quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Entrada de máquinas e equipamentos usados pode ser barrada


“Há brechas na legislação que temos de fechar, e a importação de máquinas usadas tem de ser mais restrita”, defendeu Pimentel

Marli Moreira, da
Antônio Cruz/ABr
Ministro Fernando Pimentel
Fernando Pimentel: embora considere setor de máquinas e equipamentos “fundamental para crescimento da economia”, ministro explicou que programa ainda demandará muito tempo

São Paulo – O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, sinalizou hoje (2) com a possibilidade de criação de barreiras contra a importação de máquinas e equipamentos usados.

Essa foi uma das queixas que empresários do setor apresentaram nesta quarta-feira ao ministro, durante encontro na sede da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas de Equipamentos (Abimaq).

“Há brechas na legislação que temos de fechar, e a importação de máquinas usadas tem de ser mais restrita”, defendeu Pimentel. 

Ele descartou, porém, que haja interesse em sobretaxar as importações de bens de capital de forma generalizada, porque isso poderia prejudicar os setores que dependem de maquinário e equipamentos que só são produzidos no exterior.

O ministro lembrou que técnicos de sua pasta e representantes desse setor têm-se reunido frequentemente, para colocar em prática um programa de estímulo à produção de bens de capital, à semelhança do Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto). 

Por meio do Inovar-Auto, empresas com planos de investimento na inovação do parque fabril têm desconto no valor a ser recolhido do Imposto Sobre o Produto Industrializado (IPI).

Embora considere o setor de máquinas e equipamentos “fundamental para o crescimento da economia”, Pimentel explicou que um programa neste sentido ainda demandará muito tempo.

“Sabemos que o governo não vai abrir mão de nada agora”, disse o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto. “O Brasil está virando uma curva de rio, com o crescimento de mais de 350% da importação de máquinas e equipamentos usados , nos últimos três anos, e isso nos deixa em situação crítica”, reclamou Aubert.

Segundo ele, mesmo com o dólar mais valorizado, o setor tem perdido clientes, que preferem encomendar bens de capital produzidos fora do país, principalmente, na China. Ele defende que o financiamento por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de outras linhas do setor público seja restrito à compra de máquinas e equipamentos nacionais.

Aubert estima que o setor de máquinas e equipamentos encerre o ano com queda entre 5% e 7%, invertendo a previsão feita no início do ano de crescer nos mesmos patamares.

Conab vai investir R$ 500 milhões em silos


Por Tarso Veloso | De Brasília
Ruy Baron/Valor / Ruy Baron/Valor 
 
Segundo presidente da Conab, Rubens Rodrigues dos Santos, determinação de aumentar e modernizar rede pública partiu da presidente Dilma Rousseff
 
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vai investir quase R$ 500 milhões até 2015 para melhorar a estrutura de armazenagem do governo.

Os recursos serão usados para expandir em 43% sua capacidade de estocagem - das atuais 1,96 milhão de toneladas para 2,81 milhões. Do total, 685 mil toneladas devem vir da construção de 10 novas unidades e 42 mil toneladas da reforma de outras 80.

Segundo o presidente da Conab, Rubens Rodrigues dos Santos, a ordem para ampliar e modernizar a rede pública de armazenagem partiu da própria presidente Dilma Rousseff.

A determinação, explica, é aumentar a capacidade estatal em regiões-chave do ponto de vista logístico, visando a acelerar o escoamento da produção agrícola no território nacional.

"Essa nova estratégia da Conab contempla a construção de armazéns próximos às novas fronteiras agrícolas. Com isso, vamos apoiar o produtor para que ele não precise comercializar a sua produção imediatamente e possa esperar um preço mais competitivo", afirmou ele.

Rodrigues disse ainda que o plano prevê a melhoria da logística de escoamento entre regiões produtoras e distribuidoras, como entre Anápolis (GO) e São Luís (MA). "Vamos poder enviar a produção de trem até o Porto de Itaqui e reduzir o custo na logística, diminuindo o preço ao consumidor final", acrescentou.

