As investigações da
Polícia Federal na Operação Lava-Jato já levam os bancos a adotar mais
cautela no crédito a empreiteiras e fornecedores da Petrobras.
De forma geral, o maior impacto é nos contratos para recursos sem destinação definida, como capital de giro. Financiamentos para projetos específicos, cujos riscos estão limitados a essas operações, têm sido menos afetados.
Como o desfecho da operação é incerto, a postura dos bancos não é uniforme. Há desde instituições que cortaram o crédito a essas empresas até casos em que apenas têm sido exigidas mais informações para a liberação de recursos.
Segundo fontes de bancos ouvidas pelo Valor, que pediram para não ser identificadas, o crédito tende a ficar bem mais restritivo caso as empresas, e não apenas seus executivos, sejam consideradas responsáveis por atos ilícitos. Nesse caso, o financiamento a essas empresas esbarraria nas normas de conduta das instituições financeiras.
Por enquanto, a situação é mais delicada para os fornecedores da Petrobras, que dependem do fluxo de caixa oriundo dos contratos com a estatal. A petroleira tem segurado alguns pagamentos à cadeia de empresas ao seu redor, especialmente aqueles relativos a aditivos em contratos.
"Em meio à Lava-Jato, o que se percebe é que a Petrobras congelou os pagamentos aos fornecedores, e não vemos que esse quadro se reverterá tão cedo", diz um vice-presidente de um banco de médio porte. Diante disso, a instituição decidiu cortar os desembolsos aos fornecedores. Outros bancos têm seguido o mesmo caminho.
No caso das empreiteiras, os bancos passaram a analisar mais a fundo a documentação para firmar os contratos, numa tentativa de ter maior clareza sobre possíveis riscos. Em algumas operações, aumentou a exigência de garantias. "Estão todos mais cuidadosos tanto em relação a questões financeiras quanto às implicações legais. Ninguém sabe o dia de amanhã", diz um alto executivo de um banco estrangeiro.
O que ameniza a situação das construtoras investigadas pela Polícia Federal - Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, OAS, UTC, Engevix, Iesa, Mendes Júnior, Galvão Engenharia e Odebrecht - é o fato de serem consideradas boas pagadoras. Além disso, são grandes tomadoras de linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), repassadas por instituições privadas. Nessas operações, a inadimplência é baixa e as exigências são altas.
"Acendeu uma luz amarela, ficamos com mais cautela nas operações. Mas [as empreiteiras] são empresas com balanços robustos e até agora não deixamos de conceder nem reduzimos operações", afirma executivo de crédito de um banco de varejo. Ele também diz que muitas operações do banco com as envolvidas são feitas com recursos "carimbados", destinados à execução de projetos determinados, e têm o projeto como garantia. "Não costumamos dar dinheiro de caixa para essas empresas."
Uma fonte graduada de um banco nacional afirma não acreditar que a situação econômica das empreiteiras será abalada. Inclusive, segundo ele, a instituição para a qual trabalha prepara uma linha rotativa (em que os recursos só são sacados se for necessário) de R$ 3 bilhões para uma dessas empresas. "São companhias grandes e com negócios em diversas áreas", diz.
Essa também é a leitura de um vice-presidente de um banco médio. O fato de terem fontes de receitas diversificadas, com outros negócios além da construção, traz um certo conforto. "Fizemos algumas simulações dos impactos que as empreiteiras podem sofrer. A conclusão é que estão bem capitalizadas para enfrentar um período de 'vacas magras'", diz.
Por enquanto, esse banco não cortou limites de crédito para as empreiteiras. Em casos de empresas com atividades menos diversificadas, a opção foi passar a exigir mais garantias.
Nem todos os bancos, porém, veem com tranquilidade a situação das construtoras. A percepção de que a Lava-Jato apenas começou a desenrolar a ponta do novelo já fez uma instituição estrangeira cortar operações com esse segmento. "A situação vai piorar, e muito", afirma um executivo desse banco, que considera inevitáveis a reestruturação e a venda de ativos dessas companhias.
Embora tenham pouca exposição ao Brasil, alguns bancos estrangeiros têm uma dose razoável de concentração de suas carteiras na cadeia da Petrobras. Um eventual colapso dessas empresas teria impacto para eles.
Há também receio quanto ao risco fiduciário de financiar empresas que podem estar envolvidas em fraudes. Ainda há dúvidas sobre a possibilidade de a Petrobras e as empreiteiras com negócios ou valores mobiliários (como bônus) emitidos nos Estados Unidos serem punidas com base na lei americana anticorrupção no exterior.
Até agora, o caso não foi julgado e os efeitos das investigações recaem sobre executivos e não sobre as companhias. Se esse cenário mudar, aí sim a tendência é de uma restrição muito maior no financiamento às empreiteiras, afirmam fontes de bancos.
