SÃO PAULO - “As pessoas dizem que o governo é socialista, trotskista, mas não. Acho que este é um governo que tinha tendência 'espiritista'”, afirmou nesta terça-feira o ex-ministro da Fazenda e do Planejamento Antonio Delfim Netto. “O governo não pode ver nada funcionando que põe um encosto”, ironizou, durante apresentação em seminário promovido pelo Internews sobre perspectivas para 2014.
Como exemplo, Delfim Netto mencionou a estatal Infraero, que vai ficar com 49% da administração dos aeroportos de Galeão (RJ) e Confins (MG) e, também, o papel da Valec como responsável pelo pagamento às futuras concessionárias de ferrovias, que ainda não foram leiloadas. “A Valec não é um encosto, é um caso de polícia. Isso não pode funcionar”, afirmou.
Segundo o economista, o governo tem resistido muito a entender que o modelo de concessões tem somente duas variáveis, das quais só uma podia ser fixada por ele. “O governo só podia fixar a qualidade da concessão e depois, com bons leilões, determinar a taxa de retorno que podia obter. Ou podia estabelecer a taxa de retorno e obter o que o mercado responde”.
Para Delfim Netto, essa dificuldade já foi superada e o governo acabou entendendo que os leilões são coisa para “profissional”. Ele ainda afirmou que o leilão do Campo de Libra, ao contrário do que boa parte do mercado avaliou, foi um sucesso, porque estão no consórcio empresas "realmente interessadas" em extrair petróleo de forma acelerada. “As grandes não teriam razão para acelerar a extração do petróleo até 2017 porque têm oportunidades no mundo inteiro”.
2014
Na avaliação de Delfim Netto, 2014 será um ano difícil, mas o crescimento econômico pode ser maior do que neste ano, porque o setor privado está reconhecendo que há uma tentativa de aproximação do governo, e “é de interesse do setor privado cooperar quando o governo começa a entender os seus problemas”.
Reforçando que suas estimativas são “puro chute” como "todas as outras de inflação e crescimento", o ex-ministro previu que, em 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) pode ter expansão mais próxima de 3% do que 2,5%. Já a inflação, afirmou ele, sem fazer estimativas, terá alta também próxima à deste ano.
Sobre a questão fiscal para o próximo ano, Delfim Netto avaliou que um superávit primário de 3% do PIB é “um exagero”. “Acho que não precisa disso. Com um superávit dito e realizado de 2% do PIB, você estabiliza a dívida bruta e a reduz muito lentamente. Se puder ser de 3%, ótimo, mas não é isso que será fundamental para que se tenha um ano melhor”.
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