Estudo aponta que, sem efeito negativo da produtividade, expansão das riquezas do País teria sido 45% maior nas últimas duas décadas
10 de março de 2014 | 2h 08
Fernando Scheller - O Estado de S.Paulo
A produtividade teve efeito negativo no crescimento
brasileiro nas últimas duas décadas. Um estudo da consultoria McKinsey
& Company mostra que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) entre
1990 e 2010 poderia ter sido 45% maior não fosse o efeito negativo da
produtividade, que puxou o resultado para baixo em 1,4 ponto porcentual.
As expansões registradas na força de trabalho, no nível de educação
da população, no fornecimento de energia e no investimento em capital
fixo somaram 4,5% ao ano no período (veja gráfico acima). Se a
produtividade tivesse avançado o suficiente para pelo menos ter efeito
nulo, a expansão média do PIB teria ficado em 4,5%, e não em 3,1%,
afirma Camilo Martins, sócio da McKinsey.
A produtividade do trabalhador brasileiro cresceu, em média, 1% ao
ano ao longo dos últimos 25 anos, nos cálculos da McKinsey. É um
resultado muito inferior ao registrado por outros países em
desenvolvimento, incluindo nações latino-americanas como Peru e Chile, e
abaixo do avanço dos Estados Unidos, que opera historicamente em níveis
muito mais elevados do que os brasileiros.
Segundo estudo da consultoria, o valor gerado pelo trabalhador
americano por hora de trabalho está próximo de US$ 35, enquanto a
contribuição do brasileiro é de cerca de US$ 5. Com a forte evolução da
produtividade peruana - que foi mais três vezes superior à brasileira,
entre 1988 e 2012 -, a produção do trabalhador do país em dólar encostou
no resultado nacional.
A preocupação com a produtividade passará a ser vital para o Brasil
nas próximas décadas, segundo Henrique Teixeira, sócio da McKinsey. Com a
redução da expansão demográfica, o País deverá passar pelo mesmo
processo de nações desenvolvidas: uma parcela cada vez maior da expansão
do PIB dependerá dos ganhos de produtividade.
Hoje, de acordo com a McKinsey, cerca de 70% do crescimento do PIB
americano já depende de ganhos de escala. Na Europa, a totalidade do
crescimento está ligada ao fator produtividade. Isso ajuda a explicar
porque países mais produtivos, como a Alemanha, crescem mais do que
outros menos eficientes, como Itália e Espanha.
Dificuldades.
Entre os entraves à produtividade
brasileira, Teixeira destaca a infraestrutura, em especial a logística.
"O investimento necessário nessa área é de US$ 600 bilhões. E isso para
que tenhamos uma estrutura comparável à do Chile e de outros países
latino-americanos", afirma.
Para o sócio da McKinsey, quanto mais rápido andar o processo de
privatização já em curso de portos, aeroportos e ferrovias, mais
rapidamente o Brasil conseguirá reduzir essa desvantagem.
Teixeira lembra que a estratégia de repasse de investimentos à
iniciativa privada deu certo no passado. Ele diz que, apesar dos
problemas que persistem, o setor de telecomunicações é um exemplo
positivo. "Houve um crescimento de 3.600% desde 1998. É um resultado
forte."
A dificuldade em tirar projetos de infraestrutura do papel evidencia,
na opinião do consultor econômico Raul Velloso, ex-secretário de
assuntos econômicos do Ministério do Planejamento, que o governo
brasileiro "desaprendeu" a investir. É por isso que Velloso considera as
recentes concessões de projetos à iniciativa privada como um passo na
direção certa.
"O governo teve muitos problemas na área de gestão e, como usa 75% do
orçamento para pagar salários e benefícios sociais, também não tem
dinheiro para investir", diz o consultor. "O setor privado tem dinheiro,
porque investidores do mundo inteiro têm interesse em bons projetos de
infraestrutura."
Segundo os cálculos de Renato Pavan, presidente da consultoria
Macrologística, o custo logístico do Brasil - que inclui os gastos com
transporte, estoque e armazenagem - é de 12,5% do PIB. "O custo da
logística no Brasil é 40% mais caro do que o americano, que está em 8%
do PIB", diz o especialista.
Para o curto prazo, porém, não há solução à vista. E a safra recorde
prevista para este ano só deve agravar a situação. Segundo o Instituto
Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o valor do frete
praticamente dobrou desde 2009. No início de fevereiro, o custo de
transporte por tonelada entre a cidade de Sorriso (MT) e o Porto de
Santos chegou a R$ 300 - um recorde para o mês.