Discriminação no trabalho, maiores taxas de depressão e exclusão dos serviços de saúde podem diminuir até 1,7% do PIB, diz Banco Mundial
Ativistas gays na Índia protestam após a
Suprema Corte do país decidir que o sexo homossexual deve ser
considerado crime. (11/12/2013)
São Paulo - “Excluir minorias sexuais não é só uma tragédia humana, mas
também um custo econômico que as sociedades impõem para si mesmas.”
A frase é do presidente do Banco Mundial,
o sul-coreano Jim Yong Kim, e serviu como ponto de partida para o
evento "O custo econômico da homofobia", realizado hoje na sede da
instituição em Washington DC, nos Estados Unidos.
Especialistas e jornalistas debateram os resultados preliminares de um
estudo que desenvolveu e testou um modelo econômico para medir quanto as
sociedades perdem com a exclusão social dos homossexuais e
transgêneros.
No caso da Índia,
onde a Suprema Corte decidiu recentemente pela criminalização do sexo
entre homossexuais, o prejuízo fica entre 0,1% e 1,7% do PIB - ou algo entre US$ 1,25 e US$ 7,7 bilhões.
A estimativa varia muito porque é difícil conseguir dados sólidos sobre
o real tamanho e situação das minorias sexuais: "A invisibilidade é uma
estratégia de sobrevivência", diz M.V. Lee Badgett, a professora de
economia da Universidade de Massachusetts que apresentou os números.
A falta de estatísticas foi citada como um problema central por todos
os participantes e foi o foco da apresentação de Qing Wu, analista
econômico do Google,
que apresentou formas inusitadas de medir a prevalência da
homossexualidade - como os números de busca por material pornográfico
gay ou de perguntas como "meu marido é gay?".
Trabalho
Os efeitos econômicos da homofobia começam com o assédio na escola, que
diminui o potencial da educação.Posteriormente, o preconceito no
ambiente de trabalho leva a menores salários e produtividade.
De acordo com Badgett, homens gays dos Estados Unidos e da Europa
ganham em média 11% menos do que homens heterossexuais, controladas
todas as outras variáveis.
Não está claro até que ponto isso é resultado da discriminação direta
ou das expectativas mais baixas que eles próprios se colocam por causa
da sociedade.
Saúde
Além de terem uma chance maior de contrair o vírus HIV, homens gays apresentam uma taxa de depressão
6 a 12 vezes maior que a da população em geral. Já a porcentagem dos
que apresentam pensamentos suicidas é 7 a 14 vezes maior do que a média
nos países em desenvolvimento.
Com base nestas diferenças, o Banco Mundial concluiu que o custo
econômico da homofobia no campo da saúde na Índia ficou entre US$ 712
milhões e US$ 23,1 bilhões só em 2012.
Em muitos sentidos, o impacto é global: de acordo com Luiz Loures, diretor-executivo do programa de Aids
das Nações Unidas, apenas 0,2% dos recursos contra a Aids tem como foco
homens que fazem sexo com homens, apesar deles serem os mais afetados
pela epidemia.
Um empréstimo de US$ 90 milhões do Banco Mundial para Uganda foi suspenso depois da aprovação de uma lei que torna a homossexualidade crime. Para Loures, esse tipo de legislação é um desastre do ponto de vista da saúde pública:
"O risco maior é a exclusão. O medo não combina com a busca por saúde,
por teste, por tratamento. Milhões de pessoas foram salvas por causa dos
homossexuais e suas famílias que foram os primeiros a se mobilizarem.
Quando uma dessas pessoas é obrigada a se esconder, isso afeta nossa
possibilidade de lutar contra essa epidemia até o fim."
Futuro
Outros impactos econômicos da homofobia são reais, mas ainda mais
difíceis de medir. A receptividade de um país para homossexuais pode
afetar seu potencial para o turismo ou para a atração de trabalhadores
qualificados, por exemplo.
Até Jim Kim reconheceu que o tema enfrentou resistência dentro do
próprio Banco Mundial, mas como lembrou Amy Lind, professora de estudos
de gênero na Universidade de Cinccinati, há anos de estudos do movimento
LGBT que podem contribuir para o trabalho de instituições como o Banco
Mundial:
"Precisamos perceber que ainda estamos usando modelos tradicionais de
família e de sexualidade nos nossos modelos de política pública para o
mundo em desenvolvimento. O debate sobre a homofobia deve ser levado ao
mainstream porque é uma questão do mainstream."
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