quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Nova legislação terá impacto na tributação de fusões e aquisições


Lei 12.973, que muda os critérios de tratamento fiscal ao ágio, deve reduzir as deduções de impostos pagos nas transações entre empresas.
Por André Boudon

Lei 12.973, que muda os critérios de tratamento fiscal ao ágio, deve reduzir as deduções de impostos pagos nas transações entre empresas.
 
A Lei 12.973, que entra em vigor em 2015, vai gerar mudanças significativas na tributação de operações de fusão e aquisição do Brasil. Especialistas da área contábil acreditam que as novas regras podem reduzir sensivelmente as deduções fiscais obtidas no pagamento de ágio nas transações entre as empresas.

Segundo a sócia-diretora da Apsis Consultoria, Ana Cristina França de Souza, a nova lei tributária tenta aproximar os critérios de valoração e amortização dos ativos à contabilidade. “Com a adoção dos padrões contábeis estabelecidos pelas Normas Internacionais de Informação Financeira (IFRS, na sigla em inglês), as empresas são obrigadas a classificar os ativos pelo critério de Valor Justo.
“Esse conceito mudou a contabilidade.

Não vale mais apenas o cálculo com base no custo histórico, e sim a valor de mercado”, explica Ana Cristina. Ela conta que os valores dos ativos e passivos agora precisam estar de acordo com o que o mercado pagaria por esses ativos, dentro do conceito de recuperabilidade. “Então, por exemplo, se uma empresa compra um ativo por US$ 1 bilhão mas se, tempos depois, sabe-se que o mercado só pagaria US$ 500 milhões por este ativo, este valor deve ser refletido na contabilidade”.

O primeiro problema a ser enfrentado diz respeito ao cálculo, pelo critério do valor Justo, dos ativos intangíveis de uma empresa, como o valor da marca, ou a carteira de clientes dessa empresa” explica ela.

Ana Cristina apresenta um estudo elaborado pela Apsis Consultoria com base em uma amostragem de 92 empresas, que juntas totalizaram R$ 32 bilhões em operações de fusões e aquisições. “Desse total, cerca de R$ 9 bilhões já estavam registrados nos balanços das companhias. Isto significa que foram pagos R$ 23 bi a título de ágio nestas transações, ou 73% do valor total. Pelo regulamento do IR antigo, este ágio poderia ser amortizado em um período mínimo de 5 anos, com um benefício fiscal total de R$ 8 bilhões para as companhias”, explica Ana Cristina.

Entretanto, a partir do ano que vem, os critérios mudam. “Na amostra anterior, foram segregados R$ 4,5 bilhões, ou 20% do ágio total pago, relacionados a ativos intangíveis identificados. Como a maior parte deste valor está atrelado à marca adquirida e tem vida útil indefinida, significa dizer que aproximadamente 20% dos ágios pagos nas aquisições não terão mais o benefício fiscal das amortizações”.

Para o coordenador do Comitê de Normas de Contabilidades do Instituto das Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Silvio Takahashi, a questão de dedutibilidade do ágio é muito sensível, e foi alvo de intensa discussão entre os principais órgãos e empresas de auditoria e contabilidade do país. “O investidor tinha a certeza da dedutibilidade fiscal integral do ágio. Isso dava uma vantagem bastante grande na hora de fechar uma transação”, conta.
 
Fonte: Jornal Brasil Econômico-08/10/2014

Base afasta obstrução e Congresso vota vetos


Gabriela Korossy/Agência Câmara
Sessão no Congresso para votar proposta que muda superávit
Congresso: a análise desses dispositivos é pré-requisito para que entre na pauta de votação desta tarde o projeto de LDO
 
Ricardo Della Coletta, do Estadão Conteúdo
Daiene Cardoso e Daniel Carvalho, do Estadão Conteúdo

Brasília - A base aliada venceu a primeira manobra de obstrução encampada pela oposição e, após aprovar um requerimento, conseguiu fazer com que fosse iniciado o processo de votação de dois vetos presidenciais, no Plenário do Congresso Nacional.

A análise desses dispositivos é pré-requisito para que entre na pauta de votação desta tarde o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias que permite abatimentos no cálculo do superávit primário.

Diante de um déficit fiscal acumulado e na impossibilidade de cumprir a meta mínima prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) em vigor, de R$ 49 bilhões, o Palácio do Planalto encaminhou uma proposta ao Legislativo que permite que todos os gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as desonerações tributárias sejam abatidos do cálculo desse piso.

Na prática, a medida abre brecha para que a meta seja dada como atingida mesmo em caso de um resultado negativo, razão pela qual a oposição tem acusado a presidente Dilma Rousseff de pedir uma "anistia" para evitar uma eventual responsabilização pelo descumprimento da LDO vigente.

Queixando-se da determinação do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), de não abrir as galerias para o público, e acusando Dilma de "chantagear" os parlamentares ao editar um decreto vinculando a liberação de R$ 444 milhões em emendas à aprovação da flexibilização da meta, a oposição entrou em obstrução para tentar impedir o prosseguimento da sessão.

