quinta-feira, 22 de maio de 2014

"O lucro para grifes de moda está fora do eixo Rio-SP"


Emanuel Chirico, presidente do conglomerado de moda PVH, dono das marcas Calvin Klein e Tommy Hilfiger, diz que só há um jeito de ganhar dinheiro no Brasil — fugindo de São Paulo e Rio

Pascal Le Segretain/Getty Images
A atriz Jennifer Lawrence chega a festa pós-premiação do Oscar em 2013
A atriz Jennifer Lawrence: o luxo representa apenas 2% das vendas 

São Paulo - Nenhuma grife internacional tem tantas lojas no Brasil quanto a americana Calvin Klein. Seus 97 pontos de venda e as 2 000 butiques multimarcas que a atendem vendem estimados 750 milhões de reais em produtos da marca. Esse tamanho todo é resultado de uma estratégia de expansão bastante peculiar.

Enquanto a concorrência se estapeia para conquistar o consumidor de alguns bairros de São Paulo e Rio de Janeiro, a Calvin Klein decidiu desbravar o país. Do total, 71 lojas estão fora do eixo Rio-São Paulo, em cidades como Macapá, Teresina e São Luís.

A marca pertence há 11 anos ao conglomerado PVH, cujo faturamento triplicou nos últimos cinco anos (hoje é de 8 bilhões de dólares). A PVH também é dona da marca Tommy Hilfiger, que fechou no ano passado um acordo com o grupo de moda brasileiro Inbrands — o qual será responsável pela gestão da marca no país por dez anos.

Em visita recente ao Brasil, Emanuel Chirico, presidente da PVH, diz que é impossível ganhar dinheiro apenas com um punhado de butiques nos endereços mais elegantes do país. 

EXAME - A Calvin Klein veste atrizes como Jennifer Lawrence e Gwyneth Paltrow nas cerimônias do Oscar e, ao mesmo tempo, vende calças jeans no interior do Brasil por menos de 200 reais. Qual é a lógica? 

Emanuel Chirico - Temos um estilista brasileiro, Francisco Costa, no comando da linha mais luxuo­sa, que aparece na semana de moda de Nova York e nos tapetes vermelhos de Hollywood. Mas esse negócio representa apenas 2% ou 3% de nossa receita. Ganhamos dinheiro mesmo vendendo jeans, roupas para praticar esportes e lingerie por preços mais acessíveis.

É claro que o braço de luxo ajuda na construção da marca, mas estamos longe de ser uma Gucci ou uma Louis Vuitton. Nunca quisemos ser uma marca exclusiva de luxo

EXAME - Por isso o senhor abre lojas em cidades esnobadas pelas outras grifes internacionais?
Emanuel Chirico - Eu estou no Brasil para vender grandes volumes e ganhar dinheiro. É impossível fechar no azul com meia dúzia de butiques em São Paulo e Rio de Janeiro, como nossos concorrentes internacionais estão fazendo nos últimos anos.

Nossa margem de lucro aqui, antes dos impostos, é de 20%, em linha com o que temos em outros países, graças à expansão geográfica. Pretendemos estar em todas as capitais do país. Hoje, só não temos lojas em Palmas e Boa Vista. Recife, Fortaleza, Salvador e São Luís são grandes mercados para nós.

EXAME - Desbravar tantos mercados ao mesmo tempo não é arriscado?
Emanuel Chirico - Em vez de me aventurar em um novo país, prefiro fechar parcerias com empresas que conheçam melhor o mercado local. A operação brasileira era tocada por uma licenciada nossa, a Warnaco, que acabamos comprando em 2013.

Adotamos a mesma estratégia com outra marca nossa, a Tommy Hilfiger, que em 2013 foi licenciada para a Inbrands por dez anos. O trabalho de desenvolvimento da marca no Brasil está nas mãos deles. Se der certo, poderemos assumi-la de volta após o fim do contrato, quando a marca já estiver mais conhecida. 

