domingo, 9 de março de 2014

Uma balança à deriva, sem tapar o sol com a peneira


Por Denise Neumann | De São Paulo
 
 
Aaron McKenzie Fraser/Bloomberg

O Ministério do Desenvolvimento (Mdic) tenta tapar o sol com a peneira ao creditar à Copa do Mundo e ao aumento da importação de televisores e outros eletroeletrônicos parte expressiva da piora do resultado da balança comercial nos dois primeiros meses deste ano.

O aumento na importação de todo segmento de máquinas e aparelhos de uso doméstico somou US$ 378 milhões em relação aos valores gastos com os mesmos bens no primeiro bimestre do ano passado, mas outros movimentos na balança comercial foram muito mais significativos e dentro desse grupo não existem só televisores e peças.

O primeiro bimestre fechou com um déficit de US$ 6,1 bilhões. Ele resulta de vários problemas e a Copa não merece essa culpa. Muito mais preocupante que os milhões (temporários) gastos com televisores são o aumento na importação de petróleo (US$ 370 milhões a mais no bimestre, quando se esperava recuperação da produção doméstica e queda nas compras externas) e as perdas em alguns itens da pauta de exportações, como milho (menos US$ 700 milhões), açúcar (menos US$ 420 milhões considerando bruto e refinado), automóveis (queda de US$ 200 milhões), entre outros.

No início do ano passado, quando a balança comercial acumulou um déficit de US$ 5,3 bilhões, a balança de petróleo e derivados, sozinha, registrou um resultado negativo de US$ 4,6 bilhões (87% do total), resultado inflado ainda por registros atrasados na importação, dizia-se na época. Ou seja, todo o resto do comércio exterior teve um resultado negativo de US$ 700 milhões.

Nesse ano, o déficit na balança de petróleo e derivados diminuiu, mas mesmo sem registros atrasados ele ainda foi de US$ 3,6 bilhões, passando a representar 59% do déficit total. Ou seja, mesmo com a melhora relativa nesse grupo, o resto da balança ampliou seu déficit para US$ 2,5 bilhões. É essa piora que precisa ser analisada e entendida.

O crescimento do déficit vem de vários lados, como a menor exportação para vários destinos importantes (União Europeia e América Latina, por exemplo), o preço menor de exportação de commodities importantes (em fevereiro a soja foi embarcada por um preço 7,7% menor que o de fevereiro do ano passado) e um aumento ainda expressivo na importação de bens intermediários.

Tanto a perda de dinamismo para mercados onde vendemos manufaturados (como os vizinhos latinos) como o aumento da importação de intermediários mostra que o câmbio ainda está fazendo pouco efeito, apesar de rodar na casa de R$ 2,30 há cinco meses, mais ou menos. É na pulverização do aumento das importações e da fragilidade das exportações que mora o perigo.

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