segunda-feira, 4 de novembro de 2013

JOINVILLE FAZ DA IMIGRAÇÃO UM BOM NEGÓCIO

A metrópole catarinense investe na gestão das diferenças culturais trazidas pela recente onda migratória e que enriquecem seu DNA multicultural.

A mexicana Cecília Eguiluz, de 34 anos, mudou-se da região de Monterrey para Joinville em janeiro de 2012. O marido trabalha na multinacional Brunswick, e a principal missão dela é fazer com que os filhos de nove, sete, quatro e dois anos, consigam se adaptar à nova vida.

A mãe acompanha de perto todas as atividades, dedica tempo para as brincadeiras com os pequenos e administra as surpresas no caminho. Chegando ao País do futebol, seu filho mais velho estava convicto de que se tornaria um craque. Mas não encontrou um lugar para treinar futebol sem interferir nas aulas de horário integral e teve de trocar a bola pela capoeira.

Situações cotidianas como esta podem virar um grande problema quando se está em um país com língua e cultura totalmente diferentes. Cecíla está bem habituada ao Brasil e não tem problemas para se comunicar. Mas o idioma costuma ser a principal barreira para estrangeiras com uma história como a dela.
Enquanto o companheiro fala inglês com os colegas na empresa, elas se depararam com as dificuldades do português nas tarefas do dia a dia – desde achar uma escola até falar com um médico.

O número de estrangeiros em Joinville ainda não é expressivo, mas cresce rapidamente. Os atendimentos para confecção de carteiras de trabalho para pessoas de outras nacionalidades praticamente dobraram nos últimos seis meses, constata a chefe do setor de trabalho, emprego e renda do Ministério do Trabalho na cidade, Maysa Santos.

O município, que começou a oferecer o serviço em setembro de 2012 – antes era feito em Florianópolis – recebe, em primeiro lugar, refugiados haitianos. Em seguida, e em curva crescente, estão profissionais de diferentes países, como o marido de Cecília, que chegam com contrato assinado para trabalhar em multinacionais na região Norte.

Apenas na empresa de Danielle dos Santos, que presta serviço de imigração e de socialização aos estrangeiros em Joinville, passaram, neste ano, cinco alemães, um suíço, três mexicanos, três norte-americanos e cinco italianos. Eles ocupam posições técnicas ou de liderança e trazem a família para passar alguns meses ou para construir uma vida no Brasil.


Oportunidades de negócio


Após morar em vários países, a empresária Danielle dos Santos sentiu na pele as dificuldades de tentar se adaptar a uma nova cultura. De volta ao Brasil, abriu, há dois anos, uma empresa em Joinville que oferece desde o serviço de imigração a programas para integrar os estrangeiros em sua passagem pela região.

Embora recente e em fase de consolidação, o serviço demonstra que os empreendedores estão despertando para esta nova demanda. A equipe da iCultural é formada somente por mulheres e todas já foram expatriadas acompanhando a carreira dos maridos lá fora.

A empresa oferece atividades como curso de português, orientação profissional para as esposas, com metas traçadas para o período no Brasil, e passeios em grupo.

Para os estrangeiros, a educação dos filhos é um dos fatores mais importantes. Tanto que a presença de escola internacional faz parte da lista dos serviços desejáveis para concretização de investimentos de multinacionais. Nesta área, Joinville tem duas iniciativas.

O Bom Jesus/Ielusc oferece ensino em inglês e em alemão. Lá, vão estudar, por exemplo, os filhos dos funcionários da BMW. A UniSociesc é certificada para o ensino em dois idiomas: português e inglês.
O projeto da UniSociesc para introduzir o ensino bilíngue é o mais antigo – começou em 2009 – e a cada ano o estabelecimento amplia a oferta de turmas. Segundo a orientadora educacional Jeisa Rech Casagrande, a metodologia de ensino e o currículo têm a consultoria de um educador canadense.

Atualmente, 226 alunos estudam na escola, sendo 11 estrangeiros, dentre os quais mexicanos, suíços, coreanos, alemães e portugueses, que vieram sozinhos participar de intercâmbio ou com a família. Há também filhos de brasileiros que passaram muitos anos no exterior.

Alguns pais estrangeiros se queixam que os professores não são nativos de países de língua inglesa e que o calendário escolar não segue o do hemisfério Norte. Jeisa explica que o foco da escola não é apenas atender aos estrangeiros, mas também oferecer aos estudantes brasileiros a experiência internacional.