EXAME - Os brasileiros são muito diferentes dos consumidores de outros países?
Emanuel Chirico - Descobrimos que o brasileiro que entra na loja da Calvin Klein em Nova York ou em Miami não vê graça no que vendemos, porque acha tudo básico demais. Para cair no gosto de vocês, tivemos de aplicar brilho nas roupas, colocar zíper que chama a atenção na jaqueta e, nas calças, tachas.

Outra diferença: aqui a coleção muda de três em três meses, porque precisa haver novidade sempre. Nos Estados Unidos, a mesma coleção fica seis meses na loja. São coisas que levamos algum tempo para aprender.

E a gente só consegue operar assim no Brasil porque produzimos 90% das peças aqui e em países vizinhos. Se dependêssemos de importação da China, como alguns concorrentes, não teríamos os produtos certos, e a conta não fecharia.

A fase de maior crescimento da Calvin Klein aconteceu depois da saída de seu fundador, em 2003. Como vocês mantiveram a essência do negócio sem a figura dele? 
Emanuel Chirico - As três pessoas-chave da equipe de criação foram contratadas pelo próprio Calvin Klein e seguiram na empresa. São o brasileiro Francisco Costa, estilista da coleção de luxo feminina, Italo Zucchelli, que assina a coleção masculina, e Kevin Carrigan, à frente do jeans e do que vendemos em volume. Eles entendem o DNA da marca como ninguém. 

EXAME - O maior crescimento para as grifes globais de moda vai continuar a vir dos países emergentes?
Emanuel Chirico - Nos próximos dez anos, as marcas de moda vão ficar ainda mais globais, com Brasil e Ásia ocupando uma porção maior dos negócios. Temos muitas oportunidades para ocupar espaços em branco nesses mercados.

No Brasil, vamos trazer para as lojas, em breve, novas linhas de produtos, como ternos e camisas sociais, roupas esportivas e itens para a casa. Esperamos ver uma consolidação dentro da indústria, já que todas as empresas olham para expansões fora de seu mercado de origem. É da diversificação de países e de mercados que virá o crescimento.

Não há bolha imobiliária, mas imóvel está caro, diz estudo


Análise da Poli-USP mostra que tudo indica que não há bolha no mercado imobiliário, afinal; o que não significa que imóveis não estejam caros para a população




Germano Lüders/EXAME
Imóveis na região do Jardins, São Paulo
Imóveis em São Paulo: custos e de preços de imóveis pode subir mais em algumas regiões

São Paulo – Não, o Brasil não está vivendo uma bolha imobiliária no mercado residencial, mas realmente os preços dos imóveis cresceram muito acima da renda do brasileiro – ou seja, apesar do aumento da renda dos últimos anos, os imóveis residenciais ficaram sim caros para a população.

É o que mostra uma análise capaz de desanimar ainda mais os brasileiros que se sentem longe de conseguir comprar um imóvel próprio que não seja um cubículo em uma boa localização de um grande centro urbano no Brasil.
Feito pelo professor João da Rocha Lima, coordenador do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), o trabalho foi publicado na última Carta do NRE-Poli, publicação trimestral enviada ao mercado e disponível no site do núcleo.
Intitulada “Lições sobre Bolhas”, a carta mostra que, ao se deflacionar a alta dos preços dos imóveis residenciais brasileiros entre 2005 e 2013 com base nos custos de construção, o que se mostra não é um cenário de bolha. Mas em 2011 houve sim um ciclo especulativo, já corrigido.

“No segundo semestre de 2011, os preços do mercado chegaram a 22% acima do preço justo dos imóveis. Os preços cresceram gradativamente contra o preço justo, até se acomodarem novamente em dezembro de 2013”, disse Rocha Lima em entrevista a EXAME.com.

Mas se, por um lado, a disparada dos custos de terrenos e de construção faz com que os preços dos imóveis não estejam altos em relação aos custos, o crescimento da renda do brasileiro no período, apesar de significativo, ainda ficou muito aquém da alta dos preços dos imóveis.

Segundo a análise do NRE-Poli, de 2005 a 2011, um mesmo imóvel ficou nada menos que 74% mais caro para uma pessoa de um mesmo estrato social. Daí vem o desconforto das pessoas que sonham com a casa própria, mas sentem que não conseguirão pagar por ela tão cedo.

