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Banho: em memorando interno, o HSBC lembrou sua equipe que "os funcionários precisam tomar banho e escovar os dentes”
Cristiane Lucchesi e Francisco Marcelino, da Bloomberg
São Paulo - Os potenciais compradores da unidade deficitária do HSBC Holdings Plc no Brasil estão pedindo um desconto de preço para comprar o banco por causa do alto custo com demissões de funcionários que possivelmente serão necessárias.
Um memorando interno do banco a respeito da higiene pessoal de seus empregados também não está ajudando.
Com 20.488 funcionários no Brasil no fim de dezembro, o HSBC, com sede
em Londres, tem o maior número de trabalhadores por ativo do que
qualquer outro banco privado no País.
Esse total terá que cair após a possível venda, deixando para o
comprador a tarefa de lidar com os altos custos trabalhistas
brasileiros, disseram as fontes, que pediram anonimato porque as
negociações são privadas.
“Demitir pessoal no Brasil é muito caro por causa das indenizações
obrigatórias que aumentam a cada ano que o funcionário fica na empresa”,
disse Vilma Kutomi, advogada para assuntos trabalhistas e de emprego da
Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. Quiroga Advogados, em entrevista
por telefone, de São Paulo. Kutomi não está envolvida em ações contra o
HSBC.
Somam-se a essas despesas ações trabalhistas que dizem que o HSBC se
envolveu demais na vida pessoal dos trabalhadores. Entre essas está uma
ação dos sindicatos e uma outra do Ministério Público do Trabalho do
Paraná.
“Os funcionários precisam tomar banho e escovar os dentes”, lembrou o
banco à sua equipe, em um memorando interno, o que acabou sendo usado em
pelo menos um processo, segundo Elias Jordão, presidente do Sindicato
dos Bancários de Curitiba e Região, que está envolvido em ações contra o
HSBC.
Provisão para processos
O HSBC tem provisões de quase R$ 600 milhões para cobrir despesas com
ações trabalhistas no Brasil, uma quantia que os possíveis compradores
acham que pode ser insuficiente, segundo as fontes.
Heidi Ashley, porta-voz do banco em Londres, preferiu não comentar
sobre o processo de venda ou o relacionamento do banco com seus
funcionários no Brasil.
O HSBC é o sétimo maior banco do País em ativos.
“Os trabalhadores usaram essas diretrizes de cuidar melhor da higiene e
escovar os dentes em ações individuais e o departamento jurídico do
nosso sindicato lembra aos funcionários que deixam o banco que eles
podem entrar com processo por danos morais contra a empresa'' usando
esse episódio, disse Jordão, em entrevista por telefone, de Maringá.
Ofertante preferencial
O HSBC vai selecionar provavelmente ainda em junho uma oferta pela
unidade, que pode sair por cerca de US$ 4 bilhões, duas fontes com
conhecimento do plano disseram no início deste mês.
Entre os interessados na operação estão o Banco Bradesco SA e o canadense Bank of Nova Scotia, segundo as fontes.
O Banco Santander Brasil SA está estudando o ativo, Jesus Zabalza,
presidente da unidade brasileira do maior banco espanhol, disse a
jornalistas em São Paulo terça-feira.
Representantes do Bradesco e do Scotiabank não quiseram comentar sobre as negociações com o HSBC.
Depois de tentar demitir cerca de 800 trabalhadores no Brasil no ano
passado, o HSBC fechou um acordo para estender os convênios médicos dos
trabalhadores demitidos e aumentar as indenizações, disse Nasser Ahmad
Allan, advogado da Declatra em Curitiba, que representa alguns
funcionários do HSBC em ações trabalhistas.
O acordo foi fechado depois que o Ministério Público do Trabalho do
Paraná recomendou a suspensão das demissões, disse ele, em entrevista
por telefone, na semana passada.
A Justiça do trabalho do Paraná disse em setembro que o HSBC precisará pagar R$ 2 milhões por espionar funcionários.
De acordo com a ação movida pelo Ministério Público do Trabalho do
Paraná, o banco contratou uma empresa privada de espionagem para
investigar 152 funcionários em licença médica entre 1999 e 2003.
Os investigadores chegaram a entrar sem permissão nas casas de alguns
funcionários para filmar e tirar fotos, segundo a sentença.
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