Todos os anos, a escola organiza intercâmbio, que já foi realizado para o Canadá, Inglaterra e Estados Unidos. No ensino internacional, o foco está nas competências para a matemática, língua, compreensão de mundo e ciência. Os professores, todos brasileiros, fazem pós-graduação em ensino bilíngue.


Multiculturalismo corporativo


A Bühler, multinacional suíça, conta com 185 funcionários que trabalham na unidade joinvilense, que fica no Perini Business Park. Destes, 13 são estrangeiros: seis da Suíça, um da Alemanha, dois da Áustria, um da França, um da Argentina, um da Colômbia e um da Bélgica.

Para lidar com tamanha diversidade, o gerente de recursos humanos, Sérgio Fernandes, explica que a empresa tem valores formados em todo o grupo que são alinhados e repassados mundialmente.

Para tirar o melhor proveito das equipes, segue a receita de informar, respeitar as diferenças culturais e saber lidar com as regras e as leis de diferentes países.

– É preciso respeitar assuntos sobre política e religião e focar no nosso negócio – afirma Fernandes.
Quanto mais próximo o país é do Brasil, menos diferenças costumam ser encontradas na cultura. O gerente de controladoria da Whirlpool Latin America, Fernando Abonvati, veio da Argentina com a esposa e os três filhos há quase três anos e considerou a adaptação fácil.

Abonvati elogia a qualidade de vida, a proximidade das praias, o pensamento mais positivo das pessoas e a tranquilidade da cidade se comparada a Buenos Aires.

Ele sugere atenção ao trânsito, com aumento da sinalização. E brinca dizendo qual é a principal dificuldade na adaptação:

– Chove muito aqui – lamenta.
A mexicana Cecília Eguiluz, 34 anos, que acompanha o marido, profissional da Brunswick, acha curioso que, em Joinville, quando alguém pergunta se a festa estava boa, a referência é sempre a comida. E diz que é difícil fazer um lanche sem a presença de pão e fritura.

Acostumada a prestar serviço para estrangeiros em Joinville, a empresária Danielle dos Santos diz que muitos acham estranho consumir feijão como um prato salgado. Em vários países, o alimento é servido na forma de um doce.

Asiáticos são os que mais têm dificuldade em se adaptar à alimentação, enquanto os europeus acham que os brasileiros falam e tocam nas pessoas demais. Todos acham complicado ir ao supermercado pela barreira do idioma. Não encontrar pessoas que falem inglês nos estabelecimentos comerciais e de serviços é uma das principais queixas, segundo Danielle.


Um novo lar


Junto ao nome, Archange Clifaud acredita ter recebido uma missão ao nascer: a de, assim como um anjo, guiar seus passos pela vontade divina. Pastor na Igreja A Voz da Pedra Angular, o haitiano de 24 anos veio com o primo para Joinville porque aqui há uma unidade da associação missionária da qual fazem parte.
Assim que chegou, Archange conseguiu emprego na Stribus Acessórios Automotivos como auxiliar de pintura. Nos planos do anjo haitiano, além de concluir a faculdade de engenharia elétrica, a religiosidade não fica de fora:

— Trabalhar na obra de Deus, isso é primordial. Também quero construir uma família. E voltar para o Haiti.
Conterrâneo de Archange, Jean Michelet Jean Louis, 26 anos, só pensa em regressar para a terra natal a passeio. Depois do terremoto que devastou o país em 2010, conta ele, é praticamente impossível conseguir emprego e continuar os estudos.

O jovem está no Brasil há sete meses. Trabalhando no setor de acabamento de peças da Fundição Tupy desde maio, Jean pretende fazer curso técnico para conseguir um cargo melhor, juntar dinheiro e, então, cursar faculdade de Administração. A gratidão do haitiano pelo país que o acolheu é evidente. Com um sorriso aberto e olhar tímido, fala sobre trazer a noiva e a mãe para cá.

— Joinville é cidade pequenina, é bom para morar. Eu gosto de tranquilidade.
Desde o começo do ano, a Delegacia da Polícia Federal em Joinville recebeu cerca de 50 haitianos que manifestaram desejo em viver na cidade – número maior do que o de argentinos e paraguaios somados.

No banco de currículos da RH Brasil, o maior da região Norte, há 132 pessoas de descendência haitiana buscando uma oportunidade de emprego – só este ano, 34 procuraram a agência. A maioria vem só e, quando tudo está consolidado – permanência definitiva no Brasil, emprego e moradia –, encontra uma maneira de trazer a família.


Polo industrial


A fama do polo industrial e a instalação de multinacionais renomadas na região chamam a atenção dos haitianos. A colocação no mercado local costuma ser rápida porque as empresas têm dificuldades em suprir a demanda de funcionários para cargos operacionais.

