Ricardo Moraes/Reuters
Eike Batista durante julgamento por crimes no mercado de capitais, no Rio de Janeiro
Juan Pablo Spinetto, da Bloomberg
Rio de Janeiro - Quando um promotor do Rio de Janeiro apresentou acusações criminais contra Eike Batista em meados de setembro, o ex-bilionário resolveu desabafar, quebrando um ano de silêncio público e dando algumas entrevistas.
Foi um “baque gigantesco” voltar à classe média,
disse ele ao jornal Folha de S. Paulo no dia 17 de setembro. Assim como
a estratégia comercial do empreendedor de 58 anos de idade, o tiro saiu
pela culatra de forma espetacular.
Os comentários de Eike foram recebidos com indignação e escárnio em um país onde o salário mínimo mensal é de menos de US$ 300.
Entre os que mostraram reprovação estava o juiz Flávio Roberto de
Souza, o homem que preside o julgamento contra o ex-bilionário por uma
acusação de insider trading e manipulação do mercado.
“Ele não é da classe média
brasileira porque ninguém na classe média ganha um milhão de reais (US$
380.000) por mês” como ele, disse Souza, em entrevista, no dia 9 de
outubro, em seu escritório na 3ª Vara Federal Criminal do Rio, decorado
com obras de arte budistas.
“Existe uma pressão social criada pelo réu porque ele é uma pessoa que sempre gostou de aparecer na mídia”.
A primeira audiência do julgamento está programada para começar hoje, às 14 horas, no Rio.
Se for considerado culpado, Batista poderá ser condenado a até 13 anos
de prisão, além de sofrer a ignomínia de ser o primeiro detento do
Brasil culpado por crimes no mercado de capitais.
Os advogados do empreendedor disseram várias vezes que Eike é inocente e
ontem não responderam a um e-mail enviado em busca de comentários.
Sem intimidação
O juiz Flávio Roberto de Souza, um devoto do budismo que diz ter
aprendido o idioma tibetano para participar de retiros espirituais no
Nepal e na Índia, disse que não se sente intimidado pela publicidade que
rodeia o caso.
Ele disse em uma entrevista por telefone, no dia 9 de novembro, que
espera ter um veredicto até o início de 2015, depois que novas
testemunhas forem convocadas para depor.
Embora sejam desencorajados a expressar opiniões a respeito de
julgamentos em entrevistas, os juízes do Brasil têm permissão para
discutir informações que não sejam consideradas potencialmente
prejudiciais.
O julgamento está repercutindo entre os brasileiros porque não é comum
ver um famoso homem de negócios sendo julgado por acusações de insider
trading, disse Leonardo Theon de Moraes, chefe da área corporativa e de
falência do escritório de advocacia Theon de Moraes Britto Sociedade de
Advogados, com sede em São Paulo.
Os brasileiros estão exigindo evidências de que “a lei funciona, de que
as infrações estão sendo punidas”, disse ele, por telefone. Essa
pressão “recairá principalmente sobre o juiz”.
Eike Batista está longe de ser o único alvo da indignação pública no Brasil nos últimos tempos.
Investigação de corrupção
Uma investigação sobre corrupção na Petrobras, a companhia de petróleo
estatal do Brasil, causou um alvoroço nas redes sociais e ajudou, no mês
passado, a polarizar os votos em uma eleição na qual a presidente Dilma
Rousseff conquistou mais quatro anos no cargo.
A Petrobras disse que está colaborando com as investigações e que é vítima no caso.
Os empreendimentos de petróleo e construção de navios e as principais
mineradoras de Eike Batista foram forçados a pedir proteção contra
falência depois que o acúmulo de dívidas, um déficit de caixa e a queda
da confiança dos investidores o levaram ao colapso no ano passado.
Em setembro, os escritórios do Ministério Público Federal no Rio e em
São Paulo acusaram o magnata de violar as regras ao vender ações de suas
unidades OGX e OSX em três oportunidades em 2013.
Quando abordado pela Bloomberg News na entrada de um restaurante
japonês no bairro do Botafogo, no Rio, no dia 12 de novembro, Eike
Batista disse que estava em modo de “reestruturação”.
Com a barba por fazer e vestido com um jeans azul e uma camisa de brim,
o empreendedor, que era uma celebridade quando era a pessoa mais rica
do Brasil e que sumiu dos olhos do público após o desaparecimento de seu
império monetário, preferiu não dar detalhes.
Em 2011 ele prometeu se tornar a pessoa mais rica do mundo. Em
setembro, ele disse na entrevista à Folha que tem um patrimônio líquido
negativo de US$ 1 bilhão.
Ele também disse ao jornal que nunca tinha tido nenhuma intenção de
enganar os investidores e que não usou informação privilegiada para
fazer negócios.