quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O Brasil 'bipolar' vem a Davos


 



DAVOS - Marcelo Neri, o economista que chefia a Secretaria de Assuntos Estratégicos, lamenta que o Brasil viva o que chama de "situação bipolar": uma boa parte do empresariado está pessimista com os rumos da economia, ao passo que o que Elio Gaspari chamaria de "andar de baixo" está satisfeito com a inclusão ocorrida nos últimos anos. 

O ideal, para Neri, seria que "pessimistas fossem menos pessimistas, e otimistas menos otimistas".
A segunda parte da equação é inalcançável, brinca o ministro, na medida em que "o brasileiro foi heptacampeão mundial de otimismo" (ficou em primeiro lugar na pesquisa Gallup sobre a satisfação com a própria vida, entre 2006 e 2012). 

Em 2013, no entanto, as coisas mudaram ligeiramente: houve uma queda na satisfação, para o 18º lugar no mundo, coincidindo com as manifestações de junho. Mas, já em outubro, de 0 a 10, o brasileiro dava 7 para a sua satisfação com a vida, o terceiro lugar no planeta. 

O ministro tem uma explicação para a "bipolaridade": economistas e executivos costumam olhar muito para o PIB, que, de fato, está crescendo mediocremente, como disse ontem a mexicana Alícia Bárcenas, secretária-executiva da Cepal, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. 

Já o comum dos mortais olha para a sua própria vida e vê que ela melhorou nos últimos anos, inclusive no ano passado: enquanto o PIB per capita, até novembro, crescia apenas 1,8%, a renda mediana subia 5,2%.
Como, então, explicar os protestos de junho? Para Neri, "a casa melhorou, mas o seu entorno [leia-se: serviços públicos] não. As pessoas querem uma outra agenda, após o crescimento com redução da desigualdade". 

Neste ponto, uma observação pessoal que já fiz várias vezes ao hoje ministro e da qual ele não discorda: caiu a desigualdade entre salários, mas não entre o rendimento do capital e do trabalho, até porque é muito difícil medir o primeiro desses rendimentos. 

E os rolezinhos? Neri admitiu, em mesa-redonda ontem em Davos: "Não acho que saibamos o que está acontecendo". 

Mas, em conversa com jornalistas, arriscou palpites: primeiro, a sociedade está muito mais interligada, do que decorre o uso das redes sociais como ponto de referência para os rolezinhos, e "a população jovem nunca foi e nunca mais será tão grande como agora". 

É desse Brasil "bipolar" que Dilma embarcou ontem para se apresentar amanhã a uma parte do público, inclusive estrangeiro, que está majoritariamente entre inquieta e pessimista sobre o Brasil. 

Palpite meu: se ela focar sua fala na sessão plenária e na conversa reservada com executivos no "feel good factor", esse sentir-se bem do andar de baixo, não vai desfazer o mal-estar. O que o povo de Davos quer são certezas sobre a situação fiscal brasileira, ou seja, sobre as sobras para pagar a dívida. 

Não por acaso, esse tema apareceu no primeiro lugar entre os riscos globais medidos por uma grupo de peritos para o Fórum Econômico Mundial, ao lado do crescimento da desigualdade.
crossi@uol.com.br

Paraguai descola do Brasil e tem 3º maior crescimento do mundo em 2013


 
 

Num ano definido pelos especialistas como "atípico" para o Paraguai, em 2013, a economia do país se "descolou" da brasileira, à qual tradicionalmente é ligada, e registrou um crescimento muito maior do que o do Brasil.

Segundo relatório do Banco Mundial, o Paraguai teve, no ano passado, o terceiro maior crescimento econômico do mundo: 14,1%. O Brasil, no mesmo período, cresceu 2,2%.

A disparidade chama a atenção, já que o Brasil tem participação estimada entre 19% e 30% no PIB paraguaio, de cerca de US$ 30 bilhões. Gráficos das economias dos dois países mostram que elas costumam ter oscilações semelhantes.