— Ainda que haja um processo de adaptação, é melhor inserir estas pessoas na produção do que deixar uma máquina parada — argumenta Pedro Luiz Pereira, vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Santa Catarina (ABRH-SC).

Marckendy Pett Phat, de 25 anos, acabou de chegar a Joinville. O rapaz procura emprego em qualquer ramo. O importante é receber o suficiente para se manter e ter condições de trazer os pais e os quatro irmãos que ficaram no Haiti. Além disso, quer ir à escola aprender português – Marckendy entende quase tudo, mas não se expressa muito bem.

A dificuldade na comunicação é o que mais pesa para que os haitianos ocupem cargos nas linhas de produção, mais simples de desempenhar por terem um padrão específico para cada função. Com o francês como idioma oficial, alguns falam também inglês e espanhol.

Como a língua ainda é uma barreira, os haitianos preferem andar em grupos e, se possível, até trabalharem juntos.

— Isso faz com que eles se sintam mais confortáveis na adaptação e até mais seguros em relação à cidade — diz Joanir Schadeck, gerente de recrutamento e seleção da RH Brasil.


Passe livre


A situação dos haitianos em relação a outros estrangeiros que pretendem morar no Brasil é estável. No caso específico deles, um pedido de refúgio é suficiente para começar uma vida nova por aqui. Enquanto o processo passa por avaliação do Comitê Nacional para os Refugiados, vinculado ao Ministério da Justiça, é possível já ir encaminhando os documentos a partir do número gerado pelo Sistema Nacional de Cadastramento de Registro de Estrangeiros (Sincre).

— Com o Sincre, um comprovante de residência e os documentos emitidos pela Polícia Federal, podemos dar entrada na Carteira de Trabalho e concluir o processo em uma semana — explica Eliane Mendes Ghisi, gerente regional do Ministério do Trabalho em Joinville.

Assim que o cidadão haitiano chega ao Brasil – na maioria dos casos, a entrada é feita pela região Norte –, ele deve se apresentar na delegacia da Polícia Federal mais próxima.

— Após o deferimento de sua permanência, eles devem se registrar junto à Polícia Federal para obter sua Carteira de Identidade de Estrangeiro (CIE), onde constará seu Registro Nacional de Estrangeiro (RNE) — conta Fabiano José Rohr, agente do Núcleo de Imigração da Delegacia de Polícia Federal em Joinville.

Boa parte dos haitianos pretende trazer a família para o País. Neste caso, quem já tiver a permanência definitiva pode solicitar um visto de reunião familiar junto ao Consulado Brasileiro no Haiti ou entrar com o pedido no Brasil.

Claudine Nunes
(Diário Catarinense – 01/11/2013)

FORTALEZA COSMOPOLITA

Atraídos pelas belezas naturais, imigrantes se apaixonam, fixam residência e aproveitam os espaços da cidade.

Quando começou a estudar a cultura e literatura brasileira, em Berlim, a alemã Ute Hermanns sequer imaginou que um dia o Brasil seria a sua segunda morada. Apaixonada pelo mar, por costumes simples e querendo se livrar do inverno rigoroso do seu país de origem, encontrou na capital cearense um bom lugar para viver, trabalhar e ampliar seus horizontes.

“Quando apareceu a oportunidade de vir para o Brasil, pude escolher entre quatro outras cidades”, lembra. Depois de eleger Fortaleza como lar e se acostumar com as diferenças culturais que surgiram no cotidiano, Ute passou a aproveitar todos os espaços possíveis da Capital e, consequentemente, acabou se apaixonando por muitos deles.

Há três anos morando na cidade, ela cita seus lugares favoritos: Theatro José de Alencar, Mercado Central e, como não poderia ficar de fora da lista, a praia. Mas, dentre todos os locais que frequenta, é no Passeio Público onde fica mais à vontade, tanto é que foi o lugar escolhido por ela para fazer a foto que ilustra e reportagem. “Amo as árvores, o verde e a feijoada que servem aqui. É um espaço tão bonito! Fortaleza merece mais lugares assim”, diz. Entre seus programas preferidos, visitar livrarias, procurar artesanatos e experimentar novos pratos é o que mais gosta. “Amo tanto a comida do Ceará que comprei até uma cuscuzeira”, diverte-se.


Influências


A professora de alemão, entretanto, não é a única estrangeira que foi cativada pelas delícias da nossa culinária. Quem também foi atraído pela particularidade da gastronomia cearense foi o francês Patrick Gerinette, 62. Há 12 anos, depois de idas e vindas, resolveu ficar de vez na cidade.

