O
Ministério do Desenvolvimento (Mdic) tenta tapar o sol com a peneira ao
creditar à Copa do Mundo e ao aumento da importação de televisores e
outros eletroeletrônicos parte expressiva da piora do resultado da
balança comercial nos dois primeiros meses deste ano.
O aumento na importação de todo segmento de máquinas e aparelhos de
uso doméstico somou US$ 378 milhões em relação aos valores gastos com os
mesmos bens no primeiro bimestre do ano passado, mas outros movimentos
na balança comercial foram muito mais significativos e dentro desse
grupo não existem só televisores e peças.
O primeiro bimestre fechou com um déficit de US$ 6,1 bilhões. Ele
resulta de vários problemas e a Copa não merece essa culpa. Muito mais
preocupante que os milhões (temporários) gastos com televisores são o
aumento na importação de petróleo (US$ 370 milhões a mais no bimestre,
quando se esperava recuperação da produção doméstica e queda nas compras
externas) e as perdas em alguns itens da pauta de exportações, como
milho (menos US$ 700 milhões), açúcar (menos US$ 420 milhões
considerando bruto e refinado), automóveis (queda de US$ 200 milhões),
entre outros.
No início do ano passado, quando a balança comercial acumulou um
déficit de US$ 5,3 bilhões, a balança de petróleo e derivados, sozinha,
registrou um resultado negativo de US$ 4,6 bilhões (87% do total),
resultado inflado ainda por registros atrasados na importação, dizia-se
na época. Ou seja, todo o resto do comércio exterior teve um resultado
negativo de US$ 700 milhões.
Nesse ano, o déficit na balança de petróleo e derivados diminuiu, mas
mesmo sem registros atrasados ele ainda foi de US$ 3,6 bilhões,
passando a representar 59% do déficit total. Ou seja, mesmo com a
melhora relativa nesse grupo, o resto da balança ampliou seu déficit
para US$ 2,5 bilhões. É essa piora que precisa ser analisada e
entendida.
O crescimento do déficit vem de vários lados, como a menor exportação
para vários destinos importantes (União Europeia e América Latina, por
exemplo), o preço menor de exportação de commodities importantes (em
fevereiro a soja foi embarcada por um preço 7,7% menor que o de
fevereiro do ano passado) e um aumento ainda expressivo na importação de
bens intermediários.
Tanto a perda de dinamismo para mercados onde vendemos manufaturados
(como os vizinhos latinos) como o aumento da importação de
intermediários mostra que o câmbio ainda está fazendo pouco efeito,
apesar de rodar na casa de R$ 2,30 há cinco meses, mais ou menos. É na
pulverização do aumento das importações e da fragilidade das exportações
que mora o perigo.
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