Assim como fizeram na semana passada, deputados e senadores do PSDB e do DEM reclamaram que Calheiros está "atropelando" as regras regimentais para garantir a votação. "Quer ganhar, ganhe dentro das regras do jogo", disse o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

A intenção inicial do governo era liquidar a fatura na sessão do Congresso Nacional de ontem à noite. Uma confusão generalizada entre manifestantes, seguranças do Senado e parlamentares da oposição, no entanto, fez com que a reunião fosse suspensa e retomada nesta manhã.

Isso desencadeou uma saraivada de queixas mútuas: a base aliada afirmou que se tratava de uma claque paga para tumultuar a sessão e os adversários do Palácio do Planalto disseram que o PT e o governo querem impedir que a população acompanhe o debate.

Nesta manhã, o líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), chegou a acusar o senador Aécio Neves (PSDB-MG) de também ter impedido a entrada de manifestantes nas galerias do plenário quando o tucano chefiou a Casa, entre 2001 e 2002.

O senador rebateu e disse que Fontana estava tentando "justificar o injustificável" e que, na ocasião, ocorreram reuniões ao longo de todo o dia para tentar liberar o espaço para o público.

Hoje, com a oposição usando de artifícios regimentais para tentar barrar a apreciação do projeto que muda as regras fiscais, a base conseguiu aprovar um requerimento que colocou os dois vetos em votação. Após o encerramento do processo, as cédulas irão para apuração e só depois que o resultado for proclamado o projeto da LDO poderá ser analisado.

Vende-se império



Germano Lüders/EXAME
Jairo Quartiero, da Camil
Jairo Quartiero, da Camil: 2 milhões de toneladas de arroz por ano — 10 quilos para cada brasileiro
 
 
 
São Paulo - Ao longo de cinco décadas, a família gaúcha Quartiero construiu, a partir da cidade de Itaqui, a 635 quilômetros de Porto Alegre, um império do arroz com feijão. Sua empresa, a Camil, tem 23 fábricas no Brasil, na Argentina, no Chile, no Peru e no Uruguai. Ela processa 2 milhões de toneladas de arroz por ano — o suficiente para cada brasileiro comer 10 quilos.

Em 2013, a Camil faturou 3,6 bilhões de reais. A investida da família começou quando Jairo Quartiero abandonou, na década de 60, o seminário para ajudar o pai, Mabelino, a pagar as contas da casa após um incêndio que devastou o pequeno engenho da família. Jairo passou a transportar arroz de uma cooperativa no Sul para São Paulo.

Acabou dono da cooperativa, que nos anos 80 se transformaria na Camil. Em 2007, a família decidiu que não bastava ser a maior processadora de arroz do país. De lá para cá, começou a pôr em prática um plano ainda mais ousado — fazer da Camil uma gigante do setor de alimentos.

Por um lado, a empreitada deu muito certo. Somente nos últimos três anos, a empresa quase triplicou de tamanho. Mas, por outro, acabou dando origem a uma série de desafios que, paradoxalmente, podem acabar tirando a empresa das mãos da família que a criou. 

Em meados de setembro, a Camil contratou o banco de investimento BTG Pactual para procurar um comprador para a companhia. O que explica essa decisão? Em resumo, a Camil paga o preço de ter crescido demais em pouco tempo. Desde 2007, a companhia comprou 13 empresas na América Latina.

Passou a investir também em novos negócios. Em 2011, adquiriu a processadora de pescados catarinense Fempe, dona das marcas Pescador e Alcyon, e a Coqueiro, que pertencia à americana Pepsico.

No ano seguinte, pagou 345 milhões de reais pelas marcas de açúcar União e Da Barra, do grupo Cosan. Em agosto de 2013, ampliou sua presença no exterior com a aquisição da produtora de arroz argentina Loma Alimentos.

O capítulo mais recente dessa onda de aquisições ocorreu em setembro, quando assinou um contrato para comprar a companhia peruana de alimentos Romero Trading por cerca de 70 milhões de reais. Para financiar toda essa expansão, no fim de 2011 a família vendeu 31,7% das ações para a gestora Gávea, hoje controlada pelo banco americano JP Morgan.

O plano dos sócios era ganhar corpo para abrir o capital na bolsa. Assim, o Gávea venderia suas ações, e uma Camil anabolizada seguiria na mão dos Quartiero. O problema é que a tentativa de abertura do capital deu errado. O custo das dívidas assumidas pela empresa foi crescendo e passou a prejudicar o desempenho operacional. 

A decisão de vender o negócio foi um consenso entre os acionistas da companhia. Pelo projeto inicial, o Gávea teria de ficar pelo menos três anos no negócio — período que terminou em outubro. Como o mercado continua difícil para aberturas de capital, o plano de ir à bolsa foi abortado.

Diante das dificuldades, o Gávea avisou à família que iria à caça de um comprador para suas ações. A decisão deixou os Quartiero em uma situação delicada. Valia a pena ficar no negócio ou era melhor aproveitar a deixa e também vender sua parte? Pesou na decisão de vender o fato de os executivos do Gávea argumentarem que, com os dois acionistas vendendo 100% do negócio, a empresa poderia valer mais.

