sexta-feira, 28 de março de 2014

Mantega: "Estamos no limiar de um novo ciclo de expansão da economia"


Por Rodrigo Pedroso e Arícia Martins | Valor

SÃO PAULO  -  (Atualizada às 12h27) A economia mundial está na fase final de recuperação da crise econômica iniciada em 2008, com a bolha financeira nos Estados Unidos. O diagnóstico foi dado nesta sexta-feira pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante aula magna sobre economia brasileira a alunos da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo.

O ministro vê a economia mundial “no limiar de um novo ciclo de expansão para os próximos anos”. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global deste ano deverá ser maior do que o ano passado que, por sua vez, foi maior do que 2012. 

A crise, segundo Mantega, foi fruto do fim de um ciclo de alto crescimento da economia mundial puxado pelos emergentes entre 2000 e 2007. “Houve uma expansão dos emergentes, de 2,5% ao ano, acima do resultado das economias desenvolvidas. Foram os emergentes que puxaram o ciclo até vir 2008 e derrubar todo mundo”, disse.

O início de um novo ciclo de expansão da economia global, contudo, acontecerá de forma gradual. O prognóstico de Mantega é que o crescimento ocorra de forma mais lenta, mas consistente, nos próximos anos. “Existem problemas de graduação na recuperação, mas existe luz no fim do túnel.”

Para o ministro, a crise de 2008 foi tão forte quanto a crise de 1929, mas durou menos tempo que aquela e foi menos “virulenta” porque houve uma estratégia econômica diferente para combatê-la. “O Fed dirigido por [Ben] Bernanke, que também era um professor, começou a combater a crise com muita expansão monetária. Foi a maior intervenção monetária que já assisti”, disse.

Segundo ele, a crise de 1929 foi combatida com uma abordagem mais conservadora, quando o banco central americano elevou as taxas de juros e o governo subiu impostos para sanear as contas públicas. Essa política, disse Mantega, durou de 1929 a 1933, quando o PIB americano recuou 26% e o desemprego dos EUA alcançou a taxa recorde de 25%. Essa situação, segundo o ministro, durou até a chegada do presidente Franklin Roosevelt ao poder, que colocou em prática o New Deal, que é uma política de cunho keynesiano. “Roosevelt conseguiu atenuar um pouco a situação, mas a economia dos EUA só iria ganhar vigor na Segunda Guerra Mundial, quando o país se tornou o maior produtor mundial de bens de capital”, afirmou.

Já a crise de 2008, de acordo com Mantega, foi combatida com muita expansão monetária, o que salvou uma série de bancos da falência. “O Lehman [Brothers] quebrou, mas se não fosse a intervenção do Estado colocando dinheiro, grandes bancos não resistiriam à crise. Na história do capitalismo não houve intervenção monetária tão grande”, afirmou . Além disso, lembrou o ministro, houve uma cooperação internacional para combater os efeitos da crise, por meio do G-20. 

Na avaliação do ministro, a crise de 2008 foi a em que o Brasil se saiu melhor do que qualquer outra. Entre 2008 e 2013 – ano no qual, na sua opinião, se encerrou o período de recuperação pós-crise – o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 3,1% na média anual. “Não foi mal. Isso, no período de crise, é bastante razoável. Mas claro que, daqui para frente, precisamos expandir esse crescimento.”

Mantega notou que, para combater os impactos da crise sobre a economia brasileira, o governo adotou políticas anticíclicas, com expansão monetária, incentivo às concessões de crédito pelos bancos públicos e estímulos ao consumo que, neste ano, já estão sendo retirados. “Fizemos uma política monetária moderadamente expansionista, comparando com o Fed”, afirmou. 

Neste momento, disse, todos os países emergentes estão se adaptando ao período pós-crise, que será marcado por uma menor liquidez mundial, já que o Fed está reduzindo sua “ração” mensal de injeções na economia americana. “Estamos atravessando um período de acomodação da economia mundial à nova realidade de juros e câmbio, que vai estabelecer novos padrões mundiais.”

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