SÃO PAULO - (Atualizada às 13h55)
A presidente Dilma Rousseff defendeu, em entrevista publicada nesta
terça-feira pela edição brasileira do jornal espanhol El Pais, as
concessões de infraestrutura propostas pelo governo ao setor privado,
afirmando que as condições se mostraram “bastante atrativas”, e
demonstrou otimismo com as futuras concessões.
“Nós acreditamos que ainda no mês de dezembro haverá vários leilões. E
nós vamos sair deste ano com um balanço muito positivo de licitações.
Porque eu não conheço outro país que tenha isso, não”, disse a
presidente na entrevista. “Gostaria de saber onde que se conseguiram
tantas licitações. E isso que eu não estou falando nas licitações de
linhas de transmissão [elétrica] que ocorreram na semana retrasada, nem
das licitações de geração de energia, que sempre ocorrem nesta época do
ano”, completou.
A presidente disse ainda considerar ser “muito boa” a sua relação com
os empresários e classificou como “um pouco de lenda” comentários de
que o setor privado tivesse ligações mais estreitas com seu antecessor, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em razão de um perfil de Dilma
apontado como mais exigente.
Dilma destacou durante a entrevista a revisão para cima do Produto
Interno Bruto (PIB) de 2012, de 0,9% para 1,5%. A presidente também
aproveitou para fazer nova contestação a críticas feitas à política de
desonerações proposta pelo governo
“Nós sabíamos que não era 0,9%, que estava subestimado o PIB. Isso
acontece com outros países também. Os Estados Unidos sempre revisam seu
PIB. Agora nós neste ano vamos crescer bem mais do que 1,5% – resta
saber quanto acima”, afirmou a presidente. “Tem de resolver se vão nos
criticar por reduzir os impostos ou por não reduzir os impostos. Aqui no
Brasil é complicado”, completou.
A presidente também comentou o pacto voltado para a estabilidade
fiscal, com ênfase para o acordo feito na última semana com
parlamentares integrantes da base de apoio ao governo no Congresso.
“Minha base está muito calma. Acho que nunca uma base foi tão ativa e
proativa”, afirmou.
Questionada se há algo que possa ser cortado dos gastos do governo,
como pensões ou gastos com o funcionalismo público, Dilma afirmou que
“não estamos nessa fase” e exaltou a geração de empregos e manutenção de
direitos sociais. “Nós temos superávit primário”. A discussão no Brasil
é se o superávit primário será de 1,8%, 1,9% ou 2%. É essa discussão.
Não é se nós aumentamos a dívida”, afirmou.
A onda de protestos que ocupou as ruas do país em junho por melhorias
em serviços públicos ensinou o governo a não se isolar, “escutando a si
mesmo”, disse a presidente.
“Um governo tem de escutar a voz das ruas. Um governo não pode ficar
isolado escutando a si mesmo. Então é intrínseco à democracia ser capaz
de conviver com manifestações. Não é um episódio fortuito, ou um ponto
fora da curva — é a curva”, acrescentou Dilma.
Dilma voltou a avaliar que as manifestações reivindicavam mais
avanços em diferentes áreas a partir de ganhos e conquistas sociais da
população brasileira. A presidente também avaliou positivamente os
pactos propostos pelo governo — estabilidade fiscal, representatividade
política, educação, saúde e mobilidade urbana — em resposta aos
protestos.
“No início das manifestações, quando elas surgiram, nós percebemos
que tinha um lado importante, que era um descontentamento com a
qualidade dos serviços públicos. Ninguém estava nessas manifestações
pedindo uma volta atrás, um retrocesso. O que se pedia era que houvesse
um avanço”, disse a presidente. “Tudo que nós prometemos nos cinco
pactos nós entregamos”, completou.
Espionagem
Questionada durante a entrevista se a espionagem feita pelos Estados
Unidos de dados e comunicações de governos de vários países, entre eles o
Brasil, prejudicará a médio a prazo a relação entre os dois países,
Dilma afirmou que essa é uma “questão global “ e a princípio afastou
essa possibilidade. Dilma afirmou que desconhecia essa prática,
inclusive sem ter recebido relatório dos seus serviços secretos
advertindo-a.
“É visível hoje que o grau de espionagem feito pelos Estados Unidos
nos países foi bastante variado e diversificado. Nós não consideramos
que haja por conta dessa espionagem um problema na relação econômica,
comercial ou de investimento. Nós não vemos assim”, disse Dilma. ”Agora,
nós achamos que é importante cada vez mais a conscientização de que
isso não é possível. Uma relação como a do Brasil e dos Estados Unidos,
que os dois países querem que seja estratégica”, acrescentou.
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