Os Quartiero acabaram concordando em também tentar vender sua fatia. Os sócios esperam receber cerca de 5 bilhões de reais por 100% da companhia. Procurados, a Camil e o Gávea não comentaram. 

O projeto dos Quartiero de diversificar a operação da Camil fazia todo o sentido no papel. O mercado de arroz e feijão está em queda gradativa no Brasil. Com o aumento da renda nas últimas décadas, os brasileiros estão trocando o arroz com feijão por carnes, massas, sanduíches. Em 1980, cada brasileiro comia 48 quilos de arroz por ano. Em 2014, a média caiu para 38 quilos.

O consumo de feijão diminuiu 15% nesse período. “É um mercado que não deve crescer e que vai continuar com margens apertadas”, diz Carlos Cogo, consultor especialista no mercado de arroz.

Para continuar a crescer, a Camil deveria comprar concorrentes menores ou investir em novos setores. A lógica dos últimos investimentos foi passar a operar com produtos que chegam aos supermercados no mesmo caminhão que já leva arroz e feijão. 

Mas, com tantas aquisições, a Camil acabou se desarrumando. Recentemente, contratou a consultoria Integration para rever sua estratégia comercial. Executivos reclamam que, de um ano para o outro, tiveram de vender ao mesmo tempo arroz, pescado e açúcar. “Não há um planejamento de vendas nem precificação dos alimentos”, diz um executivo da empresa.

A maior deficiência da Camil é sua área de pescados. A Coqueiro, comprada em 2011, veio sem equipe comercial, que ficou toda com a antiga dona, a Pepsico. Tradicional líder na venda de sardinhas, a empresa perdeu o posto para a Gomes da Costa — hoje, a Coqueiro tem 31,7% do mercado total de pescados.

Enquanto tenta entender o novo mercado, a Camil atrasou inovações que já estavam planejadas. As latas da Coqueiro não têm a tecnologia “abre fácil”, aquela que dispensa abridor. A ideia era resolver o problema em um ano, mas até agora nada. “Eles acharam que seria mais fácil vender peixe. Mas quem gostou do negócio, por enquanto, foram os concorrentes”, diz um executivo rival.

Para piorar, as aquisições estão pesando no balanço. A dívida aumentou de 340 milhões de reais no ano fiscal que terminou em 2011 para 1 bilhão de reais no último ano fiscal, que encerrou em 2014. As despesas financeiras aumentaram 49% no último balanço ­anual — e chegaram a 185 milhões de reais.

O lucro caiu 9% e equivale, hoje, a dois terços das despesas com pagamento de dívidas. Diante disso, a Camil está perto do teto de endividamento, estipulado pelos acionistas em três vezes a geração de caixa — está em 2,7. 

Para executivos que acompanham de perto o setor, não vai ser fácil encontrar interessados em pagar 5 bilhões de reais pela Camil. Os candidatos naturais são os fundos soberanos e gigantes do setor de commodities agrícolas, como ADM, Bunge, Cargill e Noble.

Mas, segundo EXAME apurou, entre essas empresas existe certa desconfiança em torno do futuro do mercado de arroz, que não é tão rentável quanto outros produtos, como soja e milho. Alguns grupos estão interessados na divisão de açúcar, outros na divisão de pescados, mas os controladores não querem fatiar a empresa. O leilão do império brasileiro de arroz deve durar até o início de 2015.

Projeto de Lei que visa isenção de impostos na importação de materiais fotovoltaicos é aprovado pela CAE







O projeto de Lei criado pelo senador Ataídes Oliveira, que isenta os equipamentos e componentes para geração de energia solar do Imposto sobre Importação, foi aprovado nessa terça-feira, 25 de novembro, pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

O incentivo fiscal para a geração de energia solar foi aprovado em decisão terminativa, o que significa que a proposta será encaminhada diretamente à Câmara de Deputados, caso não haja votação em plenário. De acordo com Oliveira, o intuito do projeto é além de aumentar a demanda de energia solar no país, também ressaltar as tecnologias fotovoltaicas brasileiras que até o momento são pouco conhecidas e utilizadas.

Segundo Oliveira a energia elétrica produzida por usinas hidrelétricas no país vem perdendo espaço na matriz energética e consequentemente a energia produzida de termoelétrica está sendo mais utilizada do que o ideal, ocasionando assim um aumento real da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.
Estudos realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que o Brasil tem grande potencial de aproveitamento energético para geração de energia solar.

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estão previstos a construção de 31 empreendimentos de energia solar no país, gerando uma capacidade instalada total de 889,6 MW.

Fonte: Portal Brasileiro de Energia Solar

Entrevista Jorge Paulo Lemann #TerçasdeNegócios


(FILE) Jorge Paulo LemannPensando em negócios, nada melhor para aprender do que ouvir aqueles que deram certo, não é mesmo?
Uma entrevista com Jorge Paulo Lemann nos demonstra vários pontos úteis para a nossa reflexão e crescimento.