Hoje, comanda o Chez Patrick, um restaurante francês localizado na Praia de Iracema, que é instalado dentro de sua própria casa. “O clima, o mar e a receptividade das pessoas foram as principais influências para minha mudança. Eu adoro passear pelo bairro e conversar com meus vizinhos”, compartilha. Dentre os outros atrativos que a cidade oferece, sem dificuldade, ele cita preferidos: o Mercado São Sebastião e o Mercado Central.

“Ali têm tanta variedade. Eu gosto de olhar e cheirar os alimentos. Logo que cheguei, me apaixonei pelos temperos, como o cheiro verde, que não temos na França, e também pela manga, tanto que comprei minha casa porque nela tem um enorme pé da fruta”, conta. E Fortaleza foi responsável não só por inspirar o chefe de cozinha a abrir um restaurante, mas também por lhe dar a oportunidade de formar uma família, pois foi aqui onde conheceu a secretária Regina Magalhães, com quem é casado há 11 anos.

Mas será que a professora Ute e o chefe de cozinha Gerinette amam Fortaleza e utilizam os espaços cidade só porque são estrangeiros e não vivenciaram, desde pequenos, o cotidiano da Capital? Os dois garantem que não. Ciente dos problemas da Capital, a professora Ute destaca as qualidades, mas também aponta críticas. Nas paradas de ônibus, ela sente medo, e sobre o trânsito, enfatiza: “Estou resistindo a comprar um carro, mas estou para desistir”. Outro problema que incomoda Ute é a poluição visual. “Fortaleza é uma cidade tão fotogênica. Se os muros fossem mais limpos, tudo ficaria mais bonito”.

O francês Gerinette também cita o que o incomoda: o trânsito. “Os pedestres devem ser mais respeitados”, opina.

Conhecimento

Na avaliação do historiador e turismólogo Gerson Linhares, o cearense precisa conhecer melhor sua história para, assim, amá-la mais, tanto quanto os estrangeiros amam. Quem costuma passar pelo Centro de Fortaleza, certamente já deve ter cruzado com Linhares. Há 18 anos, ele é responsável por realizar caminhadas com grupos de alunos e turistas que passam por pontos históricos da cidade.

“Temos mais de 30 museus na Capital que são poucos divulgados e visitados pelos cidadãos e turistas”, lamenta. Para ele, um povo que não conhece sua história, está fadado a perder suas raízes e sua memória. Por isso, acredita que um pouco mais de cuidado dedicado aos museus e praças ajudará não só os estrangeiros, mas também a população a se sentir incentivada a circular, viver, amar e zelar mais pelo o que é seu.

Ceará, paraíso tropical para imigrantes?

A crise econômica internacional contribuiu para que os cearenses retornassem e para que muitos estrangeiros passassem a ver na nossa terra uma chance de recomeçar uma nova vida. Alguns vieram por amor, casados com cônjuges cearenses, outros vieram em busca de estudo ou oportunidades de trabalho e de negócios.

Algumas vezes, brinco com um amigo português, dizendo que os portugueses estão redescobrindo o Ceará. Mas não são apenas eles que estão vindo de forma significativa, pois americanos, italianos e franceses também parecem acreditar que aqui poderão viver com qualidade seu sonho tropical. Afinal, não é qualquer um que pode dizer que mora, onde milhares sonham em passar as suas férias.

Precisamos reconhecer que essa realidade começou a mudar com o esforço para que houvesse um projeto consistente de industrialização do Ceará. Da construção civil à indústria automobilística, algumas cidades do Brasil e do mundo deve muito da sua hegemonia econômica às mãos alencarinas. O cearense já foi chamado de “judeu” brasileiro, dada a sua presença em todos os rincões do Brasil e mundo à fora.

Dentre as tentativas de alavancar a indústria do turismo e construir uma imagem positiva do estado do Ceará, destaca-se a produção da novela “Tropicaliente”, ambientada em Fortaleza e veiculada durante quase todo o ano de 1994, na gestão do governador Ciro Gomes, integrante do governo das mudanças.

Nas últimas duas décadas, assistimos um processo de fortalecimento da autoestima dos cearenses e fortalezenses em relação à nossa terra, diminuindo drasticamente o processo de emigração e o crescente aumento da imigração de pessoas de outros estados brasileiros e, principalmente, de outros países. (Rosendo Amorim – Sociólogo e professor da Unifor)

Oportunidades, estudo e clima são grandes atrativos

Entre os objetivos dos que deixam sua terra natal e fixam residência em Fortaleza, segundo a Delegacia de Imigração da Polícia Federal (PF), estão negócios, trabalho, investimento e estudo. Parte dessa procura pelo Ceará deve-se, principalmente, à crise europeia dos últimos anos, prova disso é a facilidade de encontrar estrangeiros em diversas partes do Estado, sobretudo no Litoral.