“Seria razoável se os preços subissem de acordo com a curva de capacidade de compra. Mas eles cresceram muito acima dessa curva. O que comprova que isso é verdadeiro é que os imóveis estão ficando cada vez menores. A renda não tem crescido na mesma proporção, porque os custos de construção estão subindo muito acima da renda”, diz o professor.

Embora não espere uma queda acentuada de preços dos imóveis residenciais nas grandes cidades brasileiras, Rocha Lima acredita que agora os preços devem ficar paralisados, crescendo apenas modestamente, de acordo com a inflação.

Isso na média. O professor lembra que, em certos lugares – cidades ou mesmo bairros específicos – os custos de produção continuarão a pressionar os preços, por motivos pontuais.

“Ao se aprovar o novo Plano Diretor da cidade de São Paulo, por exemplo, os custos dos terrenos devem crescer muito, o que deve elevar os custos de construção. E não há como embarcar esse crescimento de custos em margens de lucro ainda menores para as construtoras, porque elas já estão muito comprimidas. Assim, os preços dos imóveis devem continuar aumentando”, explica.

Em outras localizações, por outro lado, os preços podem até cair nominalmente. “Construtoras que querem sair de alguns mercados estão fazendo liquidações de estoques, oferecendo descontos. É o que ocorre em Salvador, por exemplo”, observa Rocha Lima.

O professor, no entanto, não descarta a possibilidade de queda de preços moderada dentro de três ou quatro anos. Segundo ele, atualmente, o espaço para queda de preços seria de 6%, em média, segundo estudos da Poli-USP.

“Para isso ocorrer, as construtoras precisam praticar custos mais eficazes. A partir do momento em que elas forem capazes de moderar sua eficiência de produção, em que se verificar que a obra ficou mesmo mais barata, aí pode haver uma compressão de preços. Mas as empresas primeiro precisam ter essa visão de que os custos devem baixar e aplicar novas metodologias”, avalia Rocha Lima.

O estudo completo está disponível abaixo:

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Abbott comprará fabricante de medicamentos CFR Pharma


Aquisição mais que dobrará seu portfólio de drogas genéricas de marca e ampliará sua presença na América Latina.

Divulgação
Abbott Laboratories
Abbott: preço total de compra deve ser de cerca de 2,9 bilhões de dólares

São Paulo - A Abbott Laboratories anunciou que vai adquirir a companhia farmacêutica latino - americana CFR Pharmaceuticals, o que mais que dobrará seu portfólio de drogas genéricas de marca e ampliará sua presença na América Latina.

A Abbott disse que vai comprar a holding que controla indiretamente cerca de 73 por cento da chilena CFR e que vai conduzir uma oferta pública de compra para as ações restantes.

A companhia afirmou que, caso todas as ações circulantes sejam envolvidas, o preço total de compra deve ser de cerca de 2,9 bilhões de dólares, e mais 430 milhões de dólares em dívidas assumida

Mulher presidente tem mais risco de demissão do que homem


Levantamento sobre a movimentação de presidentes de grandes empresas nos últimos 10 anos mostra que frequência de executivas demitidas é maior do que de homens



Stock Exchange
Executiva de gravata
Com "gravata" no pescoço: presidentes mulheres recebem menos apoio

São Paulo – Executivas do topo da hierarquia corporativa que se segurem no cargo. Pesquisa recente da Strategy& com 2,5 mil maiores empresas de capital aberto do mundo aponta que as chances de demissão são maiores para elas do que para os presidentes homens.

A conclusão parte da análise das movimentações de presidentes nos últimos dez anos. Enquanto quase 40% das mulheres foram demitidas do comando de empresas, no mesmo período, apenas 27% dos presidentes homens receberam “bilhete azul” (ou seja, perderam o posto).

O coautor do estudo, Per-Ola Karlsson, disse em entrevista ao Financial Times que a busca por mais mulheres em postos de comando – alavancada por pressões culturais e políticas - leva empresas, muitas vezes, a escolhas ousadas que podem não funcionar.

Conselhos de administração majoritariamente masculinos em sua composição também contribuem para este cenário porque tornam árido o ambiente de trabalho para as presidentes de empresa, segundo também afirmou Karlsson ao Financial Times.

