Indicado pelo PT para disputar o governo paulista, o ministro da Saúde fala de sua candidatura, da renovação do PT e defende o programa Mais Médicos
LEONEL ROCHA E FELIPE PATURY
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, está saindo da toca. Há dois meses, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o investiu como candidato petista ao governo de São Paulo. Padilha terá uma tarefa árdua: impedir a reeleição do tucano Geraldo Alckmin e encerrar duas décadas de comando do PSDB no Estado mais rico do Brasil. Na semana passada, Padilha se sentiu mais apto à tarefa. A presidente Dilma Rousseff sancionou a lei do programa Mais Médicos,
com que Padilha pretende coroar sua gestão. Será seu principal trunfo
para a campanha eleitoral no próximo ano. Ainda reticente no figurino de
candidato, nesta entrevista ele dá as primeiras estocadas no PSDB.
ÉPOCA – O senhor é candidato ao governo de São Paulo?
ÉPOCA – O senhor é candidato ao governo de São Paulo?
Alexandre Padilha – Estou atento às manifestações do PT, do ex-presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva) e de aliados da presidente Dilma Rousseff que dizem que meu nome é forte, positivo e renovador. Fico feliz em ser visto como um nome para acabar com o cansaço de 20 anos de governo do PSDB em São Paulo. O PT me vê como esse nome, mas nunca tratei do tema com a presidente. Quero merecer sua confiança para ficar no ministério o tempo que ela quiser. Se a presidente falar para ficar, eu fico. Quem determina meu futuro é ela.
ÉPOCA – Caso sua candidatura seja consolidada, como defende o PT paulista, o que pode ser feito para melhorar a saúde no Estado?
Padilha – Os debates eleitorais começam em 2014. Estive e estou concentrado no programa Mais Médicos e nas outras tarefas do ministério.
ÉPOCA – Entre as muitas críticas ao Mais Médicos, sobressai a
de que ele desvia o foco dos verdadeiros problemas da saúde, a falta de
dinheiro e a má gestão.
Padilha – O Mais Médicos quebrou um tabu: dizer que não faltam médicos no país. Mudou também o conceito de que só se faz saúde dentro de um hospital cheio de equipamentos. Nos últimos anos, o Brasil reduziu a mortalidade infantil mais que a América Latina e os Brics. As crianças precisam, agora, de pediatra. Aumentamos o acesso a medicamentos de hipertensão e diabetes, e a mortalidade cardiovascular caiu. É preciso, agora, mudar os hábitos relacionados a essas doenças. O perfil epidemiológico do país mudou. O SUS tem quatro desafios. O primeiro é formar médicos. O Brasil não terá saúde universal com, proporcionalmente, menos médicos que a Argentina. O segundo é o financiamento. Com o fim da CPMF, a saúde perdeu R$ 40 bilhões. O terceiro é a gestão. É preciso aprovar a Lei de Responsabilidade Sanitária, que estabelece regras e punições para quem não cumpri-las. O quarto é aumentar a capacidade de produzir e ofertar medicamentos.
ÉPOCA – O senhor se debruçou sobre as questões de saúde de São Paulo?
Padilha – De São Paulo e do Brasil inteiro. Os municípios e o governo estadual podem aproveitar mais as oportunidades que o Ministério da Saúde dá. Com relação ao combate ao crack. Colocamos à disposição do Estado R$ 500 milhões para ampliar a rede de enfrentamento à droga, com consultórios na rua.
ÉPOCA – Há posições antagônicas sobre o combate ao crack. A
prefeitura petista defende o tratamento dos dependentes nas ruas. O
governo estadual tucano defende a internação. Quem tem razão?
Padilha – É preciso haver menos polêmica e mais ação. Não existe verdade absoluta nisso. Milhares de jovens e famílias sofrem com o crack. Tem espaço para todo mundo. O ministério atuará para que instituições públicas ou privadas ampliem a rede de atendimento. Essa é a diferença do programa Crack – É Possível Vencer em relação a outras iniciativas. Propusemos a construção de uma rede que ofereça tipos de atendimentos diferentes para situações diferentes. Ele só não dá espaço para quem não respeita direitos humanos e trata o paciente de crack como traficante. Ou seja, com segurança, com autoridade e com polícia.
ÉPOCA – Como conter, então, a violência associada ao crack?
