Brasileiras de diversos segmentos destacam conquistas e caminho ainda a percorrer
O caminho ainda é
longo para a igualdade entre homens e mulheres no Brasil, mas de fato
muito já foi conquistado. O avanço no mercado de trabalho é um exemplo.
Metade das vagas de emprego criadas nos últimos três anos foram ocupadas
por mulheres, como reforçou a primeira presidente mulher do país, Dilma
Rousseff. No Jornalismo, por exemplo, o percentual de profissionais do
gênero feminino subiu de 35,24% em 1986 para 53,49% em 2007. Aumentou a
desigualdade em relação à renda, no entanto, segundo a PNAD 2012,
divulgada pelo IBGE no final do ano passado. Em 2012, as trabalhadoras
recebiam o equivalente a 72,9% (R$ 1.238) do rendimento dos homens (R$
1.698); enquanto em 2011 esta proporção era de 73,7%.
O JB ouviu
mulheres de destaque sobre o papel desempenhado na sociedade atual e
também sobre o significado de um Dia Internacional das Mulheres,
celebrado neste 8 de março. Data que surgiu para lembrar das 129
costureiras que morreram carbonizadas em uma fábrica em Nova York, no
início do século passado, por lutarem por melhores condições de trabalho
e vida. Os donos da fábrica Cotton Textile Factory haviam prendido as
trabalhadoras para forçá-las a permanecer no trabalho e não aderirem à
greve.
A
carioca Yvonne Bezerra de Mello, figura já reconhecida no país, é
protagonista em sua luta pela educação e transformação da realidade de
crianças e jovens vitimizados. Doutora em filologia e linguística pela
Universidade De Paris - Sorbonne, ela fundou e coordena o Projeto Uerê,
que assiste a mais de 400 crianças com problemas de cognição devido
a episódios de violência. A iniciativa surgiu após a chacina de 1993 na
Candelária, no Rio, quando oito das 70 crianças com as quais Yvonne
trabalhava foram assassinadas. Em 2007, ela recebeu, na Alemanha, o
Prêmio Paz no Mundo e Cidadania, da União Europeia, pela
metodologia aplicada pelo Uerê.
Ela ressalta que a mulher tem
conquistado seu espaço nas últimas décadas, mas não sem esforço e muita
luta, e que ainda é pouco. Yvonne destaca também que a violência contra
a mulher cresce no mundo todo, no lugar de ser reduzida, que os salários
ainda são desiguais e que a maioria dos países ainda é governada por
homens.
"Infelizmente, ainda temos que lutar diariamente
para assegurarmos nossos direitos adquiridos. O papel da mulher na
sociedade de hoje? De uma capacidade indiscutível. A luta? Para que
tenhamos todas as mulheres do mundo com educação de qualidade para
a completa abolição do machismo", reforça.
A
diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Magda Maria de
Regina Chambriard, foi a primeira mulher da história a ocupar o mais
alto cargo da agência reguladora, em 2012. Isto no momento em que o país
se vê com a possibilidade de se tornar um dos maiores produtores de
petróleo, com a descoberta do pré-sal. "Neste Dia Internacional da
Mulher, gostaria de dizer que as mulheres com criatividade,
sensibilidade e garra fazem do mundo um lugar muito especial", declarou
ao JB.
A atleta Fabi, da Seleção Brasileira de Vôlei,
começou a jogar aos 13 anos em uma escolinha em Irajá, no Rio de
Janeiro. Um ano depois estava na equipe mirim do Flamengo. Agora é
bicampeã olímpica, quatro vezes campeã do Grand Prix e pentacampeã
da Superliga pela Unilever.
"Antes de mais nada, parabéns para
todas nós, mulheres! Cada vez mais estamos conseguindo quebrar tabus e
nos igualar aos direitos dos homens. Não tem mais essa de que isso ou
aquilo é trabalho só pra homem. Acabou este preconceito! Foi um processo
que vem de muitos anos e cada vez mais se fortalece. Depois de ter
completado 33 anos e ter duas medalhas olímpicas, me sinto privilegiada!
