Projeto
interno de apartamento de 19m² desenvolvido pelo arquiteto canadense
Graham Hill para o VN Quatá, em São Paulo. O projeto é caracterizado
pelo aproveitamento máximo dos espaços. Com sua configuração básica, o
apartamento tem uma sala de estar, banheiro e cozinha Divulgação
"Como planejar sua vida para incluir mais dinheiro, saúde e felicidade
com menos coisas, espaço e energia." É com essa frase que a empresa
americana LifeEdited (ou "vida editada", em português) resume o seu
trabalho. A empresa está por trás do desenvolvimento de um projeto para o
menor apartamento à venda no Brasil, que tem 19m² de área.
A LifeEdited foi criada pelo arquiteto e designer canadense Graham Hill
há pouco mais de um ano. Depois de criar duas empresas com foco na
internet e vender cada uma por US$ 10 milhões, ele decidiu tocar um
projeto relacionado ao seu estilo de vida. Hill é um ambientalista.
"Por um tempo, morei em várias cidades, sempre em locais pequenos e
sempre levando minhas coisas em apenas duas malas. Isso me fez pensar
sobre quanto de espaço e coisas eu realmente precisava. Percebi que uma
vida simples é mais feliz", afirma.
O primeiro projeto da LifeEdited foi o apartamento para onde o próprio
Hill se mudou há um ano, em Nova York. Ele desenhou, para o imóvel de
39m², diversas soluções para aproveitamento de espaço. Durante o dia,
ele pode montar uma mesa e receber até 12 pessoas para almoçar. À noite,
a mesa é escondida e dá lugar a uma cama de casal.
O canadense desenvolveu um projeto semelhante para a brasileira
Vitacon. Ele veio a São Paulo nesta semana mostrar suas ideias para os
apartamentos de 19m² do VN Quatá, empreendimento localizado na Vila
Olímpia, zona sul de São Paulo, que foi desenvolvido pelo escritório
Basiches Arquitetos e lançado em outubro. A arquitetura interna do
imóvel imaginado por Hill para os brasileiros tem paredes que mudam de
lugar e móveis adaptados.
Em entrevista ao UOL, o arquiteto explicou o que o
levou a adotar um estilo de vida "editada" e por que acredita que essa
será a tendência do futuro quando se fala em moradias. Confira, abaixo,
os principais trechos da entrevista.
UOL - O principal produto de sua empresa é seu próprio
apartamento, que o senhor usa para mostrar que é possível viver bem em
espaços pequenos. Quando o senhor começou a pensar nisso como parte de
um estilo de vida?
Graham Hill - Sempre morei em casas grandes. Minha
casa em Seattle tinha 300m². Mas sou um ambientalista e penso muito
sobre esse assunto. Quando comecei o TreeHugger [site criado por ele com
informações sobre sustentabilidade], estava namorando uma espanhola e
morei com ela em Barcelona em um local muito pequeno. Depois morei em
Bancoc [Tailândia] por cinco meses, em Buenos Aires [Argentina] por três
meses, sempre em locais pequenos. E sempre com apenas duas malas.
Material de trabalho, roupas e tudo o que eu tinha ficavam em duas
malas. E nós tínhamos uma vida muito boa.
Isso me fez pensar sobre quanto de espaço e de coisas eu precisava.
Percebi que a vida tem mais a ver com experiências, flexibilidade e
tempo. Quando o lugar em que você mora é menor, você usa menos o
aquecedor, tem menos espaço para limpar, gasta menos. Num projeto como a
da Vitacon, por exemplo, as pessoas podem gastar menos dinheiro e morar
de um jeito legal, perto do centro, sem precisar se locomover pela
cidade. Você economiza recursos do meio ambiente, tempo e dinheiro,
porque não precisa gastar com carro e gasolina.
Acredito que uma vida simples é mais feliz. Posso ter coisas muito
boas, que são mais caras, mas elas duram mais tempo e por isso não
preciso ter grandes quantidades. Tenho menos coisas para limpar e menos
coisas com as quais me preocupar. Minha vida é mais simples.