Padilha – Com uma ação articulada entre cuidado, prevenção e segurança. É a diferença entre o programa Crack – É Possível Vencer e iniciativas que não geram ações articuladas. Não se mexe na realidade urbana sem cooperação entre as guardas municipais, as polícias militares e a Polícia Federal. É preciso combinar o combate ao tráfico com ações de saúde.
ÉPOCA – Interceptações telefônicas comprovaram recentemente que
o tráfico em São Paulo é controlado das cadeias. Como se resolve um
problema de segurança dessa magnitude, que causa uma epidemia de
dependentes?
Padilha – Não é só qualquer paulista, como eu, que fica preocupado quando conhecem diálogos. É qualquer brasileiro. A chave para resolver o problema está na forte cooperação entre a Polícia Federal e estruturas estaduais e municipais de combate ao tráfico e de garantia da ordem pública.
ÉPOCA – O senhor se considera um exemplo de renovação do PT?
Padilha – Não tenho dúvida de que sou de uma nova geração do PT, como o (prefeito) Fernando Haddad. Sou de uma geração que começou na política na primeira eleição de Lula, mas vivi e aprendi muito com as gerações anteriores. Respiro política desde que nasci. Meu pai, Anivaldo Padilha, era da Ação Popular durante a ditadura. Foi preso e exilado no Chile, nos Estados Unidos e na Suíça. Tinha 6 anos quando o abracei pela primeira vez. Eu me comunicava com meu pai por gravações de fita cassete ou por carta. Quando encontrei um dos meus irmãos, ele tinha 4 anos. Ele pensava que eu morava na caixinha do gravador onde meu pai guardava minhas fitas. Minha mãe, doutora Léa, pediatra, era do PCdoB. Até meus 4 anos, ela e eu moramos em vários bairros de São Paulo, em Minas Gerais e Maceió. São Paulo foi a locomotiva. Agora, tem de ser um avião supersônico nos temas nacionais O ex-presidente Lula sempre apostou em formar novas lideranças e dar oportunidades a novas gerações. Em 2004, me nomeou ministro da Secretaria de Relações Institucionais. Aprendi muito. Sinto-me muito feliz de ser visto como uma renovação do PT. Mas essa renovação não é só de nomes, pessoas e faixa etária. O PT precisa compreender, e acho que compreende, seu novo papel. Nos últimos dez anos, mudamos o país. Agora, temos de construir um projeto que continue os avanços.
ÉPOCA – E como o Estado de São Paulo se encaixa nessa mudança? Pode dar um exemplo?
Padilha – Existe um cansaço em relação aos 20 anos de PSDB em São Paulo. Não é só o PT que sente isso. Outros partidos terão candidatura, porque também sentem isso.
Nosso Estado sempre cresceu mais que a média do país. São Paulo foi a locomotiva do Brasil. Outro dia, disse que tem de ser um avião supersônico, para voltar a crescer mais que a média e influenciar nos temas nacionais. O PSDB perdeu a capacidade de renovação e de entender o que mudou para dar um novo salto. O Brasil ocupou outro lugar no mundo. São Paulo tem de ocupar um novo espaço também. Tem de ser referência para políticas públicas desenvolvidas na Europa, nos Estados Unidos, no Sudeste Asiático para enfrentar a pobreza, para a segurança e para a inovação tecnológica.
ÉPOCA – Pode dar um exemplo de como fazer isso?
Padilha – A política de inovação tecnológica que desenvolvemos no Ministério da Saúde. Ela permite que indústrias privadas instaladas em São Paulo desenvolvam tecnologias com parcerias público-privadas. Pode ser um exemplo para o mundo. Com os hospitais públicos e privados que tem, São Paulo pode ser uma cidade de turismo de saúde. Também pode ser um polo de atração de turismo médico, indústria médica, produtos e insumos, recuperando também a capacidade de atrair indústrias. São Paulo já tem a segunda maior feira hospitalar do mundo. Pode disputar, não só em quantidade de pessoas, mas em tecnologias a incorporar. Isso pode ser feito com estímulos tributários e financeiros.
ÉPOCA – Que outros problemas o senhor vê na atual gestão?
Padilha – Não vou elencar. Mas, como paulista e paulistano, sei que um dos maiores problemas é o transporte público na capital e na região metropolitana. Ele precisa ser enfrentado com coordenação e cooperação entre o governo federal, do Estado e dos municípios. O cidadão às vezes perde duas horas no trânsito. É ruim também para quem tem carro e faz a região metropolitana de São Paulo perder competitividade na economia.
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