A meta da Conab é desembolsar R$ 250 milhões em 2014 para a reforma de 26 unidades - 19 no Semiárido nordestino, quatro em Mato Grosso e uma no Paraná - e na construção de quatro novos silos - em Luís Eduardo Magalhães (BA) e São Luís (MA), com capacidade de 100 mil toneladas cada, e Anápolis (GO) e Xanxerê (SC), com 50 mil toneladas cada.

Outros R$ 237 milhões devem ser investidos em 2015 na reforma de 52 unidades em todo o país e na construção de outras seis plantas. Em três delas - nos municípios de Petrolina (PE), Quixadá (CE) e Estrela (RS) - a capacidade será de 50 mil toneladas cada. Esse volume será de 60 mil toneladas em Campina Grande (PB), 75 mil em Viana (ES) e 100 mil em Eliseu Martins (PI).

O presidente da Conab destacou que as reformas devem ampliar em 34 mil toneladas a capacidade de armazenamento dos Estados do Nordeste. Serão 4 mil toneladas na Bahia, 8 mil no Ceará, 2 mil em Alagoas, 9 mil na Paraíba, 6 mil no Piauí e 5 mil no Rio Grande do Norte.

Somente na elaboração dos projetos serão investidos R$ 13 milhões por meio de um convênio já assinado com o Banco do Brasil. Depois de elaborados os projetos, serão lançados os editais de contratação das obras.

De acordo com a comissão interna criada para conduzir o processo de ampliação e modernização dos armazéns, Currais Novos (RN) e Entre Rios (BA) podem ter a ordem de serviço contratada ainda em 2013.

Para fim de reduzir o déficit de armazenagem no país, estimado em 40 milhões de toneladas, o governo disponibilizou ainda na safra 2013/14 uma linha de R$ 5 bilhões destinada a financiar a construção de silos privados. O objetivo é renovar essa linha nas próximas cinco safras, totalizando R$ 25 bilhões.

Múltis brasileiras criticam projeto da Fazenda


Por Leandra Peres | De Brasília

As grandes multinacionais brasileiras, de quem o governo espera receber até R$ 25 bilhões em dívidas tributárias para fechar as contas esse ano, criticaram a proposta oficial para a nova taxação das empresas coligadas e controladas com sede no exterior por vedar a consolidação global dos lucros e prejuízos.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) - interlocutor das empresas nas negociações com o governo - tem pronto um estudo em que afirma que o modelo de tributação em estudo pelo governo "terminará por inibir uma integração mais rápida e adequada das nossas empresas às transformações da economia global".



O Iedi afirma que a internacionalização das empresas brasileiras mostra atraso significativo em relação ao resto do mundo e que a normatização não pode prejudicar ainda mais esse processo. As empresas querem que o prejuízo verificado em um país possa ser compensado com o lucro gerado em outro lugar e que, ao fim, seja possível fazer a chamada consolidação vertical.

O governo não concorda. A Receita Federal argumenta que o abatimento de lucros e prejuízos em escala mundial vai abrir espaço para planejamento tributário, além de inviabilizar o controle do Fisco. O projeto apresentado pelo Ministério da Fazenda veta essa compensação, mas permite que eventuais prejuízos num país sejam abatidos em até cinco anos por lucros gerados no mesmo país.

Na avaliação feita pelo Iedi, "a solução não está em proibir, senão em regulamentar prudentemente a consolidação vertical". A proposta das empresas é que a consolidação vertical seja restrita apenas aos resultados operacionais das coligadas e controladas, sem incluir prejuízos financeiros ou não operacionais.

 Além disso, a consolidação só seria permitida com países que têm intercâmbio de informações com a Receita Federal e as empresas estariam obrigadas a abrir todos os detalhes das contas de suas empresas no exterior.

A disputa entre a Receita Federal e as grandes multinacionais brasileiras sobre a tributação de controladas e coligadas no exterior já gerou um passivo estimado em R$ 75 bilhões, incluindo multas e juros.

A discussão judicial está em análise pelo Supremo Tribunal Federal, mas o governo já ofereceu às empresas a possibilidade de quitar a dívida por meio de um Refis. O programa de refinanciamento ainda tem que ser regulamentado, mas a lei prevê que quem pagar à vista tem desconto integral de multa e juros. O parcelamento em 120 meses implica redução de multas de 20% de juros em 50%.

