Segundo jornal britânico, ao optar pela presença do exército no Complexo da Maré em vez de uma UPP, governo brasileiro mostra que pode ir longe para não passar vergonha na Copa
Policiais em ação no Complexo da Maré: "nas favelas ou n ruas, o estado fará de tudo para garantir que ninguém estrague a festa", diz The Guardian
São Paulo - "Como o Brasil vai manter a festa da Copa do Mundo rolando?", pergunta o título de uma reportagem do jornal britânico The Guardian. A resposta é dada pelo próprio texto: mandando o exército.
O artigo, assinado pelo jornalista Benjamin Parkin, faz duras críticas à decisão do governo do Rio de Janeiro, junto ao governo federal, de ocupar o Complexo de favelas da Maré com militares do exército.
O problema não é a presença do exército em si, afinal a presença do
estado é necessária para combater as milícias e o tráfico presentes no
Complexo, mas o jornal questiona os motivos e o modo como tudo está
sendo feito.
Uma das questões levantandas, por exemplo, é de por que optar pelo exército e não por uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
"Esta demonstração de força mostra que o governo brasileiro está
caminhando para a criação de um estado de exceção que vai garantir que o
país não se envergonhe [na Copa]", diz Parkin.
"Quer se trate de violência nas favelas ou dos protestos nas ruas, o estado fará de tudo para garantir que ninguém estrague a festa", diz.
Na última segunda-feira, faltando menos de 80 dias para o início da Copa do Mundo
no Brasil, o governo do Rio de Janeiro anunciou que o exército vai, a
partir do dia 7 de abril e por período indefinido, ocupar o Complexo da
Maré.
A explicação oficial dada pelo governo é a de que a força nacional é
necessária para conter a escalada de violência vista nos últimos dias.
Na semana passada, criminosos atearam fogo a bases de UPPs no
conjunto de favelas Manguinhos/Mandela, na zona norte, onde três áreas
com UPP foram alvo de ataques.
O The Guardian destaca que nenhum destes ataques foi no Complexo da
Maré. A facção criminosa apontada por autoridades como responsável por
comandar os ataques dos últimos dias tem uma presença pequena neste
conjunto de favelas.
"O anúncio de que o exército vai ocupar a Maré é surpreendente, não só
porque lá ainda não tem uma UPP, como também por não estar envolvida nos
epísódios recentes de violência. Por que, então, o governo determinou a
ocupação da Maré e não de outros lugares que foram palco de conflito?",
questiona o jornalista.
Para o jornal, pelo fato da Maré estar localizada na rota que leva do
aeroporto ao centro da cidade, isto é, é um lugar de grande visibilidade
e importância "estratégica" que tem pouca ou nenhuma presença do
Estado.
"Com a publicidade da recente violência contra a polícia em outras
partes da cidade, o governo que viu uma oportunidade para ignorar
temporariamente o programa UPP, cuja vulnerabilidade foi exposta, e
qualquer pretensão de policiamento comunitário ou as iniciativas sociais
que vieram com ele", critica Parkin.
Ao invés de implantar uma UPP, diz o jornalista, o poder público opta por uma "militarização sem precedentes".
"Terá um soldado para cada 55 habitantes, em comparação com a média do
Estado que é de um para 369 pessoas, permitindo-lhes o máximo controle
por um período uma "indefinido" antes de uma UPP ser, enventualmente,
implantada. Ou melhor, durante o tempo que eles precisarem para se
certificar que Copa do Mundo corra bem", conclui.
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