FABIO BRISOLLA
DO RIO
DO RIO
Um projeto para acelerar a produção de medicamentos para parasitoses
ainda comuns no Brasil e na África e dois para facilitar o plantio com
técnicas de baixo custo receberão financiamento da fundação do
bilionário Bill Gates, da Microsoft.
Cada um dos três pesquisadores brasileiros responsáveis pelos planos vai
ganhar um patrocínio de US$ 100 mil (R$ 219 mil) que pode ser estendido
a US$ 1 milhão (R$ 2,19 milhões) se a execução da ideia for
bem-sucedida.
A indicação deles será anunciada em uma conferência promovida pela Fundação Bill e Melinda Gates, que começa hoje no Rio.
O encontro, realizado pela primeira vez no país, vai até quarta (30) e
promete reunir mais de 600 pesquisadores já contemplados com o apoio
financeiro dos programas batizados de Grand Challenges (grandes
desafios), criados pela organização de Gates.
De 2.700 inscritos, 80 foram selecionados, entre eles o farmacêutico
carioca Floriano Paes Silva Júnior, o engenheiro agrônomo paulista
Mateus Marrafon e o engenheiro mecânico mineiro Ricardo Capúcio de
Resende.
"O projeto vai ajudar na produção de medicamentos para doenças causadas
por parasitas, como esquistossomose e filariose", disse Silva Júnior,
35, que trabalha na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio.
Daniel Marenco/Folhapress | ||
O farmacêutico Floriano Paes Silva Júnior, 35, da Fiocruz, que receberá financiamento para pesquisas sobre parasitoses |
O farmacêutico propôs o desenvolvimento de um software capaz de
interpretar imagens de parasitas feitas com microscópio para avaliar
quais medicamentos já existentes podem ser úteis para combatê-los. Essa
análise automatizada da reação do parasita à substância poderia ajudar
até a dizer qual será a dose ideal para matá-lo.
Até agora, essa avaliação se dá por meio da observação e da
interpretação, feitas por um pesquisador, das características do
causador da doença, o que leva a conclusões nem sempre consistentes.
"Hoje o método é manual e subjetivo", disse Silva Júnior.
Mateus Marrafon, 29, pesquisador do Instituto Kairós, desenvolveu
protótipos de uma fita biodegradável que envolve as sementes
selecionadas para uma determinada plantação. Dentro da fita, que é
enterrada no solo, as sementes são distribuídas de acordo com o
espaçamento ideal para o crescimento.
"As máquinas agrícolas que distribuem sementes com o espaçamento
adequado são caras. A fita é uma opção de baixo custo que vai ajudar o
pequeno agricultor", disse Marrafon, que começou a pensar no projeto em
2006, quando estava na faculdade.
"Tentei de todas as formas buscar parceiros para desenvolver meu
projeto, mas não consegui. Foi preciso recorrer a uma instituição de
fora do Brasil para levar minha ideia adiante."
Ricardo Resende, 47, da Universidade Federal de Viçosa, também pensou em
uma ferramenta que ajudasse no plantio. Projetou uma máquina com duas
rodas, capaz de criar buracos no solo e, simultaneamente, lançar
sementes. Seria a opção artesanal às semeadoras automatizadas usadas em
grandes propriedades.
"É como um carrinho de mão que pode ser usado inclusive pelas mulheres, uma ferramenta ideal para a agricultura familiar."
A Fundação Bill e Melinda Gates também firmou parceria com o governo
brasileiro. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, deve ir hoje à
abertura da conferência para formalizar um acordo entre a Fiocruz e a
instituição americana para a produção de um vacina dupla viral contra
sarampo e rubéola.
Segundo a fundação, a vacina deverá ser exportada para países africanos.
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