As empresas também querem que o governo aceite o pagamento não apenas em dinheiro, mas por meio de compensação de tributos. O problema nessa opção é que o abatimento da dívida gerada pela tributação no exterior de créditos que as empresas tenham junto à Receita gerados por outras operações implica, no fim, queda na arrecadação.

O Tesouro Nacional, no entanto, conta com esses recursos para melhorar o resultado das contas públicas esse ano. De acordo com dados do Banco Central, o superávit do setor público até agosto é de 1,73% do PIB, para uma meta de 2,3% do PIB. A avaliação no Ministério da Fazenda é que sem um bom resultado do Refis não há como atingir a meta.

A medida ainda tem que ser sancionada pela presidente Dilma Rousseff e regulamentada pela Receita Federal para que as empresas decidam pela adesão.

Em entrevista recente, o consultor-geral da Vale, Clovis Torres Junior, disse que a decisão da empresa só será tomada quando houver detalhes sobre a tributação futura. A Vale é uma das principais interessadas nessa discussão, já que a disputa judicial da empresa é a que está mais adiantada.

O estudo que será divulgado pelo Iedi também faz um levantamento sobre os tipos de tributação do lucro no exterior feito por outros países. Quanto mais próximo de um modelo de tributação em bases mundiais, o mesmo usado pelo Brasil, maior deve ser a possibilidade de consolidação dos resultados em diversos países. O exemplo são os Estados Unidos. Já no Reino Unido, Alemanha e França, onde a tributação é feita com base apenas nos resultados obtidos dentro do país, a necessidade de consolidação é menor.Share1

Oi e Portugal Telecom assinam acordo para unir atividades

 
 
 
 
Por Renato Rostás | Valor
Divulgação

SÃO PAULO  -  (Atualizada às 10h28) A Oi e a Portugal Telecom assinaram memorando de entendimento para unir suas atividades, informou a operadora brasileira em fato relevante. Com a fusão, será criada uma companhia chamada CorpCo, com as duas empresas atuando como suas subsidiárias. A união combinará as atividades e negócios desenvolvidos pela Oi no Brasil e pela Portugal Telecom em Portugal e na África.

A previsão é que o novo grupo tenha sinergias de aproximadamente R$ 5,5 bilhões. Segundo o documento, essa economia virá do aumento de escala das atividades e dos ganhos advindos da união das duas grandes empresas de telecomunicações. A operação será finalizada no primeiro semestre de 2014.

A intenção das duas é listar a CorpCo no Novo Mercado da BM&FBovespa, na bolsa de Nova York e na Nyse Euronext Lisbon, que é a bolsa de Lisboa. O fato relevante diz que o capital da nova companhia será pulverizado e não haverá um acionista ou grupo de acionistas com maioria do capital.

Oi e Portugal Telecom serão incorporadas pela nova operadora. A relação de troca entre suas ações será de 1 para 1 da CorpCo no caso da portuguesa e dos papéis ordinários da brasileira; e cada 1,0857 ação preferencial da Oi dará direito a uma nova da CorpCo.

Com relação à estrutura administrativa, a CorpCo terá como presidente Zeinal Bava. O executivo já comandou o grupo português e atualmente ocupava a presidência da brasileira e das operações da Portugal Telecom em seu mercado natal.

O conselho de administração da nova empresa será formado por 11 membros titulares e 11 suplentes. Para sua primeira formação, foi escolhido José Mauro Mettrau da Cunha como presidente e Henrique Manuel Fusco Granadeiro como vice. Mettrau chefiou a Oi logo após a saída de Francisco Valim, enquanto Granadeiro presidia o conselho da Portug al Telecom.

Segundo o fato relevante da Oi, serão mais de 100 milhões de clientes conjuntamente. “A operação permitirá que a CorpCo se beneficie da presença única da Oi no Brasil e a experiência da Portugal Telecom no mercado português, permitindo-lhe, assim, cristalizar oportunidade de crescimento em convergência e mobilidade no Brasil.”

Em meio à reorganização societária dos sócios controladores da Oi para a criação da CorpCo, a Portugal Telecom deixará de ser acionista da empresa de call center Contax.

