O mecenas da hora
A Jaeger LeCoultre, relojoeira suíça de alto luxo, do CEO Daniel Riedo, segue os passos de grifes famosas e investe na restauração de do relógio da estação Júlio Prestes, em São Paulo
Por Bruna BORELLI
Assistir a um concerto na Sala São Paulo faz parte da lista de
atrações turísticas da capital paulista. Além de integrar o patrimônio
histórico da cidade, o local abriga os concertos da renomada Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). E foi lá que o suíço Daniel
Riedo, da grife de alta relojoaria Jaeger LeCoultre, teve a sua primeira
impressão do Brasil. O executivo, que conheceu o País no início de
outubro, conta que se impressionou com o talento do pianista mineiro
Nelson Freire. “Não o conhecia e fiquei bastante emocionado”, diz. Ele
esteve no País para anunciar a doação feita pela marca à Secretaria da
Cultura do Governo do Estado de São Paulo para a restauração do relógio
da torre da estação Júlio Prestes.
“É um presente para São Paulo”, afirmou em entrevista à DINHEIRO. O
anúncio da ação filantrópica contou com a presença de 250 convidados,
ou melhor, compradores potenciais de seus relógios, que chegam a custar
até US$ 1 milhão, e formadores de opinião. Por mais que, a princípio,
não esteja nos planos da Jaeger LeCoultre divulgar a doação usando uma
placa ou “envelopando” o monumento a ser reformado com o logo da grife,
como outras empresas já fizeram (leia-se Bulgari e Fendi, na Itália), o
incentivo financeiro funciona como uma boa estratégia para estreitar o
relacionamento da marca com os consumidores super-ricos.
Em Portugal: a grife, que comemora 180 anos em 2013, já havia restaurado
o relógio do Arco da Rua Augusta, em Lisboa
Para Silvio Passarelli, diretor da Faculdade de Artes Plásticas da
Faap, essa é uma parceria em que os dois lados saem ganhando: o governo,
que recebe o apoio de uma instituição privada para a reforma de um
monumento histórico, e a marca, que associa seu nome a uma obra
arquitetônica de respeito. “A atuação em segmentos da sociedade que
geram prestígio, como artes visuais em geral, é uma necessidade do
mercado de luxo”, diz o especialista. Passarelli explica que,
quando uma marca patrocina, financia ou apoia qualquer expressão
cultural, há uma transferência sutil da admiração e do respeito obtido
pelo evento ou pelo monumento para a empresa em questão.
O relógio, datado de 1938, estava em más condições, segundo Riedo.
“A estação é um marco na cidade”, disse o executivo, que prevê a
conclusão da restauração para três ou quatro meses após o início dos
trabalhos, em janeiro do ano que vem. “Essa ação, além de fazer parte de
nossos valores, é o nosso jeito de dizer que o Brasil é um país
importante para nós.” A escolha não poderia ser melhor para a estratégia
de marketing da grife suíça, que patrocina festivais de cinema em
Veneza e Xangai. Em seu portfólio “do bem”, a Jaeger LeCoultre inclui,
ainda, a restauração do relógio do Arco da Rua Augusta, um dos
cartões-postais de Lisboa.
No Brasil: sem valor divulgado, a reforma de um dos marcos da capital
paulista deve demorar de três a quatro meses
A Tod’s, italiana de sapatos de luxo, é outra grife que aposta na
estratégia de participação mais discreta, ao menos no visual da reforma,
a exemplo da Jaeger LeCoultre. Mesmo assim, a notícia da restauração do
Coliseu, em Roma, vem sendo badalada nos meios de comunicação desde
2010. O custo da reforma deve ficar em torno de € 25 milhões, um valor
exorbitante, principalmente para um dos países mais afetados pela crise
econômica europeia, mas uma ninharia diante do valor histórico do bem
patrocinado.
Na Itália: a conterrânea Tod's, com Diego Della Valle no comando,
deve pagar ? 25 milhões na restauração do Coliseu
“Não pretendemos usar a área do Coliseu como espaço publicitário”,
afirmou Diego Della Valle, CEO da marca, em entrevista à DINHEIRO na
edição 802. “Essa reforma é um patrocínio, sem finalidade comercial.”
Menos discreta, a Bulgari estampou por três anos um outdoor que exibia a
atriz Julianne Moore repleta de joias da grife em frente à Ponte dos
Suspiros, em Veneza, construída em 1602. Essa foi a moeda de troca
utilizada pela grife pela recuperação da ponte, que custou € 2,8
milhões. Um toma lá dá cá de bom gosto e sensibilidade que se tornou uma
boa opção para governos e também para empresas.
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