No Ceará, segundo a Delegacia de Imigração, chegam, sobretudo, europeus, latinos-america nos e africanos de baixa formação. A idade varia entre 25 e 40 anos, a maioria homens. O último senso realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)apontou que, nos últimos 20 anos, a quantidade de estrangeiros no Estado cresceu 70%.

Há registro, ainda, de um considerado número de mão de obra em áreas como Medicina, Arquitetura, Informática e Engenharia. São profissionais que vêm para trabalhar em grandes empresas, universidades e hospitais. Pessoas que se deixam cativar não só pelas oportunidades, mas pelas qualidades e desafios que o Ceará tem a oferecer.

Lívia Lopes
(Diário do Nordeste – 04/11/2013)

domingo, 3 de novembro de 2013

O ASSÉDIO CUBANO: COMEÇA A INFILTRAÇÃO DO SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA DE FIDEL CASTRO NO BRASIL.

 
 
O texto que segue é o artigo na íntegra de Roberto Lopes, do site do jornal O Globo  evocando um tema que aparece muito raramente na grande mídia: a tentativa de politização das Forças Armadas pelo PT, dentro do mesmo esquema que ocorre na Venezuela, desde o dia em que desembarcou no país bolivariano o primeiro lote de médicos cubanos. O título original do artigo é “O assédio cubano”. Segundo o articulista, a infiltração da inteligência, o famigerado G2, já começou cubana. Vale a pena ler:
 
A inteligência militar brasileira está inquieta. Diplomatas de Cuba vêm assediando funcionários de missões diplomáticas brasileiras no exterior, em busca de informações sobre: (a) a expansão do esforço antidrogas do Brasil na América do Sul, em substituição ao papel antes desempenhado pelo governo americano — fato que ocorre, por exemplo, na Bolívia; (b) a real medida da resistência brasileira à importação de médicos cubanos; (c) os motivos que levam a maioria dos formadores de opinião do país a se entrincheirar contra o chavismo.
 
Tal aproximação representaria o início de um processo de infiltração da inteligência cubana no Brasil, já que, em Havana, o recrutamento de diplomatas para serviços de coleta de informações é rotineiro.
 
Recentemente, oficiais lotados no Ministério da Defesa tentaram neutralizar a atuação dos civis petistas que facilitam a parceria com os cubanos na área das informações estratégicas. Mas não conseguiram. Tais servidores parecem ser irremovíveis, e não porque tenham sido nomeados pela presidente Dilma Rousseff, mas porque fazem parte da cota pessoal do ex-presidente Lula na administração federal.
 
O pessoal do G2 — Seguridad del Estado — e da contraespionagem militar cubana teve facilidade em dominar o aparato de segurança interna e a contraespionagem venezuelanos, porque lá o chavismo exigiu a politização das Forças Armadas. Coronéis (e simples majores) castristas desfilam como se fossem divindades pelos quartéis venezuelanos. À passagem deles, diz-se, os militares locais juntam os calcanhares e adotam rígida posição de sentido.
 
O Brasil é, felizmente, um desafio imensamente maior para os cubanos que a Venezuela, ou a Bolívia do compañero Evo. Tanto o ex-presidente Lula quanto o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, já precisaram ouvir de patentes militares que o pior que poderia acontecer no país seria a politização das Forças Armadas brasileiras. E isso porque, no Palácio do Planalto, houve quem (do alto da barba, dos óculos e da gravata borboleta) sonhasse com oficiais-generais lulistas...
 
Nunca existiu um partido que apoiasse tanto a renovação dos meios de Defesa no país quanto o PT (e um que frustrasse tanto as expectativas dos militares quanto o PSDB), mas o preço que os petistas cobram por seu apoio é alto.
 
Essa conjunção de fatores fez surgir certa expectativa em relação à dupla Eduardo Campos/Marina Silva. Ele, neto de um político no passado perseguido pelos militares; ela, a guerreira da Amazônia, que representa um potencial de problemas a certas medidas consideradas urgentes pelos militares, como a modernização da BR-319 (Manaus-Porto Velho).
 
A questão é que, além dos seus históricos pessoais, a dupla Eduardo/Marina também oferece um compromisso com ética e ação governamental (desenvolvimentista) mais eficiente. E isso é, verdadeiramente, novo.
 