“Não gosto de dar palestra. Para velho não dou palestra, porque não adianta muito.” A frase dá uma boa pista sobre a aversão a aparições pela qual é conhecido Jorge Paulo Lemann, o brasileiro mais rico do mundo, dono de uma fortuna de R$ 52 bilhões, segundo a Forbes. Mas em maio o empresário abriu uma exceção e participou de uma aula magna para alunos da Escola de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio. Foi até lá, disse, para tentar inspirar os jovens a “fazer acontecer”.

Lemann contou sua trajetória, desde o início, no esporte, passando pela criação do Banco Garantia, pela aquisição das Lojas Americanas e a compra da Brahma, que viria a se tornar o conglomerado AB InBev, atual maior grupo cervejeiro do mundo, e a criação da 3G Capital, que controla o Burger King — e na última semana adquiriu a rede de cafés canadense Tim Hortons. Tudo para exemplificar os cinco pontos que considera mais importantes na construção de um negócio ou carreira: risco, foco, sonho, gente e eficiência. Veja os destaques da aula:

RISCO É PARA SER TOMADO

“Não sou professor, não sou intelectual, não tenho muitas teorias complicadas. Deveria falar sobre coisas que eu aprendi, que são muito importantes na vida econômica, mas que não são muito discutidas nas escolas. A primeira é risco. Eu considero o risco uma parte importante da vida, não só na vida comercial, mas em geral. Tudo tem risco e as pessoas têm que tomá-lo. E tenho notado que, quanto mais a pessoa estuda, menos risco ela quer tomar. Quer transformar risco em formuletas matemáticas e acaba não tomando a decisão. A única maneira de aprender é ir treinando aos poucos. Quem não se arrisca não faz nada, e quem faz tudo igual aos outros ficará igual aos outros, o que, em geral, é medíocre. Acho que todo mundo tem que tentar ser excepcional e fazer algo especial e diferente.”
COM O NOME RUIM NA PRAÇA
“No meu caso, primeiro comecei trabalhando numa financeira com várias outras pessoas bem formadas. Nós nos achávamos o máximo, e a financeira foi à falência… Em 66, com 26 anos, tinha perdido tudo, meu nome estava ruim na praça, mas ainda tinha ofertas pra trabalhar em empresas grandes e optei por ficar no mercado financeiro. Não quis trabalhar num banco grande. Optei por correr risco e fiquei no mercado financeiro porque ainda achava que dava para arriscar, e que minha carreira seria mais rápida se eu ficasse numa empresa menor do que se eu fosse trabalhar num negócio muito grande.”

COM PENA DA GERAÇÃO ATUAL

“O segundo ponto está no foco. Hoje em dia tem muita informação circulando por aí. Neste mundo de internet, é informação pra tudo quanto é lado. Na minha época, era mais fácil, não tinha tanta informação. As opções eram muito menores das que existem atualmente, então eu fico com pena de vocês, porque tem tanta oportunidade, tanta coisa… Está tudo mudando tão rapidamente, que eu acho o foco algo essencial. Esse negócio de ficar fazendo um pouquinho disso, um pouquinho daquilo, não dá certo. Tem que escolher em que você vai focar e ir em frente.”

OS FANÁTICOS POR FOCO

“Todas as pessoas que eu conheci de grande sucesso sempre foram fanáticos por foco. O Sam Walton, que construiu o Walmart, só pensava em loja dia e noite. O próprio Warren Buffett, que hoje é meu sócio, é um sujeito super focado naquela formuleta. Ele faz negócios diferentes, mas sempre dentro da mesma fórmula e é aí que dá certo.”

O MELHOR TENISTA DO MUNDO

“A terceira coisa importante é ter um sonho grande, tem que ter meta puxada. Isso é extremamente importante, e vocês vão querer atrair outras pessoas pra trabalharem com vocês. As pessoas gostam de vir quando há um sonho maior. Eu sempre tive sonho, queria ser o melhor tenista do mundo, depois a melhor corretora, depois o melhor banco de investimentos, depois a melhor cervejaria do Brasil, depois a maior do mundo e por aí afora. Em alguns você chega lá, outros não, mas, nessa caminhada, você sempre vai se tornar uma pessoa melhor.”

MIL ENTREVISTAS POR ANO

“A quarta coisa que eu descobri lá em 1971, quando fiz o Banco Garantia, é a importância de gente, gente boa trabalhando com você. Tinha pouco capital, não tinha nome, então tinha que descobrir alguma maneira de ser competitivo no mercado financeiro. Decidi que atrairia as melhores pessoas possíveis para se juntarem a mim. Conseguimos atrair pessoas excepcionais e gastávamos um tempo enorme em procurar gente boa. Quando o Garantia era pequeno, com 30/40 pessoas, entrevistávamos mil pessoas ao ano, procurando as que realmente seriam excepcionais.”

EFICIÊNCIA EM QUALQUER LUGAR

“O quinto ponto é eficiência. Nosso espírito é que tudo pode melhorar ou ser feito melhor, em qualquer lugar para onde você olhe tem coisa para melhorar. E eficiência poupa tempo e dinheiro.”

