02 de outubro de 2013 | 2h 31
O Estado de S.Paulo
Confiança tem sido um insumo escasso na economia
nacional, admitiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante
seminário em São Paulo. Talvez ele tenha reconhecido mais do que
pretendia ao acrescentar: essa confiança está em recuperação e o
pessimismo será revertido mais velozmente com o sucesso das concessões
no setor de infraestrutura.
Segundo a avaliação ministerial, esse tipo de licitação, no Brasil,
tem hoje, portanto, dupla função. A primeira é observada em países com
padrões mais saudáveis de gestão pública: facilitar investimentos em
logística e energia, para tornar a economia mais eficiente e permitir um
crescimento equilibrado. A segunda tem sentido na atual paisagem
brasileira: restabelecer a boa disposição dos consumidores e,
principalmente, dos empresários industriais, depois de uma longa
estagnação e de sérios tropeços na política de investimentos.
Como principal atração do 10.º Fórum de Economia da Fundação Getúlio
Vargas, em São Paulo, o ministro da Fazenda anunciou nada menos que um
"novo ciclo de desenvolvimento" nos anos de 2013 a 2022. No fim desse
período o Produto Interno Bruto (PIB) por habitante deverá ter aumentado
40%, em termos reais, segundo o panorama apresentado.
Para isso, o PIB terá de crescer em média 4% ao ano, mas o
investimento em capital fixo, isto é, em máquinas, equipamentos, obras
civis e infraestrutura, deverá aumentar à taxa anual média de 7%. Não há
muito mistério nesses números. Com a combinação apresentada, o
investimento corresponderá, em 2022, a 24% do PIB, proporção verificada
nos anos 70 e adotada há algum tempo como objetivo pelo governo da
presidente Dilma Rousseff.
Quanto à expansão econômica de 4%, pode parecer modesta, quando
comparada com o desempenho de outros países emergentes. Mas o pessoal do
Ministério da Fazenda parece ter levado em conta, em suas projeções, as
sérias limitações atuais da economia brasileira. Muitos economistas
estimam um potencial de crescimento bem abaixo da média apresentada pelo
ministro. Mas isso deverá mudar, dentro de alguns anos, com mais
investimentos públicos e privados e ganhos de produtividade e inovação.
O ministro chegou a mencionar, em sua apresentação, o investimento em
capital humano. Só falta decidir como essas condições serão
preenchidas. Nos últimos dez anos a administração petista menosprezou
quase todas as políticas necessárias à elevação da eficiência da
economia nacional. Na maior parte dos casos, seguiu o caminho oposto.
Exemplo: deu prioridade à ampliação do número de universitários, por
meio de políticas obviamente populistas, quando as maiores e mais
danosas deficiências estavam na educação fundamental e no ensino médio. A
escassez de mão de obra para a indústria é uma das muitas provas desse
erro, assim como a permanência de uma enorme taxa - 18,5% em 2012 - de
analfabetos funcionais na população com idade igual ou superior a 15
anos.
A taxa de investimento continua baixíssima. Na melhor hipótese,
poderá superar ligeiramente 19% do PIB neste ano. As primeiras
licitações de infraestrutura, um ano depois de lançado o plano de
logística, foram, para dizer o mínimo, decepcionantes. O ministro da
Fazenda prometeu boas condições de rentabilidade, nas próximas ofertas
de concessões, mas isso ainda será conferido. Na semana passada, depois
da reunião com investidores potenciais em Nova York, nenhum empresário
manifestou grande entusiasmo e muitos manifestaram dúvidas.
Técnicos e ministros andaram revendo os critérios das concessões, em
mais uma tentativa de falar a língua dos investidores privados. Muito
tempo já foi perdido e o governo gastou quase três anos com resultados
abaixo de pífios.
Velhos preconceitos petistas, somados a muita teimosia, explicam a
maior parte dos fracassos. Irrealismo e voluntarismo têm dificultado o
entendimento do governo com o setor privado. Mas têm atrapalhado
igualmente a articulação com as estatais. O problema dos preços dos
combustíveis, importantíssimo para a Petrobrás, continua sem solução.
Esse é só um exemplo de uma política de insistência no erro.
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