Figueiredo Filho, neto de João Baptista, o último presidente militar do Brasil, decide apostar em turismo. Seu empreendimento já desperta a cobiça de investidores globais, como o bilionário Donald Trump
Por Wilson AQUINO
No escritório do economista Paulo Figueiredo Filho, 30 anos,
de frente para a praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, duas
molduras com livros do bilionário americano Donald Trump decoram uma das
paredes.
A extensa dedicatória do magnata americano para Figueiredo
Filho termina com um apelo comercial: “Boa sorte e vamos tentar fechar
negócio.” O economista é neto do último presidente do regime militar
brasileiro, João Baptista Figueiredo (1918-1999), que governou o País
entre 1979 e 1985. Desde 2011, Figueiredo Filho é o CEO da Polaris,
empresa de projetos e investimentos da família, fundada em 1982 pelo
engenheiro Paulo Figueiredo, seu pai e primogênito do general.
Dono do pedaço: Figueiredo Filho, CEO da Polaris, começou a carreira
com condomínios de luxo, na Barra da Tijuca, no Rio
A Polaris está à frente de um fundo de investimento que vai aplicar
R$ 235 milhões na construção de um hotel na Barra, com a proposta de
inaugurar no Brasil o conceito lifestyle, luxo com um jeitão descolado.
Trump é um dos empresários que querem emprestar sua marca ao hotel, que,
pelas contas de Figueiredo Filho, deve faturar R$ 80 milhões por ano.
“Estive com Trump recentemente em seu clube de verão, na Flórida, e ele
foi muito simpático”, afirma o neto do ex-presidente. No entanto, há
outros gigantes internacionais da hotelaria interessados no
empreendimento.
“Estamos conversando, também, com quatro redes (Intercontinental,
Starwoods, Hilton e Wyndham Hotel Group), todas desesperadas para operar
no Brasil”, disse. Em dois meses, o contrato será assinado com uma
delas e o nome do ex-presidente Figueiredo passará a ser associado
também ao hotel de luxo. O neto demonstra ter a mesma autoconfiança do
avô. Segundo ele, seu hotel vai desbancar o tradicional Copacabana
Palace, no bairro de mesmo nome, e o sofisticado Fasano, em Ipanema,
sobre os quais faz ressalvas. “No segmento de luxo carioca você compete
com esses hotéis, mas o Copa não é uma marca internacional e o Fasano é
muito pequeno, não tem área de eventos, que é importante”, afirma
Figueiredo Filho.
Seu hotel deve ser concluído a tempo de faturar com a Olimpíada
2016. Segundo o CEO da Polaris, os hotéis tradicionais desprezaram uma
geração que estava florescendo e não tem tanta preocupação com luxo
ostensivo, mas sim com estilo de vida.“A diferença começa logo na
entrada. “Não vamos ter lobby”, afirma. “Teremos uma imensa sala de
estar com um bar no meio servindo drinques exóticos e aperitivos, além
de som a cargo de DJ.” O check-in será feito em um espaço separado, onde
as pessoas ficarão sentadas, aguardando o registro. “Não vai ter
ninguém em pé com a barriga no balcão”, diz.
Para poucos: o hotel na Barra da Tijuca terá diária de até R$ 10 mil
Esses mimos serão incluídos no preço. “É caro, para poucos, sim”,
reconhece. “Mas há gente disposta a pagar por isso.” Outro diferencial
são as grifes que assinam o projeto arquitetônico. A lista inclui o
escritório americano WATG, um dos maiores no ramo de hotelaria de luxo, e
David Bromstad, responsável pelos cenários da cerimônia do Oscar e que
em 2012 ganhou o prêmio de melhor designer de hotéis do mundo. O
paisagismo está a cargo do Witkin Hults Design, premiado escritório da
Flórida, que irá revitalizar a Praça do Ó, vizinha ao empreendimento.
“Os hotéis que se constroem no Brasil, inclusive alguns que
estão na orla, são umas porcarias”, detona o neto, que, a exemplo do
avô, não tem papas na língua. “Parecem caixas de papelão
revestidas de porcelanato.” O parentesco com o último general
presidente, diz Figueiredo Filho, tanto ajuda quanto atrapalha. “O
aspecto positivo é que as pessoas sabem quem você é e não te esquecem”,
afirma. “Realmente dá um tempero na relação e ajuda a divulgar os
trabalhos.” Por outro lado, às vezes, fecha portas.
“Há um segmento revanchista da sociedade, que coloca todos os
militares no mesmo saco: você é neto de ditador, não vamos receber”,
afirma. Antes de ingressar no mercado hoteleiro, a família Figueiredo
lançou um condomínio de casas de luxo na Barra da Tijuca, o Disegno.
“Falaram que não venderíamos, mas comercializamos 80% no lançamento”,
contou Figueiredo Filho, que vendeu 22 mansões, entre 600 e mil metros
quadrados, a preços que variam de R$ 2,4 milhões a R$ 5 milhões. O
último representante da ditadura implantada em 1964 preferia lidar com
cavalos – é famosa sua frase “prefiro cheiro de cavalo ao do povo –,
mas, certamente, ficaria orgulhoso com o tino comercial do neto.
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