AMBEV x PETROBRAS

“Na realidade, empresas como Petrobras e Vale são muito maiores do que a Brahma, mas a Brahma vale mais do que elas no mercado (dados de maio, já que na última quinta, a estatal valia mais que a Ambev) basicamente por causa dessa formuleta que eu contei: ter gente boa, um sonho grande, ser eficiente e ter disposição pra tomar risco.”

APOSENTADORIA? NEM PENSAR

“Não conheço nada melhor que estar tentando chegar lá e fazer alguma coisa bem. Me perguntam: ‘vai fazer 75 anos e vai parar?’ (o aniversário foi este mês). A última coisa que quero é parar, estou a fim de ficar tentando fazer.”


Não adianta, não é mesmo? Sem foco, gestão, dedicação e muito trabalho não há fórmula que dê certo.
Muitos tentam caminhos fáceis, mas o resultado está diante do risco que queremos correr e de nossa inteligência e estratégia para desenvolvermos o melhor em cada atitude nossa.
#Ficaadica
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Artigo escrito por Gustavo Rocha
GustavoRocha.com – Gestão e Tecnologia Estratégicas

Santa Catarina é o segundo estado mais competitivo do Brasil para o agronegócio


O estado se destacou na infraestrutura, em razão dos portos, e na educação por causa da alta taxa de aprovação e baixo abandono nas escolas rurais

Da Redação, com Agência Brasil


21-pier-de-itajaiSão Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal são as unidades da Federação mais competitivas para o agronegócio, revelou levantamento divulgado nesta terça-feira (2) pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Pela primeira vez, a entidade apresentou um ranking estadual para medir o ambiente de negócios dos produtores rurais. Chamado de Índice de Competitividade do Agronegócio, o indicador varia de 0 (menos competitivo) a 1 (mais competitivo) e baseia-se em seis quesitos: infraestrutura, educação, saúde, ambiente macroeconômico, inovação e mercado de trabalho. A nota final baseia-se na média aritmética dos seis indicadores.

Com nota 0,752, São Paulo destacou-se por causa da infraestrutura, com rodovias em bom estado e o maior porto da América Latina, em Santos. “São Paulo ficou entre os primeiros lugares na maioria das áreas analisadas, mas o estado ficou muito à frente dos demais na nota de infraestrutura”, explicou o coordenador do estudo, Marcelo de Ávila. São Paulo também liderou o ranking de ambiente macroeconômico. Maior produtor de soja e de milho do país, Mato Grosso ficou em décimo lugar, com nota 0,425. De acordo com Ávila, o estado foi prejudicado justamente pela carência de infraestrutura. “Mato Grosso ocupou o primeiro lugar na produtividade agrícola e o segundo em ambiente macroeconômico, mas perde competitividade à medida que a produção é escoada para fora do estado”, disse Ávila.

Com nota 0,611, Santa Catarina conquistou o segundo lugar por causa da infraestrutura e da educação. Na infraestrutura, o estado destacou-se por causa dos quatro portos marítimos: Itajaí (foto acima), Navegantes, São Francisco do Sul e Imbituba. O estado ficou em primeiro lugar no quesito educação, que mediu a taxa de aprovação e de abandono nas escolas rurais, o analfabetismo rural e a distorção entre idade e série escolar na população rural.

Apesar de notas intermediárias no ranking de infraestrutura, de educação e de ambiente macroeconômico, o Distrito Federal conquistou o terceiro lugar, com nota 0,608, por ter conquistado a liderança em inovação e saúde. O coordenador do estudo explicou, no entanto, que a população pequena em relação a outras unidades da Federação beneficiou o Distrito Federal no quesito inovação, na hora de dividirem o valor investido em bolsas de estudo e o número de patentes pelo número de habitantes.

Segundo Ávila, o estudo levou em conta apenas dados oficiais de 2011, último ano em que os indicadores para as seis áreas pesquisadas estavam disponíveis. A CNA pretende atualizar o índice de competitividade do agronegócio a cada ano. Dessa forma, o indicador de 2015 será baseado em números oficiais de 2012. Uma defasagem, portanto, de três anos.

Na ponta oposta, Alagoas (0,229), Sergipe (0,225) e Amapá (0,207) ocupam os últimos lugares da lista. “O índice de competitividade por estados é importante porque possibilita o desenho de políticas públicas. O conhecimento das vantagens e dos problemas em cada estado permite que a CNA consiga sugerir iniciativas para melhorar a competitividade do agronegócio”, explicou o coordenador do estudo.

A CNA também divulgou, pela primeira vez, um índice da qualidade das moradias rurais em todo o país. São Paulo (nota 0,814), Distrito Federal (0,804) e Santa Catarina (0,771) lideraram o ranking. As piores notas ficaram com Amapá (0,548), Acre (0,502) e Amazonas (0,496). O indicador levou em conta o material usado na construção do domicílio, o acesso a serviços públicos – água encanada, coleta de lixo, energia elétrica e esgoto – e a presença de 12 bens essenciais, como telefone, fogão, geladeira e filtro de água.

