Rodrigo Constantino
Esse foi o tom do evento
ocorrido ontem para celebrar os 20 anos do Plano Real, aquele mesmo que
os principais petistas rejeitaram e que conseguiu finalmente derrotar a
hiperinflação brasileira.
Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco
Central, foi o que fez as críticas mais duras: o mercado já rebaixou o
Brasil, e a política macroeconômica do governo federal é
“esquizofrênica”.
Para Armínio, a “economia vive um momento de grande frustração e grave perigo”. Ele resumiu:
Os problemas
de hoje vêm desde o segundo mandato do presidente Lula quando se
abandonou um modelo mais equilibrado na direção do que se chama hoje de
nova matriz, com política macro mais frouxa, muito foco no consumo e
pouco foco na produtividade em geral.
Gustavo Loyola também foi enfático no diagnóstico:
Houve sim
retrocessos e é preciso retomar o fio da meada que foi perdido lá atrás.
É preciso consertar o que foi feito de errado. A partir da crise de
2008 o Brasil começou a flertar com políticas muito heterodoxas de
politica econômica que não tinham nada de novidade. A rigor era a volta
ao passado: o inflacionismo brasileiro.
Para Loyola, o governo é “gastador”, e o
país precisa avançar, fazendo reformas tributária, da previdência, do
estado, além de retomar a questão da autonomia formal do Banco
Central. Gustavo Franco chamou o modelo atual de “dogmático e
populista”.
Quem acompanha meus artigos sabe como sou
crítico ao PSDB. Considero os tucanos tímidos demais como oposição, e
esquerdistas demais como governo. Defendem uma social-democracia ainda
muito distante do liberalismo que eu prezo.
Mas é inegável a distância que os separa
dos petistas, em todos os aspectos. Há um abismo intransponível entre
eles, seja pelo viés autoritário e bolivariano do PT, ausente no PSDB,
seja pelo quadro técnico de seus principais economistas.
O PSDB demonstra ter uma equipe preparada
para encarar reformas importantes e necessárias para o Brasil. Não
seriam aquelas ideias do ponto de vista liberal, naturalmente. Mas em
política, o ideal pode ser inimigo do bom. Quem não tem cão, caça como
gato.
Foram esses economistas de certa forma
que criaram o Plano Real e tiveram mérito em criar o maior programa
social brasileiro desde a redemocratização: uma moeda sólida. O imposto
inflacionário é o mais cruel, especialmente para os mais pobres.
Como comparar esses nomes ao de Guido
Mantega, Arno Augustin ou Aloizio Mercadante? Não dá nem para o começo.
Por isso fico espantado, confesso, com muitos colegas mais liberais que
colocam o PT e o PSDB no mesmo saco podre e pregam o voto nulo. Isso,
não custa repetir, é o mesmo que escolher o PT, muito pior do que o
PSDB.
E estou, aqui, falando apenas de
economia, para nem entrar em outras questões, como Foro de São Paulo,
aparelhamento de toda a máquina estatal, mensalão (não venham falar do
“mensalão” mineiro, pois uma coisa não tem nada a ver com a outra),
ideologização do Mercosul, importação de milhares de escravos cubanos,
tentativa de controlar a imprensa, etc. A lista é longa.
O foco é apenas economia nesse texto, o
que já seria suficiente para expor o enorme contraste entre ambos. Se
você está satisfeito com o nacional-desenvolvimentismo que tem afundado
nossa economia, então não posso fazer nada; há masoquistas que celebram a
mediocridade ou mesmo o caos.
Mas se você acha que o Brasil pode mais,
muito mais, então não resta dúvida de que esse time de economia presente
nesse seminário sobre os vinte anos do Plano Real está bem mais
capacitado para tocar as nossas políticas macroeconômicas.
Rodrigo Constantino
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