quarta-feira, 27 de maio de 2015

Brasil tem pior resultado da história em competitividade




Manoel Marques/Veja
 
Ferrovia Norte-Sul
Operário trabalhando em obra da ferrovia Norte-Sul

São Paulo – O Brasil ficou na 56ª posição entre 61 países na edição 2015 do ranking de competitividade do IMD, escola suíça de negócios.

É nossa pior colocação desde 1989, primeiro ano do ranking. O Brasil perdeu 18 posições desde 2010, último ano com ganhos relativos.

A nota até melhorou um pouco em 2015, mas outros países subiram mais. Veja a evolução:
 
Ano Índice Posição
2009 56,865 40º
2010 56,531 38º
2011 61,043 44º
2012 56,524 46º
2013 53,222 51º
2014 46,778 54º
2015 47,930 56º

O Brasil foi superado por Bulgária (que foi da 56ª para a 55ª posição) e Eslovênia (da 55ª para a 49ª), ficando atrás apenas de Mongólia, Croácia, Argentina, Ucrânia e Venezuela.
O ranking é liderado por Estados Unidos, Hong Kong, Singapura, Suíça e Canadá, com a China em 22º. Na América Latina, os melhores lugares ficam com o Chile (em 35º) e o México (39º). Veja o top 10:

  País Sobre 2014
1 Estados Unidos Igual
2 Hong Kong Subiu 2 posições
3 Singapura Igual
4 Suíça Caiu 2 posições
5 Canadá Subiu 2 posições
6 Luxemburgo Subiu 5 posições
7 Noruega Subiu 3 posições
8 Dinamarca Subiu 1 posição
9 Suécia Caiu 4 posições
10 Alemanha Caiu 4 posições

O levantamento é feito com apoio da Fundação Dom Cabral (FDC) e é baseado em 4 pilares: desempenho da economia, eficiência do governo, eficiência dos negócios e infraestrutura.

Como há uma combinação de indicadores objetivos com pesquisas de opinião de executivos, o resultado também sofreu influência do clima eleitoral e de outras questões periféricas:

“A gente já imaginava uma queda em função da perda de confiança. A pesquisa é sensível a esse clima, independente de quem ganhasse a eleição. O que surpreendeu foi a influência de questões como a da água, mais crítica do que a gente esperava, e da energia, que impactou a produtividade”, diz Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC.

O país ficou em último lugar mundial, por exemplo, na percepção de corrupção e suborno pelo empresariado:

“Isso naturalmente tem que ser entendido no contexto do nosso momento e do escândalo da Petrobras, mas não alivia a mensagem de que estamos na rabeira”, diz Carlos Braga, professor de economia internacional do IMD.

Os especialistas falam também em um efeito “rainha de copas”: competitividade é uma corrida, e é preciso se mexer só para não sair do lugar. Veja os 5 países que mais subiram no ranking:
 
País Posição em 2015 Alta
Itália 38ª 8 posições
Portugal 36ª 7 posições
Grécia 50ª 7 posições
Catar 13ª 6 posições
Lituânia 28ª 6 posições
E os 5 que mais caíram:
 
País Posição em 2015 Queda
Ucrânia 60ª 11 posições
Letônia 43ª 8 posições
Rússia 45ª 7 posições
Japão 27ª 6 posições
França 32ª 5 posições
 

Desempenho econômico 


As maiores perdas brasileiras foram no quesito “Desempenho da Economia”. Apesar de uma boa posição em investimentos internacionais, o país cresceu apenas 0,1% no ano passado, diante de um crescimento de 2,3% na economia mundial. 

Como a previsão para 2015 é ainda mais sombria, esse fator deve continuar atrapalhando nossa posição absoluta. Em termos relativos, não há muito para onde cair: nossos concorrentes do andar de baixo devem sofrer recessões ainda maiores este ano.
 

Eficiência do governo


Em “Eficiência do Governo”, historicamente o fator mais crítico da nossa competitividade, o Brasil ficou na frente apenas da Argentina. Um dos itens que pesaram foram as finanças públicas, com queda da 48ª para a 58ª posição mundial.

O governo registrou no ano passado um déficit primário de 0,6% do PIB, pior resultado em uma década. Não por acaso, o ajuste fiscal se tornou prioridade total do ínicio do segundo mandato Dilma, e seus resultados podem ajudar no ranking do ano que vem.

“O Brasil precisa resolver a questão da estabilidade do Orçamento. Com a queda das commodities e do crescimento, o governo está arrecadando menos e continua gastando mais. As ações que foram anunciadas semana passada são prioritárias”, diz Arruda.

Dois pontos positivos: a reserva em moeda estrangeira (6ª posição mundial) e os subsídios públicos (3ª posição). O sumário do ranking destaca “a ação do BNDES como incentivador do progresso econômico no Brasil”, mas Arruda ressalta que isso é “um paliativo, não cura pra doença”.
 

Eficiência dos Negócios


A eficiência empresarial no Brasil perdeu 24 posições nos últimos 4 anos. Só no ano passado, a queda foi de 2 dígitos em “mercado de trabalho” (de 32º para 43º), “práticas gerenciais” (de 36º para 49º) e “atitudes e valores” (de 39º para 49º).

“É um efeito chicote; consequência e não causa. A Argentina viveu esse drama nos anos 90: uma perda macro que reflete na agenda micro. Quando perde competitividade, o setor empresarial investe menos em inovação e treinamento, se volta para dentro e adota estratégias mais conservadoras”, diz Arruda.

Como o desemprego é baixo e a qualidade do capital humano patina na comparação internacional, aumentar o produto por trabalhador se tornou central para fazer a economia voltar a crescer e continuar reduzindo a pobreza, segundo o Banco Mundial.

“O calcanhar-de-aquiles da economia brasileira é a produtividade. É um problema de toda a politica de educação e tecnologia, mas tem a ver também com o fato de que entre as economias de grande porte, somos a mais fechada em termos de protecionismo”, diz Braga.
 

Infraestrutura


Ele também cita a infraestrutura como o outro principal gargalo. Nesse pilar, o Brasil também é ponto fora da curva entre as grandes economias e não apresentou mudança significativa de um ano para o outro.

“O Brasil está entre as piores posições desde a década de 80. No final do governo Lula, houve um compromisso de avançar com o PAC, mas a execução ficou bem abaixo do previsto. Perdemos a oportunidade de usar aquele momento favorável para avançar uma agenda de reformas e estamos colhendo os frutos disso”, diz Arruda.

Nossas melhores posições são em infraestrutura científica (39º lugar) e de saúde e meio ambiente (44º). As piores são em infraestrutura básica (59º) e tecnológica (56º). Para Braga, dá para ver uma luz no fim do túnel no momento atual:

“Os passos que o governo começou a tomar em parcerias e mudança de regulamentação devem ajudar, mas vai levar um tempo. É uma questão de oportunidades de negócio: somos atrativos nesta área se as regras forem favoráveis. Só o setor privado nacional e estrangeiro que pode permitir esse salto.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário