05/10/2013 - 10h14
DO "NEW YORK TIMES"
Para celebrar o aniversário de 3 anos de Arthur Medeiros no ano passado,
houve um brunch de três pratos para uma dúzia de convidados na sala de
jantar privada do Hotel Plaza Athénée, que foi decorada
profissionalmente para parecer um cenário do filme "O Rei Leão", até
mesmo com peças elaboradas com o tema da selva. Depois disso, uma outra
festa no Dylan's Candy Bar, e então o clímax: ver "O Rei Leão" na
Broadway.
Arthur não é de Manhattan, mas do Brasil. Para planejar as
extravagâncias do aniversário, a mãe de Arthur, Heloisa Medeiros,
contratou Clarissa Rezende, fundadora da Ideas to Bloom, uma empresa de
eventos de São Paulo, por US$ 15 mil, e pagou a passagem dela a Nova
York e uma estadia de uma semana no Waldorf-Astoria.
Não seria demais dizer que o preço total da festa de aniversário foi de US$ 30 mil.
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Mauricio Lima/The New York Times |
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Clarissa Rezende e seu marido, João Coelho, que têm uma empresa que organiza festas para brasileiros em Nova York |
De acordo com os organizadores, festas extravagantes como essa são o
exemplo mais recente dos gastos dos brasileiros em Nova York, que inclui
compras em lojas e farras imobiliárias.
"Eu nunca vi gastos nessa escala e estou nesse ramo há 25 anos", diz
Sebastian Wurst, gerente do Plaza Athénée. Wurst afirma que o hotel está
alugando mais suítes para brasileiros (que representam 11% dos
hóspedes, segundo ele) em festas de Ano Novo e para o Super Bowl. Ele
acrescenta que muitos de seus funcionários estão aprendendo português,
para lidar com essa nova base de clientes.
Em 2012, os turistas brasileiros gastaram US$ 2,4 bilhões em compras e
entretenimento em Nova York, tornando-se o grupo estrangeiro que mais
gasta nas viagens à cidade, segundo o site de turismo "NYC & Co".
"O que está acontecendo no mercado de luxo no Brasil é que eles querem
ostentar e mostrar mais do que normalmente se faz", diz Rezende, 33, que
diz ter organizado sete festas no último ano para clientes brasileiros
em Nova York. Elas está construindo um site focado apenas em organização
de eventos fora do país.
"Cerca de metade dos nossos clientes querem vir a Nova York para
organizar uma festa. É um mercado que está crescendo muito rápido e nós
nem sabíamos que existia", disse Rezende por telefone, direto de
Orlando, na Flórida, onde ela estava planejando uma festa com tema do
Homem-Aranha para o quarto aniversário de Arthur.
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The New York Times |
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Mesa de uma festa para clientes brasileiros em Nova York, em foto sem data | |
Até mesmo numa cidade como Nova York, famosa por seus excessos, alguns
desses eventos podem parecer exagerados. Em setembro de 2012, de acordo
com um dos organizadores, o casal Yára Cavalcante e Phelipe Matias, de
Brasília, fizeram uma festa de casamento de US$ 2 milhões, para mais de
400 pessoas, no Oheka Castle, um imóvel no estilo de "O Grande Gatsby",
em Huntington, Nova York. O evento tinha uma parede de orquídeas, um bar
feito totalmente de gelo e um DJ vindo de Ibiza, na Espanha.
"Dar uma festa de casamento de primeira linha no Brasil pode custar
facilmente US$ 1 milhão, se você tiver 600 ou 700 convidados. Então,
estamos vendo as pessoas procurarem outros lugares, como Nova York",
comenta Eduardo Gaz, fundador da agência de viagens Selections, de São
Paulo.
Georgiana Alves de Souza, 37, uma designer gráfica do Rio, esperava
celebrar seu casamento no River Cafe, no Brooklyn, no ano passado. "É
mais barato para a gente vir a Nova York por um final de semana do que
passar uma semana toda no Norte do Brasil", disse.
Embora ela tenha tido que mudar a festa para o Lumi, um restaurante na
zona leste de Nova York, por causa do furacão Sandy, ela afirma não ter
se arrependido da experiência. "Eu teria pago US$ 25 mil no River Cafe
por toda a festa e mais a banda, enquanto uma festa na casa da minha
mãe, no Rio, com um DJ, teria o mesmo preço. Mas a qualidade em Nova
York é muito maior."
O casamento em lugares diferentes, longe do lar dos noivos, é cada vez
mais popular entre os brasileiros jovens e emergentes. É também uma
maneira para os casais não terem de convidar centenas de pessoas e para
que fujam da cultura intensamente competitiva do casamento em seu país
natal. "Você tem que brigar por uma vaga nas igrejas daqui", disse Alves
de Souza. (Será que ela não assiste ao reality show "Bridezillas"?)
Isabela Frugiere, 30, uma designer de São Paulo que trabalha para a
marca de praia Tryia, se casou com Phelipe Hamoui no terraço do Gramercy
Park Hotel em setembro. "Nós queríamos uma festa de casamento íntima",
disse. 60 convidados (incluindo Hamish Bowles, editor internacional da
"Vogue") não é um número que ela teria conseguido bancar no Brasil. A
celebração de uma semana incluiu festas e jantares no La Esquina, no
Indochine e no bar em cima do telhado Le Bain, no Standard. (O mantra
brasileiro de festas: por que ter uma celebração se você pode ter três
ou quatro?)
Ainda é uma fração muito pequena de brasileiros que tem recursos, tempo
livre e desejo de fazer uma festa, ou várias, em outro país.
"Por que você sairia do Brasil rumo a Nova York só para se casar?",
questiona a nordestina María Cecilia Campos, 22, recém-formada na New
York University. "É um circo. Eu conheço uma pessoa que alugou um
apartamento apenas para guardar as coisas que eles compraram para o
casamento dela aqui. É só uma questão de exclusividade, só para dizer
'me casei em Nova York.'"