sábado, 26 de outubro de 2013

Mais potência no crédito


Bancos de montadoras querem aproveitar a queda da inadimplência para acelerar no financiamento de veículos. As apostas passam por taxas, prazo e prestação de serviços

Por Luiz Gustavo PACETE
Há pouco mais de dois meses na presidência da General Motors do Brasil, o sorridente Santiago Chamorro afirma que o mercado automobilístico brasileiro não está para brincadeiras. “A volatilidade do câmbio, a alta dos juros e a inflação estão fazendo nossos clientes pensarem duas vezes antes de adquirir um automóvel”, diz o executivo colombiano, há duas décadas na companhia. Para superar esse percurso acidentado, a GM está colocando um aditivo em seu braço financeiro. 
 
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Santiago Chamorro, presidente da General Motors: "65% de nossas
vendas são financiadas"
 
Após concluir o processo de aquisição da Ally Financial no Brasil, iniciada em novembro de 2012, em uma negociação global que envolveu US$ 4,2 bilhões, a General Motors reativou seu setor de financiamento e, por meio do Banco Gmac, que possui mais de R$ 10 bilhões em ativos, anunciou a criação da marca Chevrolet Serviços Financeiros. “Como 65% de nossas vendas incluem financiamentos, é importante oferecer mais atrativos para os clientes”, diz Chamorro. Isso será feito por meio do “Plano Tranquilidade”, que permite entrada mínima de 30% do valor do automóvel, parcelamento em até 36 meses e taxas de juro que podem chegar a 0,79% ao mês. 
 
O pacote inclui quatro revisões e manutenção básica até 40.000 km – e de graça. Jaime Ardila, presidente da GM América do Sul, diz que a estratégia é necessária, sobretudo nas categorias econômicas como é o caso do Classic, com valor médio de R$ 25 mil e que 70% de suas vendas são feitas via financiamento. “E sabemos que nesse segmento a oferta de crédito é crítica.” Segundo Chamorro, as vendas totais devem crescer 0,5% neste ano. Já para 2014, a previsão é aumentar as vendas em 3%, para 3,9 milhões de unidades, mantendo a participação atual de 17,5% do mercado, atrás da Fiat e da Volkswagen. 
 
Ele não revela quanto desse aumento deve contar com o apoio de seu próprio banco, mas quem conhece o mercado sabe que será uma ajuda não desprezível. A iniciativa da GM é o exemplo mais recente de um movimento generalizado dos bancos ligados a montadoras. Os grandes concorrentes varejistas do setor financeiro tiraram o pé do acelerador no financiamento automotivo, devido às taxas elevadas de inadimplência, que bateu recorde em maio de 2012 e chegou a 6,1% da carteira. Em agosto, esse percentual havia recuado para 2%. Apesar da queda do calote, os bancões não esticaram a marcha nem pretendem fazê-lo tão cedo. 
 
Na segunda-feira 21, ao anunciar os resultados do terceiro trimestre, Luiz Carlos Angelotti, diretor de Relações com Investidores do Bradesco, informou que o banco vai continuar reduzindo o crédito automotivo e destinando mais recursos para compra de imóveis. No caso do Itaú, a participação dos financiamentos vinculados a veículos no total dos empréstimos recuou de 21% em 2010 para 11% em 2013, o menor percentual desde a fusão com o Unibanco, em 2008. Ricardo Troster, ex-economista-chefe da Febraban, explica que o recuo dos bancos de varejo no crédito para compra de veículos abre caminho para os das montadoras que contam com estruturas enxutas e menor preocupação com margens. 
 
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Angel Martinez, do Banco Mercedes-Benz: "Vamos atrair clientes com as taxas menores, de 2013"
 
Com isso, conseguem mais agilidade na hora de oferecer c­rédito. “A característica do financiamento de automóveis é de alto risco e, no caso dos bancos de varejo, lidar com altas taxas de inadimplência deixa de ser um bom negócio.” Nesse vácuo, os bancos das montadoras se preparam para crescer no retrovisor. “A queda da inadimplência vem reduzindo a rigidez na hora de conceder empréstimos”, diz Décio Carbonari de Almeida, presidente do Banco Volkswagen e também da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). Na ponta do lápis, os números de agosto – os mais recentes disponíveis – ainda mostram uma atitude cautelosa. 
 