Um certo Mr. Elbling



Inquieto e inventivo, ele era quase cinquentão quando cruzou o Atlântico para criar o Grupo Digicon e fazer no sul o primeiro caixa eletrônico

Por Eugênio Esber


1-a-imagem-home1Fechei os olhos algumas vezes e disse... Pááá! Como tudo em minha vida é uma série de sôrte!” 
 
“Sorte, apenas?”, questiona o repórter, ao final de dois encontros com Joseph Elbling, o canadense que girou pelo mundo até dar um basta na vida executiva e vir empreender no sul do Brasil, em meados dos anos 1970. Joseph, ou Joe (para os amigos), ou ainda o “Senhor Elbling”, como é tratado pelos filhos, faz uma pausa. E responde citando Michael Bloomberg, que numa entrevista recente foi instado a indicar atributos para o êxito. “Senhor Bloomberg disse que é importante ter três coisas: estudar muito uma coisa, aquilo que os italianos chamam de mestiere; não se poupar de trabalho, trabalhar todo dia, todo dia, todo dia, pum-pum-pum (dá três pancadinhas na mesa); e finalmente ter sorte”, diz Joseph, para em seguida completar. “E eu teve muita sorte.”

Teve, sem dúvida. Afinal, Joseph Elbling se safou de seis cirurgias delicadas desde que enfrentou seu primeiro câncer. Aplica-se insulina todo dia para controlar o diabetes. E ainda assim, aos 87 anos, tem disposição para nadar um quilômetro todas as manhãs, nas águas cálidas de Aruba, pedaço de paraíso no Caribe, onde foi morar com a esposa depois de convencido pelos médicos e familiares de que precisava mudar de rotina. Não poderia manter o ritmo trepidante de toda uma vida voltada para o trabalho e especialmente para o desafio de unir mecânica e eletrônica – obsessão que talvez seja a explicação mais evidente para sua sorte. Ou para o que os italianos chamam de mestiere.

De um banheiro feminino e mais algumas poucas peças que alugou na fábrica da alemã Wotan Máquinas Operatrizes, em Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre, Joseph lançou as bases do Grupo Digicon, fundado em 1977, que hoje tem entre seus clientes os grandes bancos brasileiros, além de fornecer componentes com qualidade e precisão à altura das exigências da Embraer e da Nasa. Seus dois filhos tocam os negócios. Peter, o Píder, como diz Joseph, comanda a Digicon, que dá nome ao grupo e fabrica uma linha diversificada de produtos – sistemas semafóricos, catracas eletrônicas, parquímetros, componentes para aviação, etc. Thomas, o Tom, toca a empresa caçula, Perto S/A, fundada em 1986 e hoje o carro-chefe dos negócios do grupo. Especializada em ATMs (máquinas para sacar dinheiro), a Perto faturou em 2013 R$ 241 milhões (80% da receita do grupo).

Apaixonado pelo universo das máquinas, Joseph tem em sua casa, em Aruba, um torno, uma fresa e alguns outros equipamentos que utilizou, 37 anos atrás, para dar partida na Digicon. Ali, naquele canto que é um misto de memorial e de oficina, ele se refugia algumas horas por dia para “brincar um pouco”. Nada que surpreenda quem conhece sua biografia. Quando, a pedido do repórter, começa a puxar da memória as suas andanças como executivo por Inglaterra, Itália, Canadá e Estados Unidos, empolga-se com passagens que têm a ver com a aventura do conhecimento aplicado a engrenagens, mecanismos e comandos computadorizados. “Na Inglaterra, que trabalho fantástico era”, deslumbra-se, ao se transportar para meados dos anos 1950. Ele estava na BTH, e perdia a noção das horas para sugar o que podia da experiência dos profissionais da companhia onde, durante a II Guerra, foram testados os primeiros motores dos aviões a jato. “Na BTH, eles deixavam a fábrica aberta todo o tempo, e os engenheiros podiam entrar a qualquer hora do dia ou da noite. Podiam usar todas as facilidades da fábrica, podiam fazer o que queriam, à meia-noite, à uma da madrugada”, relembra Joseph, descrevendo o que, na sua expressão de nostalgia, parece ter sido uma autêntica Disneylândia para engenheiros jovens e inquietos como ele, então com 27 anos.

“Eu não me interessava dinheiro nem um pouco, you know?”, conta Joseph, ao rememorar como foi parar na BTH. Era início dos anos 1950, e ele estava no Brasil trabalhando para a Light, no Rio de Janeiro. Viera da Westinghouse americana, que fornecia geradores para a Light. Gostou do país e especialmente do Rio, onde conheceu Maria Jacqueline, a filha de um respeitado egiptólogo, Alberto Childe. “Eu encontrei ela e alguma coisa imediatamente deu certo”, relembra, com um sorriso embaraçado. Casou, cumpriu os três anos acertados com a Light, mas bem antes do término do contrato, em 1955, já estava com a cabeça no hemisfério norte. Havia lido sobre a descoberta do transístor, que aposentaria as velhas válvulas. “Isso vai mudar o mundo”, apostou. Logo depois, veio a notícia de que no MIT fora construída uma máquina operatriz comandada por computador. “Pááá, eu pensei, isso é para mim.”