Maioria masculina no conselho pode, em alguns casos, se traduzir em menos apoio à presidente, segundo Karlsson apurou ao longo de conversas que teve com mulheres que ocupam postos de comando.

Pesquisa da Bain &Co. confirma em números o que Karlsson diz ter ouvido de executivas.  Segundo este estudo, 41% das mulheres em cargos de gestão apontam a diferença de estilos entre os gêneros como o principal entrave para suas carrreiras. Some-se a isso ao fato de 88% afirmarem que os chefes são mais propensos a promover ou indicar profissionais com um estilo semelhante ao deles mesmos e o cenário desfavorável à mulher ganha ainda mais força. 

Aliás, os conselhos de administração continuam sendo um “calcanhar de Aquiles” da paridade de gênero entre os executivos. No Brasil, por exemplo, apenas 7,7% das posições em conselhos são de mulheres, segundo estudo do Catalyst.org. Na Noruega, elas estão em 40,9% das cadeiras dos conselhos.

Deputado ajudou doleiro a chegar à Petrobras, diz PF

A PF suspeita que o deputado Luiz Argôlo (SDD-BA) "agendou uma reunião" entre Alberto Youssef e o diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza

Fausto Macedo, do
Wikimedia Commons 

Brasão da Polícia Federal
Brasão da Polícia Federal: a PF investiga outros funcionários da estatal
São Paulo - A Polícia Federal suspeita que o deputado Luiz Argôlo (SDD -BA) "agendou uma reunião" entre o doleiro Alberto Youssef e o diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza.

Durante a Operação Lava Jato - investigação sobre esquema de lavagem de dinheiro que pode ter alcançado R$ 10 bilhões -, a PF interceptou no dia 18 de setembro de 2013 troca de mensagens pelo aparelho BlackBerry entre Argôlo e o doleiro tratando de um encontro com o diretor da estatal.

Consenza sucedeu ao engenheiro Paulo Roberto Costa, em 2012. Costa foi preso pela Lava Jato no dia 20 de março de 2014. Ele e Youssef são apontados como os líderes de uma organização criminosa que teria se infiltrado na Petrobras para desvio de recursos e corrupção.

A PF investiga outros funcionários da estatal. A longa sequência de contatos entre Argôlo e o doleiro faz parte de Relatório de Monitoramento Telemático enviado ao Supremo Tribunal Federal, instância que tem competência para investigar parlamentares.

Entre 14 de setembro de 2013 e 17 de março de 2014 o deputado e o doleiro trocaram 1.411 mensagens. Youssef trata o deputado por "LA" e este o chama de "Primo".

Eles citam Cosenza. Às 11h36 do dia 18 de setembro Youssef diz que "já liga" para Argôlo porque "está terminando uma reunião na prefeitura de Cubatão (SP)".

O deputado comenta que está com o substituto de "PR" - para os investigadores uma "provável referência à pessoa que substituiu Paulo Roberto Costa na Petrobras, José Carlos Cosenza".

O deputado pergunta ao doleiro se ele "tem algum assunto" para tratar com o diretor da Petrobras. "Temos vários assuntos lá", responde Youssef, "possivelmente referindo-se à Petrobras e às diversas operações de desvio de recursos que envolveriam as suas empresas de fachada utilizadas para distribuir o dinheiro ilegal".

A PF não imputa atos ilícitos a Cosenza, mas seu nome consta do relatório.

"Em seguida, aproveitando-se da proximidade de ‘LA’ possivelmente com o atual diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, solicita que ‘LA’ passe a seguinte mensagem: ‘Diga a ele que você precisa fazer uma visita a ele para que te ajude com um amigo’."

"Existem indícios de que ‘LA’ agendou uma reunião entre Youssef e José Carlos Cosenza, possivelmente para tratar de algum assunto relacionado às operações de Youssef junto à empresa", afirma a PF.

O relatório mostra Argôlo pressionando o doleiro para arrumar dinheiro, segundo a PF. Revela contatos com empreiteiras. O diretor financeiro de uma delas, sediada em Salvador, teria repassado R$ 420 mil para a organização.


