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Crise econômica: é preciso ter muito cuidado com a melancolia, diz professor
São Paulo - Se inteligência emocional faz falta até em tempos de calma e prosperidade, que dirá em meio às pressões trazidas pela crise econômica.
O alerta vale para o Brasil, segundo o economista espanhol José Ramón
Pin, professor da IESE Business School, cujo programa de MBA executivo
foi considerado o melhor do mundo pelo jornal Financial Times em 2015.
A partir de seu contato com alunos em Madri e em São Paulo, o professor
observa paralelos entre os efeitos da crise que assola a Espanha desde 2008 e os possíveis impactos da estagnação econômica sobre o emocional dos profissionais brasileiros.
Em entrevista exclusiva a EXAME.com, Pin falou sobre como encontrar motivação em tempos difíceis, o papel do chefe para o equilíbrio emocional da equipe e as lições que o brasileiro pode aprender com a crise espanhola.
Veja a seguir os principais trechos da conversa:
EXAME.com: Crises econômicas costumam ser acompanhadas por
demissões, desvalorização salarial e uma grande pressão por resultados.
Como ficam as emoções nesse contexto?
José Ramón Pin: Toda crise é brutal, machuca. São
imensos os desafios sob o ponto de vista emocional. Você precisa ter
muita resiliência, aquele conceito emprestado da Física que mede a
capacidade de recuperação de um material após uma deformação. Na crise,
depois de cada golpe, é preciso recuperar as suas forças, seus sonhos. É
preciso ter vontade de trabalhar, apesar de tudo.
EXAME.com: Como conquistar essa serenidade?
José Ramón Pin: Para começar, você precisa estudar muito, mais do que nunca. A crise é o momento em que você mais precisa se preparar para o mercado, buscar novos conhecimentos e habilidades, mesmo que esteja empregado.
José Ramón Pin: Para começar, você precisa estudar muito, mais do que nunca. A crise é o momento em que você mais precisa se preparar para o mercado, buscar novos conhecimentos e habilidades, mesmo que esteja empregado.
Ter calma também tem a ver com a sua experiência de vida. Os mais
velhos, que já passaram por muitas fases econômicas, sabem que tudo
acaba se ajeitando no final. Ninguém morre por causa de uma crise. A
única coisa realmente proibida é se render, perder as esperanças. É
preciso ter espírito de luta.
EXAME.com: Então manter a cabeça fria é o segredo para sobreviver?
José Ramón Pin: Não sei se a resposta é manter a cabeça fria, mas certamente é preciso manter a cabeça ocupada. É importante que você tenha um projeto emocionante, que absorva as suas energias e o seu foco.
José Ramón Pin: Não sei se a resposta é manter a cabeça fria, mas certamente é preciso manter a cabeça ocupada. É importante que você tenha um projeto emocionante, que absorva as suas energias e o seu foco.
Se um dia você ficar desempregado,
isso se torna ainda mais importante. Além de buscar trabalho, é
importante estudar, ajudar a sua família, fazer exercícios físicos,
buscar atividades voluntárias. Isso produz uma sensação de que você está
sendo útil e que a crise não derrotou você. O importante é preencher o
seu tempo, para afastar a melancolia.
EXAME.com: Ficar contaminado pela melancolia coletiva é um risco?
José Ramón Pin: Sim, é preciso ter muito cuidado com a melancolia. Ainda mais num país que fala português, como o Brasil, e traz uma grande herança de Portugal, que tem uma forte cultura de nostalgia. Basta ver os fados portugueses, cheios de tristeza.
José Ramón Pin: Sim, é preciso ter muito cuidado com a melancolia. Ainda mais num país que fala português, como o Brasil, e traz uma grande herança de Portugal, que tem uma forte cultura de nostalgia. Basta ver os fados portugueses, cheios de tristeza.
A melancolia pode se instalar durante a crise, e o chefe é uma das
maiores vítimas desse sentimento. Mas é preciso que ele supere essa
negatividade e também ajude sua equipe a superá-la. Ele precisa motivar
as pessoas, fazer com que estejam sempre ocupadas e esqueçam a crise.
EXAME.com: Como deve ser a postura do chefe quando as coisas vão mal?
José Ramón Pin: A prioridade é manter os olhos das
pessoas brilhando. O líder também precisa tranquilizar a equipe, com
base em sua experiência, e dizer que crises passam, que o melhor a fazer
é se preparar para a retomada do crescimento.
Por outro lado, o chefe também é obrigado a tomar atitudes difíceis,
como demitir pessoas. Nessas horas é indispensável se colocar no lugar
do outro, explicar a situação com franqueza e sensibilidade. É o momento
para ter compaixão.
EXAME.com: Qual foi o impacto da crise sobre os profissionais espanhóis?
José Ramón Pin: A Espanha está num momento um pouco
melhor em termos de PIB, mas ainda convive com um desemprego de quase
25%. Um dos caminhos encontrados pelos espanhóis, principalmente mais
jovens, foi emigrar para outros países, inclusive para o Brasil.
Os que conseguiram manter seus empregos hoje estão mais bem preparados,
porque se tornaram profissionais mais resilientes. Mas conheço gente
que está desempregada há mais de dois anos e, como não conta mais com o
auxílio-desemprego, precisa se virar como pode. Mas eu diria que os
desesperados, hoje, são cada vez menos numerosos.
EXAME.com: O que os brasileiros podem aprender com a experiência da Espanha?
José Ramón Pin: Os espanhóis que sobreviveram foram
aqueles que aceitaram a redução de salários, buscaram sobrevivência fora
do país ou começaram seus próprios empreendimentos e aventuras
empresariais.
A lição que fica é que não há alternativa senão se recuperar dos golpes
que vai sofrer. É importante contar com a ajuda de outras pessoas, mas o
mais importante é ser professor de si mesmo. É dizer a si mesmo que a
crise representa uma oportunidade para se fortalecer e estar mais
preparado quando vierem tempos melhores. No Brasil, a crise certamente
vai trazer uma grande mudança de mentalidade.
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