Saiu então pela Europa e América do Norte à procura de oportunidade em uma indústria de vanguarda que estivesse utilizando transístores no chão de fábrica. Foi chamado para quatro entrevistas. Em todas, foi recusado por não pertencer ao mundo da eletrônica. “Diziam: você gastou quatro anos da sua vida fazendo grandes geradores... Agora, você não serve!”, conta, parecendo se divertir com a peripécia. Surgiu, então, a entrevista na BTH, em Londres. Era mais uma chance de ingressar no mundo da automação. O recrutador perguntou quanto ele ganhava lá no Brasil. Quando soube, foi seco: “Para engenheiros como você nós pagamos metade disso.” Joseph foi mais direto ainda: “Aceito.”

Aproveitou bem o ambiente de excelência técnica da BTH, mas percebeu que não havia ali a uma pegada comercial suficiente para transformar aquelas soluções em um business. “Comercialmente, eles não eram frente do mundo”, recorda Joseph. Outra vez, sentiu que a cabeça já não estava mais onde ele pisava. Um amigo que havia trabalhado para a Olivetti, o poderoso e diversificado conglomerado industrial italiano que ficou famoso em todo o mundo pelas máquinas de escrever e de calcular, fez a ponte para que Joseph chegasse até o capo da companhia, Roberto Olivetti, em Milão. O emprego, tão sonhado por qualquer jovem engenheiro, estava na mão. Mas então Joseph resolveu apostar alto nas suas convicções e propôs uma condição, correndo o risco de colocar tudo a perder. “Eu disse: Aceito, senhor Olivetti, mas eu queria trabalhar é no controle de máquinas operatrizes, que vocês não estão fazendo Queria lhe mostrar que controlar máquinas vai ser muito, muito importante. Eu asseguro que um dia a diferença entre o escritório e a oficina vai ficar menor, porque se vai poder programar tudo. O senhor me deixa fazer isso aqui? Depois de três anos, o senhor decide. Se o senhor decide que isso não ser bom para Olivetti, eu trabalho mais três anos para o senhor, fazendo outra coisa aqui em Milão.”

Uma oferta improvável, em um lugar igualmente improvável – eles não estavam na sala do líder da Olivetti, e sim em um bar. “E então?”, indaga o repórter. “Enton nós bebemos um campari com soda”, responde, rindo à solta, como poucas vezes fez durante a entrevista. O ok do “Senhor Olivetti” descortinou para Joseph o melhor dos mundos: carta branca para introduzir a Olivetti no ramo da fabricação de máquinas operatrizes, contando com os recursos de engenharia, projetistas e uma ferramentaria que deslumbrariam o fundador do grupo Digicon. “Fantástico, you know, uma companhia avançada, fantástica”, rememora, olhar de garoto em parque de diversões. O período na Itália reconectaria Joseph com o Brasil – mas isso só ficaria claro para ele anos mais tarde. O fato é que passou mais de dez anos na Olivetti e de lá só saiu, em 1969, atrás, novamente, de conhecimento. Não para ele, mas para os dois garotos. Queria proporcionar a Peter e a Tom – já fluentes em italiano – uma formação em escolas norte-americanas. E novamente fez as malas para morar nos arredores de Nova Iorque e trabalhar na empresa de Clair Farrand, um virtuose que nos anos 1920 havia chefiado laboratórios da Warner Brothers e que, antes de completar 20 anos de idade, ganhara seu primeiro milhão de dólares ao inventar o primeiro alto-falante com bobina móvel. “Wow, 1 milhão de dólares”, admira-se Joseph. “Ele era muito bom. Registrou em seu nome 250 patentes fortíssimas. Nós nos demos muito bem.”

Deram-se tão bem que Farrand não só aceitou como se dispôs a apoiar a decisão que Joseph iria tomar alguns anos depois. Seja pela esposa carioca, ou pela saudade do país que conhecera no início da carreira, Joseph mirava a luneta para o Brasil. As notícias de que o governo militar fazia uma aposta na capacitação tecnológica da indústria brasileira o atraíram. Já beirava os 50 anos, e sentia o desejo de ser dono do próprio negócio. O que faria, exatamente, não estava claro. Mas onde, sim. “Como posso te ajudar?”, prontificou-se Farrand, disposto a abrir a carteira para investir no que quer que Joseph fosse fazer no Brasil. Dinheiro era o menor dos problemas para Joseph, porque, a exemplo de Farrand, outros amigos que ele havia feito na carreira executiva queriam entrar de sócios. Apostavam, meio às cegas, no negócio que “Joe” tocaria no tal país do futuro, no outro lado do oceano. A um executivo italiano da Fiat, que queria assinar um cheque mais alto, Joseph agradeceu, mas pediu menos. “Eu não precisava de muito cash. Eu tinha andado pelos Estados Unidos olhando leilões de empresas falidas. Comprei torno, comprei fresa, a preço muito bom. Foram dois contêineres que descarreguei aqui no Brasil”, sorri Joseph. Havia outra razão para levantar menos capital: como era seu primeiro negócio, queria estar no controle.