Talvez eles até consigam deixar o Itamaraty esticar o pescoço por cima da linha do Equador, para enxergar que existem chances de cooperação fora do eixo Sul-Sul. E, ao afrouxar a rigidez sobre o leme, permitam que a nau gire suavemente, adotando outra proa.
 

Pedro Moreira Salles investe R$ 200 milhões na OGX Maranhão

Presidente do Itaú vai injetar dinheiro na subsidiária da petrolífera de Eike Batista por meio de seu fundo Cambuhy Investimentos

Wikipedia
Pedro Moreira Salles, do Itaú Unibanco
Moreira Salles: o novo dono de 73% das ações da OGX Maranhão

São Paulo - Um personagem inesperado entra na trama da novela OGX: Pedro Moreira Salles, presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco. Após acordo anunciado ontem, ele adquiriu 73% dos papéis da OGX Maranhão e se tornou o maior acionista da empresa, subsidiária da companhia petrolífera criada por Eike Batista.

Moreira Salles entrou no negócio por meio do Cambuhy Investimentos, fundo fundado pelo banqueiro em 2011. Só dessa fonte, a OGX Maranhão deve receber um investimento de 200 milhões de reais. Outros 50 milhões virão do grupo alemão E.ON, atual proprietário da Eneva, que até pouco tempo atrás se chamava MPX e representava o braço no setor de termoelétricas do império de Eike.

Ao todo, o acordo de investimentos na OGX Maranhão vai injetar 344 milhões de reais no caixa da OGX, que pediu recuperação judicial na última quarta. A previsão do mercado é que a mesma medida seja adotada em breve pela OSX, empresa de construção naval do grupo EBX que também passa por dificuldades.

COMO INTEGRAR O FUNCIONÁRIO ESTRANGEIRO?


A diversidade cultural na empresa representa uma verdadeira riqueza que deve ser cuidadosamente administrada. 

O número de autorizações permanentes de trabalho dadas pelo Brasil a estrangeiros em cargos de diretoria, gerência e gestão cresceu 11,7% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2012, chegando a 889. No ano passado todo, foram 1.703, alta de 22% ante 2011. Os dados são do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).

Por esse cenário, uma habilidade tem ganhado valorização nas empresas: a inteligência cultural. Trata-se da capacidade de interagir de forma eficiente e produtiva com diversas culturas e da possibilidade de fazer uma boa gestão com uma equipe composta por profissionais de vários países.

Essa habilidade existe em maior grau em algumas pessoas, segundo David Thomas e Kerr Inkson, autores do livro “Inteligência Cultural” (ed. Record, 2006). Porém é possível ampliá-la por meio de treinamento, estudos e principalmente, na prática -ou seja, trabalhando diretamente com estrangeiros.

Mas, para Gilberto Sarfati, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de gestão de ambientes multiculturais, os executivos do país ainda engatinham na inteligência cultural. “O Brasil sempre foi um país fechado do ponto de vista econômico. Há poucos anos é que estamos nos expondo para o mundo. É natural que sejamos subdesenvolvidos nesse aspecto”, diz.

Para ele, as empresas brasileiras ainda não perceberam a importância de investir nesses treinamentos.
O executivo anfitrião não tem de lidar com esse intercâmbio cultural sozinho. Empresas costumam possuir, dentro do departamento de recursos humanos, um setor específico para gerenciar esse processo.

Na avaliação de Renata Wright, gerente-executiva da divisão de RH da consultoria Michael Page, o papel do RH é realizar treinamentos e até contratar consultorias para que o expatriado chegue ao Brasil devidamente assessorado -e também para que o anfitrião esteja pronto para recebê-lo.

Nesse pacote entra tudo: orientações sobre as regras trabalhistas do novo país, assessoria no aluguel de um apartamento e até mesmo consultoria sobre como declarar o Imposto de Renda.

“Há empresas que oferecem encontros mensais com os cônjuges dos expatriados para que eles falem de suas dificuldades de adaptação”, afirma Wright.

Na outra ponta, o executivo também passa por treinamentos para conhecer melhor a cultura do estrangeiro e para desenvolver suas habilidades culturais.

“Devemos fazer todo o possível para que o estrangeiro chegue com as expectativas bem administradas e se instale de maneira mais suave”, diz a gerente-executiva.

Quando foi transferido para os Estados Unidos, Tadeu Figueiredo, 32, gerente de encargos e salários da Johnson Controls Internacional, recebeu toda a ajuda necessária para a sua chegada. Antes de ir definitivamente, passou um mês na cidade de Glendale (Wisconsin) conversando com seus futuros colegas, com o departamento de RH e conhecendo a cidade.

