segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Tronco de bananeira vira papel de parede e capa de caderno


Rafael Motta
Do UOL, em Santos (SP)




Tronco de bananeira vira papel de parede e capa de caderno

O tronco da bananeira, que normalmente é descartado após a colheita das frutas, começa a ser transformado em papéis de parede, revestimento para móveis e capas de cadernos. Saiba mais clicando nas fotos acima Divulgação/Tamoios Tecnologia
O tronco da bananeira, que normalmente é descartado após a colheita das frutas, começa a ser transformado em papéis de parede, revestimento para móveis e capas de cadernos.

Uma empresa instalada recentemente em Itariri (SP), no Vale do Ribeira está ajudando os produtores de banana locais a se desfazer do material, e de maneira rentável.

A fibra da planta vem sendo processada e transformada em novos produtos pela Tamoios Tecnologia, com sede em São Paulo e que, em outubro, inaugurou uma unidade industrial em Itariri (SP).

O município é um dos maiores produtores de banana da região, com 72,7 mil toneladas colhidas no ano passado --a porção paulista do Vale do Ribeira produziu 811 mil toneladas no ano passado.

Alguns produtos feitos da fibra do tronco da bananeira --chamado de pseudocaule-- são capas para cadernos, blocos de anotações, cadernetas com elástico e papéis de parede (que podem inclusive ser tingidos).

Cada tronco de bananeira rende de cinco a sete capas para cadernos

 

Segundo Eliane Seiko Maffi Yamada, sócia-proprietária da Tamoios, um tronco serve para a produção de cinco a sete capas para cadernos. "Estamos comprando 90 pseudocaules por semana. Nossa ideia é expandir [a aquisição] para algo entre 200 e 300 semanalmente em 2014".

Os pseudocaules são comprados por metro cúbico. Cada metro cúbico equivale a aproximadamente 15 troncos (cada um com 1,5 metro de altura, em média) e é adquirido por R$ 35.

"Ainda estamos na fase de testes dos materiais para construção civil, como isolantes termoacústicos, e para decoração", afirma a empresária.

"Os produtos são feitos a partir do material que desenvolvemos, um revestimento sustentável com múltiplas possibilidades de uso, como papel de parede, revestimento de móveis, design de objetos, etc. Arquitetos e decoradores ainda estão fazendo ajustes finais", afirma a empresária.

Tronco da planta é descartado após colheita das bananas

 

Normalmente, após a colheita das bananas, o tronco da planta é cortado e descartado pela maioria dos produtores. Apenas uma pequena parte tem máquinas para picar o tronco (duro demais para que isso seja feito manualmente) e transformá-lo em adubo.

Se a árvore em que já foi feita a colheita não for retirada do solo, pode atrair um tipo de besouro (broca) que põe ovos na planta.


As larvas do besouro se alimentam de tecidos do pseudocaule, e podem fazer tombar a bananeira. Sem controle, a plantação pode ser infestada.

ideia de aproveitamento da fibra veio de uma artesã local

 

Eliane Yamada afirma que a ideia de aproveitar a fibra surgiu em 2008, quando um dos sócios da empresa conheceu uma artesã de Itariri que fabricava capas de almofadas, caixas e cestos à base de troncos de bananeira.

Com ajuda de professores da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, em Piracicaba), a tecnologia usada pela empresa para o processamento da fibra foi desenvolvida e aguarda pela concessão de patente.

O objetivo da Tamoios é conseguir da IMO-Control (Instituto de Mercado Ecológico, com matriz na Suíça) uma certificação de Comércio Justo. De acordo com Eliane Yamada, o documento comprovará o caráter sustentável da fabricação e das mercadorias produzidas com a fibra da bananeira.

De artesã a gerente de produção

 

A artesã que deu origem ao investimento da Tamoios em pesquisas com a fibra da bananeira é Genilda Bezerra de Morais. Ela começou a trabalhar com o produto há 18 anos, ao se interessar por um curso de geração de renda para mulheres então oferecido pela prefeitura de Itariri.

Genilda aprimorou sua técnica e seus conhecimentos com professores da Esalq e transmitiu o que aprendeu a outras comunidades do Vale do Ribeira. Contratada pela Tamoios, tornou-se gerente de produção e pesquisadora da unidade industrial recém-inaugurada pela empresa na cidade.

"Mesmo eu tendo uma empresa pequena [com participação de outros artesãos locais], não era uma produção consistente. Alguns de nós comprávamos troncos dos sitiantes locais. Mas agora, com a empresa [Tamoios], se deu uma organizada no processo", comenta.
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