Conta feita por consultoria se baseia na decisão da equipe econômica do governo de não reajustar os preços administrados; maior fatia nesse esforço deve vir da manutenção da redução da conta de energia elétrica, o que consumirá R$ 21 bilhões
Luiz Guilherme Gerbelli, O Estado de S.Paulo
O impacto na conta do governo para evitar o aumento de um
ponto porcentual na inflação pode chegar a R$ 34 bilhões este ano. A
conta bilionária - compilada pela consultoria A.C. Pastore &
Associados - se dá pela decisão da equipe econômica de não reajustar os
preços administrados, como os da gasolina e da energia elétrica.
A maior parte desse esforço virá do gasto extra do governo para
manter a promessa de redução da conta de energia elétrica. Em 2014, a
ajuda às distribuidoras vai custar R$ 21 bilhões - R$ 13 bilhões vindos
do Tesouro e R$ 8 bilhões em dívida emitida em nome Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) que deve ser financiada por
bancos públicos e privados. "Se a situação do nível dos reservatórios se
agravar mais, essa conta ainda pode crescer", afirma o economista da
A.C. Pastore & Associados, Marcelo Gazzano.
A segunda parte desse custo virá dos R$ 13 bilhões que o governo
deixará de arrecadar com a Contribuição de Intervenção no Domínio
Econômico (Cide), tributo cobrado sobre combustíveis. Em junho de 2012,
quando o governo autorizou o reajuste no preço da gasolina e do diesel, a
Cide foi zerada para que o aumento não chegasse ao consumidor. O
tributo não é considerado arrecadatório, mas ajudava nas contas do
governo.
Em dezembro, após participar de um evento em São Paulo, o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, chegou a afirmar que a Cide poderia voltar a
ser cobrada, mas naquele momento, a prioridade dele era o combate à
inflação.
O caso dos combustíveis e da energia se tornaram os mais emblemáticos
da política de controle de preços. Mas, depois das manifestações de
junho, várias cidades do País congelaram o reajuste das tarifas do
transporte público, o que também contribuiu para um baixo avanço da
inflação dos administrados. Em 2013, a alta foi de apenas 1,5%, enquanto
os preços livres aumentaram 7,3%. "A forma desse governo de controlar a
inflação é via controle de preços administrados", diz José Márcio
Camargo, professor da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recurso.
Os números deixam claro que o esforço do governo para não aumentar os
preços administrados está resultando em um elevado custo num momento em
que o mercado cobra credibilidade da política fiscal. Segundo a
projeção da A.C. Pastore & Associados, o impacto dessas medidas no
superávit primário do setor público deve ser de cerca de 0,5% do Produto
Interno Bruto (PIB).
Na semana passada, num sinal de perda de credibilidade, a nota do
Brasil foi rebaixada pela agência de risco Standard & Poor's
(S&P). A nota de crédito do Brasil recuou de BBB para BBB-. Entre os
motivos apontados para a queda, estão o baixo crescimento econômico e
dúvidas em relação à política fiscal. "Em termos de credibilidade, o
governo se perde por dois lados: mascara os preços e faz uma expansão
fiscal", diz Gazzano.
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