Segundo apurou a BBC Brasil, o "descolamento" está ligado a uma série de fatores, entre os quais a recuperação da economia paraguaia, após um ano de dificuldades, a maior diversificação de suas exportações (tentando diminuir sua dependência do Brasil) e uma maior abertura econômica, que inclui uma legislação tributária definida como "simples" em relação a outros países --incluindo o Brasil.

Mudança de perfil

 

Com 7 milhões de habitantes, cuja maioria é jovem e fala guarani, além do espanhol e muitas vezes o português, o Paraguai é o sétimo maior exportador de carne e o quarto maior exportador de soja do planeta.

Em 2012, o país teve problemas ao enfrentar a seca, que afetou a produção de soja, e também a febre aftosa. No ano passado, porém, com a recuperação da produção do país, o desempenho foi bem melhor.

"O Paraguai tem uma economia infinitamente menor que a brasileira, e, por isso, os efeitos das commodities são maiores nos seus resultados", disse um negociador brasileiro que acompanha a economia vizinha.
Mas, além disso, 2013 registrou também uma maior diversificação das exportações do país, que está dando um novo perfil ao vizinho brasileiro.

"Já são exportados produtos com valor agregado, como azeites, para diferentes mercados", afirmou o economista paraguaio Fernando Masi, do Centro de Análise e Difusão da Energia Paraguaia (Cadep). "Falta muito, mas já temos hoje sinais evidentes de um novo perfil econômico."

Além disso, o Paraguai tem conseguido exportar para países que, até alguns anos atrás, não tinham tanto destaque na balança comercial.

"Mesmo integrado ao Mercosul, o Paraguai fez a sua parte buscando outros mercados e hoje enviamos soja, carne e produtos industrializados, como plásticos, para a Rússia, o Oriente Médio e a Ásia", disse o ministro da Fazenda paraguaio, Germán Rojas, falando em português.

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Golpes e escândalos marcam trajetória política do Paraguai

Militares apontam armas para apoiadores de Fernando Lugo, que protestavam na praça Uruguaia, no centro de Assunção, contra a deposição do presidente paraguaio. Um acordo entre colorados e liberais --rivais históricos-- derrubou Lugo do cargo, em um processo de impeachment que durou cerca de 30 horas no Congresso paraguaio Cesar Olmedo/AP - 22.jun.2012

Barreiras e legislação

O Paraguai também estaria sendo beneficiado por sua legislação, que permite, como destacou o ministro, a livre circulação de bens e de divisas --em um momento em que barreiras comerciais afetam a circulação de bens e a movimentação financeira em outros países da América Latina.

Além disso, a legislação tributária, apontada como "simples" (no sentido de descomplicada) para os investidores nacionais e estrangeiros, estaria contando a favor.

"O Paraguai tem, neste sentido, maior abertura econômica que os outros países da região. Mas essa maior abertura também significa que ele fica mais vulnerável ao que ocorre no mercado mundial", diz um estudo do Cadep.

A BBC Brasil apurou que, nos últimos anos, entre setores empresariais e diplomáticos brasileiros e argentinos, existe um reconhecimento de que o Paraguai passou a ser um país mais atraente para investimentos.

"Estamos aplicando leis que atraem os investidores e eles percebem que aqui não há mudanças de regras, além de muita gente querendo emprego e de os salários e os custos de produção serem muito mais baixos que em outros países. E este ano entra em vigor a lei de aliança público-privada (concessão de estradas, portos, entre outros) para o setor privado", disse Germán Rojas.

'Dependência' em queda

 

Apesar dessas mudanças, a economia paraguaia ainda é vista como bastante atrelada à brasileira.

"Aqui falamos que o Brasil é nosso irmão mais velho. E, claro que sim, que seguimos sendo dependentes da economia brasileira", disse um assessor do governo paraguaio.

Essa dependência ocorre especialmente pelas chamadas "reexportações": quando produtos, principalmente eletrônicos, que chegam de países asiáticos ao Paraguai são enviados, legalmente, como se fossem paraguaios, para Ciudad del Este e vendidos, sobretudo, para turistas brasileiros.

