Por Wellington Bahnemann
Terceira maior companhia da China e maior elétrica do mundo, a
State Grid tem planos ambiciosos para crescer no Brasil. Em entrevista
exclusiva ao 'Broadcast', serviço em tempo real da 'Agência Estado', o
presidente da estatal chinesa no Brasil, Cai Hongxian, revelou a meta de
investir US$ 10 bilhões no setor elétrico brasileiro até 2015. "É uma
meta agressiva", reconheceu. Além de consolidar sua base de ativos no
segmento de transmissão, a estratégia inclui crescer em geração e
distribuição de energia, com aquisição de ativos e desenvolvimento de
novos empreendimentos.
Os chineses não estão dispostos, no
entanto, a fazer qualquer tipo de negócio no Brasil. Segundo Hongxian,
as oportunidades de investimento identificadas aqui são levadas para
apreciação da diretoria na China e competem com projetos ao redor do
mundo. "Não somos malucos e nem investimos sem nos preocupar com o
retorno dos projetos", afirmou o executivo, negando a influência do
governo chinês na estratégia no Brasil.
A expansão no
Brasil integra um plano maior, de crescimento internacional. Até agora, a
chinesa investiu em torno de US$ 16 bilhões em ativos no exterior,
adquirindo participações em empresas de países como Portugal e
Austrália. Na China, a companhia fornece energia para 1,1 bilhão de
pessoas e teve faturamento de US$ 307,9 bilhões em 2012.
Hoje,
o Brasil é a maior operação internacional da empresa, com receita de R$
632 milhões e ativos avaliados em R$ 6,88 bilhões ao final de 2012. A
State Grid detém 12 concessões de transmissão e está presente em outras
quatro, com 51% de participação. A companhia surpreendeu especialistas
logo que entrou no País, comprando sete linhas de transmissão da
espanhola Plena Transmissora, no fim de 2010. Hoje, administra uma rede
de 6,7 mil quilômetros e está construindo mais 3,9 mil km arrematados em
leilões.
Para crescer no Brasil, a companhia considera
tanto adquirir ativos em operação como disputar leilões de geração e
transmissão. Em geração, Hongxian revelou o interesse em investir em
projetos hidrelétricos e eólicos. "Não queremos empreendimentos de
pequeno porte", disse. Nesse contexto, a companhia tem planos de
disputar as concessões das hidrelétricas São Manoel e Itaocara, que o
governo pretende licitar no leilão de energia nova marcado para
dezembro.
A State Grid também já está preparada para
disputar o leilão da transmissão de Belo Monte (PA). "São projetos como
esse que nos fazem estar aqui", disse. O governo federal ainda não
definiu uma data, mas planeja licitar o primeiro tronco do sistema de
transmissão de Belo Monte ainda no início de 2014. Segundo Hongxian, a
State Grid tem experiência na transferência de grandes blocos de energia
entre regiões distantes.
A companhia é líder mundial em
linhas de transmissão em ultratensão em longas distâncias e desenvolve
projetos com essa tecnologia há mais de cinco anos, o que a credencia
para a disputa da transmissão de Belo Monte. Na China, os principais
negócios da companhia são justamente os setores de transmissão e
distribuição de energia elétrica.
A expectativa do mercado
é de que o próximo grande negócio no setor de distribuição no Brasil
seja uma possível venda das distribuidoras federalizadas sob a gestão da
Eletrobrás. Hongxian sinalizou o interesse da State Grid pelos ativos,
mas ponderou que se trata de uma oportunidade de investimento complexa.
"Essa é uma decisão muito difícil. Se para a Eletrobras já é difícil
gerenciar esses ativos, diria que seria muito difícil para uma companhia
chinesa lidar com isso."
Parcerias. Embora tenha
capacidade financeira para tocar projetos sozinha, a State Grid planeja
firmar parcerias com empresas brasileiras. Nos leilões de transmissão
que venceu, a companhia teve como parceiras Copel e Furnas. Essa
aproximação tem como objetivo compartilhar tecnologias e facilitar a
resolução de questões locais, como licenciamento ambiental. Nem a
morosidade do processo decisório das estatais no País diminuiu o apetite
da empresa. "Somos uma estatal na China e sabemos como isso funciona",
brincou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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