domingo, 3 de novembro de 2013

Cliente tem sempre razão. Entendê-lo é outra história

Brasil pode escapar dos seus "clichês de samba", diz FT


Artigo do jornal britânico conclui que "trajetória deprimente" do país nos últimos anos pode levar a uma visão mais realista do país no exterior

Samba

Percussão de samba: jornal vê oportunidade de Brasil fugir dos clichês

São Paulo - O Brasil voltou a ser assunto no Financial Times. Em artigo de opinião assinado por John Paul Rathbone e publicado no final da tarde de ontem, o jornal britânico cria um paralelo entre a ascensão e queda dos negócios de Eike Batista e a euforia da era Lula seguida de crescimento baixo.

Chamando o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva de "o mais bem-sucedido político do seu tempo por quase qualquer critério", o texto nota que o Brasil conquistou maior protagonismo internacional e avanços sociais, mas que "grande parte da 'nova classe média' permanece, na realidade, apenas a um contracheque de distância da pobreza."

O FT diz que impulsionados por anos de liquidez internacional e boom das commodities, Eike e Lula eram dois lados de uma mesma moeda. O país, segundo ele, vive agora um momento de "perda de rumo", mas que pode ter consequências positivas. 

"O desapontamento pode pelo menos libertar o Brasil da prisão de seus muitos clichês (samba, praias, dinheiro, diversão!) com os quais Lula e o Sr. Batista frequentemente brincaram e que o mundo tão ansiosamente comprou", conclui.

Como evidências de uma nova visão mais realista do Brasil, John Paul destaca o impacto limitado da falência de Eike, o tamanho e potencial da economia brasileira e a estabilidade do país mesmo com "uma vizinhança difícil", citando a Venezuela, Argentina e Bolívia.

Dilma vê ‘profecia’ de marqueteiro se desfazer

João Santana prometeu que a presidente recuperaria até novembro a popularidade perdida na onda de protestos de junho, o que não aconteceu

Daniel Bramatti e Elder Ogliari, do
REUTERS/Ueslei Marcelino
Presidente Dilma Rousseff fala durante uma cerimônia anunciando novo marco da mineração, no Palácio do Planalto, em Brasília

Dilma: pesquisa Ibope feita na primeira quinzena de junho, antes dos protestos, mostrou que 55% dos brasileiros consideravam o governo bom ou ótimo; um mês depois, a taxa caiu para 31%

São Paulo - Nos últimos quatro meses, a presidente Dilma Rousseff lançou novos programas, viajou mais pelo País, denunciou a espionagem dos Estados Unidos em discurso na ONU, distribuiu máquinas a centenas de prefeitos e fez três pronunciamentos em rede nacional de televisão - mas nem assim concretizou a previsão de seu marqueteiro, João Santana, de que até novembro recuperaria a popularidade perdida na onda de protestos de junho.

A recuperação de Dilma foi parcial e está empacada há dois meses - depois que a avaliação positiva do governo desabou, entre junho e julho, houve uma leve melhora, em agosto, mas desde então nada mudou. Além disso, houve um acirramento de posições: diferentes segmentos da sociedade - jovens e velhos, ricos e pobres - nunca divergiram tanto sobre a gestão da presidente.

Pesquisa Ibope feita na primeira quinzena de junho, antes que os protestos contra aumentos nas tarifas de ônibus ganhassem caráter nacional, mostrou que 55% dos brasileiros consideravam o governo bom ou ótimo. Um mês depois, a taxa caiu para 31%. Em termos absolutos, o número de eleitores satisfeitos com a gestão passou de 77 milhões para 43,5 milhões - uma queda de 33,5 milhões em 30 dias.

Em agosto, depois de Dilma responder à pressão das ruas com o lançamento de "cinco pactos a favor do Brasil", a avaliação positiva do governo subiu sete pontos porcentuais - é como se 10 milhões de brasileiros recuassem de sua postura de animosidade. Mas 23,5 milhões não voltaram para o ninho governista - nem em agosto, nem em setembro, nem em outubro.

Nesse contingente que não se deixou convencer pelas políticas de Dilma e pelo marketing de João Santana, há eleitores de todos os tipos, mas alguns segmentos se destacam: os mais jovens, os mais escolarizados, os de renda mais alta e os moradores de municípios médios e grandes.