Recente estudo do Cadep aponta que as reexportações representam cerca de 40% do que o Paraguai importa e elas terminam se destinando, em grande parte, ao mercado brasileiro.

As reexportações representam quase o mesmo valor que as exportações globais do Paraguai, incluindo carne e soja e excluindo a energia gerada por Itaipu, segundo dados do Banco Central do Paraguai (BCP).

Mas de acordo com o Cadep, as reexportações estão em queda. "Nos anos 1990, as reexportações de produtos estrangeiros chegaram a representar três vezes mais o valor total das exportações de bens originais (soja e carne) do país", disse Masi. "Hoje, essa proporção representa somente 40%."

Pobreza

Além disso, apesar dos indícios do surgimento de um novo ambiente empresarial, que tem atraído empresas brasileiras e multinacionais ao Paraguai, a expansão da economia não amenizou problemas que o país enfrenta há anos, como a pobreza e a corrupção.

De acordo com o Índice de Percepção de Corrupção 2013 da Transparência Internacional, o Paraguai é visto como um dos mais corruptos do continente.

No caso da pobreza, o ministro paraguaio reconheceu que é uma luta difícil.
"Ela se mantém igual há anos e queremos intensificar planos de inclusão social e gerar mais empregos a partir da lei de aliança público-privada porque a informalidade é altíssima", disse.

Em 2011, segundo dados da ONU, 49% da população paraguaia vivia em situação de pobreza.
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Paraguaios vão às compras com roupa íntima para ganhar descontos

Várias pessoas fizeram compras com roupa íntima na Cidad Del Este, no Paraguai, neste sábado (21). A ousadia garantiu aos consumidores vales no valor de US$ 100 (aproximadamente R$ 202) Leia mais Jose Espinola/EFE

4 recomendações para avaliar as finanças de uma franquia


Especialistas listam quais são os principais números que os interessados devem levar em consideração na hora de escolher uma franquia


Divulgação/Imovelweb
Cofre de porquinho
São Paulo – Ter afinidade com a marca franqueadora e vontade de ter o próprio negócio são os primeiros passos para quem deseja investir em uma franquia. Em seguida, o interessado deve pesquisar sobre a rede e os números envolvidos no investimento.


“É preciso checar os números do negócio e para isso é fundamental conversar com quem já é franqueado. Franqueador dá a média, mas é bom conferir com os franqueados se os números são realistas”, recomenda Marcelo Cherto, presidente do Grupo Cherto.

Para André Friedheim, diretor da Francap, é importante entender quanto custa o investimento inicial do negócio e se o valor está dentro da capacidade financeira do empreendedor. “Para fazer um investimento seguro, é preciso de, no mínimo, o dobro do capital inicial necessário”, afirma.

Outro dado essencial é o prazo de retorno do capital investido. “O prazo de retorno do investimento não pode ser maior que o contrato nem com a franqueadora e nem com shopping”, explica Mauricio Galhardo, especialista financeiro e sócio da Praxis Business. Veja outras dicas dos especialistas.


1. Calcule quanto você realmente precisará gastar


Os valores de investimento inicial divulgados pelas franqueadoras, normalmente, não costumam incluir gastos com ponto comercial. Para Cherto, o ponto comercial pode aumentar bastante o número. “Além disso, quanto vai precisar pagar com estoque, equipamentos, obras e mobiliário. É preciso aprofundar qual é o seu investimento e em que ritmo vai gastar isso”, completa.

Para Galhardo, é importante considerar que um investimento mais alto, às vezes, pode significar um retorno mais rápido. “Um investimento menor pode depender muito do franqueado para ter o retorno desejado”, explica.
 
2. Pesquise sobre como a marca fatura


Nem sempre as redes disponibilizam valores do faturamento médio das unidades, mas quando a informação é acessível o empreendedor deve avaliar de que maneira a franquia fatura. Por exemplo, qual é a margem de lucro do produto ou serviço que você vende? A franquia depende de sazonalidade?
“Você tem que saber quais produtos vão pagar seus custos. Entender um pouco não só a receita, mas qual é a origem”, resume Cherto.


