sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Dilma considera "muito boa" sua relação com empresários


Por Valor
SÃO PAULO  -  (Atualizada às 13h55) A presidente Dilma Rousseff defendeu, em entrevista publicada nesta terça-feira pela edição brasileira do jornal espanhol El Pais, as concessões de infraestrutura propostas pelo governo ao setor privado, afirmando que as condições se mostraram “bastante atrativas”, e demonstrou otimismo com as futuras concessões.  


“Nós acreditamos que ainda no mês de dezembro haverá vários leilões. E nós vamos sair deste ano com um balanço muito positivo de licitações. Porque eu não conheço outro país que tenha isso, não”, disse a presidente na entrevista. “Gostaria de saber onde que se conseguiram tantas licitações. E isso que eu não estou falando nas licitações de linhas de transmissão [elétrica] que ocorreram na semana retrasada, nem das licitações de geração de energia, que sempre ocorrem nesta época do ano”, completou.

A presidente disse ainda considerar ser “muito boa” a sua relação com os empresários e classificou como “um pouco de lenda” comentários de que o setor privado tivesse ligações mais estreitas com seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em razão de um perfil de Dilma apontado como mais exigente. 

Dilma destacou durante a entrevista a revisão para cima do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012, de 0,9% para 1,5%. A presidente também aproveitou para fazer nova contestação a críticas feitas à política de desonerações proposta pelo governo

“Nós sabíamos que não era 0,9%, que estava subestimado o PIB. Isso acontece com outros países também. Os Estados Unidos sempre revisam seu PIB. Agora nós neste ano vamos crescer bem mais do que 1,5% – resta saber quanto acima”, afirmou a presidente. “Tem de resolver se vão nos criticar por reduzir os impostos ou por não reduzir os impostos. Aqui no Brasil é complicado”, completou.

A presidente também comentou o pacto voltado para a estabilidade fiscal, com ênfase para o acordo feito na última semana com parlamentares integrantes da base de apoio ao governo no Congresso. “Minha base está muito calma. Acho que nunca uma base foi tão ativa e proativa”, afirmou. 

Questionada se há algo que possa ser cortado dos gastos do governo, como pensões ou gastos com o funcionalismo público, Dilma afirmou que “não estamos nessa fase” e exaltou a geração de empregos e manutenção de direitos sociais. “Nós temos superávit primário”. A discussão no Brasil é se o superávit primário será de 1,8%, 1,9% ou 2%. É essa discussão. Não é se nós aumentamos a dívida”, afirmou. 

A onda de protestos que ocupou as ruas do país em junho por melhorias em serviços públicos ensinou o governo a não se isolar, “escutando a si mesmo”, disse a presidente.

“Um governo tem de escutar a voz das ruas. Um governo não pode ficar isolado escutando a si mesmo. Então é intrínseco à democracia ser capaz de conviver com manifestações. Não é um episódio fortuito, ou um ponto fora da curva — é a curva”, acrescentou Dilma.

Dilma voltou a avaliar que as manifestações reivindicavam mais avanços em diferentes áreas a partir de ganhos e conquistas sociais da população brasileira. A presidente também avaliou positivamente os pactos propostos pelo governo — estabilidade fiscal, representatividade política, educação, saúde e mobilidade urbana — em resposta aos protestos.

“No início das manifestações, quando elas surgiram, nós percebemos que tinha um lado importante, que era um descontentamento com a qualidade dos serviços públicos. Ninguém estava nessas manifestações pedindo uma volta atrás, um retrocesso. O que se pedia era que houvesse um avanço”, disse a presidente. “Tudo que nós prometemos nos cinco pactos nós entregamos”, completou. 


Espionagem


Questionada durante a entrevista se a espionagem feita pelos Estados Unidos de dados e comunicações de governos de vários países, entre eles o Brasil, prejudicará a médio a prazo a relação entre os dois países, Dilma afirmou que essa é uma “questão global “ e a princípio afastou essa possibilidade. Dilma afirmou que desconhecia essa prática, inclusive sem ter recebido relatório dos seus serviços secretos advertindo-a.

“É visível hoje que o grau de espionagem feito pelos Estados Unidos nos países foi bastante variado e diversificado. Nós não consideramos que haja por conta dessa espionagem um problema na relação econômica, comercial ou de investimento. Nós não vemos assim”, disse Dilma. ”Agora, nós achamos que é importante cada vez mais a conscientização de que isso não é possível. Uma relação como a do Brasil e dos Estados Unidos, que os dois países querem que seja estratégica”, acrescentou.


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