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Café: publicação da instrução gerou protestos de representantes do setor produtivo no Brasil
Roberto Samora, da REUTERS
São Paulo - O Brasil, maior produtor e exportador global de café, já pode importar grãos do Peru,
em uma operação inédita muito aguardada pela indústria local, ansiosa
para realizar "blends" que possam concorrer com o produto
industrializado importado, disse nesta sexta-feira um representante da
Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
A liberação para importações de café em grão pelo Brasil foi dada após a
publicação da Instrução Normativa número 6, que aprovou requisitos
fitossanitários para compras do produto da variedade arábica produzido
no Peru.
"Dessa forma, a importação do Peru está legalmente autorizada, sem
nenhum obstáculo", afirmou o diretor-executivo da Abic, Nathan
Herszkowicz.
A instrução publicada em 30 de abril, sobre a Análise de Risco de
Pragas (ARP), é a conclusão de um processo para autorização de compras
do produto de um determinado país.
"No caso do café, o que sempre impediu a importação foi a inexistência
da ARP aprovada. Sem a ARP aprovada, a importação não é autorizada",
explicou Herszkowicz.
Mas a publicação da instrução gerou protestos de representantes do setor produtivo no Brasil.
"O Conselho Nacional do Café (CNC) entende como inaceitável e
inconcebível a autorização para se importar café arábica do Peru,
justamente no período da entrada de safra do Brasil...", disse o CNC que
representa os produtores em nota nesta sexta-feira.
O CNC afirmou ainda que encaminhou nesta semana ofícios à ministra da
Agricultura, Kátia Abreu, e à presidente da República, Dilma Rousseff,
solicitando a imediata suspensão da aprovação de requisitos
fitossanitários para importação de café produzido no Peru. Até esta
sexta-feira, o governo não havia se manifestado.
Indústria vê oportunidade
Segundo o diretor da Abic, já houve algumas iniciativas no passado para
o Brasil importar café em grão de várias origens, mas elas acabaram não
prosperando, ou porque a ARP não era aprovada ou porque a vigência da
análise de risco foi cancelada.
"A importação de café em grão cru sempre foi motivo de discussão
bastante ampla, entre setores que não desejam importação, basicamente
setores ligados à cafeicultura, e uma parte da indústria...", disse ele.
Segundo Herszkowicz, o Brasil importa café industrializado e moído de
todas as origens, e inclusive o café em cápsula é isento de imposto de
importação, afetando a indústria nacional, que tem produto similar.
"Sem acesso a matéria-prima de qualidade, a indústria brasileira não
tem como competir com outras", afirmou o diretor-executivo da Abic,
acrescentando que a abertura para importar do Peru pode ser um primeiro
passo.
De acordo com ele, a indústria tem interesse em importar para fazer
"blends" diferenciados, que o consumidor brasileiro "aprove e goste",
mas ainda assim a maior parte da "mistura" comercializada seria
constituída por cafés brasileiros.
Para o dirigente da Abic, é difícil dizer se o café do Peru tem uma
qualidade que o do Brasil não tenha. Mas ele acrescentou que, para a
indústria, não se trata somente dessa questão.
"O consumidor não consome apenas por qualidade, mas muitas vezes pelo
marketing associado a cafés diferenciados, sem dúvida um café de uma
origem estrangeira representa um marketing bom."
Herszkowicz defendeu que outras eventuais liberações de importações de
cafés de outras origens sejam feitas de forma a não prejudicar o
cafeicultor brasileiro.
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