O total de empréstimos desses bancos, R$ 233,3 bilhões, era 4,7% inferior em relação ao mesmo mês de 2012. No entanto, diz Carbonari, os próximos dados a ser divulgados vão mostrar uma reversão nesse quadro. Ele diz esperar que os números de dezembro mostrem um crescimento de 3% em relação a 2012. Carbonari diz que o Banco Volkswagen vai abrir mão da rentabilidade – algo impensável em um banco grande, principalmente se tiver ações em bolsa – para garantir as vendas da montadora. A instituição financeira vai oferecer empréstimos cobrando juros baixos, em média de 1,1% ao mês, e alongar o prazo dos empréstimos para até 42 meses, acima do intervalo médio de 24 a 36 meses que a concorrência tem praticado. 
 
“Esses têm sido os principais atrativos para o comprador nos últimos meses”, diz ele. Esses juros menores vêm sendo cobrados em 87% dos empréstimos, o que contribuiu para o crescimento de 15,3% no primeiro semestre. O banco concedeu R$ 4,8 bilhões em novos financiamentos, contabilizando um total de R$ 22,8 bilhões. “Nossa meta é repetir esse desempenho no acumulado do ano”, diz Carbonari. A Renault pretende adotar uma estratégia semelhante para cumprir a meta de crescer 5% em 2013, ampliando a carteira de crédito de seu braço financeiro, o RCI Brasil, para R$ 5 bilhões. 
 
“O resultado da redução de taxas tem sido competitivo até agora”, diz Dominique Signora, diretor-geral da RCI Brasil. “Vamos preservar os resultados, ampliando os prazos de financiamento, que poderão chegar a até 60 meses em alguns casos específicos”, diz ele. “Para segurar os resultados deste ano, nosso foco será continuar com o pagamento de 24 meses ou, se for o caso, até 60 meses com uma taxa competitiva”, diz Signora. Angel Martinez, diretor comercial do banco Mercedes-Benz, está menos otimista. No acumulado até setembro, a carteira total de empréstimos chegou a R$ 10 bilhões, avanço de 7,5% sobre o mesmo período de 2012. 
 
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Décio Carbonari, do Banco VW: "Vamos cobrar juros de 1,1% ao mês e alongar os prazos"
 
Os novos financiamentos somam R$ 2,8 bilhões. No entanto, esse avanço foi lastreado pelos veículos pesados da montadora alemã. Os empréstimos para venda de caminhões e ônibus cresceram 8%, graças principalmente à oferta de dinheiro barato do BNDES, por meio dos programas estatais de financiamento à modernização das frotas de caminhões. No caso dos automóveis, porém, os empréstimos encolheram 14% nos nove primeiros meses do ano. “No total, esperamos fechar o ano com pouco mais de R$ 3,5 bilhões em volume de crédito concedido, crescimento de 2,5% em relação ao ano passado”, diz Martinez. 
 
Segundo ele, as taxas cobradas atualmente no Finame, do BNDES, estão ao redor de 4% ao ano, mas devem subir no início de 2014. “Esperamos atrair compradores interessados nas taxas menores de 2013”, diz ele. Para melhorar os resultados das vendas nos próximos 24 meses, o banco está reestruturando a equipe, de olho no aumento de demanda previsto para quando a montadora retomar a fabricação de automóveis no País, em 2016. Para não ficar sem combustível, os bancos das montadoras trataram de reforçar o caixa com captações internacionais. 
 
Nos últimos meses, os bancos da Volkswagen, da GM e o PSA Finance, da Citroën e Peugeot, captaram R$ 1,5 bilhão no mercado externo, aproveitando as taxas internacionais camaradas. “Isso fará toda a diferença na hora de subsidiar taxas aos clientes”, diz o economista Celso Grisi. Segundo Alan Ghani, economista e professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), os bancos de montadoras sanearam suas carteiras de empréstimos e, nos últimos nove meses, lançaram os empréstimos problemáticos como perda. “Isso vai permitir mais capacidade de emprestar nos meses que restam de 2013.” 
 
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