Funcionários e apoiadores serão recebidos na sede da ONU, na capital, para fazer uma caminhada que homenageará, em especial, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello
ONU: organização ompletou 68 anos nesta semana e foi criada na década de 1940 com o objetivo de ser uma organização mantenedora da paz
Brasília - A Casa das Nações Unidas em Brasília promove hoje (26) uma
marcha em comemoração ao Dia da Organização das Nações Unidas (ONU),
celebrado na última quinta-feira (24). Funcionários e apoiadores da ONU serão
recebidos na sede da organização, na capital, para fazer uma caminhada
que homenageará, em especial, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que
foi alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. A morte
de Vieira de Mello em uma missão da organização em Bagdá, no Iraque, faz
uma década este ano.
A ONU, que completou 68 anos de existência nesta semana, foi criada na
década de 1940 com o objetivo de ser uma organização mantenedora da paz e
da segurança, do desenvolvimento e dos direitos humanos. A Carta das
Nações Unidas, em 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial, inaugurou
as atividades da organização.
Com o passar dos anos, no entanto, o contexto das relações
internacionais mudou. Quando foi criada, a organização tinha 51 membros.
Atualmente, essa quantidade mais que triplicou e os membros somam 193. A
legitimidade das decisões tomadas e as ações que tem proposto sofrem
criticas, com os argumentos de que a representatividade nas instâncias
da organização são deficitárias e que não são um reflexo, de fato, do
mundo.
Desde a criação da ONU, diversos países conquistaram a sua
independência - muitos do continente africano -; outros, se dissolveram,
dando origem a novos Estados como a antiga Iugoslávia, se dividiu em
seis nações: atuais Sérvia, Montenegro, Croácia, Eslovênia, Macedônia e
Bósnia. Com mudanças, o equilíbrio das relações entre as nações no mundo
não é mais o mesmo, tanto em termos políticos quanto econômicos. Nos
últimos anos, o destaque tem sido a emergência de grandes países em
desenvolvimento, como é o caso do Brasil e da Índia.
A estrutura da ONU, todavia, não acompanhou essas mudanças no contexto
mundial. No Conselho de Segurança, a instância que toma decisões que
podem ser obrigatórias aos países, houve uma reforma na década de 1960. A
mudança foi em relação a quantidade de assentos não permanentes, mas
nada evoluiu em relação aos membros permanentes, que têm poder de veto.
Mais de 60 anos depois da criação das Nações Unidas, Estados Unidos,
Reino Unido, França, China e Rússia continuam sendo os cinco principais
responsáveis pelas decisões no âmbito do conselho.
Sobre o Conselho de Segurança, o coordenador residente das Nações
Unidas no Brasil, Jorge Chediek, admitiu que a instância é o resultado
das relações de poder do século passado. "O mundo mudou e para haver um
sistema de segurança global, as novas potências têm de ser acomodadas.
Como e quando? Isso vai depender de vontade política, mas é cada vez
mais claro e evidente que vai acontecer", informou à Agência Brasil o
representante da ONU.
Os principais desafios da organização atualmente dizem respeito não só a
paz e a segurança como nos casos da Síria, do Irã, da Líbia, do Egito e
da Palestina mas, também, à novas questões mundiais que impõem a
necessidade de regulamentação, especialmente o meio ambiente e os
direitos humanos. Nesta semana, foi bastante debatido o tema da
segurança cibernética, depois das denúncias de que os Estados Unidos
espionaram comunicações de diversos países.
Autoridades da Alemanha e da França informaram que o entendimento com
os Estados Unidos e algum tipo de regulamentação tem de ser alcançado
até o final do ano. O Brasil, paralelamente, também tem articulado
iniciativas no âmbito multilateral para criar marcos regulatórios que
evitem ou que deixem claro que práticas como as verificadas são
atentatórias ao direito internacional.
"A relevância da ONU, hoje, é maior do que nunca. Os problemas globais
precisam de soluções globais, multilaterais. Temos muitos problemas, mas
a boa noticia é que estamos evoluindo para o maior comprometimento em
resolvê-los conjuntamente", disse Chediek.
Segundo ele, exemplos disso são a deliberação do Conselho de Segurança
no último mês sobre a questão da Síria e a preparação da agenda pós
2015, quando expira o prazo para a implementação dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), que não foram totalmente alcançados.
"Temos que completar a agenda atual. Hoje, há meios tecnológicos e
financeiros para eliminar a pobreza, a fome e as doenças. Precisamos
continuar avançando nessa agenda, mas, também, tratar dos elementos
novos como a sustentabilidade ambiental e a governança mais
democrática", explicou Chediek, sobre os novos temas da agenda
multilateral.
O mesmo foi dito pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em nota
divulgada pelo Dia das Nações Unidas. "Os Objetivos do Milênio
diminuíram os casos de pobreza pela metade. Agora, temos de elaborar uma
agenda igualmente inspiradora para a agenda pós 2015 e chegar a um
acordo sobre mudanças do clima".
Para o chefe da Divisão das Nações Unidas (DNU) do Itamaraty,
conselheiro Marcelo Viegas, a organização de um modo geral, e o Conselho
de Segurança, em especial, precisam de um equilíbrio maior em relação
aos pilares sobre os quais a organização foi criada: paz e segurança,
desenvolvimento e direitos humanos.
"O Conselho de Segurança é um é um órgão de composição restrita, daí a
necessidade de refletir de maneira minimamente adequada a composição da
comunidade internacional", explicou o diplomata à Agência Brasil.
De acordo com Viegas, há um certo consenso internacional em relação à
necessidade de reformas. "A discussão agora é qual fórmula será usada
para isso, o que está sendo trabalhado. O ano de 2015 marca o 70º
aniversário da organização. É uma referência possível e muito válida
para balizar esse tipo de reforma", disse o conselheiro.
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