3. Atente-se aos custos da franquia


Tentar colocar na ponta do lápis as contas de aluguel, luz, salários dos funcionários, taxas de cartões de crédito, entre outros, pode ajudar o empreendedor a simular os custos de uma determinada marca franqueadora.

Para Friedheim, o empresário também precisa analisar como é a complexidade operacional do negócio se trabalhar com fast-food ou com varejo. “O estoque mínimo e o capital de giro podem ser menores dependendo do porte. Isso é uma composição de custos, alguns custos não vão mudar e alguns vão”, explica Galhardo.


4. Simule quando virá o retorno


Quanto tempo demorará para que o capital investido retorne? “Hoje, 30 e 36 meses é um payback atrativo porque normalmente os contratos são de cinco anos”, afirma Friedheim.

Uma maneira de obter mais informações é solicitar o documento Circular de Oferta de Franquia (COF). “Na COF, é obrigatório ter os lojistas que foram franqueados nos últimos dois anos”, ensina Galhardo.

Executivos em Fórum Econômico estão cautelosos com mercados emergentes



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Fórum Econômico Mundial de 2014, em Davos14 fotos

- O ministro da Fazenda, Guido Mantega, participa do painel "Brics in Midlife Crisis?" ("Os Brics estão em crise de meia idade?") no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, nesta quinta-feira (23). Em sua fala, o ministro atribuiu a desaceleração dos países à crise nos países desenvolvidos, tradicionais compradores de produtos das nações emergentes. "Não há crise de meia-idade nos Brics, há uma crise mundial que afetou os Brics", afirmou Leia mais Laurent Gillieron/EFE
 
DAVOS, Suíça, 23 Jan (Reuters) - Empresas multinacionais estão se tornando mais seletivas sobre investimentos em mercados emergentes, conforme o crescimento em desaceleração nestas economias e uma recuperação nos países desenvolvidos do Ocidente tiram um pouco do brilho daquela que era vista como uma aposta estratégica certeira.

Executivos em Davos disseram que permanecem comprometidos a aproveitar as ascendentes classes médias de Xangai a Lagos, mas alguns estão recuando e realocando recursos de regiões particularmente difíceis e com baixas margens.

"Era uma corrida por ouro. Agora a corrida acabou," disse Jeff Joerres, presidente-executivo da empresa de recursos humanos Manpower Group, cujos clientes incluem muitas das principais companhias internacionais.
O novo humor segue uma importante alteração no equilíbrio entre os principais motores de crescimento econômico no mundo, com economias desenvolvidas, lideradas pelos Estados Unidos, retomando seus lugares como principal motor de produção global em 2014.

Os mercados emergentes ainda crescerão a taxas maiores que os mercados desenvolvidos este ano, mas a diferença entre as taxas será a menor desde 2002.

O equilíbrio entre economias emergentes e desenvolvidas é um tópico central no encontro anual do Fórum Econômico Mundial nos Alpes suíços, como salientado por uma sessão nesta quinta-feira intitulada "BRICs em crise de meia-idade?".

As taxas de crescimento do Brasil, da Rússia, da Índia e da China são a metade do que eram antes da crise financeira, e as companhias estão agora analisando com muita atenção alternativas às "quatro grandes".

Um executivo sênior de uma empresa de tecnologia norte-americana, que não quis ser identificado, disse que sua empresa estava enfrentando tempos especialmente difíceis no Brasil, com grandes incertezas também na Rússia, levando a companhia a olhar para outros locais para destinar recursos.

De fato, 60% das empresas agora esperam realocar os investimentos feitos nos países do BRIC para outros mercados com crescimento mais acelerado, segundo uma pesquisa da Accenture com mais de 1.000 executivos.

(Por Ben Hirschler, Alessandra Galloni e Paul Carrel)

82% dos paulistanos são contra rolezinhos, diz Datafolha


Apesar do alto índice de rejeição ao encontro de jovens, 77% dos entrevistados também são contra a atitude dos shoppings de selecionar seus frequentadores

Reprodução/ Youtube
Jovens se encontram no rolezinho do shopping Metro Itaquera
Jovens em rolezinho no shopping Metrô Itaquera: para 77% dos paulistanos, encontros são apenas para provocar tumulto

São Paulo - A maior parte dos moradores de São Paulo não gostaram nada dos rolezinhos, nome pelo qual ficaram conhecidos os encontros de jovens de regiões periféricas da cidade em shoppings.

