Inflação próxima a 6% aperta a margem de lucro do setor privado e gera incertezas para 2014
Por Ana Paula RIBEIRO
O faturamento da fabricante cearense de eletrodomésticos
Esmaltec, em 2013, deverá ficar próximo ao alcançado no ano passado. No
entanto, a empresa verá o seu lucro, que chegou a R$ 53 milhões, em
2012, cair significativamente. O motivo é um só: inflação. A empresa
sofreu com o aumento dos custos, principalmente em matérias-primas como
aço e plástico, mas segurou o repasse ao preço final dos produtos, com
receio de perder participação de mercado. “Foi um ano de muita
dificuldade e o resultado vai ser prejudicado por conta do aumento nos
insumos”, afirma Annette Reeves de Castro, superintendente da Esmaltec.
Cantelli, da Fitas ABC: "Já estamos no nosso limite. Decidimos não trabalhar
com margem bruta inferior a 25%"
Segundo a executiva, a alta nos custos foi, em média, de 10%. Já o
reajuste na tabela aos fornecedores, que teve início há pouco mais de um
mês, tem ficado por volta de 5%. A precaução está no fato de o
principal público da empresa estar nas classes C e D, mais sensíveis a
mudanças nos valores dos produtos consumidos. Nem mesmo a alta contida
nos chamados bens comercializáveis, como os fogões fabricados pela
Esmaltec, aliviou a inflação. No acumulado de 12 meses encerrados em
setembro, o índice oficial está em 5,86%. E, embora tenha ficado pela
primeira vez em 2013 abaixo de 6% nesse tipo de comparação, a
expectativa dos analistas é de pressão nos últimos meses do ano.
Para 2014, o cenário é parecido, com as projeções em torno de 6%
para o IPCA. “Acredito que o problema do Banco Central é não perseguir
os 4,5% do centro da meta”, diz Jankiel Santos, economista-chefe do BES
Investimentos. “O objetivo deveria ser esse, e não um patamar maior.” O
temor é que ao permitir ou contentar-se com um IPCA próximo ao teto da
meta, que é de 6,5%, a autoridade monetária esteja correndo o risco de
extrapolar o limite caso ocorra algum tipo de choque, como uma alta no
preço de determinados alimentos ou um repique na cotação do dólar. Neste ano, o estouro só não ocorreu porque houve uma grande contribuição dos itens administrados.
Reajuste próximo: a expectativa é de aumento nos preços de derivados
de petróleo, como a gasolina, ainda neste ano
Nos 12 meses encerrados em setembro, esse grupo teve alta de apenas
1,35% (leia quadro ao final da reportagem). Isso foi possível devido à
decisão do governo de reduzir as tarifas de energia e segurar o aumento
nos combustíveis. Para o ano que vem, esse grupo de itens controlados
deve subir um pouco mais, já próximo dos 4%. Isso mostra que o governo
terá menor margem de manobra, uma vez que não consegue administrar
diretamente os preços comercializáveis e, principalmente, os de
serviços, que continuam ganhando impulso com os aumentos reais de
salários. Há também o temor de que o dólar tenha algum tipo de repique e
atrapalhe novamente o controle inflacionário, o que torna ainda mais
difícil a condução da política monetária, segundo a economista do banco
Santander Tatiana Pinheiro.
A expectativa da instituição é de que a inflação chegue a 6,3% no
ano que vem, pouco acima dos 6,1% que o IPCA deve alcançar até dezembro,
já levando em conta um provável reajuste da gasolina. A contribuição
desse aumento deve ficar em torno de 0,20 ponto percentual. A manutenção
do IPCA em patamares elevados ocorre porque, mesmo com a atividade
econômica pouco aquecida – o que faz com que as empresas segurem os
repasses –, o mercado de trabalho está com baixo nível de desemprego.
“Isso vai fazer com que a inflação de serviços continue no patamar de
8%”, diz Tatiana. “É mais fácil elevar preços dos itens não negociáveis,
que não possuem concorrência do mercado externo.”
Há empresas que também tiveram de apertar as suas margens por causa
da desvalorização cambial de 10% neste ano. Que o diga o empresário
Waldir Cantelli, sócio da Fitas ABC, que viu sua principal fornecedora
no Brasil, a 3M, elevar o preço por duas vezes com a justificativa da
alta da moeda americana. Como seus clientes, as montadoras de automóveis
relutam em aceitar mudanças nos custos e parte do aumento acabou sendo
absorvida pela empresa. “Já estamos no nosso limite”, diz Cantelli.
“Tanto que decidimos não trabalhar com margem bruta inferior a 25%,
mesmo que tenhamos de deixar de fornecer para alguns clientes.”
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