Conselhos


Youssef também dava conselhos políticos a Argôlo. No dia 9 de outubro, o deputado perguntou ao doleiro se deveria aceitar a vice-liderança do Solidariedade ou se aceitava participação na Comissão de Orçamento da Câmara.

"Pega a vice-liderança, você vai estar o tempo todo com o governo.
A Comissão de Orçamento é também muito boa, mas deve ser escolhida em outro momento, pois agora o importante é estar perto do governo", respondeu o doleiro.Argôlo não foi localizado ontem.

A Petrobras, em nota, declarou. "O diretor José Carlos Cosenza não conhece Alberto Youssef. Ele não manteve contato com o deputado Luiz Argôlo". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Membros da CPI têm doações de fornecedores da Petrobras

Um terço dos 12 titulares da comissão recebeu dinheiro de fornecedoras da estatal nas eleições de 2010

Murilo Rodrigues Alves, do
Geraldo Magela/Agência Senado 

Senador José Pimentel (PT-CE) discursa
Senador José Pimentel (PT-CE) discursa: ele recebeu R$ 1 milhão da Camargo Corrêa, empreiteira que lidera consórcio responsável alvo de suspeitas

Brasília - Um terço dos 12 titulares da CPI da Petrobras do Senado indicados até agora recebeu dinheiro de fornecedoras da estatal nas eleições de 2010. O relator da comissão, José Pimentel (PT-CE), está entre eles.

Ele recebeu R$ 1 milhão da Camargo Corrêa, empreiteira que lidera o consórcio responsável por obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, alvo de suspeitas.

A doação da empreiteira equivale a 20% de tudo o que o petista conseguiu arrecadar para a sua campanha ao Senado quatro anos atrás. 

Outros três titulares da comissão, instalada nesta semana e controlada pelos aliados da presidente Dilma Rousseff, também receberam de fornecedores da Petrobras.

Até o momento, são conhecidos 12 titulares da CPI no Senado. Ainda falta a indicação de um nome da oposição, que resiste em fazê-lo por defender uma comissão mista, com a presença de deputados na apuração.

Humberto Costa (PT-PE) também recebeu R$ 1 milhão da Camargo Corrêa para sua campanha ao Senado. A construtora OAS doou outros R$ 500 mil à campanha do senador.

Juntas, as duas fornecedoras com contratos com a Petrobras respondem por 30% das doações obtidas pelo petista.

A Camargo Corrêa também contribuiu para as campanhas de Ciro Nogueira (PP-PI), com R$ 150 mil, e Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), com R$ 500 mil, outros dois membros da CPI. Ciro ainda conseguiu recursos R$ 100 mil da Votorantim Cimentos.

Os fornecedores da Petrobras foram responsáveis por 10% de todas as doações feitas em 2010 à campanha de Grazziotin e 6,25% do arrecadado pelo comitê de Nogueira.

Conforme revelou o Estado em abril, os fornecedores da Petrobras respondem por 30% das doações nos pleitos de 2010 e 2012 aos postulantes à Presidência e ao Congresso Nacional. 

Isso não implica que a estatal tenha direcionado as doações ou que haja ilegalidade, mas revela o potencial de alcance político e econômico da estatal.


Operação


A Operação Lava Jato, da Polícia Federal, revelou em março deste ano suspeitas sobre as obras em Abreu e Lima tocadas pela Camargo Corrêa. A partir da intermediação do doleiro Alberto Youssef, a empreiteira teria sido favorecida por superfaturamento nas obras. 

O favorecimento teria ocorrido, segundo a Polícia Federal, com a ajuda do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ele e Youssef estão presos no Paraná.

A Justiça deu na semana passada prazo de 20 dias para que a Petrobras apresente todos os pagamentos feitos entre 2009 e 2013 à Camargo Corrêa, a principal financiadora dos membros da CPI.

A estatal e a empreiteira tiveram o sigilo bancário quebrado pela Justiça Federal do Paraná, que apura se houve desvios de recursos da estatal que eram destinados a obras da Abreu e Lima. 