(Renato Rostás | Valor)

Altos executivos são os menos engajados, diz estudo


Por Letícia Arcoverde | Valor
Simon Dawson/Bloomberg


SÃO PAULO  -  Um dos grandes desafios das empresas hoje é garantir que seus melhores talentos não deixem a companhia – e, para muitos, a falta de comprometimento é a marca das gerações mais jovens. 

Mas um novo estudo de professores das escolas de negócios Wharton, nos Estados unidos, e IE Business School, da Espanha, indica que membros do alto escalão como CEOs e vice-presidentes executivos estão entre os mais dispostos a ir atrás de um novo emprego quando confrontados com a oportunidade.

Com base nos dados de dois mil altos executivos do mercado financeiro americano, os professores analisaram as respostas dadas a headhunters que os procuraram para oferecer uma chance de participar do processo seletivo para uma vaga em outra empresa. Mais da metade (52%) aceitaram se tornar candidatos no contato inicial dos recrutadores, quando ainda não tinham muitas informações sobre a vaga. Para o professor da Wharton e diretor do Centro de Recursos Humanos da escola, Peter Capelli, o número é "maior do que o esperado", colocando os comandantes entre os menos engajados nas organizações.

Os pesquisadores também descobriram que  os cargos mais altos entre os participantes do estudo – CEOs, vice-presidentes executivos e vice-presidentes seniores – estavam entre os mais propensos a aceitar uma proposta de um headhunter. Além disso, aqueles com experiência mais variada, como passagens em diversas cidades, países ou áreas da empresa, também estavam mais dispostos a ir atrás das novas oportunidades. "Com a mobilidade, os executivos não desenvolvem laços fortes com a organização, e ir embora se torna mais fácil para eles", sugere Capelli.

(Letícia Arcoverde | Valor)

A psicologia da infraestrutura

02 de outubro de 2013 | 2h 31
O Estado de S.Paulo
 
 
Confiança tem sido um insumo escasso na economia nacional, admitiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante seminário em São Paulo. Talvez ele tenha reconhecido mais do que pretendia ao acrescentar: essa confiança está em recuperação e o pessimismo será revertido mais velozmente com o sucesso das concessões no setor de infraestrutura. 

Segundo a avaliação ministerial, esse tipo de licitação, no Brasil, tem hoje, portanto, dupla função. A primeira é observada em países com padrões mais saudáveis de gestão pública: facilitar investimentos em logística e energia, para tornar a economia mais eficiente e permitir um crescimento equilibrado. A segunda tem sentido na atual paisagem brasileira: restabelecer a boa disposição dos consumidores e, principalmente, dos empresários industriais, depois de uma longa estagnação e de sérios tropeços na política de investimentos. 

Como principal atração do 10.º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, o ministro da Fazenda anunciou nada menos que um "novo ciclo de desenvolvimento" nos anos de 2013 a 2022. No fim desse período o Produto Interno Bruto (PIB) por habitante deverá ter aumentado 40%, em termos reais, segundo o panorama apresentado. 

Para isso, o PIB terá de crescer em média 4% ao ano, mas o investimento em capital fixo, isto é, em máquinas, equipamentos, obras civis e infraestrutura, deverá aumentar à taxa anual média de 7%. Não há muito mistério nesses números. Com a combinação apresentada, o investimento corresponderá, em 2022, a 24% do PIB, proporção verificada nos anos 70 e adotada há algum tempo como objetivo pelo governo da presidente Dilma Rousseff. 

Quanto à expansão econômica de 4%, pode parecer modesta, quando comparada com o desempenho de outros países emergentes. Mas o pessoal do Ministério da Fazenda parece ter levado em conta, em suas projeções, as sérias limitações atuais da economia brasileira. Muitos economistas estimam um potencial de crescimento bem abaixo da média apresentada pelo ministro. Mas isso deverá mudar, dentro de alguns anos, com mais investimentos públicos e privados e ganhos de produtividade e inovação. 

