Nas
últimas semanas, a Petrobras tem divulgado informes publicitários de
página inteira em alguns dos principais jornais do país. Aquela que já
foi nossa maior empresa pretende convencer o leitor das virtudes de sua
política. Mas uma das peças acaba por trair-se e admitir uma das maiores
mentiras já inventadas por um governo na história nacional: a propalada
autossuficiência brasileira na produção de petróleo nunca existiu.
A constatação é possível a partir do informe publicado no último
sábado, sob o título “Planejamento Estratégico Horizonte 2030: As
grandes escolhas da Petrobras”, divulgado em jornais com O Globo e O Estado de S. Paulo. Nela, a companhia traça seus planos para os próximos 16 anos e informa quando, de fato, pretende atingir a autossuficiência.
Segundo o texto, apenas em 2015 a produção interna de petróleo deve
igualar-se ao consumo do país, algo em torno de 2,6 milhões de barris
por dia. “A Petrobras estima que em 2015 o Brasil alcançará a
autossuficiência volumétrica, quando a produção de petróleo no país
(Petrobras + terceiros) ultrapassar o consumo doméstico de derivados”,
diz a nota, ilustrada por um gráfico.
A autossuficiência em derivados só será alcançada ainda mais tarde,
em 2020. No fim desta década, informa-nos agora a Petrobras, o
processamento total nas refinarias instaladas no país será igual à
demanda total, na casa de 3 milhões de barris diários. “Para 2020
projetamos a autossuficiência em derivados, momento em que o
processamento total nas refinarias do país se iguala à demanda total de
derivados de petróleo”, salienta a companhia, no texto.
Voltemos agora no tempo. Era março de 2006, véspera da campanha
eleitoral que resultaria na reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva,
quando a Petrobras lançou campanha de R$ 37 milhões para divulgar a
conquista da autossuficiência, a cargo das agências Duda Mendonça
Propaganda, F/Nazca S&S e Quê Comunicação, conforme informou à época
o M&M Online.
Todos se lembram do alarde feito então pelo governo petista,
ressuscitando imagens de inspiração varguista, com praticamente todo o
governo vestindo os macacões alaranjados que caracterizam o dia a dia
dos trabalhadores da Petrobras. A própria empresa, em seu relatório
anual relativo a 2006, também mencionou três vezes a “conquista da
autossuficiência” naquele exercício.
Confirma-se, agora, que tudo não passou de farsa.
Já havia sido possível constatar nos últimos anos que a
autossuficiência era balela, mas a empresa sempre se contorcia para
inventar alguma explicação. De início, foi dito que o desequilíbrio
entre produção e demanda ainda existente só se verificava nos derivados;
depois o próprio aumento das importações de petróleo foi se
encarregando de desmentir qualquer ilusão de autossuficiência.
A Petrobras chegou a estes fracassos em função da maneira temerária
com que tem sido administrada nos últimos anos. A companhia
notabilizou-se por jamais entregar o que promete: desde 2003, as metas
de produção fixadas em seus planejamentos não são atingidas. Pior: em
2012 e 2013, a empresa teve, por dois anos seguidos, queda no volume
produzido, algo inédito em sua história.
O mergulho vem desde o anúncio das mudanças do marco regulatório de
exploração de petróleo no Brasil, por volta de 2008. A Petrobras ainda
respirou com a operação de capitalização de 2010, quando milhares de
brasileiros incautos acreditaram na pujança vendida nas peças de
marketing do governo e investiram em suas ações. Se deram muito mal.
Desde então, a petrolífera brasileira perdeu nada menos que 60% de
seu valor de mercado. “Em 2008, o valor de mercado da Petrobras era
cinco vezes superior à da colombiana Ecopetrol. No ano passado, as duas
empresas chegaram a valer o mesmo na bolsa”, mostra hoje O Globo em reportagem sobre a debacle de estatais, sufocadas pela política levada a cabo pelo governo Dilma Rousseff.
Com perda de 34% apenas nos últimos 12 meses, a Petrobras também é a
segunda empresa que mais se desvalorizou em todo o mundo no período. A
companhia brasileira só consegue sair-se melhor que um banco espanhol
salvo da falência pelo governo local em 2012.
“A companhia brasileira, que cinco anos atrás figurava entre as dez
maiores do mundo, hoje está na 121ª posição, avaliada em US$ 74 bilhões,
um terço da rival PetroChina”, informa a Folha de S. Paulo.
Também arrastadas no turbilhão do mau momento econômico brasileiro,
Vale, Banco do Brasil e Bradesco figuram entre as dez companhias que
mais perderam valor em um ano.
É lamentável ver empresas que poderiam estar gerando riqueza, criando
oportunidades de trabalho e contribuindo para o bem-estar dos
brasileiros e o progresso do país naufragando em razão da péssima
condução da economia pelo atual governo petista. É mais deplorável ainda
saber que boas intenções expressas nas peças oficiais não passam, como
foi o caso da apregoada autossuficiência em petróleo, de mentira
deslavada. E mentira tem sempre pernas curtas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário