Primeira mulher a ocupar a direção do FMI, a francesa Christine Lagarde assumiu o posto em 2011 com a promessa de dar mais poder aos emergentes (Por Luís Artur Nogueira)
por Luís Artur Nogueira
O Fundo Monetário Internacional (FMI) anda
flertando com o ostracismo e a irrelevância. Dado o histórico negativo
de previsões, e de políticas e intervenções equivocadas, há tempos o seu
receituário econômico não é mais levado em consideração pelas
principais potências globais. É o caso do Brasil, que já superou a fase
do “Fora FMI” e hoje é credor do órgão. Quem ainda se arrisca a fazê-lo,
como a Espanha e a Grécia, amarga longos períodos de recessão e
desemprego elevado – no caso espanhol, a taxa é de incríveis 26,3%.
Eis que na semana passada, justamente quando o Brasil obteve êxito
no leilão do pré-sal e cravou a menor taxa de desemprego da história
para o mês de setembro (5,4%), o Fundo divulgou um relatório com
críticas ao País. Um documento inoportuno e desatualizado. A avaliação,
feita por uma missão do FMI que veio ao País em maio, teve como foco
principal a situação das contas públicas do governo federal. “O
excessivo microgerenciamento na política fiscal enfraqueceu a
credibilidade do modelo fiscal de longo prazo”, diz o relatório.
De fato, houve erros nas manobras fiscais executadas no fim de
2012, apelidadas jocosamente pelo mercado de contabilidade criativa.
Desde então, o Ministério da Fazenda e o Tesouro Nacional admitiram a
falha inúmeras vezes e deixaram claro que a meta do governo é buscar a
transparência das contas públicas. Até mesmo uma redução nos aportes do
Tesouro para o BNDES, que piora a dívida bruta, já foi anunciada. Numa
tentativa de justificar o imenso atraso na publicação do relatório, o
FMI culpou o governo brasileiro, que pediu correções nos cálculos de
endividamento público.
O órgão só não explicou por que, mesmo assim, decidiu divulgar um texto desatualizado tanto tempo depois. Ao
avaliar o potencial econômico do Brasil, o FMI voltou a liderar o coro
dos pessimistas de plantão. Proferiu obviedades como a de que o País
precisa aumentar a sua taxa de investimentos para garantir um
crescimento sustentável do PIB de 3,5% ao ano. Talvez por
defasagem ou completa miopia dos seus autores, o texto ignorou o fato de
que há um programa de concessões em infraestrutura em andamento, da
ordem de R$ 450 bilhões, cuja objetivo é exatamente turbinar o volume de
investimentos.
Além disso, o BNDES tem incentivado a compra de máquinas e
equipamentos a taxas de juros reais negativas, iniciativa que também
ajudará a encorpar a Formação Bruta de Capital Fixo. Primeira mulher a
ocupar a direção do FMI, a francesa Christine Lagarde assumiu o posto em
2011 com a promessa de dar mais poder aos emergentes. Até agora não
cumpriu a missão. Há duas semanas, em uma reunião em Washington, o
chamado G-24, grupo que reúne países em desenvolvimento como o Brasil,
Índia e México, reivindicou mais voz no organismo através de uma revisão
nas cotas.
A atual distribuição de forças, pasmem, remonta à Segunda Guerra
Mundial, quando o órgão foi criado. Além de justa e necessária, uma
maior participação dos emergentes poderia ajudar o Fundo a traçar melhor
as suas análises globais, sem o velho blá-blá-blá recessivo. Afinal de
contas, olhar apenas para o retrovisor sem observar o que vem pela
frente não é o tipo de postura que o mundo espera do FMI. Na ausência de
algo melhor a dizer, o silêncio é uma contribuição eloquente.
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