Eike Batista, o bilionário-celebridade

Elio Gaspari, O Globo

A quebra da OGX de Eike Batista era pedra cantada e foi a maior concordata da história do país. Em 2010, suas ações valeram R$ 23,27. Para desencanto de 52 mil acionistas e algumas dezenas de diretores da grande banca pública e privada, saíram da Bolsa a R$ 0,13.
Todo mundo ganhará se disso resultar algum ceticismo em relação à exuberância irracional da cultura das celebridades poderosas. Nela, juntam-se sábios da banca que se supõem senhores do Universo e autoridades que se supõem oniscientes.
 
Admita-se que um vizinho propõe sociedade num empreendimento. Ele é um homem trabalhador, preparado, poliglota, esportista e bem sucedido. Apesar disso, expôs sua vida pessoal mostrando que tem um automóvel de luxo na sala de estar, comunica-se em alemão com o cachorro (o bicho chegou ao Brasil num Boeing privado, com dois treinadores).
 



 
Sua mulher desfilava numa escola de samba com uma gargantilha onde escreveu o nome dele e deixou-se fotografar de baixo para cima usando lingerie transparente. Nomeou para a diretoria de uma de suas empresas um filho que declarou só ter lido um livro em toda a vida.
 
Revelou que estava ligado em astrologia, confiando no seu signo (escorpião), e disse coisas assim: “Tenho alguma coisa com a natureza. Onde eu furo, eu acho”. Quando suas contas começaram a ter problemas, defendeu-se: “Meus ativos são à prova de idiotas”. Tem jogo?
 
Eike tornou-se uma celebridade, listada por oráculos da imprensa financeira como o homem mais rico do Brasil, oitavo do mundo e anunciou que disputaria o primeiro lugar. Até junho, quando as ações da OGX estavam a R$ 1,21, sentavam-se em seu conselho de administração figuras respeitáveis como o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e a ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie.
 
Lula visitava seus empreendimentos. A doutora Dilma Rousseff dissera que “Eike é o nosso padrão, a nossa expectativa e, sobretudo, o orgulho do Brasil quando se trata de um empresário do setor privado”. Quem entrou nessa, micou, inclusive a doutora.
 
Em seus delírios, Eike Batista criou uma fantasia que pouco tem a ver com a real economia brasileira, ou com as bases dos setores de petróleo, mineração e infraestrutura. Parte do mico ficou para os gênios da banca internacional. Cada um acreditou no que quis e deu no que deu. Falta de exemplos, não foi.
 
Para falar só de grandes empresários que já morreram, a austeridade foi a marca de empreendedores como Augusto Trajano de Azevedo Antunes, que criou a mineradora Icomi, Leon Feffer, criador da Suzano Papel, e Amador Aguiar, pai do Bradesco. Não foram celebridades. Descontando-se o fato de que “seu” Amador não usava meias, não tinham folclore.
 
Elio Gaspari é jornalista.

GOSTOS E DESGOSTOS DOS ESTRANGEIROS NO BRASIL

Seis em cada 10 estrangeiros que vivem no Brasil encontram companheiro para a vida por aqui. Mas país não está entre melhores para se viver.

O Brasil não está entre os melhores lugares para estrangeiros viverem, segundo relatório do HSBC lançado nesta semana. Os resultados detalhados do documento, porém, mostram que o país possui destaques na visão de quem é de fora: em nenhuma das outras 37 nações avaliadas pelo banco, por exemplo, os expatriados se sentem tão integrados com as pessoas que encontram (veja tabela completa dos itens analisados ao final). Comida, clima e ambiente de trabalho nacional também foram elogiados.

De acordo com a pesquisa, 62% dos estrangeiros ouvidos encontraram um companheiro para a vida por aqui, e 79% fizeram bons amigos brasileiros.

Na média global, esses números caem para 40% e 61%, respectivamente.
O levantamento do HSBC, que contou com entrevistas com sete mil estrangeiros que trabalham e residem em outro país, levou em conta três critérios: economia, experiência e criação dos filhos. No ranking geral, a China ficou com o primeiro lugar.

