Ford, Natura e Usiminas encontraram formas de produzir mais com economia de recursos
Fernando Scheller - O Estado de S.Paulo
O mecânico Everton Ferreira da Silva e o ajudante Jackson
Silva Santos, que trabalham em uma concessionária Ford em São Paulo,
podem até não saber, mas fazem parte do movimento capitaneado pelas
empresas em busca de produtividade. Ao dividirem tarefas e usarem um
carrinho que contém as peças mais usadas em seu dia a dia - evitando
deslocamentos desnecessários ao estoque -, Everton e Jackson ajudaram a
elevar o número médio de veículos reparados no box de atendimento da
oficina onde trabalham de 6 para 15 por dia.
A iniciativa da montadora faz parte de um movimento de empresas
brasileiras em busca de mais produtividade. Para Henrique Teixeira,
sócio da McKinsey & Company, os melhores exemplos de ganhos de
escala e aperfeiçoamento produtivo no País estão no mundo corporativo. A
referência ainda é a gigante das bebidas Ambev, conhecida por sua
cultura de resultados, mas ele vê essa preocupação se espalhando por
todos os setores. "Definitivamente, a regra para o momento é a redução
de custos."
Os ganhos de produtividade começam, normalmente, com um problema. No
caso da Ford, a restrição ao crescimento vinha da dificuldade de
concessionárias localizadas em grandes metrópoles de aumentar o espaço
físico das oficinas em um momento de forte valorização do preço do metro
quadrado dos imóveis. Segundo Joaquim Arruda Pereira, diretor de vendas
e marketing da área de pós-venda da Ford, era preciso achar uma
alternativa.
A questão afetava a concessionária onde Everton e Joaquim trabalham, a
Caoa da Avenida Ibirapuera, zona sul de São Paulo. A revenda foi
escolhida para um projeto-piloto de trabalho com dois mecânicos em cada
box de atendimento, no ano passado. A montadora já estendeu a iniciativa
para 15 concessionárias no País. "Estamos identificando os pontos já
saturados ou perto de seu limite. É uma boa solução para as grandes
cidades", diz o executivo da Ford.
Sobrevivência.
Falhas de processos ficam mais
evidentes em momentos de crise. A Usiminas viveu isso na pele ao longo
dos últimos dois anos. "A gente percebeu, em 2012, que a empresa
precisava mudar. Era uma questão de sobrevivência", diz Gileno de
Oliveira, gerente-geral de engenharia de processos industriais. Em um
momento de demanda mais baixa, a empresa trabalhou para reduzir seus
gastos com equipamentos.
Em uma linha que produz placas de aço para a produção de bobinas
laminadas, havia oito unidades em operação em Ipatinga (MG) e Cubatão
(SP). A saída, conta Oliveira, foi aumentar a produtividade das máquinas
mais potentes para produzir a mesma quantidade do produto com seis
máquinas. Em outro processo, o de laminação a frio, uma linha mais
moderna substituiu duas antigas. Esse processo reduziu a necessidade de
operadores e, por consequência, gastos com mão de obra.
O resultado já começou a aparecer no balanço da Usiminas. Segundo o
gerente da área de processos industriais, as mudanças causaram uma queda
de 7% no custo dos produtos vendidos em 2013, na comparação com o ano
anterior. Depois de amargar um prejuízo de R$ 598 milhões em 2012, a
companhia fechou o ano passado com um lucro de R$ 17 milhões. Ainda
assim, prevê a continuidade do programa de redução de custos.
Moda.
A InBrands cresceu fazendo uma série de
aquisições de marcas de moda. Há dois anos, teve de fazer uma "parada
técnica" para reorganizar a casa e tirar proveito das vantagens de ser
uma holding. O presidente da InBrands, Michel Sarkis, diz que a
administração e distribuição das diferentes marcas - como Ellus,
Richards e VR - foi unificada. Com isso, as despesas gerais e
administrativas da InBrands, que representavam 25% da receita em 2011,
caíram para 11% no ano passado.
A Natura também está investindo em produtividade, com a meta de fazer
os produtos chegarem mais rapidamente aos consumidores. Segundo Ricardo
Faucon, diretor de serviços ao cliente da Natura, o investimento em
tecnologia tem papel fundamental nesse processo. O novo centro de
distribuição da empresa, em São Paulo, poderá processar 2 mil caixas de
pedidos por hora. Trata-se de um aumento de 66% na capacidade ao centro
de Cajamar, que organiza 1,2 mil pedidos por hora.
À medida que a concorrência aumenta no mercado de beleza, a marca de
vendas diretas busca manter sua atratividade em relação ao varejo, que
oferece os produtos em pronta entrega. Para aumentar a produtividade das
revendedoras, liberando-as para fazer novas vendas, a companhia definiu
uma meta ambiciosa: ter 60% de seus produtos entregues em até 48 horas
aos clientes. A exemplo do que ocorre com a produtividade como um todo
no Brasil, ainda falta bastante para a Natura "chegar lá": em 2013, esse
prazo foi cumprido em 34% das vendas.
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