sábado, 26 de outubro de 2013

O hotel de luxo do general


Figueiredo Filho, neto de João Baptista, o último presidente militar do Brasil, decide apostar em turismo. Seu empreendimento já desperta a cobiça de investidores globais, como o bilionário Donald Trump

Por Wilson AQUINO

No escritório do economista Paulo Figueiredo Filho, 30 anos, de frente para a praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, duas molduras com livros do bilionário americano Donald Trump decoram uma das paredes. 

A extensa dedicatória do magnata americano para Figueiredo Filho termina com um apelo comercial: “Boa sorte e vamos tentar fechar negócio.” O economista é neto do último presidente do regime militar brasileiro, João Baptista Figueiredo (1918-1999), que governou o País entre 1979 e 1985. Desde 2011, Figueiredo Filho é o CEO da Polaris, empresa de projetos e investimentos da família, fundada em 1982 pelo engenheiro Paulo Figueiredo, seu pai e primogênito do general. 
 
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Dono do pedaço: Figueiredo Filho, CEO da Polaris, começou a carreira
com condomínios de luxo, na Barra da Tijuca, no Rio
 
A Polaris está à frente de um fundo de investimento que vai aplicar R$ 235 milhões na construção de um hotel na Barra, com a proposta de inaugurar no Brasil o conceito lifestyle, luxo com um jeitão descolado. 
 
Trump é um dos empresários que querem emprestar sua marca ao hotel, que, pelas contas de Figueiredo Filho, deve faturar R$ 80 milhões por ano. “Estive com Trump recentemente em seu clube de verão, na Flórida, e ele foi muito simpático”, afirma o neto do ex-presidente. No entanto, há outros gigantes internacionais da hotelaria interessados no empreendimento. 
 
“Estamos conversando, também, com quatro redes (Intercontinental, Starwoods, Hilton e Wyndham Hotel Group), todas desesperadas para operar no Brasil”, disse. Em dois meses, o contrato será assinado com uma delas e o nome do ex-presidente Figueiredo passará a ser associado também ao hotel de luxo. O neto demonstra ter a mesma autoconfiança do avô. Segundo ele, seu hotel vai desbancar o tradicional Copacabana Palace, no bairro de mesmo nome, e o sofisticado Fasano, em Ipanema, sobre os quais faz ressalvas. “No segmento de luxo carioca você compete com esses hotéis, mas o Copa não é uma marca internacional e o Fasano é muito pequeno, não tem área de eventos, que é importante”, afirma Figueiredo Filho. 
 
Seu hotel deve ser concluído a tempo de faturar com a Olimpíada 2016. Segundo o CEO da Polaris, os hotéis tradicionais desprezaram uma geração que estava florescendo e não tem tanta preocupação com luxo ostensivo, mas sim com estilo de vida.“A diferença começa logo na entrada. “Não vamos ter lobby”, afirma. “Teremos uma imensa sala de estar com um bar no meio servindo drinques exóticos e aperitivos, além de som a cargo de DJ.” O check-in será feito em um espaço separado, onde as pessoas ficarão sentadas, aguardando o registro. “Não vai ter ninguém em pé com a barriga no balcão”, diz. 
 
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Para poucos: o hotel na Barra da Tijuca terá diária de até R$ 10 mil 
 
Esses mimos serão incluídos no preço. “É caro, para poucos, sim”, reconhece. “Mas há gente disposta a pagar por isso.” Outro diferencial são as grifes que assinam o projeto arquitetônico. A lista inclui o escritório americano WATG, um dos maiores no ramo de hotelaria de luxo, e David Bromstad, responsável pelos cenários da cerimônia do Oscar e que em 2012 ganhou o prêmio de melhor designer de hotéis do mundo. O paisagismo está a cargo do Witkin Hults Design, premiado escritório da Flórida, que irá revitalizar a Praça do Ó, vizinha ao empreendimento. 
 
“Os hotéis que se constroem no Brasil, inclusive alguns que estão na orla, são umas porcarias”, detona o neto, que, a exemplo do avô, não tem papas na língua. “Parecem caixas de papelão revestidas de porcelanato.” O parentesco com o último general presidente, diz Figueiredo Filho, tanto ajuda quanto atrapalha. “O aspecto positivo é que as pessoas sabem quem você é e não te esquecem”, afirma. “Realmente dá um tempero na relação e ajuda a divulgar os trabalhos.” Por outro lado, às vezes, fecha portas. 
 
“Há um segmento revanchista da sociedade, que coloca todos os militares no mesmo saco: você é neto de ditador, não vamos receber”, afirma. Antes de ingressar no mercado hoteleiro, a família Figueiredo lançou um condomínio de casas de luxo na Barra da Tijuca, o Disegno. “Falaram que não venderíamos, mas comercializamos 80% no lançamento”, contou Figueiredo Filho, que vendeu 22 mansões, entre 600 e mil metros quadrados, a preços que variam de R$ 2,4 milhões a R$ 5 milhões. O último representante da ditadura implantada em 1964 preferia lidar com cavalos – é famosa sua frase “prefiro cheiro de cavalo ao do povo –, mas, certamente, ficaria orgulhoso com o tino comercial do neto.
 
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