No Brasil, fez muitos contatos, especialmente com setores do governo que poderiam dar incentivos para projetos vinculados a indústria de base tecnológica. Mas o apoio decisivo para formar o Grupo Digicon ele não buscou. Simplesmente lhe caiu no colo. Ou no ouvido. Estava em Nova Iorque quando recebeu uma ligação surpreendente. Era o presidente da alemã Wotan, o primeiro grande cliente que ele havia conquistado quando saiu pela Europa a vender as máquinas operatrizes que começou a desenvolver na Fiat. A Wotan decidira instalar no Brasil, na cidade de Gravataí (RS), um centro de produção de máquinas operatrizes. E como também perambulava pelos gabinetes palacianos em busca de incentivos, o chefão da Wotan soube, por acaso, que um certo canadense estava garimpando oportunidades para se instalar no Brasil. Quando soube que era Joseph, ligou para o amigo e fez uma proposta: que construísse seu negócio junto à planta da Wotan, no sul. “Nos ofereceu um contrato para fornecer armários elétricos para a Wotan por mais de dois anos”, lembra. “Então era uma situação, you know, muito boa. Começamos com dinheiro, com área física e com pedidos em mom”, diverte-se. O próprio presidente da Wotan acabaria desembolsando algum dinheiro para compor o capital inicial da firma de Joseph.

Como é comum em empresas familiares, a Digicon prosperou ao estilo personalíssimo do seu fundador. A linha diversificada de produtos, por exemplo, vem da postura inquieta e criativa de Joseph, na opinião de um ex-funcionário da companhia e hoje presidente da Altus Automação, Luiz Gerbase. “A lembrança que tenho do Joseph é a daquele cara que não para nunca, que está sempre vislumbrando novas possibilidades. Para você ter uma ideia, os olhos dele faziam assim, ó...”, descreve Gerbase, movendo as pupilas em várias direções. “Outra característica era a liderança”, sublinha Gerbase. “De um jeito simpático, ele, com aquela inquietude criativa, e com uma grande visão de mercado, juntava talentos complementares e vendia suas ideias. Desafiava o pessoal a empreender. Perguntava: como é que faz? Como é que faz? Como é que resolve?” Gerbase situa Joseph no restrito grupo de visionários da indústria brasileira. “Ele trazia uma base técnica excelente. Chegou ao Brasil determinado a juntar a mecânica fina com a eletrônica. Não veio para cá fazer TV ou radinho de pilha”, diz. Ex-executivo, com passagens por multinacionais como a Carrier, o consultor de empresas Paulo Vellinho acentua um outro traço em Joseph. Trata-se de um verticalista convicto, define. “Para produzir com qualidade ele usa componentes de alta precisão que são todos feitos em casa. A verticalização é tal que os itens adquiridos no mercado são poucos – são só aqueles que não justifica produzir na própria fábrica, como chapas de aço e tintas”, exemplifica Vellinho. Em linha com Gerbase, destaca a ousadia de Joseph. “Ele sempre procurou produzir equipamentos com tecnologia de ponta, jamais focou no trivial”, elogia.

Pode parecer um depoimento com peso relativo. Afinal, aos 87 anos, mesma idade de Joseph, Vellinho construiu uma longa relação com o fundador do Grupo Digicon.
Mas um recuo até o início dos anos 1980 mostra que a convicção de Vellinho é antiga, e que, por ela, arriscou o pescoço. Ele era diretor, no Brasil, da britânica Thomas de La Rue, referência mundial em impressão de papel-moeda. Os ingleses, que haviam fabricado o primeiro caixa eletrônico do mundo, queriam produzir os equipamentos no Brasil e Vellinho estava incumbido de encontrar um fabricante nacional para licenciar o uso da tecnologia. Procurou grandes bancos. Ouviu um não, obrigado. Os executivos dos bancos se perguntavam que instituição financeira investiria US$ 30 mil por um equipamento que entregaria dinheiro aos correntistas, quando tudo poderia continuar perfeitamente como estava – o cliente indo ao banco fazer seu saque diretamente no caixa, sendo atendido por um funcionário de salário modesto. Inviável fazer esses equipamentos no Brasil, concluíram. Vellinho, então, resolveu ligar para Joseph:
- Você está interessado em licenciar a tecnologia da Thomas de La Rue para fabricar cash dispenser no Brasil?
- Mas eu nem sei o que é isso, devolveu Joseph.
- Venha ao Rio e nós vamos mostrar a você, insistiu Vellinho.

O que se passou, desde então, é uma longa história. Mas, em resumo, o negócio que a grande banca não quis explodiu no mundo e particularmente no Brasil, hoje o terceiro país com maior volume de ATMs, nome das máquinas que entregam dinheiro nos caixas eletrônicos. E a Perto, subsidiária criada por Joseph para se dedicar à fabricação desses equipamentos, se tornou a unidade de maior faturamento do Grupo Digicon.

Sujeito de “sôrte” este Joseph.