A quebra da OGX de
Eike Batista era pedra cantada e foi a maior concordata da história do
país. Em 2010, suas ações valeram R$ 23,27. Para desencanto de 52 mil
acionistas e algumas dezenas de diretores da grande banca pública e
privada, saíram da Bolsa a R$ 0,13.
Todo mundo ganhará se disso
resultar algum ceticismo em relação à exuberância irracional da cultura
das celebridades poderosas. Nela, juntam-se sábios da banca que se
supõem senhores do Universo e autoridades que se supõem oniscientes.
Admita-se
que um vizinho propõe sociedade num empreendimento. Ele é um homem
trabalhador, preparado, poliglota, esportista e bem sucedido. Apesar
disso, expôs sua vida pessoal mostrando que tem um automóvel de luxo na
sala de estar, comunica-se em alemão com o cachorro (o bicho chegou ao
Brasil num Boeing privado, com dois treinadores).
Sua
mulher desfilava numa escola de samba com uma gargantilha onde escreveu
o nome dele e deixou-se fotografar de baixo para cima usando lingerie
transparente. Nomeou para a diretoria de uma de suas empresas um filho
que declarou só ter lido um livro em toda a vida.
Revelou que
estava ligado em astrologia, confiando no seu signo (escorpião), e disse
coisas assim: “Tenho alguma coisa com a natureza. Onde eu furo, eu
acho”. Quando suas contas começaram a ter problemas, defendeu-se: “Meus
ativos são à prova de idiotas”. Tem jogo?
Eike tornou-se uma
celebridade, listada por oráculos da imprensa financeira como o homem
mais rico do Brasil, oitavo do mundo e anunciou que disputaria o
primeiro lugar. Até junho, quando as ações da OGX estavam a R$ 1,21,
sentavam-se em seu conselho de administração figuras respeitáveis como o
ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e a ex-presidente do Supremo
Tribunal Federal Ellen Gracie.
Lula visitava seus empreendimentos.
A doutora Dilma Rousseff dissera que “Eike é o nosso padrão, a nossa
expectativa e, sobretudo, o orgulho do Brasil quando se trata de um
empresário do setor privado”. Quem entrou nessa, micou, inclusive a
doutora.
Em seus delírios, Eike Batista criou uma fantasia que
pouco tem a ver com a real economia brasileira, ou com as bases dos
setores de petróleo, mineração e infraestrutura. Parte do mico ficou
para os gênios da banca internacional. Cada um acreditou no que quis e
deu no que deu. Falta de exemplos, não foi.
Para falar só de
grandes empresários que já morreram, a austeridade foi a marca de
empreendedores como Augusto Trajano de Azevedo Antunes, que criou a
mineradora Icomi, Leon Feffer, criador da Suzano Papel, e Amador Aguiar,
pai do Bradesco. Não foram celebridades. Descontando-se o fato de que
“seu” Amador não usava meias, não tinham folclore.
Elio Gaspari é jornalista.
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