Ueslei Marcelino/Reuters
Tarefa ingrata: o ministro Levy tem de dar duro para desmontar, peça por peça, tudo o que foi feito nos últimos anos
São Paulo - O ministro Joaquim Levy,
autoridade principal da economia brasileira, não tem uma política
econômica para o Brasil. Aliás, não se espera mesmo que tenha — e, se
tivesse, o governo do qual faz parte não permitiria que ela fosse
aplicada. O que o ministro tem é uma lista de tarefas sérias a executar,
todas urgentes e possivelmente indispensáveis.
Sabe-se que está fazendo o máximo de esforço para cumpri-las, mas seu
horizonte fica por aí — tudo o que Levy faz e tem feito desde que
assumiu o Ministério da Fazenda deste segundo mandato da presidente Dilma Rousseff é uma tentativa de frear a disparada do país rumo ao desastre.
Trata-se de carpintaria pesada, quando se leva em conta que todos os
problemas imediatos da área econômica foram construídos pelo próprio
governo ao longo dos últimos oito anos, peça por peça, com uma bateria
permanente de medidas taticamente ineptas, estrategicamente tolas e
administrativamente amadoras.
O trabalho de Levy, como se vê, não é construir — é desmanchar. Seria
mais simples se tivesse de “desconstruir”, como se diz, a obra de um governo
anterior. No caso, ele tem de “desconstruir” a pré-ruína econômica
construída pela presidente que o nomeou, por seu patrono e antecessor, o
ex-presidente Lula, e pelo partido de ambos. Que Deus ajude o ministro
Levy nessa tarefa ingrata.
O Brasil vive no momento uma situação curiosa: para ficar a favor do
que o governo precisa fazer no presente, trabalho que consiste
basicamente em tirar as contas públicas do caos, o ministro da Fazenda
tem de ficar contra o que esse mesmo governo fez no passado. Ou, mais
exatamente, o que vinha fazendo até outro dia, quando as regras mais
elementares da gestão econômica foram abandonadas em troca de índices de
popularidade e exigências de marketing eleitoral.
Além disso, Levy tem de ficar descobrindo o tempo todo meios e modos de
alterar a conduta de um governo economicamente neurastênico: quer que
ele dê um jeito nos problemas indiscutíveis que estão aí, mas não admite
que tenha tomado uma única decisão errada até hoje.
Exige mudanças, porque precisa mostrar resultados “já”, mas proíbe o
ministro de dizer que está mudando seja lá o que for. Para completar
esses infortúnios, seus maiores inimigos estão dentro do próprio
governo, de seu partido e de toda a constelação de CUTs, MSTs e
similares que vivem da máquina pública — sem contar empreiteiras,
empresários dependentes do BNDES, devedores em busca de leniência e
outros tantos adversários intransigentes do Tesouro Nacional.
Contra isso tudo, Levy conta com uma única peça de artilharia — Dilma,
Lula, o PT e o resto do sistema não têm ninguém para colocar em seu
lugar nem sombra de uma política alternativa para a área econômica.
Podem não gostar do que ele está tentando fazer, mas precisam
desesperadamente dos resultados que pode dar. Ruim com Levy? Talvez.
Pior sem ele? Com certeza.
Após 12 anos e meio de governo petista, a soma final das esperanças
possíveis do Brasil de 2015 ficou reduzida a isto: o melhor que temos
pela frente, hoje, é a perspectiva de que as coisas não piorem.
Estará de bom tamanho se o governo continuar obrigado a manter o
ministro Levy no cargo — ele certamente não pretende enfiar o país em
novas aventuras fracassadas e pode até desfazer o grosso da situação de
deboche que a presidente Dilma e seu entorno criaram nas finanças do
Estado.
Será um alívio se os brasileiros forem poupados de novos experimentos
econômicos que nem o Professor Pardal teria vontade de testar.
Crescimento zero em 2015, como diziam antigamente os locutores de
futebol, vai ser considerado “empate com sabor de vitória”.
Teremos repetido, nesse caso, o resultado de 2014, e o atual governo — o
segundo pior de toda a história econômica da República, logo após o do
presidente Floriano Peixoto — terá dado um passo importante para segurar
essa vice-liderança; a outra opção é superar o marechal e levar o
título de pior de todos. Fica, Levy.
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