Depois, teve ajuda para alugar uma casa, transferir seus móveis e entender a legislação trabalhista e o sistema tributário norte-americano. Ele tinha inclusive uma “host”; uma colega de trabalho brasileira que havia sido transferida seis meses antes que se responsabilizava por convidá-los a jantares e a jogos de beisebol.

Sua chefe era quem coordenava tudo isso, e se encarregava, no dia a dia, de fazê-lo sentir-se integrado. Ela também se encarregava de convidá-lo para eventos e passeios.

Porém, Tadeu conta que, mesmo com toda a ajuda, decidiu voltar para o Brasil depois de um ano e meio. “Minha mulher, que foi comigo, não se adaptou. Quando surgiu nova vaga no Brasil, decidimos voltar”, afirma.

Volta para casa

Cerca de 70% das expatriações (transferências temporárias) no mundo falham, segundo Sarfati, da FGV. Das que falham, metade é porque o executivo não se adaptou e a outra metade é por problemas familiares no novo país.

É essa dificuldade -e para evitar prejuízos-, que não apenas o RH tem de oferecer a infraestrutura. É preciso que o executivo anfitrião desenvolva sua inteligência cultural para que tudo flua nas reuniões de trabalho e na execução do projeto.

“O líder que sabe fazer uma gestão multicultural tem que ter integridade para entender a si mesmo e a seu sistema de valores. Deve ser humilde, precisa estar aberto a compreender as diferenças e precisa, acima de tudo, de coragem para persistir em condições não favoráveis”, analisa Rosana Marques, coordenadora de RH da Crowe Horwath Brasil.

Em termos práticos, ele tem que colaborar na integração do estrangeiro à equipe, assessorá-lo com pequenas diferenças culturais (sobre os horários de trabalho ou como se portar em uma reunião). E, principalmente, saber se adaptar em determinadas situações.

Foi o que fez Fábio Saad, gerente sênior da divisão financeira da consultoria Robert Half. Há duas semanas, a belga Maaike de Schouwer, 26, trabalha com ele em sua equipe. E, em uma primeira reunião sobre o planejamento do ano que vem, Schouwer pediu para tirar 15 dias de férias em julho.

Porém, pela legislação trabalhista, ela não tem direito a esses dias, já que ainda não terá completado um ano na empresa. Saad ofereceu-lhe então a oportunidade de tirar os 15 dias, mas como licença não remunerada.
Apesar de Schouwer falar português, a principal barreira enfrentada é idiomática.

“O mais difícil é quando muitas pessoas falam juntas ou ao telefone”, diz. Já para Saad, a principal preocupação no fim do dia é com a integração dela na equipe.

“No Brasil, falta treinamento técnico para essa gestão multicultural. Nossa especialidade é a gentileza corporativa”, afirma Luiz Gabriel Tiago, diretor-executivo da SGEC Brasil, uma empresa de educação.

O brasileiro tende a ser bom anfitrião. Mas essa característica infelizmente está longe de garantir que o projeto em uma equipe multicultural tenha êxito.


Ana Magalhães
(Folha de SP – 03/11/2013)

Avião movido a energia solar impulsiona criação de tecnologias limpas


RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO


Completando neste mês uma década, o projeto de construção de um avião movido a energia solar já deu resultados importantes. 

O primeiro protótipo da aeronave Solar Impulse cruzou os Estados Unidos de costa a costa neste ano. O segundo protótipo deverá estar pronto no começo no ano que vem e disponível para dar uma volta ao mundo em 2015. 

Os aviões já contribuíram para o aperfeiçoamento de diversas tecnologias inovadoras na área de energia "limpa" e renovável, independente de combustíveis fósseis. 

Ironicamente, eles estão longe de serem uma antevisão do futuro da aviação comercial. São bons "demonstradores de tecnologias", mas uma aeronave para um ou dois tripulantes com peso máximo de até duas toneladas está bem distante de substituir um avião de passageiros como um Boeing ou Airbus, com mais de 500 toneladas e capazes de levar centenas de passageiros. 


Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

"Queremos demonstrar a importância da sustentabilidade e da inovação. Vai demorar muito até podermos ver aviões 'limpos'. Um Boeing 707 dos anos 1950 é muito similar a um Airbus de agora", diz um dos fundadores do projeto Solar Impulse, o engenheiro e piloto suíço André Borschberg, que visitou recentemente São Paulo. 

Ele veio ao Brasil a convite da empresa Solvay, multinacional suíça que é uma das patrocinadoras do projeto. A empresa está presente no projeto com 11 produtos específicos em 20 aplicações --e em quase 6.000 peças do avião. 