Ler mais em Investigação barra mercado de dívida para empreiteiras
De forma geral, o maior impacto é nos contratos para recursos sem destinação definida, como capital de giro. Financiamentos para projetos específicos, cujos riscos estão limitados a essas operações, têm sido menos afetados.
Como o desfecho da operação é incerto, a postura dos bancos não é uniforme. Há desde instituições que cortaram o crédito a essas empresas até casos em que apenas têm sido exigidas mais informações para a liberação de recursos.
Segundo fontes de bancos ouvidas pelo Valor, que pediram para não ser identificadas, o crédito tende a ficar bem mais restritivo caso as empresas, e não apenas seus executivos, sejam consideradas responsáveis por atos ilícitos. Nesse caso, o financiamento a essas empresas esbarraria nas normas de conduta das instituições financeiras.
Por enquanto, a situação é mais delicada para os fornecedores da Petrobras, que dependem do fluxo de caixa oriundo dos contratos com a estatal. A petroleira tem segurado alguns pagamentos à cadeia de empresas ao seu redor, especialmente aqueles relativos a aditivos em contratos.
"Em meio à Lava-Jato, o que se percebe é que a Petrobras congelou os pagamentos aos fornecedores, e não vemos que esse quadro se reverterá tão cedo", diz um vice-presidente de um banco de médio porte. Diante disso, a instituição decidiu cortar os desembolsos aos fornecedores. Outros bancos têm seguido o mesmo caminho.
No caso das empreiteiras, os bancos passaram a analisar mais a fundo a documentação para firmar os contratos, numa tentativa de ter maior clareza sobre possíveis riscos. Em algumas operações, aumentou a exigência de garantias. "Estão todos mais cuidadosos tanto em relação a questões financeiras quanto às implicações legais. Ninguém sabe o dia de amanhã", diz um alto executivo de um banco estrangeiro.
O que ameniza a situação das construtoras investigadas pela Polícia Federal - Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, OAS, UTC, Engevix, Iesa, Mendes Júnior, Galvão Engenharia e Odebrecht - é o fato de serem consideradas boas pagadoras. Além disso, são grandes tomadoras de linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), repassadas por instituições privadas. Nessas operações, a inadimplência é baixa e as exigências são altas.
"Acendeu uma luz amarela, ficamos com mais cautela nas operações. Mas [as empreiteiras] são empresas com balanços robustos e até agora não deixamos de conceder nem reduzimos operações", afirma executivo de crédito de um banco de varejo. Ele também diz que muitas operações do banco com as envolvidas são feitas com recursos "carimbados", destinados à execução de projetos determinados, e têm o projeto como garantia. "Não costumamos dar dinheiro de caixa para essas empresas."
Uma fonte graduada de um banco nacional afirma não acreditar que a situação econômica das empreiteiras será abalada. Inclusive, segundo ele, a instituição para a qual trabalha prepara uma linha rotativa (em que os recursos só são sacados se for necessário) de R$ 3 bilhões para uma dessas empresas. "São companhias grandes e com negócios em diversas áreas", diz.
Essa também é a leitura de um vice-presidente de um banco médio. O fato de terem fontes de receitas diversificadas, com outros negócios além da construção, traz um certo conforto. "Fizemos algumas simulações dos impactos que as empreiteiras podem sofrer. A conclusão é que estão bem capitalizadas para enfrentar um período de 'vacas magras'", diz.
Por enquanto, esse banco não cortou limites de crédito para as empreiteiras. Em casos de empresas com atividades menos diversificadas, a opção foi passar a exigir mais garantias.
Nem todos os bancos, porém, veem com tranquilidade a situação das construtoras. A percepção de que a Lava-Jato apenas começou a desenrolar a ponta do novelo já fez uma instituição estrangeira cortar operações com esse segmento. "A situação vai piorar, e muito", afirma um executivo desse banco, que considera inevitáveis a reestruturação e a venda de ativos dessas companhias.
Embora tenham pouca exposição ao Brasil, alguns bancos estrangeiros têm uma dose razoável de concentração de suas carteiras na cadeia da Petrobras. Um eventual colapso dessas empresas teria impacto para eles.
Há também receio quanto ao risco fiduciário de financiar empresas que podem estar envolvidas em fraudes. Ainda há dúvidas sobre a possibilidade de a Petrobras e as empreiteiras com negócios ou valores mobiliários (como bônus) emitidos nos Estados Unidos serem punidas com base na lei americana anticorrupção no exterior.
Até agora, o caso não foi julgado e os efeitos das investigações recaem sobre executivos e não sobre as companhias. Se esse cenário mudar, aí sim a tendência é de uma restrição muito maior no financiamento às empreiteiras, afirmam fontes de bancos.
Ler mais em Investigação barra mercado de dívida para empreiteiras