O ministro chegou a mencionar, em sua apresentação, o investimento em capital humano. Só falta decidir como essas condições serão preenchidas. Nos últimos dez anos a administração petista menosprezou quase todas as políticas necessárias à elevação da eficiência da economia nacional. Na maior parte dos casos, seguiu o caminho oposto. Exemplo: deu prioridade à ampliação do número de universitários, por meio de políticas obviamente populistas, quando as maiores e mais danosas deficiências estavam na educação fundamental e no ensino médio. A escassez de mão de obra para a indústria é uma das muitas provas desse erro, assim como a permanência de uma enorme taxa - 18,5% em 2012 - de analfabetos funcionais na população com idade igual ou superior a 15 anos. 

A taxa de investimento continua baixíssima. Na melhor hipótese, poderá superar ligeiramente 19% do PIB neste ano. As primeiras licitações de infraestrutura, um ano depois de lançado o plano de logística, foram, para dizer o mínimo, decepcionantes. O ministro da Fazenda prometeu boas condições de rentabilidade, nas próximas ofertas de concessões, mas isso ainda será conferido. Na semana passada, depois da reunião com investidores potenciais em Nova York, nenhum empresário manifestou grande entusiasmo e muitos manifestaram dúvidas. 

Técnicos e ministros andaram revendo os critérios das concessões, em mais uma tentativa de falar a língua dos investidores privados. Muito tempo já foi perdido e o governo gastou quase três anos com resultados abaixo de pífios. 

Velhos preconceitos petistas, somados a muita teimosia, explicam a maior parte dos fracassos. Irrealismo e voluntarismo têm dificultado o entendimento do governo com o setor privado. Mas têm atrapalhado igualmente a articulação com as estatais. O problema dos preços dos combustíveis, importantíssimo para a Petrobrás, continua sem solução. Esse é só um exemplo de uma política de insistência no erro.


Rei da cachaça cria cabras e cobras e sonha em distribuir seu dinheiro pelo mundo


RAFAEL ANDERY
DE SALINAS (MG)



Uísque ou água de coco, cerveja ou Coca-Cola. Bebe-se de tudo, menos cachaça no bar São Geraldo. A ausência da "marvada" pode passar despercebida entre os frequentadores, mas chama a atenção dos forasteiros que se aventuram pelo estabelecimento. Isso porque o bar se encontra em Salinas (MG), a capital mundial da cachaça, mais precisamente no bairro São Geraldo, epicentro da noite salinense. 

Localizada no norte de Minas Gerais e com uma população de cerca de 40 mil habitantes, Salinas conta com mais de 60 marcas artesanais que produzem aproximadamente 5 milhões de litros da bebida por ano. A cidade abriga anualmente um Festival Mundial da Cachaça e é sede de um enorme museu da bebida. 

A cachaça, contudo, não está em alta entre os moradores. "O povo aqui é tranquilo, só bebe socialmente." Quem explica é Antonio Rodrigues, 64, consumidor de nove doses diárias da bebida. "São três doses pela manhã, três pela tarde e três pela noite", explica "o maior produtor artesanal de Salinas, do Brasil e do mundo" ou o "grande rei da cachaça", como diz ser conhecido.

Antonio Rodrigues, o rei da cachaça

Carlos Cecconello/Folhapress
 
Conhecido como Toni, o mineiro é o maior produtor de cachaça artesanal do Brasil


O reinado de Toni, como de fato é conhecido, impressiona. Dono das marcas Seleta, Saliboa e Boazinha, ele começou a trabalhar no ramo aos 27 anos, por influência do sogro, dono de uma fábrica da bebida. A produção própria só começou em sua fazenda depois de dez anos. O motivo para entrar no ramo era simples: "Eu sempre gostei de ganhar dinheiro". 

Hoje, Toni produz cerca de 1,3 milhão de litros por ano e exporta para países como EUA e China. Mas o que realmente chama atenção é sua figura. 

Toni recebeu a Serafina vestido de branco da cabeça (chapéu) aos pés (sapatos). "Quando estou de branco, a alma fica limpa e o espírito aberto", diz. "Por isso, gosto de usar branco às segundas, quartas e sextas-feiras, começo, meio e fim da semana", explica o cachaceiro, que encontrou a reportagem em uma terça-feira. 