Espero que de, alguma forma, tenhamos conseguido motivar mais e mais
mulheres a nunca desistirem dos seus sonhos e ambições", diz Fabi.
Anna
Lydia Pinho do Amaral, da diretoria da Academia Nacional de Medicina,
foi a primeira mulher no Brasil a assumir a direção de um hospital do
Inamps, o Hospital de Ipanema. É médica ginecologista obstetra há mais
de 30 anos, doutora em ginecologia pela UFRJ. Presidiu a Sociedade de
Obstetrícia e Ginecologia do Rio de Janeiro e faz parte da Câmara
Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do Conselho Regional de Medicina do
Rio de Janeiro.
A médica lembra que a mulher é a peça de apoio e
segurança de todas as sociedades, tanto ocidentais quanto orientais, e
aponta o controle da reprodução e conquistas do final dos anos 1960 e
início da década seguinte como a grande revolução, decorrente da
dissociação entre prazer e reprodução. O processo de urbanização e
entrada no mercado de trabalho do segmento feminino na sociedade
brasileira, acrescenta, foi o germe de transformações sociais e laborais
antes inimagináveis em uma sociedade patriarcal e latina, de cunho
eminentemente machista.
"Os progressos
obtidos através das conquistas pela educação e movimentos sociais
fizeram que a mulher saísse de seu quase claustro intra-familiar para as
lideranças que culminaram na eleição da primeira mulher presidente
do Brasil. Várias foram as conquistas em todas as áreas laborais,
abrangendo todas as profissões que fizeram não mais retroceder a
sociedade brasileira. Esforço, dedicação, trabalho e ternura são a
síntese do feminino que hoje permeia a sociedade brasileira", acredita
Anna Lydia.
Anna Lydia também enfatiza a origem do Dia
Internacional da Mulher, que veio "através do derramamento de sangue e
de vidas de memoráveis mulheres que tiveram suas vidas ceifadas na
cidade Norte Americana de Nova Iorque por um incêndio criminoso.
(...) ato extremamente vil e desumano que marcou indelevelmente a
historia do mundo ocidental."
Apesar de destacar o fato da mulher
ainda ter que enfrentar a violência, pondera que houve vários avanços
sociais, apesar de barbáries que ainda ocorrem em algumas sociedades.
Entre as conquistas, Anna Lydia cita a promulgação da Lei Maria da
Penha, nome dado à vitima de um crime bárbaro Sra. Maria da Penha Maia
Fernandes, que ficou paraplégica em virtude de violência sofrida pelo
seu ex-cônjuge.
A
deputada federal Benedita da Silva, nascida na favela da Praia do
Pinto, no Rio de Janeiro, foi primeira mulher negra a ocupar uma cadeira
na Câmara de Vereadores da Cidade do Rio de janeiro e a primeira mulher
negra a chegar ao Senado Federal. Formada aos 40 anos em
Estudos Sociais e Serviço Social, hoje é deputada federal.
"Parabéns
às avós, mães, filhas, esposas, trabalhadoras, todas as mulheres
brasileiras, que em seis diferentes papéis, com força e determinação,
têm contribuído para construir uma sociedade mais justa, mais humana,
mais fraterna e solidária", ressaltou.
Outra pioneira é Leila
Mariano, primeira mulher a presidir o Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro (TJ-RJ). Ela comanda mais de 600 juízes, 80 comarcas, 90 fóruns,
17 mil servidores, cinco mil terceirizados, cinco mil estagiários, com
milhões de processos em andamento. "O Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro, representado por sua Presidente, Desembargadora
Leila Mariano, presta sua homenagem às mulheres que, cada dia mais,
mostram seu valor e assumem o compromisso de tornar este planeta mais
justo e igualitário."
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