São Paulo – Horas após a Câmara dos Deputados aprovar as novas regras do seguro-desemprego, os números da PNAD Contínua divulgados pelo IBGE mostraram que o desemprego está aumentando.

A taxa pulou de 6,5% no 4º trimestre de 2014 para 7,9% nos três primeiros meses deste ano. É a maior taxa desde o 1º trimestre de 2013, quando estava em 8%. 

A queda já aparecia em indicadores como a Pesquisa Mensal de Emprego do próprio IBGE, mas não deixa de ser uma má notícia para o govenro Dilma, que até pouco tempo tinha o emprego como um dos poucos indicadores positivos para mostrar.

E a queda até demorou a aparecer mais fortemente diante do crescimento zero em 2014 e a perspectiva para 2015 da maior recessão em mais de 20 anos (queda de 1,18%, de acordo com o último boletim Focus).

Como o mercado de trabalho brasileiro é bastante rígido e demitir é caro, as flutuações de atividade têm efeitos retardados sobre o emprego – para o bem e para o mal.

“Mercado de trabalho é a ultima coisa que a gente sente quando tem uma desaceleração. E esse não é o fim do processo: a taxa deve continuar subindo e chegar a cerca de 9% no meio do ano, quando é geralmente o pico”, prevê Sérgio Vale, economista da MB Associados.

O que era um movimento mais da indústria e da construção civil está chegando ao comércio e os serviços, e a tendência é das taxas ficarem mais elevadas por um bom tempo já que não há um horizonte de vigorosa via consumo ou investimento:

“É diferente daquele cenário a partir de 2003, com atividade mais forte. Estes números provavelmente vieram pra ficar”, diz Sérgio.
 

Força de trabalho e educação


Outra coisa que segurou o desemprego por um tempo foi a queda na participação da força de trabalho. um movimento que está se esgotando. A recessão faz com que mais pessoas busquem o mercado - e quando aumenta a força, aumenta também a desocupação.

A renda do Brasil ficou parada em R$ 1.840 entre o 1º trimestre de 2014 e o 1º trimestre de 2015, e isso em um cenário de inflação acima de 8%.

Isso significa que está ficando mais difícil para poucos membros sustentarem o orçamento de uma família:

“Nos últimos anos, a renda real do(a) chefe de família era suficiente e os mais jovens podiam optar só por estudar. Isso manteve o desemprego baixo, mas a desaceleração de renda real deve fazer com que a taxa de participação dê uma volta", diz Rodrigo Miyamoto, economista do Itaú Unibanco.
A maior taxa de desocupação é entre jovens do Sudeste entre 14 e 17 anos: 32,4%.

Idade 1º tri 2014 1º tri 2015
14-17 anos 22,0% 26,3%
18-24 anos 15,7% 17,6%
25-39 anos 6,6% 7,5%
40-59 anos 3,6% 4,0%
60 ou mais 2,1% 2,1%

"O número de estudantes também cresceu bastante nos últimos anos, e agora o aperto nos programas como o FIES tende fazer com que os mais jovens procurem mais o mercado de trabalho”, diz Rodrigo. Miyamoto, economista do Itaú Unibanco.

No geral, a taxa entre aqueles com ensino médio incompleto é quase três vezes maior do que entre aqueles sem instrução, mas grande parte dos com pouca instrução nem está na força:

Nível de instrução Desemprego
Nenhum 5,0%
Fundamental incompleto 6,7%
Fundamental completo 8,3%
Ensino médio incompleto 14,0%
Ensino médio completo 9,4%
Superior incompleto 9,1%
Superior completo 4,6%

O Nordeste lidera em desemprego entre as regiões, mas o aumento anual na região foi menos expressivo do que no Sudeste e Centro-Oeste:
 
Região     1º tri 2014   1º tri 2015
 
 Norte7,7%          8,7%

Nordeste 9,3%          9,6%
Sudeste 7,0%         8,0%
Sul 4,3%         5,1%
Centro-Oeste 5,8%         7,3%
Brasil 7,1%         7,9%