A estatal terá de abrir para a PF e para o Ministério Público Federal as transações feitas entre Petrobras, Camargo Corrêa e Sanko Sider.

Nas investigações do Ministério Público e da PF, Costa e Youssef receberam cerca de R$ 7,9 milhões por meio do consórcio da Camargo Corrêa, para a Sanko Sider, que teria feito depósitos em contas para a MO Consultoria, comandada pelo doleiro.

Financiadora da campanha de Humberto Costa, a construtora OAS fechou contrato de R$ 185 milhões com a Petrobras em novembro do ano passado para a construção e montagem de dutos para o emissário do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

O contrato vai até agosto do ano que vem. Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) já apontou "conduta omissiva" da alta administração da estatal em relação aos atrasos nas obras de tubulação do Comperj, cujo custo total foi estimado, em fevereiro de 2010, em R$ 26,9 bilhões, com expectativa de conclusão em 2021. 

Só o primeiro trem de refino (o complexo é composto por dois) possui previsão de conclusão em agosto de 2016.

Já a Votorantim Cimentos, doadora da campanha de Ciro Nogueira, foi contratada pela petroleira estatal por um ano para fornecer cimento para poços de petróleo pelo valor de R$ 10,8 milhões. O contrato, que se encerra hoje, ainda teve um aditivo.

Como não concorreu à vaga de senador, o vice-presidente da CPI, Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), não recebeu nenhuma doação dos fornecedores da estatal. 

No entanto, a petista Marta Suplicy, hoje ministra da Cultura e eleita para o cargo, ganhou R$ 2,5 milhões das construtoras Camargo Corrêa e OAS de um total de R$ 12 milhões de contribuições na campanha de 2010.


Controle


A CPI da Petrobras no Senado foi instalada anteontem (14) e é controlada pela maioria governista. Os aliados de Dilma aprovaram convites para ouvir a atual presidente da estatal, Graça Foster, e o seu antecessor, José Sergio Gabrielli.

Também colocaram no plano de trabalho apurações com potencial para atingir adversários de Dilma na sucessão presidencial.

Crítica sobre inflação causa saia justa em evento do BC


"Como está sendo a inflação com relação à meta? Tem sido acima da meta em boa parte da amostra", afirmou economista da University College London

Daniela Amorim, Fernando Dantas e Idiana Tomazelli e Mariana Durão, do
Ueslei Marcelino/Reuters
Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos, no Senado, em Brasília
Tombini: mais cedo, ele tinha afirmado que Brasil vive há 15 anos com inflação sob controle

Rio - As previsões para a inflação no Brasil vêm trazendo sucessivamente números subestimados, segundo estudo apresentado por Wagner Gaglianone, economista do Banco Central, durante o XVI Seminário Anual de Metas para a Inflação, no Rio.

Para a economista Raffaella Giacomini, da University College London, que foi escalada pelos organizadores para comentar o estudo, uma das possíveis explicações para a sistemática subestimação seria o fato de que o país vem apresentando taxas de inflação acima do centro da meta, o que acaba criando expectativas por um arrefecimento.

De acordo com um economista de uma gestora de recursos, a explicação de Raffaella colocou o Banco Central, que organizou o seminário, numa "saia justa".

"Como está sendo a inflação com relação à meta? Tem sido acima da meta em boa parte da amostra", afirmou Raffaella. 

Segundo a economista, os analistas erroneamente acreditaram que a inflação poderia convergir para o centro da meta, mas essa prova de confiança na habilidade do BC de controlar a inflação arrefeceu após serem vistas seguidas violações da meta. 

"As previsões erradamente acreditavam que a inflação poderia ser trazida para baixo na meta", acrescentou.
Mais cedo, o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, tinha afirmado que o Brasil vive há 15 anos com a inflação sob controle.

Outra fonte do mercado financeiro explicou que, como o IPCA está há muito tempo longe do centro da meta, isso coloca sempre nas projeções de inflação um viés esperando que convirja para o centro.

"Ela fez uma crítica ao BC. Como o BC está há muito tempo com inflação fora do centro da meta, acaba colocando viés nas projeções. Não foi uma crítica direta, mas ficou esse recado", avaliou a fonte ao Broadcast.