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Sala de aula do Insper, em São Paulo: o uso do big data do ponto de vista gerencial
As melhores escolas de negócios do Brasil já discutiam o problema da
baixa produtividade há 15 anos. Agora, os assuntos mudaram. Veja o que é
tratado nas principais escolas de negócios do país para que os alunos
estejam preparados para dar respostas aos dilemas de negócios que
surgirão nos próximos anos.
Inovação permanente
A Coppead, escola de negócios da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que acaba de ter renovada a Equis —
acreditação europeia de padrão de ensino em administração —, reforçou o
ensino de inovação para seus alunos. Primeiro, ajuda os profissionais a
compreender a importância da inovação para a perenidade dos negócios.
Em um segundo momento, mostra como a inovação deve ser um hábito
permanente, já que os negócios estão em constante mudança. “Falamos aqui
do gerenciamento do processo de inovação interno, desde o estímulo até a
questão humana de querer fugir do risco e rejeitar o novo”, afirma
Vicente Ferreira, diretor da Coppead.
Na sala de aula, fala-se em corporate venture capital, investimento da
empresa na ideia de um funcionário para que ele crie um negócio ou uma
solução e passe a ser fornecedor — e sócio da empresa matriz. “Para
inovar não é preciso criar uma nova tecnologia, basta encontrar uma
forma diferente de fazer o que já está feito, uma maneira mais econômica
ou melhor para a sociedade. Qualquer funcionário pode ter uma ideia
inovadora, as empresas precisam dar espaço a eles — e eles precisam
aproveitar esse espaço”, diz.
Pessoas melhores são líderes melhores
Os executivos que começam o MBA na Fundação Dom Cabral,
em Belo Horizonte, costumam levar um susto no primeiro dia de aula.
“Eles chegam à escola achando que vamos falar de gestão, dar ferramentas
e ensinar técnicas desde o começo, mas apresentamos a eles assuntos
ligados a filosofia, sociologia, autoconhecimento, ética e virtudes”,
diz Paula Simões, gerente-coordenadora do programa de educação
executiva.
“Não é exatamente uma aula de filosofia, mas questionamos o futuro da
gestão e das organizações”, afirma. Os alunos vão para a cidade
histórica de Ouro Preto e para o complexo artístico de Inhotim,
relativamente próximos à sede da escola, para discutir arte, cultura e
sustentabilidade. “Também tratamos da percepção de que as organizações
serão julgadas cada vez menos pela rentabilidade aos acionistas e cada
vez mais pelo impacto ambiental e social que geram”, afirma Paula.
O objetivo final é que o aluno volte para o mercado mais aberto a
mudanças e consciente do resultado que seu trabalho gera. A ideia é que,
provocando esses alunos, eles se tornem mais preparados para lidar com a
complexidade do mundo. “Queremos formar líderes mais humanos”, diz
Paula, e completa: “É importante que os gestores de agora façam um
exercício de autoconhecimento para entender seu estilo de se comunicar e
o impacto disso em suas relações”.
Olho na China e na Índia
“Nosso trabalho é prever o futuro”, diz James Wright, coordenador de MBA internacional da FIA,
em São Paulo. A baixa produtividade do brasileiro, um assunto atual
para exemplificar, foi discutida em sala de aula há dez anos. Hoje, a
pauta é internacional.
“O Brasil levou milhões de pessoas para a classe média. Na próxima
década, os indianos e chineses passarão pela mesma inserção econômica”,
diz James. “Sabemos vender para essas pessoas. Os executivos brasileiros
devem estar prontos para entrar nesses mercados”, diz James.
Na agenda de quem quer aproveitar a oportunidade devem constar viagens
para os dois países e desenvolvimento de técnicas de negociação em
culturas diferentes. “O brasileiro é muito orientado para o mercado
interno, mas é hora de levar para fora o que sabemos fazer bem”,
afirma.
Uso de dados digitais
Para saber o que precisa ser ensinado aos executivos que procuram seu programa de MBA, o Insper,
em São Paulo, monitora as demandas das organizações. “Pesquisamos o que
as empresas entendem como características de funcionários acima da
média e, depois, trabalhamos para desenvolver essas habilidades.
Hoje, estamos focados em dois tipos: as interpessoais e as analíticas”,
diz Silvio Laban, coordenador-geral dos programas de MBA do Insper.
Para Silvio, profissionais de todas as áreas devem se adaptar ao uso do
big data do ponto de vista gerencial. O assunto é trabalhado de duas
maneiras: 1) o caráter estrutural que envolve a coleta de dados e 2) a
visão estratégica para analisar, tomar decisões e gerenciar riscos
levando em conta esses números.
“Há muitas bases de informações disponíveis. Os executivos precisam
agora entender quais tipos de análise e de cruzamento podem ser feitos
para apoiar as decisões que eles têm de tomar”, diz.
Habilidades avançadas
Na Saint Paul Escola de Negócios, de São
Paulo, 70% da carga horária é preenchida por exercícios e atividades que
colocam os alunos para resolver problemas bem atuais, como gestão
estratégica de custo, já que todas as empresas estão revisando seu
orçamento neste ano.
Por outro lado, o desenvolvimento de habilidades de liderança ganhou
maior peso. “O profissional mais jovem que chega ao curso com pouca ou
nenhuma experiência de gestão precisa ser mais preparado”, diz José
Claudio Securato, presidente da Saint Paul. Uma novidade na sala de aula
é a liderança silenciosa, aquela que estimula a humildade.
“Hoje, desenvolver pessoas, uma das principais funções de um líder,
deve acontecer em silêncio, porque o gestor ideal não busca glória nem
fama pessoal; ao contrário, ele deve ser um bom ouvinte”, afirma.
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