sábado, 26 de outubro de 2013

Por que não te calas, FMI?


Primeira mulher a ocupar a direção do FMI, a francesa Christine Lagarde assumiu o posto em 2011 com a promessa de dar mais poder aos emergentes (Por Luís Artur Nogueira)

por Luís Artur Nogueira

O Fundo Monetário Internacional (FMI) anda flertando com o ostracismo e a irrelevância. Dado o histórico negativo de previsões, e de políticas e intervenções equivocadas, há tempos o seu receituário econômico não é mais levado em consideração pelas principais potências globais. É o caso do Brasil, que já superou a fase do “Fora FMI” e hoje é credor do órgão. Quem ainda se arrisca a fazê-lo, como a Espanha e a Grécia, amarga longos períodos de recessão e desemprego elevado – no caso espanhol, a taxa é de incríveis 26,3%. 
 
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Eis que na semana passada, justamente quando o Brasil obteve êxito no leilão do pré-sal e cravou a menor taxa de desemprego da história para o mês de setembro (5,4%), o Fundo divulgou um relatório com críticas ao País. Um documento inoportuno e desatualizado. A avaliação, feita por uma missão do FMI que veio ao País em maio, teve como foco principal a situação das contas públicas do governo federal. “O excessivo microgerenciamento na política fiscal enfraqueceu a credibilidade do modelo fiscal de longo prazo”, diz o relatório. 
 
De fato, houve erros nas manobras fiscais executadas no fim de 2012, apelidadas jocosamente pelo mercado de contabilidade criativa. Desde então, o Ministério da Fazenda e o Tesouro Nacional admitiram a falha inúmeras vezes e deixaram claro que a meta do governo é buscar a transparência das contas públicas. Até mesmo uma redução nos aportes do Tesouro para o BNDES, que piora a dívida bruta, já foi anunciada. Numa tentativa de justificar o imenso atraso na publicação do relatório, o FMI culpou o governo brasileiro, que pediu correções nos cálculos de endividamento público. 
 
O órgão só não explicou por que, mesmo assim, decidiu divulgar um texto desatualizado tanto tempo depois. Ao avaliar o potencial econômico do Brasil, o FMI voltou a liderar o coro dos pessimistas de plantão. Proferiu obviedades como a de que o País precisa aumentar a sua taxa de investimentos para garantir um crescimento sustentável do PIB de 3,5% ao ano. Talvez por defasagem ou completa miopia dos seus autores, o texto ignorou o fato de que há um programa de concessões em infraestrutura em andamento, da ordem de R$ 450 bilhões, cuja objetivo é exatamente turbinar o volume de investimentos. 
 
Além disso, o BNDES tem incentivado a compra de máquinas e equipamentos a taxas de juros reais negativas, iniciativa que também ajudará a encorpar a Formação Bruta de Capital Fixo. Primeira mulher a ocupar a direção do FMI, a francesa Christine Lagarde assumiu o posto em 2011 com a promessa de dar mais poder aos emergentes. Até agora não cumpriu a missão. Há duas semanas, em uma reunião em Washington, o chamado G-24, grupo que reúne países em desenvolvimento como o Brasil, Índia e México, reivindicou mais voz no organismo através de uma revisão nas cotas. 
 
A atual distribuição de forças, pasmem, remonta à Segunda Guerra Mundial, quando o órgão foi criado. Além de justa e necessária, uma maior participação dos emergentes poderia ajudar o Fundo a traçar melhor as suas análises globais, sem o velho blá-blá-blá recessivo. Afinal de contas, olhar apenas para o retrovisor sem observar o que vem pela frente não é o tipo de postura que o mundo espera do FMI. Na ausência de algo melhor a dizer, o silêncio é uma contribuição eloquente.

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