O técnico em informática Carlos Campos Xerfan ficou preso por oito meses sem nunca ter sido ouvido por um juiz
Belém - A Justiça da França
se recusa a mandar indenizar, por erro judicial e violação de imagem, o
técnico em informática brasileiro Carlos Campos Xerfan, que ficou preso
por oito meses sem culpa formada e sem nunca ter sido ouvido por um
juiz.
Ele foi acusado em 2001 pela polícia de estupro contra uma mulher
norte-americana. O Tribunal de Bobigny, a quem Xerfan apelou para
receber indenização de 3,5 milhões de euros, cerca de R$ 11 milhões,
declarou-se incompetente, no mês passado, para julgar o pedido do
brasileiro, que é de Belém (PA).
"Estou arrasado, já gastei mais de R$ 600 mil somente com advogados,
mas nem a Justiça nem o governo da França se dignam a pagar pelo erro
judicial que praticaram contra mim, embora o reconheçam", lamentou
Xerfan ao jornal "O Estado de S. Paulo", revelando que até carta pedindo
ajuda ele já enviou à presidente Dilma Rousseff, mas não obteve
resposta.
O mesmo pedido ele formulou ao presidente da França, François Hollande, e a resposta foi o silêncio.
O máximo que chegaram a oferecer a ele, como indenização, foram 11 mil
euros, mas Xerfan recusou. Pior do que a notícia, que deixou o paraense
sem saber mais a quem recorrer, é a postura do Ministério das Relações
Exteriores do Brasil, segundo ele. Conforme Xerfan, o ministério "lavou
as mãos".
Em resposta a um pedido de ajuda, a oficial de chancelaria da ouvidoria
consular do Ministério das Relações Exteriores, Isabela Alves de
Oliveira, disse que a ouvidoria consular é responsável pelo
processamento de comentários, sugestões, elogios e críticas referentes à
atividade consular das repartições brasileiras no exterior e sugeriu
que Xerfan "contratasse advogado", pois o ministério "não pode
interferir em processos judiciais no exterior".
O paraense desabafa: "Isso é um tapa na cara de brasileiros que vivem
em outro país e que não podem contar com a ajuda do ministério na hora
em que seus direitos são violados."
No dia 28 de julho de 2001, Xerfan foi detido pela polícia francesa, no
aeroporto de Roissy, em Paris, ao desembarcar vindo de Londres, onde
passava férias.
Levado à presença de uma escrivã do tribunal de Bobigny, foi lida
contra ele uma acusação de agressão com características de estupro
contra a norte-americana Elisabeth Knights, a quem o paraense conhecera
no hall do aeroporto, antes da viagem para a Inglaterra.
"Tivemos um rápido envolvimento, nos beijamos e fomos para um hotel
próximo, onde mantivemos relações sexuais consentidas. Em nenhum momento
houve qualquer tipo de agressão."
Antes de retornar aos Estados Unidos, Elisabeth chegou a desmentir o
que havia dito à polícia, negando ter sido vítima de qualquer tipo de
agressão, incluindo a de natureza sexual. Todos os documentos do caso
podem ser consultados, em francês, no seguinte endereço:
http://soutienpourlademissiondubatonnierdeparis.e-monsite.com/
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