O Brasil ficou fora da lista geral porque não apresentou dados suficientes no critério de criação dos filhos – em economia ficou na 27ª posição e em experiência, na 10ª.

Neste último quesito, o HSBC avaliou 29 itens (listados ao final desta matéria). E é nele que o Brasil mostra alguma de suas qualidades (e defeitos).

O relatório traz depoimentos de alguns estrangeiros que moraram aqui. Um deles, Oliver Jones, é um bom exemplo de como eles se integram facilmente ao país. Jones morou um ano em Curitiba, no Paraná, onde fez bons amigos e conheceu Mariana, sua futura esposa.

“Os brasileiros amam levar os estrangeiros para lugares diferentes. Eles dizem ‘não pergunte, apenas aproveite’”, conta Oliver.

Além do fator afetivo, o equilíbrio entre trabalho e vida saudável é uma das razões para 45% dos estrangeiros que vivem aqui dizerem que sua vida melhorou desde que se mudaram. O número está acima da média global de 39%.

“A deliciosa cozinha local, como a feijoada, e o clima agradável ajudam a criar boas impressões nos expatriados que vivem no Brasil”, diz o relatório. Seis em cada dez estrangeiros disseram gostar dos pratos típicos brasileiros e 70% aprovam o clima.

Critério
Nota (de 0 a 1)
Ranking (de total de 37 países)
Dieta saudável
0,48
10
Qualidade e acesso a cuidados de saúde
0,36
25
Viagens diárias
0,38
25
Viajar mais
0,4
34
Qualidade da acomodação
0,4
17
Entretenimento
0,52
10
Equilíbrio entre vida e trabalho
0,45
9
Esportes
0,31
11
Ambiente de trabalho
0,48
3
Vida social
0,31
16
Lojas e mercados locais
0,76
7
Acolhimento no trabalho
0,64
12
Integração com a comunidade
0,86
1
Fazer amigos locais
0,67
3
Usar a língua local
0,9
1
Cultura local
0,93
5
Comida local
0,6
14
Transporte
0,67
20
Se encaixar na nova cultura
0,6
14
Serviços públicos
0,45
31
Cultura de trabalho local
0,43
14
Fazer amigos
0,57
15
Clima local
0,64
12
Se acostumar com a comida local
0,76
10
Aprender a língua local
0,45
10
Encontrar acomodação
0,45
26
Organizar cuidados de saúde
0,36
37
Organizar finanças
0,48
21
Organizar escola para os filhos
0,36
7
Geral
0,48
10


Economia

No critério de economia, o Brasil ficou mais próximo do final da lista, na 27ª posição. Ainda assim – e apesar do crescimento lento -, a satisfação com a economia brasileira é elevada entre os expatriados, principalmente porque 64% deles no Brasil relataram aumento das receitas sobre deslocalização.
Talvez por isso, seis em cada 10 estrangeiros acreditam que o país que escolheram está se tornando um lugar melhor para se viver.
Critério
Nota
Ranking
Renda
0,05
25
Renda disponível
0,38
31
Satisfação com a economia local
0,62
20
Geral
0,35
27
 Beatriz de Souza
(Exame – 02/11/2013)

PESQUISANDO A IMIGRAÇÃO DE TRABALHADORES PARA O BRASIL





A contratação de mão de obra estrangeira é essencial para garantir o aumento da produtividade e da nossa competitividade internacional.

Pesquisa sobre imigração de trabalhadores no BRASIL será realizada pela EMDOC em parceria com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR).

A partir de novembro, a EMDOC, consultoria especializada em serviços de mobilidade global, inicia trabalho de pesquisa sobre o processo imigratório no País.

Denominado “Contratação de mão de obra estrangeira no Brasil: uma análise da experiência das empresas brasileiras”, o levantamento é realizado em parceria com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) e terá como objetivo identificar os entraves encontrados pelas empresas ao contratarem imigrantes para trabalhar no País. Ao todo, mais de 200 empresas devem ser consultadas pela pesquisa.

Ao contrário de países desenvolvidos, que apresentam crescente aumento no número de imigrantes, no Brasil, a trajetória é de forte queda. Em 1900, cerca de 7,3% da população brasileira era composta por imigrantes. Em 2010, este número caiu para 0,4%. Em números absolutos, mesmo considerando que o total da população cresceu mais de 10 vezes neste intervalo, a quantidade de imigrantes caiu de 1,6 milhão para apenas 600 mil, no mesmo intervalo.

