Publicado por Camila Arantes Sardinha - 1 dia atrás
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Outro dia estava lendo um texto na internet
em que um advogado contava que uma amiga, que não era do mundo
jurídico, havia consultado uma advogada e que um tempo após resolveu
procurá-la no Facebook. Todavia, a moça não ficou feliz com o que viu,
uma vez que a advogada postava fotos de biquini e em baladas, fazendo
biquinhos. Por essa razão, a moça desistiu de contratar a advogada, por
tê-la julgado "imatura".
Não obstante, há um tempo deparei-me com
uma situação muito parecida. Uma conhecida minha estava procurando uma
advogada para fazer seu divórcio e partilha de bens, uma vez que o
marido a havia traído com uma menina bem mais nova. A referida menina
comumente postava fotos nas redes sociais exibindo seu corpo e fazendo
biquinhos. Quando essa minha conhecida, ao adicionar a advogada no
Facebook, notou que esta também postava fotos semelhantes, desistiu de
contratá-la.
Calma que ainda não acabou.
Semana passada
estava conversando com um amigo meu, advogado, e ele me contou que um
cliente, empresário, queria contratá-lo para assessorar juridicamente a
empresa. Era um contrato bom, de grande valor, e meu amigo estava muito
interessado no serviço. Todavia, o cliente desistiu da contratação por
ter visto diversas fotos desse meu amigo no Facebook em baladas, com
bebidas na mão. O cliente, que era evangélico, julgou não ser o meu
amigo o profissional certo para cuidar da empresa dele.
Fonte
Já
estamos cansados de dizer que a imagem do advogado é, sim, de suma
importância. Sempre ouço alguns colegas de trabalho refutarem essa
afirmativa, alegando que isso é mera futilidade e preconceito.
Preconceito ou não, futilidade ou não, nossa imagem é a primeira relação
que temos com o cliente.
Muitos dizem que "se livraram de um cliente preconceituoso". Todavia, como já mencionei no texto Advogado Tatuado... Pode?,
eu aprendi a lidar com preconceito e conservadorismo desde cedo. E
também desde cedo percebi que muitas vezes o preconceito não é uma má
fé, mas uma mera ignorância acerca de algum tema.
É impossível
olhar para uma pessoa e não montar mentalmente um imagem desta. É
inevitável, faz parte do mecanismo de nosso cérebro, e fazemos isso de
forma inconsciente. Essa imagem é montada com base em nossa criação,
costumes, crenças, experiências de vida, etc.
Essa primeira
imagem, é claro, pode não ser definitiva, e pode ser que venha a mudar
com o passar do tempo, quando conhecemos melhor a pessoa, e então
fazemos uma outra imagem dela, com base no que, de fato, conhecemos.
Isso significa que nossa primeira imagem de alguém era meramente um pré
conceito, isto é, uma formação de uma ideia antecipadamente. E todos nós
fazemos isso.
Pré conceito, como o próprio nome diz, é um conceito prévio, sem análise dos fatos, um julgamento antecipado.
Preconceito: substantivo masculino. 1. Qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico. 2. Sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância. Fonte
De
tal forma, denota-se que preconceito é o ato de julgar um ato ou uma
pessoa sem previa análise crítica dos fatos. O cliente julgar que o
advogado não seja profissional sério ou que seja imaturo por suas fotos é
um preconceito? Possivelmente, haja vista que o profissional pode ir
para a "balada" com os amigos, e ainda sim ser um excelente
profissional, uma vez que não são coisas excludentes.
Todavia, o
cliente é sempre o cliente. É uma pessoa (preconceituosa, ou não) que
deseja contratar os serviços de um advogado. Desejar pagar para que um
advogado interceda a favor de seus direitos. Ora, e não é essa a função
tão nobre do advogado, se não dar voz ao direito de outrem?
O Preconceito contra o Preconceito
Da
mesma forma que o cliente julga o profissional por uma foto, o
profissional também julga o cliente por seus atos, sem antes procurar
conhecer melhor os fatos. Tenho a certeza de que muitos, ao lerem
este texto, fizeram julgamentos a respeito dos casos aqui narrados,
pensando em como os clientes mencionados eram imaturos ou
"preconceituosos", e até mesmo afirmativas como "esses advogados se
livraram desses clientes".
Ora, mas em nenhum momento aqui se
falou a respeito dos motivos que cada um desses clientes teria para
pensar de tal forma, ou mesmo das experiências de vida, criação, crenças
e cultura de cada um, que o levou a ter tal postura. E caso haja algum
motivo fundamentado para que o cliente tenha julgado o profissional de
tal forma, deixa de ser um preconceito, e passa a ser um conceito
formado com base em algum ideal. É errado julgar alguém por uma foto? E
também é errado julgar alguém por um único ato?
Obviamente o tema
é polêmico, e muitos não hão de concordar comigo. Entretanto, é, no
mínimo, de se pensar. Já que nós, advogados, trabalhamos com pessoas,
devemos saber lidar com pessoas.
E a imagem que passamos a essas pessoas podem ser nosso sucesso ou nossa perdição, a depender de como trabalhamos com isso.
Ademais,
se prestamos serviços à população, especialmente na área jurídica, onde
nosso papel é dar voz ao direito de outra pessoa, é considerável que
não se julgue o outro por seus pré conceitos ou conceitos, por mais
estranho que isso possa soar. Preconceito, muitas vezes, acaba
adquirindo caráter de toda a opinião diversa. E aí passa-se a ter
preconceito de quem tem "preconceito", o que apenas tende a gerar mais
intolerância.