Por exemplo, as células solares no topo das asas que geram a energia para as aeronaves precisam ser encapsuladas para proteção contra umidade; uma substância especial foi criada para isso. 

E, para ser leve, o avião tem de usar o mínimo de metais, substituídos por fibras de carbono e plástico ultraleves mas resistentes. Alguns desses materiais têm metade da densidade do alumínio. 

A iniciativa do projeto foi do explorador suíço Bertrand Piccard, o outro piloto principal. Piccard percorreu o mundo em balão sem escalas em 1999 e sua família tem "pedigree" exploratório. Seu avô, Auguste Piccard (1884-1962), foi um pioneiro no uso de balões para grandes altitudes e de batiscafos para explorar o fundo do mar. 

"Nossa equipe, nossas soluções não saíram da indústria aeronáutica. Temos bons engenheiros que vieram da Fórmula 1. O pessoal da aviação dizia que era impossível", diz Borschberg, ex-piloto de caça da Força Aérea Suíça. 

"Não pretendemos revolucionar a aviação, mas usar essas tecnologias no dia a dia." 


EM CASA, NO CELULAR

O projeto possibilitou, por exemplo, aumentar a eficiência e reduzir o peso das células solares e baterias elétricas. Essas tecnologias melhoram o desempenho de painéis solares para uso residencial e de baterias de computadores e telefones celulares. 

A energia solar ainda é uma tecnologia na infância. Segundo a Solvay, um painel solar de 1 m2 gera em média 40 watts. Um litro de combustível tradicional contém 250 vezes mais energia.

Isso significa que, para fazer voar um avião de 1,6 tonelada (incluindo o peso do piloto), é preciso ter 200 metros quadrados de células solares, pois 40 watts proveem energia para 8 kg da aeronave. 

"O ano que vem será para testes do voo de volta ao mundo com escalas em 2015. Um voo sem escalas só será possível em uma nova geração destes aviões", diz o piloto. 


DESCONFORTO

 
Os voos demandam muito dos pilotos. São dezenas de horas a bordo, mudando muito pouco de posição. É preciso ter técnicas especiais que lembram uma forma de "auto-hipnose" para poder ter tempo para dormir.
A comida é liofilizada, não há como cozinhar. E a temperatura pode variar de 35° C a -15 ° C, o que exige uma vestimenta especial. 

Os pilotos usam uma roupa de baixo feita de fibras têxteis de poliamida que seu fabricante chama de "inteligentes". Trata-se da marca Emana, desenvolvida no Brasil pela Rhodia, do grupo Solvay. 

O material absorve radiação infravermelha ("calor") do corpo e a devolve como outro tipo de onda, que facilita a regulagem térmica do corpo dos pilotos e minimiza os efeitos do esforço muscular. 

"A Emana foi desenvolvida no Brasil, ganhou prêmios de inovação e está sendo exportada para vários países", diz Thomas Canova, responsável pelo Centro de Pesquisas e Inovação do grupo Solvay na América Latina. 


Plano B das operadoras pode alterar atual isonomia na rede

 
DE SÃO PAULO


Prevendo que a cobrança por conteúdo acessado não passe, as teles definiram um plano B, alterando somente dois artigos do Marco Civil da Internet. Um deles oficializa uma rotina comum: a redução de velocidade de quem contrata um plano e estoura a franquia de dados. 
 
A última versão do texto de "consenso" também prevê o desligamento ou a interrupção do serviço de acordo com critérios definidos em contrato. Hoje, a lei só permite a interrupção por inadimplência. 
 
Para o consumidor, o risco seriam os termos dos contratos abusivos. As teles negam, mas as cláusulas poderiam prever interrupção em casos de uso "abusivo" de vídeos ou aplicativos. 
 
Outro artigo do texto prevê tratamentos diferenciados no gerenciamento do tráfego de dados. Na rede, os acessos transitam em "pacotes". As teles querem "olhá-los" para bloquear vírus e spams e direcionar "pacotes" válidos. Uns iriam para vias de acesso expressas. Outros, não. 
 
As condições do "bloqueio, monitoramento, filtragem, análise ou fiscalização do conteúdo dos pacotes de dados" seriam definidas por regulamento a ser definido posteriormente pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). 
Para as teles, isso reduziria custos e preços, e melhoraria a qualidade. 
 

Sérgio Lima/Folhapress
O relator do projeto do Marco Civil da Internet, deputado Alessandro Molon (PT/RJ) durante gravação do programa Poder e Política
O relator do projeto do Marco Civil da Internet, deputado Alessandro Molon (PT/RJ) durante gravação do programa Poder e Política