Esta semana a chanceler da Alemanha, Angela Merkel — a governante
mais poderosa da Europa e uma das líderes mais influentes do mundo —
fechou um acordo para que seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU) e
seu partido irmão União Social-Cristã (CSU), do Estado da Baviera,
governasse em coligação com os tradicionais adversários do Partido
Social-Democrata (SPD).
Merkel terá uma maioria esmagadora: num Parlamento de 631 deputados, como o Bundestag alemão, terá uma bancada de 503.
E sabem como se procedeu a aliança com os social-democratas?
Merkel NÃO aparelhou o governo com os sindicalistas aliados do SPD para agradar os novos aliados.
Merkel NÃO loteou cargos de confiança no governo entre os partidos da coligação.
Merkel NÃO prometeu destinar “emendas parlamentares” para que os
deputados da coligação distribuam verbas em fontes luminosas e ginásios
de esportes em suas regiões de origem.
Merkel NÃO decidiu rechear as seríssimas e rigorosas agências
reguladoras do governo alemão — em áreas como telecomunicações,
transportes terrestres, aviação e energia — com cupinchas dos aliados,
nomeados (como ocorre no Brasil) por sua ideologia ou militância, e não
por sua competência.
Merkel NÃO resolveu aumentar os atuais 14 Ministérios existentes para abrigar políticos.
Merkel, é claro, NÃO acertou qualquer mensalão para atrair deputados para a base de apoio de seu governo.
Merkel, em suma NÃO FEZ NADA do que se costuma fazer no Brasil do
lulopetismo, em nome desse monstro invisível chamado “governabilidade”,
que justifica todo tipo de atropelo ao bom senso, à meritocracia e à
moralidade pública.
O que fez a firme chanceler alemã, há oito anos e três eleições no
poder, para fechar uma coligação que vai permitir que governo
tranquilamente por todo seu mandato de quatro anos?
Merkel fez o que se faz nos governos decentes de países sérios — e, como escreveu há algum tempo a revista britânica The Economist,
a chanceler vem conduzindo “um governo sério, num país sério onde a
palavra sério quer dizer exatamente isto”: discutiu, durante um mês, em
que medidas para o bem da Alemanha democratas-cristão e
social-democratas — que divergem em inúmeros pontos — concordam.
Os pontos sobre os quais ambos concordam foram a ponte para o acerto
político. Mas, em se tratando de um pais sério, esses pontos foram
esmiuçados em um sólido documento de 170 páginas contendo o programa que
o governo de coalizão entre dois grupos adversários executará.
As 170 páginas prevêem, com detalhes, como se darão as melhoras no
sistema de previdência social, em quais projetos serão aplicados os
investimentos adicionais na área de educação e pesquisa científica, o
que deve ser feito para aperfeiçoar e ampliar os sistemas de transportes
(rodovias, as já fabulosas autobahns, e ferrovias), o
estabelecimento por lei, a partir de 2015, de um salário mínimo (8,5
euros — 27 reais — por hora, o que significa algo como 4.320 reais
mensais) — não existe salário mínimo legal na Alemanha, só os valores
estabelecidos em acordos entre sindicatos de patrões e de trabalhadores —
e até os requisitos exigidos para que aos cidadãos alemães seja
possibilitado algo até agora inexistente, a dupla cidadania.
Detalhe importante: o documento inclui o compromisso férreo de não se aumentar impostos durante os próximos 4 anos.
Enquanto isso, num grande país do Hemisfério Sul, que tem 39
ministros e 20 mil cargos de confiança loteados entre cupinchas dos
partidos do governo…
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