São Paulo – O Brasil ficou na 56ª posição entre 61 países na edição 2015 do ranking de
competitividade do IMD, escola suíça de negócios.
É nossa pior colocação desde 1989, primeiro ano do ranking. O Brasil
perdeu 18 posições desde 2010, último ano com ganhos relativos.
A nota até melhorou um pouco em 2015, mas outros países subiram mais. Veja a evolução:
Ano |
Índice |
Posição |
2009 |
56,865 |
40º |
2010 |
56,531 |
38º |
2011 |
61,043 |
44º |
2012 |
56,524 |
46º |
2013 |
53,222 |
51º |
2014 |
46,778 |
54º |
2015 |
47,930 |
56º |
O Brasil foi superado por Bulgária (que foi da 56ª para a 55ª posição) e
Eslovênia (da 55ª para a 49ª), ficando atrás apenas de Mongólia,
Croácia, Argentina, Ucrânia e Venezuela.
O ranking é liderado por Estados Unidos, Hong Kong, Singapura, Suíça e
Canadá, com a China em 22º. Na América Latina, os melhores lugares ficam
com o Chile (em 35º) e o México (39º). Veja o top 10:
|
País |
Sobre 2014 |
1 |
Estados Unidos |
Igual |
2 |
Hong Kong |
Subiu 2 posições |
3 |
Singapura |
Igual |
4 |
Suíça |
Caiu 2 posições |
5 |
Canadá |
Subiu 2 posições |
6 |
Luxemburgo |
Subiu 5 posições |
7 |
Noruega |
Subiu 3 posições |
8 |
Dinamarca |
Subiu 1 posição |
9 |
Suécia |
Caiu 4 posições |
10 |
Alemanha |
Caiu 4 posições |
O levantamento é feito com apoio da
Fundação Dom Cabral (FDC) e é baseado em 4 pilares: desempenho da economia, eficiência do governo, eficiência dos negócios e infraestrutura.
Como há uma combinação de indicadores objetivos com pesquisas de
opinião de executivos, o resultado também sofreu influência do clima
eleitoral e de outras questões periféricas:
“A gente já imaginava uma queda em função da perda de
confiança.
A pesquisa é sensível a esse clima, independente de quem ganhasse a
eleição. O que surpreendeu foi a influência de questões como a da água,
mais crítica do que a gente esperava, e da energia, que impactou a
produtividade”, diz Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação e
Empreendedorismo da FDC.
O país ficou em último lugar mundial, por exemplo, na percepção de
corrupção e suborno pelo empresariado:
“Isso naturalmente tem que ser entendido no contexto do nosso momento e
do escândalo da Petrobras, mas não alivia a mensagem de que estamos na
rabeira”, diz Carlos Braga, professor de economia internacional do IMD.
Os especialistas falam também em um efeito “rainha de copas”:
competitividade é uma corrida, e é preciso se mexer só para não sair do
lugar. Veja os 5 países que mais subiram no ranking:
País |
Posição em 2015 |
Alta |
Itália |
38ª |
8 posições |
Portugal |
36ª |
7 posições |
Grécia |
50ª |
7 posições |
Catar |
13ª |
6 posições |
Lituânia |
28ª |
6 posições |
E os 5 que mais caíram:
País |
Posição em 2015 |
Queda |
Ucrânia |
60ª |
11 posições |
Letônia |
43ª |
8 posições |
Rússia |
45ª |
7 posições |
Japão |
27ª |
6 posições |
França |
32ª |
5 posições |
Desempenho econômico
As maiores perdas brasileiras foram no quesito “Desempenho da
Economia”. Apesar de uma boa posição em investimentos internacionais, o
país
cresceu apenas 0,1% no ano passado, diante de um crescimento de 2,3% na economia mundial.
Como a previsão para 2015 é
ainda mais sombria,
esse fator deve continuar atrapalhando nossa posição absoluta. Em
termos relativos, não há muito para onde cair: nossos concorrentes do
andar de baixo devem sofrer
recessões ainda maiores este ano.
Eficiência do governo
Em “Eficiência do Governo”, historicamente o fator mais crítico da
nossa competitividade, o Brasil ficou na frente apenas da Argentina. Um
dos itens que pesaram foram as finanças públicas, com queda da 48ª para a
58ª posição mundial.
O governo registrou no ano passado um déficit primário de 0,6% do PIB,
pior resultado em uma década. Não por acaso, o
ajuste fiscal se tornou prioridade total do ínicio do segundo mandato Dilma, e seus resultados podem ajudar no ranking do ano que vem.
“O Brasil precisa resolver a questão da estabilidade do Orçamento. Com a
queda das commodities e do crescimento, o governo está arrecadando
menos e continua gastando mais. As ações que foram
anunciadas semana passada são prioritárias”, diz Arruda.
Dois pontos positivos: a reserva em moeda estrangeira (6ª posição
mundial) e os subsídios públicos (3ª posição). O sumário do ranking
destaca “a ação do
BNDES como incentivador do progresso econômico no Brasil”, mas Arruda ressalta que isso é “um paliativo, não cura pra doença”.
Eficiência dos Negócios
A eficiência empresarial no Brasil perdeu 24 posições nos últimos 4
anos. Só no ano passado, a queda foi de 2 dígitos em “mercado de
trabalho” (de 32º para 43º), “práticas gerenciais” (de 36º para 49º) e
“atitudes e valores” (de 39º para 49º).
“É um efeito chicote; consequência e não causa. A Argentina viveu esse
drama nos anos 90: uma perda macro que reflete na agenda micro. Quando
perde competitividade, o setor empresarial investe menos em inovação e
treinamento, se volta para dentro e adota estratégias mais
conservadoras”, diz Arruda.
“O calcanhar-de-aquiles da economia brasileira é a
produtividade.
É um problema de toda a politica de educação e tecnologia, mas tem a
ver também com o fato de que entre as economias de grande porte, somos a
mais fechada em termos de protecionismo”, diz Braga.
Infraestrutura
Ele também cita a
infraestrutura
como o outro principal gargalo. Nesse pilar, o Brasil também é ponto
fora da curva entre as grandes economias e não apresentou mudança
significativa de um ano para o outro.
“O Brasil está entre as piores posições desde a década de 80. No final
do governo Lula, houve um compromisso de avançar com o PAC, mas a
execução ficou bem abaixo do previsto. Perdemos a oportunidade de usar
aquele momento favorável para avançar uma agenda de reformas e estamos
colhendo os frutos disso”, diz Arruda.
Nossas melhores posições são em infraestrutura científica (39º lugar) e
de saúde e meio ambiente (44º). As piores são em infraestrutura básica
(59º) e tecnológica (56º). Para Braga, dá para ver uma luz no fim do
túnel no momento atual:
“Os passos que o governo começou a tomar em parcerias e mudança de
regulamentação devem ajudar, mas vai levar um tempo. É uma questão de
oportunidades de negócio: somos atrativos nesta área se as regras forem
favoráveis. Só o setor privado nacional e estrangeiro que pode permitir
esse salto.”