Não obstante, o cliente tem todo o direito de
escolher, pelos motivos que bem lhe convier, o profissional que lhe irá
representar. Afinal, a afinidade com o profissional e sentir-se bem
representado é fundamental.
Sendo assim, é prudente que se tome
alguns cuidados, em especial nas redes sociais, onde costumamos nos
expor de forma tão abrupta e, muitas vezes, inconveniente.
1. É aconselhável ter clientes como "amigos" nas redes sociais?
Isso
é muito relativo, e depende muito do profissional. É claro que se você
atende um amigo com um problema jurídico, não há qualquer problema em
tê-lo, por exemplo, em seu Facebook, já que vocês são amigos mesmo.
Todavia,
nem sempre é uma boa ideia ter seus clientes em um perfil de rede
social. Isso porque lá possivelmente você posta fotos da sua privada,
com amigos, em festas, com a família, etc. Além de ser algo mais íntimo e
expor sua vida pessoal ao cliente, pode ser até mesmo perigoso,
dependendo da sua área de trabalho. Permitir que seus clientes tenham
acesso à sua vida privada de forma tão íntima, como vendo fotos do seu
último Natal ou das suas férias na praia, não é aconselhável.
2. Mas eu converso com meus clientes por meio de redes sociais
Nesse
caso, uma dica é ter um perfil só para isso. Um perfil profissional,
como "Fulana Advogada". Naquele perfil você adiciona seus clientes, e
mantém certa distância profissional, podendo utilizar-se das redes
sociais para manter contato com clientes de forma mais simples e rápida,
bem como até para divulgar seu trabalho.
De tal forma, é
possível manter um perfil pessoal, onde você possui contato com pessoas
mais próximas, como família e amigos, e um profissional, onde mantém
contato com clientes e clientes em potencial.
3. Gerenciar dois perfis diferentes dá muito trabalho
Sim,
pode dar um pouco de trabalho. E caso isso seja de fato um problema
para você, é possível alterar as configurações de privacidade para
manter uma distância profissional desejável dos seus clientes.
No
caso do Facebook, não é aconselhável que suas publicações sejam
públicas. Isto é, quando suas publicações estão no modo "público",
qualquer pessoa pode vê-las, mesmo que você não a tenha como "amigo".
Isso pode acabar acarretando situações nas quais um cliente em potencial
dá uma olhada em sua conta do Facebook antes de contratá-lo, e se
depara com aquela foto horrível que seu primo te marcou na última
reunião de família, na beira da piscina e pra lá de bêbado.
Não
sejamos hipócritas, é claro que o cliente também poderia passar uma
tarde na beira da piscina com a família e tomando uma cerveja. A questão
é que não é aconselhável expor essa parte da sua vida publicamente,
especialmente na advocacia. O cliente encontra-se com algum problema
jurídico, e espera ver no profissional a confiança e seriedade que
deseja em alguém que iria assisti-lo nesse problema.
Caso você
adicione ou aceite seus clientes como "amigos" no Facebook, uma boa dica
também é alterar as configurações das publicações para que somente
algumas pessoas vejam o que você pública.
No Facebook, por
exemplo, é possível configurar quem pode marcá-lo em fotos, quem pode
ver as fotos em que você foi marcado, quem pode ver o que você posta em
seu mural, e até quem gerenciar o que postam em seu mural, tendo que
autorizar o post antes.
Também
é possível configurar a privacidade de álbuns de fotografia. Assim você
pode colocar um álbum com fotos da sua família e configurar para que
apenas algumas pessoas o vejam, deixando os clientes de fora.
Além
de manter uma distância profissional adequada, também evita situações
de risco. É uma maneira de se manter contato fácil com os clientes sem
expor demais sua vida pessoal a pessoas com quem você não possui tanta
intimidade.
Enfim, como dito acima, o tema é polêmico. Todavia, é
sabido que a imagem do advogado possui uma enorme importância na
captação de clientes, especialmente para advogados em início de
carreira, que ainda não possuem uma reputação.
Não obstante,
expor sua vida pessoal para qualquer pessoa não é aconselhável em nenhum
situação, muito menos dependendo da área em que você atue, pois pode
até mesmo ser perigoso, como a área criminal, por exemplo.
Claro
que uma foto de biquini ou uma foto na balada não significa, em hipótese
alguma, que o advogado não seja responsável. Significa apenas que
também tem vida social. Entretanto, a sua vida social e pessoal não
precisa ser escancarada, principalmente quando se trata de advocacia, na
qual muitos clientes esperam um profissional sério e que inspire
confiança.
Um pouco de cautela é sempre bem vinda.
O
debate é igualmente bem vindo, pois do debate nascem novas ideias, e por
meio do debate ampliamos nossos horizontes, desde que haja
verdadeiramente a vontade de se ouvir a opinião contrária, e não apenas a
de se defender a sua.
Qual a sua opinião sobre a imagem do advogado nas redes sociais e o pré conceito de clientes?
Aproveitando o ensejo, gostaria de convidar os advogados e demais profissionais do Direito a participarem do nosso Fórum do Advogado no Facebook.
Um espaço criado para que os colegas possam dividir suas experiências,
anseios, dúvidas, e se apoiarem, pois acreditamos na união da nossa
classe.
Advogada
atuante nas áreas de Direito Penal, Direito Civil (Obrigações e
Contratos), Direito de Família e Direito do Médico. Consultoria em
Marketing Jurídico e Gestão de Blogs e Websites. Autora e administradora
do site Diário da Vida Jurídica - DVJ. Escritório se
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