BRASÍLIA - O
ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta terça-feira que o
Brasil é um dos países "mais bem preparados" para o momento de
"pós-crise" na economia mundial.
Indiretamente, ele rebateu o diagnóstico do Federal Reserve (Fed) que
apontou a economia brasileira como a segunda mais vulnerável - somente
atrás da Turquia - entre os países emergentes. "Isso é um equívoco e
depende dos parâmetros usados", disse o ministro.
Durante apresentação sobre a macroeconomia, em balanço da segunda
fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), Mantega fez um
rápido diagnóstico sobre a situação mundial. "Percebemos uma recuperação
gradual da economia americana, mais gradual ainda da economia europeia e
a China apresenta sinais contraditórios - pode manter uma taxa de
crescimento em torno de 7,5% ou desacelerar um pouco, com consequências
para os países emergentes", afirmou.
Mantega lembrou que os estímulos do Fed estão sendo retirados e
caracterizou o atual momento como de "adaptação" da economia global. "O
que nós temos hoje é uma adaptação, uma transição de uma economia de
crise para uma economia pós-crise. Em um primeiro momento, isso causa
turbulência e volatilidade que atrapalha os mercados", disse.
O ministro já vê, no entanto, uma reversão dessa turbulência. "Nas
últimas semanas, já temos uma tranquilização dos mercados". Mantega
classificou o Brasil como "uma das economias mais bem preparadas para
essa transição" e citou vários indicadores econômicos - como a
estabilização da taxa de câmbio - para endossar o diagnóstico.
"O Brasil está bem posicionado para um novo ciclo de expansão da
economia mundial", afirmou. “Não podemos dizer que o Brasil está mais
frágil do ponto de vista do câmbio. O câmbio se move mais rápido aqui,
as operações são feitas mais no mercado futuro. Como temos um mercado
mais líquido, é mais fácil fazer essas transações e nossa moeda se move
mais rapidamente”, disse.
Mantega, sem mencionar explicitamente o relatório do Fed divulgado na
semana passada, protestou contra "estudos que colocam o Brasil como
vulnerável". Segundo ele, as reservas internacionais do Brasil são
elevadas, com US$ 376 bilhões. Também apontou que a dívida externa de
curto prazo é baixa e representa 7% da dívida total.
Isso mostra que, se houvesse problemas de liquidez no mercado, o
governo teria condições de arcar com os pagamentos, disse Mantega. O
ministro destacou ainda que o fluxo de investimentos estrangeiros
"continua forte" e que o déficit em transações correntes é um dos
menores se comparado com outras economias emergentes. "Não estamos
vulneráveis no déficit de transações correntes", disse o ministro,
citando "tendência" de queda no indicador.
Censura
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) apresentou requerimento à Comissão
de Assuntos Econômicos do
Senado (CAE), na manhã de hoje, pedindo
aprovação de um voto de censura ao Fed. A mesa da comissão estava
aguardando quórum para colocar o requerimento em votação.
A iniciativa da ex-ministra da Casa Civil é uma reação da base parlamentar governista ao relatório.
Publicado na semana passada, o estudo do Fed tem falhas básicas e
constrói conclusões sérias a partir do que economistas chamam de
"regressão espúria", na visão de um técnico do governo.