioneiro





29/09/2013 | 00:03 | Ribeirão Claro, Carlópolis, Jacarezinho e Pinhalão Cíntia Junges, enviada especial
Chuvas e geadas desafiam os cafeicultores
Depois do excesso de chuva que caiu nos meses da colheita, em junho e julho, os produtores de cafés especiais ainda enfrentaram as rigorosas geadas que atingiram a região no final de julho. De 30% a 50% da safra de grãos especiais do próximo ano sofreu algum tipo de dano, segundo estimativa da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp). Para uma avaliação mais consistente das perdas, é preciso aguardar o período da florada, que acontece entre setembro e outubro, segundo José Rezende da Silva, especialista em cafés de alta qualidade da Acenpp. 
 
Os cafeicultores vão aproveitar para renovar o cafezal, antecipando um projeto de médio prazo. Cerca de 20% da área atingida pela geada deve ser renovada. “Vamos trabalhar com variedades mais adequadas à produção de cafés especiais, fazendo um escalonamento das espécies conforme o clima da região evitando variedades tardias em locais em que o clima propicia uma maturação mais tardia”, afirma Silva.
Exemplo
União de produtores faz a força para criar grãos campeões em qualidade
 
O trabalho conjunto de vinte cafeicultores do distrito de Lavrinha, a 15 quilômetros do centro de Pinhalão, transformou a localidade em referência na produção de cafés especiais dentro do projeto. O grupo se formou há dois anos por iniciativa do produtor Sebastião Vieira Sobrinho, o Tião Batata, que enxergou uma oportunidade de agregar valor ao café e desenvolver a região. Eles investiram R$ 400 mil em recursos próprios na construção de uma sede e na compra de máquinas para o beneficiamento dos cafés especiais. 
A maioria cultiva, em média, oito hectares de grãos especiais. Se antes era cada um por si e o preço era a única forma de diferenciar os cafés produzidos na Lavrinha, agora eles seguem à risca as orientações do projeto para garantir que o produto atinja e mantenha a pontuação desejada pelo mercado. No ano passado, o grupo exportou, via cooperativa, um contêiner com 340 sacas de café Fairtrade. Neste ano a expectativa é exportar mais de mil sacas. No início deste ano, importadores dos Estados Unidos, Coreia do Norte, Japão e Austrália visitaram a Lavrinha para conhecer os cafés produzidos pelo grupo. 
“Começamos com 40 produtores, mas depois ficou quem realmente tinha interesse no projeto. Alguns desistiram porque achavam que era perda de tempo”, conta Tião, que se emociona ao falar das conquistas do grupo. Tião explica que ainda não é possível falar em retorno financeiro, sobretudo por causa do volume do investimento individual, mas todos sabem que esse é um projeto de longo prazo.
Quem faz
• Início: 2006, com apoio do Sebrae-PR.
• Onde é feito: 45 municípios do Norte Pioneiro do Paraná.
• Área: Cafeicultura.
• Produtores: 7.500 cafeicultores.
• Posição no mercado: Os grãos especiais equivalem a 1% da produção total do Paraná, mas a região é a única do estado com indicação geográfica.
• Produção: 1,3 milhão de sacas beneficiadas por ano.
• Porque é bem feito: Porque está transformando o Norte Pioneiro por meio de um processo de desenvolvimento local focado na capacitação dos produtores para a produção de cafés especiais.

Graças a um projeto criado em 2006 por produtores locais em parceria com o Sebrae-PR, a primeira Indicação Geográfica de Procedência do Paraná tem aroma e sabor de café especial produzido no Norte Pioneiro do estado. A região recebeu, no ano passado, o reconhecimento do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e se juntou ao Cerrado Mineiro e a Serra da Mantiqueira, ambas em Minas Gerais - as únicas três regiões do país com o registro oficial na produção de grãos especiais.

SLIDESHOW: Confira as fotos dos cafés especiais do Norte Pioneiro

A conquista beneficiou 7,5 mil cafeicultores de 45 municípios do Norte Pioneiro do Paraná e colocou a região definitivamente em um mercado que cresce entre 10% e 15% ao ano, segundo a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), na sigla em inglês – enquanto o segmento de cafés tradicionais cresce apenas 3% ao ano.

Do total, 85% são pequenos produtores familiares como o casal Ademir e Joana Baggio de Ribeirão Claro. Aos 63 anos, eles representam uma nova geração de cafeicultores que aceitou o desafio de produzir cafés especiais depois de uma vida dedicada ao cultivo do café commodity. Baggio foi um dos primeiros a entrar para o Projeto de Cafés Especiais, em 2009. Da lavoura de dois hectares, herdada do pai, já saíram grãos exportados para os Estados Unidos, Japão e Peru.

“Por enquanto, cada produtor busca atingir 30% de sua produção com grãos especiais”, diz José Rezende da Silva, superintendente da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp). Somada, a produção de cafés especiais chega a 1,3 milhão de sacas beneficiadas por ano, mas representa apenas 1% de todo o café produzido no estado.

As propriedades que participam do projeto são certificadas Fairtrade – comércio justo, em inglês –, selo que garante um preço entre 30% e 40% acima do mercado de café convencional para a produção baseada em boas práticas ambientais e sociais. Pelas regras do Fairtrade, cada contêiner para exportação precisa ter, no mínimo, 51% de cafés especiais provenientes de pequenos produtores.

Além da indicação geográfica – que atribuiu identidade aos cafés da região e agrega valor de mercado ao produto – a adequação do processo produtivo foi decisiva para alcançar o mercado internacional, destino de 100% dos cafés especiais Fairtrade da região. Os principais compradores são Estados Unidos, Japão e alguns países da Europa.


Desafio


Desenvolver um padrão capaz de repetir a qualidade ao longo dos anos é o próximo grande desafio. “Enquanto no Sul de Minas a topografia é desfavorável e no Cerrado Mineiro o solo exige irrigação, no Norte Pioneiro temos topografia favorável e solo fértil, mas precisamos lidar com a chuva na colheita. Nada que conhecimento e técnicas apropriadas de manejo não possam resolver”, ressalta o presidente da Acenpp, Luiz Roberto Saldanha Rodrigues. Segundo ele, felizmente os produtores entenderam que isso não é custo e sim, investimento.
 
Ademir Baggio, produtor de Ribeirão Claro. Aos 63 anos, ele encarou o desafio de produzir grãos especiaisBrunno Covello/Gazeta do Povo
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