De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira, 82% dos paulistanos se disseram contra os rolezinhos, enquanto apenas 11% que afirmaram ser a favor. A pesquisa foi feita com 799 pessoas maiores de 16 anos. 

Mesmo entre os mais novos, o índice de rejeição é alto: 70% dos paulistanos entre 16 e 24 anos se declararam contra o encontro dos jovens.

Mas é também nessa mesma faixa etária que se encontra o maior nível de aprovação, de apenas 18%.

Pode surpreender a muitos que os setores mais ricos da sociedade paulistana são os que encaram os rolezinhos de forma mais positiva: 16% dos entrevistados que tem renda familiar mensal superior a 10 salários mínimos disseram concordar com os eventos. 

Além disso, ao contrário do que os participantes dizem, 77% dos paulistanos acham que o objetivo dos rolezinhos é apenas provocar tumulto. Apenas 18% acreditam que os jovens vão aos shoppings somente por diversão.


Polícia e discriminação


Em relação à ação da polícia, 73% afirmaram concordar que ela deve agir. Já em relação à atitude de alguns shoppings de selecionar seus frequentadores, 77% dos entrevistados disseram que os centros comerciais não têm esse direito.

No entanto, 80% não acreditam que os shoppings ajam com preconceito de cor de pele quando proíbem os eventos, que são frequentados principalmente por jovens negros e pardos.

No quarto ano, Dilma deixa de esnobar Davos


Após recusar os convites nos três primeiros anos de mandato, a presidente vai aparecer no pior momento do seu governo

Rolf Kuntz, do
Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma Rousseff recebe cumprimentos durante sua chegada a Suíça
Dilma Rousseff recebe cumprimentos durante sua chegada a Suíça: a economia brasileira perdeu boa parte do brilho exibido até há alguns anos

Davos, Suíça - A presidente Dilma Rousseff terá, na sexta-feira, 24, uma sessão exclusiva de meia hora para falar ao público do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.

Ela será apresentada pelo fundador e presidente do Fórum, Klaus Schwab, e terá uma chance rara de expor sua política a uma audiência altamente qualificada e formada por empresários, profissionais e políticos de dezenas de países.

Poderá falar de oportunidades de negócios no Brasil e tentar atrair investimentos. Poderá, além disso, tentar recompor a imagem de um governo marcado por maus resultados econômicos e pressionado por agências de classificação de risco.

Seu antecessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi à reunião logo depois da primeira posse, em janeiro de 2003. Tentou vender a imagem de governante confiável e foi elogiado. Dilma preferiu esnobar o Fórum nos três primeiros anos de mandato e recusar os convites. Vai aparecer, agora, no pior momento de seu governo.

A inflação continua alta, com projeções na vizinhança de 6%. O balanço de pagamentos vai mal e a conta comercial teria fechado no vermelho, em 2013, sem os US$ 7,74 bilhões da exportação fictícia de sete plataformas de petróleo.

As contas públicas foram embelezadas no fim do ano com receitas atípicas e grande volume de pagamentos diferidos. Além disso, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial preveem para o Brasil, neste ano, crescimento inferior à média global.

Sessões especiais, como a programada para a presidente, são realizadas no principal e mais amplo auditório do centro de congressos de Davos.

O convidado geralmente expõe suas ideias sem debate, responde a algumas perguntas de Klaus Schwab e, havendo tempo, recebe questões da plateia. O bom resultado é quase garantido, se a pessoa estiver bem preparada e se os perguntadores forem mais ou menos moderados.

No ano passado, uma dessas sessões foi destinada ao primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev. Ele enfrentou um interrogatório preparado por especialistas, mas resistiu razoavelmente. Neste ano, sessões especiais foram programadas também para os primeiros-ministros do Japão, Shinzo Abe, e do Reino Unido, David Cameron.

