Atraídos pelas belezas naturais, imigrantes se apaixonam, fixam residência e aproveitam os espaços da cidade.
Quando começou a estudar a cultura e
literatura brasileira, em Berlim, a alemã Ute Hermanns sequer imaginou
que um dia o Brasil seria a sua segunda morada. Apaixonada pelo mar, por
costumes simples e querendo se livrar do inverno rigoroso do seu país
de origem, encontrou na capital cearense um bom lugar para viver,
trabalhar e ampliar seus horizontes.
“Quando apareceu a oportunidade de vir para o Brasil, pude escolher
entre quatro outras cidades”, lembra. Depois de eleger Fortaleza como
lar e se acostumar com as diferenças culturais que surgiram no
cotidiano, Ute passou a aproveitar todos os espaços possíveis da Capital
e, consequentemente, acabou se apaixonando por muitos deles.
Há três anos morando na cidade, ela cita seus lugares favoritos:
Theatro José de Alencar, Mercado Central e, como não poderia ficar de
fora da lista, a praia. Mas, dentre todos os locais que frequenta, é no
Passeio Público onde fica mais à vontade, tanto é que foi o lugar
escolhido por ela para fazer a foto que ilustra e reportagem. “Amo as
árvores, o verde e a feijoada que servem aqui. É um espaço tão bonito!
Fortaleza merece mais lugares assim”, diz. Entre seus programas
preferidos, visitar livrarias, procurar artesanatos e experimentar novos
pratos é o que mais gosta. “Amo tanto a comida do Ceará que comprei até
uma cuscuzeira”, diverte-se.
Influências
A professora de alemão, entretanto, não é a única estrangeira que foi
cativada pelas delícias da nossa culinária. Quem também foi atraído
pela particularidade da gastronomia cearense foi o francês Patrick
Gerinette, 62. Há 12 anos, depois de idas e vindas, resolveu ficar de
vez na cidade.
Hoje, comanda o Chez Patrick, um restaurante francês localizado na
Praia de Iracema, que é instalado dentro de sua própria casa. “O clima, o
mar e a receptividade das pessoas foram as principais influências para
minha mudança. Eu adoro passear pelo bairro e conversar com meus
vizinhos”, compartilha. Dentre os outros atrativos que a cidade oferece,
sem dificuldade, ele cita preferidos: o Mercado São Sebastião e o
Mercado Central.
“Ali têm tanta variedade. Eu gosto de olhar e cheirar os alimentos.
Logo que cheguei, me apaixonei pelos temperos, como o cheiro verde, que
não temos na França, e também pela manga, tanto que comprei minha casa
porque nela tem um enorme pé da fruta”, conta. E Fortaleza foi
responsável não só por inspirar o chefe de cozinha a abrir um
restaurante, mas também por lhe dar a oportunidade de formar uma
família, pois foi aqui onde conheceu a secretária Regina Magalhães, com
quem é casado há 11 anos.
Mas será que a professora Ute e o chefe de cozinha Gerinette amam
Fortaleza e utilizam os espaços cidade só porque são estrangeiros e não
vivenciaram, desde pequenos, o cotidiano da Capital? Os dois garantem
que não. Ciente dos problemas da Capital, a professora Ute destaca as
qualidades, mas também aponta críticas. Nas paradas de ônibus, ela sente
medo, e sobre o trânsito, enfatiza: “Estou resistindo a comprar um
carro, mas estou para desistir”. Outro problema que incomoda Ute é a
poluição visual. “Fortaleza é uma cidade tão fotogênica. Se os muros
fossem mais limpos, tudo ficaria mais bonito”.
O francês Gerinette também cita o que o incomoda: o trânsito. “Os pedestres devem ser mais respeitados”, opina.
Conhecimento
Na avaliação do historiador e turismólogo Gerson Linhares, o cearense
precisa conhecer melhor sua história para, assim, amá-la mais, tanto
quanto os estrangeiros amam. Quem costuma passar pelo Centro de
Fortaleza, certamente já deve ter cruzado com Linhares. Há 18 anos, ele é
responsável por realizar caminhadas com grupos de alunos e turistas que
passam por pontos históricos da cidade.
“Temos mais de 30 museus na Capital que são poucos divulgados e
visitados pelos cidadãos e turistas”, lamenta. Para ele, um povo que não
conhece sua história, está fadado a perder suas raízes e sua memória.
Por isso, acredita que um pouco mais de cuidado dedicado aos museus e
praças ajudará não só os estrangeiros, mas também a população a se
sentir incentivada a circular, viver, amar e zelar mais pelo o que é
seu.
Ceará, paraíso tropical para imigrantes?
A crise econômica internacional contribuiu para que os cearenses
retornassem e para que muitos estrangeiros passassem a ver na nossa
terra uma chance de recomeçar uma nova vida. Alguns vieram por amor,
casados com cônjuges cearenses, outros vieram em busca de estudo ou
oportunidades de trabalho e de negócios.
Algumas vezes, brinco com um amigo português, dizendo que os
portugueses estão redescobrindo o Ceará. Mas não são apenas eles que
estão vindo de forma significativa, pois americanos, italianos e
franceses também parecem acreditar que aqui poderão viver com qualidade
seu sonho tropical. Afinal, não é qualquer um que pode dizer que mora,
onde milhares sonham em passar as suas férias.
Precisamos reconhecer que essa realidade começou a mudar com o
esforço para que houvesse um projeto consistente de industrialização do
Ceará. Da construção civil à indústria automobilística, algumas cidades
do Brasil e do mundo deve muito da sua hegemonia econômica às mãos
alencarinas. O cearense já foi chamado de “judeu” brasileiro, dada a sua
presença em todos os rincões do Brasil e mundo à fora.
Dentre as tentativas de alavancar a indústria do turismo e construir
uma imagem positiva do estado do Ceará, destaca-se a produção da novela
“Tropicaliente”, ambientada em Fortaleza e veiculada durante quase todo o
ano de 1994, na gestão do governador Ciro Gomes, integrante do governo
das mudanças.
Nas últimas duas décadas, assistimos um processo de fortalecimento da
autoestima dos cearenses e fortalezenses em relação à nossa terra,
diminuindo drasticamente o processo de emigração e o crescente aumento
da imigração de pessoas de outros estados brasileiros e, principalmente,
de outros países. (Rosendo Amorim – Sociólogo e professor da Unifor)
Oportunidades, estudo e clima são grandes atrativos
Entre os objetivos dos que deixam sua terra natal e fixam residência
em Fortaleza, segundo a Delegacia de Imigração da Polícia Federal (PF),
estão negócios, trabalho, investimento e estudo. Parte dessa procura
pelo Ceará deve-se, principalmente, à crise europeia dos últimos anos,
prova disso é a facilidade de encontrar estrangeiros em diversas partes
do Estado, sobretudo no Litoral.
No Ceará, segundo a Delegacia de Imigração, chegam, sobretudo,
europeus, latinos-america nos e africanos de baixa formação. A idade
varia entre 25 e 40 anos, a maioria homens. O último senso realizado em
2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)apontou
que, nos últimos 20 anos, a quantidade de estrangeiros no Estado cresceu
70%.
Há registro, ainda, de um considerado número de mão de obra em áreas
como Medicina, Arquitetura, Informática e Engenharia. São profissionais
que vêm para trabalhar em grandes empresas, universidades e hospitais.
Pessoas que se deixam cativar não só pelas oportunidades, mas pelas
qualidades e desafios que o Ceará tem a oferecer.
Lívia Lopes
(Diário do Nordeste – 04/11/2013)
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