“A contratação de mão de obra estrangeira é essencial para garantir o aumento da produtividade e, consequentemente, da nossa competitividade internacional. Com a pesquisa, a SAE terá um mapeamento completo de onde estão as dificuldades encontradas pelas empresas quando decidem trazer estes profissionais para o Brasil, ou seja, reforça uma preocupação estratégica com o desenvolvimento de longo prazo do nosso País”, explica João Marques, sócio-fundador da EMDOC.

Em países como Suíça e Nova Zelândia, o percentual de imigrantes chega a 23,2% e 22,4%, respectivamente. O Brasil perde inclusive para a África do Sul, último país a ser incorporado aos BRICS, cujo percentual de imigrantes corresponde a 3,7% da população.

“Não há dúvidas sobre os benefícios proporcionados pela vinda de imigrantes para o País. Se analisarmos a própria história brasileira destacaremos a fundamental participação dos imigrantes no século XX para a modernização da nossa agricultura, assim como para o desenvolvimento do nosso comércio e setor de serviços, bem como do processo industrial”, reitera Marques.

O número de vistos de trabalho tem crescido ao longo dos anos, porém o Brasil ainda é pouco atrativo. No ranking dos países mais atrativos, o País se encontra na 27ª colocação, enquanto o Chile está em 9º e a China, em 19º.

“A pesquisa que iremos realizar dará subsídios para identificar os problemas e, consequentemente, abre espaço para a adoção de políticas para incentivar e desburocratizar a vinda de estrangeiros para o País. Acreditamos que se trata de uma mudança estratégica e que terá grandes consequências no longo prazo”, reitera o executivo.


(Brasil Alemanha News – 22/10/2013)

Campanha fez, faz, fará’ tenta garantir reeleição de Dilma


O mote foi ao ar há dez dias em um programa petista de TV e deve permanecer até as eleições de 2014

Vera Rosa, do
Ueslei Marcelino/Reuters
A presidente Dilma Rousseff fala com jornalistas no Palácio do Planalto

Dilma Rousseff: o novo papel do Estado e dos serviços públicos e a reforma urbana pós-protestos de junho são temas que terão destaque no programa de Dilma

Brasília - A campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição tentará vender a ideia de que o governo do PT "fez, faz e fará" o Brasil avançar. O mote apareceu no programa petista de TV, que foi ao ar há dez dias, e tem sido "esmiuçado" em reuniões promovidas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo.

Nos bastidores do partido, o plano está sendo chamado de "Mais Lula", numa referência ao lançamento do programa Mais Médicos. Sob encomenda do ex-presidente, economistas da confiança dele e de Dilma avaliam, por exemplo, como retomar e acelerar o crescimento sem estimular a alta da inflação e criando empregos de qualidade.

A plataforma da reeleição está sendo preparada para construir a narrativa de "uma nova etapa". O novo papel do Estado e dos serviços públicos, a reforma urbana pós-protestos de junho e metas concretas para investir o dinheiro do pré-sal do campo de Libra em educação e saúde são temas que terão destaque no programa de Dilma para um eventual segundo mandato, além da questão econômica.

Empenhado em desconstruir críticas de adversários de Dilma, como o senador Aécio Neves (PSDB), a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para quem é preciso "fazer mais e bem feito", Lula já dá pistas do discurso da reeleição.

"O povo foi para a rua exigir um pouco mais do Estado, para dizer que precisa de mais coisas, porque ele aprendeu a comer contrafilé e não quer voltar a comer acém. Quer comer agora filé de verdade. Ele quer o emprego, mas não quer mais um emprego qualquer. Ele quer estudar, mas em escolas de qualidade", afirmou o ex-presidente na terça-feira, em Brasília.

Dono de uma popularidade de 80%, Lula percorrerá o País e subirá no palanque para vender ao eleitor aquilo que os petistas chamam de "continuidade criativa". O plano é anunciar "mais e melhores" serviços do Estado, mas a presidente ainda está em busca de uma marca de governo para chamar de sua.