Sua marca registrada é uma longa barba branca, que acaba de completar 15 anos de idade. A grande e grisalha cabeleira, que a acompanha invariavelmente, escorre por debaixo de algum dos chapéus que compõem sua vasta coleção. Toni tem três guarda-roupas e três sapateiras. "Uso uma roupa por no máximo três horas e tomo de seis a oito banhos por dia", diz. 

Por baixo do chapéu Marcatto, de R$ 77 --ele não tira as etiquetas das roupas--, Toni leva um galho de arruda atrás da orelha. Orgulhoso proprietário de 500 pés da planta, garante que não usa a erva para espantar o mau-olhado. "Eu finjo ser supersticioso", conta. "Faço isso para chamar a atenção." Mas não gosta de maldizer a sorte. "É melhor ter sorte que ser filho de pai rico", diz. "E eu tenho." 

Toni não gosta de dirigir --conseguiu atolar o carro e estourar um encanamento subterrâneo em sua fazenda nos poucos minutos em que levou a reportagem para um passeio. Seu meio de locomoção favorito é a mula. Sempre que pode, ele lança a sela em uma de suas 36, de preferência na que é seu xodó, Pirraça. Mas tem algumas de nomes mais sugestivos, como Sua Mãe e Seu Cuzinho. 

Fascinado por animais, ele diz ter adestrado pessoalmente todas as mulas e os 84 cachorros que moram em suas duas fazendas. 

Em sua casa na cidade, conta com a companhia de uma simpática cabra, de nome Arapuca, e o visitante ainda pode tomar um susto com Catarina, uma jiboia de seis metros que rasteja placidamente pelos aposentos. A cabra e a cobra, garante Toni, são amigas. 


FAVOR NÃO BATER NO PORTÃO

 
Surpreendentemente simples para o dono de uma empresa que fatura "bem mais de 10 milhões por ano" (a política da companhia é não divulgar números), a casa de Toni não recebe estranhos de portas abertas. 

Em cima de um muro amarelo, uma coleção de carrancas sugere uma recepção pouco calorosa. Na porta, um aviso afixado passa o recado mais diretamente: "Patrocínio já era, doações também. Favor não bater no portão". 

Dentro do imóvel, fotos ampliadas dos seus seis filhos e cinco netos dividem as paredes com frases de autoajuda e piadas, impressas em folhas de papel sulfite e coladas com fita adesiva. 

"Pai alho, mãe cebola, o filho não tem como cheirar bem", prega uma. "Cachaça só faz duas coisas com seu coração partido: ou arregaça estraçalhando tudo de vez, ou remenda", diz outra, para deleite do mineiro banguela, que ri alto, exibindo um buraco recente (fruto de um acidente gastronômico que lhe vitimou um pivô) e 25 dentes de ouro. "Tenho uma boca rica", brinca. 

E, se depender dele, ela tem tudo para ficar mais rica ainda. "Não ganhei dinheiro o suficiente", resmunga o cachaceiro. "Mas estou mexendo com um segundo negócio muito promissor, que é uma lavra de pedras preciosas, de turmalina rosa", conta. 

"Dentro de cinco anos, vou ganhar R$ 500 bilhões", prospecta, muito otimista (o quilate da pedra, em sua variedade mais valiosa, vale R$ 617. Para efeito de comparação, o preço do quilate de esmeralda mais valioso é 20 vezes maior). 

E mantém a humildade para ajudar o repórter. "São 16 números, se você precisar escrever depois." Embora prestativo, o mineiro embaralha as contas, talvez inebriado pelo efeito da cachaça com Gatorade que beberica ao longo da entrevista. Quinhentos bilhões se escrevem com 12 números (14, se contar os dois zeros depois da vírgula). 

Esse detalhe não incomoda o empreendedor, que possui questões mais prementes a tratar. Toni tem planos para sua empresa até 2048, ano em que completará seu centenário. Até lá, pretende formar um sucessor. "Quem sabe algum neto ou bisneto." 

Gastar toda a bolada que sonha ganhar com a turmalina rosa não será problema. "Vou ficar só com 1% e doarei 99%, o que dá R$ 495 bilhões, para 13.500 pessoas que eu escolherei", diz. É bom correr. Você só tem mais 36 anos para cair nas graças de Toni Rodrigues.