Ampliar
O
AP 1.211, assinado por Alan Chu, recebeu placas de limestone (Mont
Blanc Mármores e Granitos) no piso, forro de madeira de demolição (O
Relicário) e revestimento cerâmico esmaltado e branco - Antigua - nas
paredes. Tal elemento reflexivo, tipo tijolinho, é muito usado em
restaurantes. Uma escada (à esq.) metálica em espiral (Serralheria
Cabral) faz a circulação vertical para o mezanino Leia mais Djan Chu/ Divulgação
O preço dos apartamentos menores, comparando com os maiores,
ainda é proporcionalmente maior. Além disso, para ter apartamentos
menores, é preciso ter móveis adaptados. Isso não torna esse estilo de
vida mais caro, no fim das contas?
Um apartamento tem basicamente três partes: banheiro, cozinha e um
espaço aberto [que inclui sala e quartos]. O custo do espaço aberto é
bem menor do que o do banheiro e da cozinha. Mesmo que você encolha o
espaço aberto, ainda terá de ter banheiro e cozinha, por isso o custo
por metro quadrado dos imóveis menores é mais alto. Sobre os móveis,
ainda é muito cedo. O volume dos móveis adaptados para espaços menores
não é grande, então os preços são um pouco altos ainda.
Mas a maneira certa de olhar para isso é pelo custo absoluto. Se você
está vivendo num apartamento de dois quartos e não precisa dos dois
quartos, está desperdiçando dinheiro.
Mas o senhor acha que as pessoas de fato pensam assim? Se eu
tivesse dinheiro para comprar um espaço maior, por que não compraria?
Claro, muita gente não pensa assim. O conceito sempre foi "quanto
maior, melhor". Nos Estados Unidos, as famílias estão menores e estão
morando em casas três vezes maiores do que nos anos 1950. Mas os níveis
de felicidade são os mesmos. Então acho que basicamente confundimos
felicidade com ter coisas.
Viver em locais menores será uma das saídas para as grandes cidades, e
estamos aprendendo a fazer móveis e layouts melhores para esses espaços.
Um das razões é a preservação do meio ambiente. Todas as cidades têm
objetivos nesse sentido.
Além disso, se você escolhe, por exemplo, viver no VN Quatá, você tem
menos espaço, mas não se locomove, então sua qualidade de vida é
totalmente diferente. Às vezes temos uma sala de jantar e convidamos
pessoas para jantar só uma vez por ano. Temos um quarto extra, e esse
quarto é usado no máximo 20% do tempo. Gastamos dinheiro com esses
espaços que estão vazios na maior parte do tempo.
Além do seu próprio apartamento e do VN Quatá, aqui no Brasil, quais são os outros projetos da LifeEdited?
Somos uma empresa nova, mas temos alguns projetos em desenvolvimento.
Um deles é no Brooklin, em Nova York. Estou fazendo também outro
protótipo no meu prédio, mais para experimentação. E estamos trabalhando
com Tony Hsieh [empresário americano que é dono da loja virtual
Zappos], que está interessado em testar um projeto de pequenas moradias
em Las Vegas. Lá, estamos fazendo quatro unidades cerca de 18m² a 27m² e
vamos oferecer estadas por uma noite e uma semana, para ver se as
pessoas de Las Vegas gostam da ideia.
O senhor já teve e vendeu duas outras empresas por US$ 10
milhões cada uma. Vivendo de uma forma tão simples, o que faz com seu
dinheiro?
Para mim o que importa é trabalhar com projetos que podem mudar o
mundo. Ter dinheiro permite que eu faça isso, não preciso achar
investidores, não tenho de me preocupar. O dinheiro me dá liberdade.
Poderia gastar muito dinheiro em várias coisas, ter carros da moda, e
casas da moda, mas não teria liberdade.
Ampliar
Para
se mudar para esses prédios, é preciso tirar do bolso pelo menos R$ 23
mil por metro quadrado. A maioria fica na Vila Nova Conceição e nos
Jardins, perto dos grandes centros financeiro e comercial de São Paulo.
Conheça, a seguir, os apartamentos com o metro quadrado mais caro da
capital paulista, segundo levantamento do site 123i, feito a pedido do
UOL Stock Images
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