A presidente Dilma Rousseff chega nesta quinta-feira, 23, à Suíça e passa o dia em Zurique. Tem encontros com o presidente da Fifa, Josef Blatter, e com os presidentes da Saab, fabricante do caça comprado pelo governo, da Unilever, da Novartis e do banco de investimentos Merrill Lynch.

Amanhã, em Davos, participará da sessão especial e de um encontro com um grande grupo de empresários. Faltaram lugares, segundo se informou na quarta-feira, 22, para alguns interessados. 


Sem brilho


Embora ainda possa atrair investidores, a economia brasileira perdeu boa parte do brilho exibido até há alguns anos. Cresceu muito menos do que a de outros emergentes e acumulou desequilíbrios maiores que os de outros países em desenvolvimento.

Durante os três primeiros anos da atual gestão, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter aumentado em média cerca de 2% ao ano, incluindo uma estimativa de 2,3% para 2013.

Nem esse desempenho fraco, visível desde o primeiro ano de governo, impediu a presidente e sua equipe de esnobar o Fórum. Davos é um lugar para quem busca projeção, disse no ano passado o chanceler Antônio Patriota, para explicar a ausência da presidente e de colegas da área econômica. Essa explicação foi dada a dois jornalistas brasileiros.

Ambos haviam participado no dia anterior de um encontro com o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner. O representante americano para o comércio exterior, Ron Kirk, também se apresentou em Davos.

Como principal negociador comercial de seu governo, Kirk desempenhava uma das funções atribuídas no Brasil ao ministro de Relações Exteriores. Era, portanto, do lado americano, o interlocutor de Patriota. Por que Washington precisaria de dois ministros em Davos, quando Brasília se contentava com um?

Talvez Washington avalie o Fórum com mais entusiasmo. Quando o governo do presidente George W. Bush preparava a invasão do Iraque, o secretário de Estado, Collin Powell, foi a Davos para explicar a decisão de seu governo.

Falou numa sessão ampla a acadêmicos, políticos, empresários e especialistas de diversos setores e de várias nacionalidades. A opinião dessa gente importa? Para governos de grandes potências, sim. Não para o governo da presidente Dilma Rousseff - pelo menos até há poucos meses. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Não há crise da meia-idade dos Brics, diz Mantega


Em Davos, o ministro da Fazenda atribuiu a desaceleração dos países à crise nos países desenvolvidos

Fernando Nakagawa e Fernando Dantas e enviados especiais, do
Abr
Guido Mantega
Mantega: "houve redução da demanda internacional, do comércio exterior, o que afetou os Brics", disse

Davos, Suíça - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, nega a avaliação de que os países emergentes dos Brics estão em "crise de meia-idade". Em painel do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, nesta quinta-feira, 23, o ministro brasileiro atribuiu a desaceleração dos países à crise nos países desenvolvidos, tradicionais compradores de produtos das nações emergentes.

"Não há crise de meia-idade nos Brics, há uma crise mundial que afetou os Brics. Houve redução da demanda internacional, do comércio exterior, o que afetou os Brics", disse Mantega.

Para o ministro, os grandes emergentes continuarão a liderar o crescimento da economia mundial pelos próximos anos. Mantega explica que a recuperação das economias desenvolvidas e as reformas em emergentes garantirão o papel deles no futuro da economia global.

"A economia mundial e os países avançados perto da recuperação. Essa recuperação externa ainda é gradual, ainda é lenta. Mas com essa recuperação teremos uma reativação do crescimento do comércio", disse Mantega.

Na avaliação de Mantega, o comércio global, que crescia a um ritmo anual entre 6% e 7%, deve desacelerar para um ritmo de até 5%. "O comércio global crescia entre 6% e 7% ao ano antes da crise, sem contar os preços das commodities. 

Daqui para frente, o comércio global vai crescer 4% ou 5%. Não será o mesmo do passado. Mas acho que os BRICS vão continuar liderando a crescimento da economia mundial", disse.