quarta-feira, 30 de março de 2016

Bolsa apresenta alta com desembarque do PMDB do governo


Segundo operadores, jogo político estimula apetite ao risco dos investidores; dólar mais fraco no exterior também se desvaloriza ante o real

Publicidade
Bovespa registra ganhos após saída do PMDB
Bovespa registra ganhos após saída do PMDB
SÃO PAULO - A Bovespa está renovando máximas desde a abertura do pregão, enquanto o dólar se mantém em queda e os juros futuros oscilam mais próximos da estabilidade. Segundo operadores, o apetite ao risco dos investidores é estimulado pela percepção de fortalecimento do impeachment após o desembarque do PMDB do governo Dilma, além da sinalização da presidente do Federal Reserve de que não há intenção de elevar os juros no país no curto prazo e da alta do petróleo. O dólar mais fraco no exterior também favorece a desvalorização frente o real.

Na Bolsa brasileira, às 11h32, o Ibovespa registrou uma máxima, com alta de 1,60%, aos 51.972,86 pontos. O destaque positivo era Gerdau PN, com ganho de 12,50% no mesmo horário, após o Bank of America Merrill Lynch elevar a recomendação da companhia para compra. Petrobrás também computava ganhos de mais de 5%, com o avanço do petróleo. Apesar da queda do minério de ferro, de 2,7% hoje para a US$ 53,2 a tonelada seca, as ações da Vale PNA subiam 6,45%% e a ON, 7,95%, acompanhando a valorização de mineradoras no exterior, após os comentários dovish da presidente do Federal Reserve ontem. Em Nova York, com exceção da Coca-cola e Verizon, todas as demais 28 ações que compõem o Dow Jones operavam em alta.

No mercado de câmbio, às 11h50, o dólar à vista estava cotado a R$ 3,6088, com queda de 0,73%. O dólar futuro de abril recuava 0,67%, a R$ 3,61.

Na renda fixa, a política segue no radar, ao passo que o exterior traz pressão de baixa para as taxas, via dólar. O DI para janeiro de 2021 estava em 13,49%, de 13,50% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2018 exibia taxa de 13,35%, de 13,30%. O vencimento para janeiro de 2017 estava em 13,735%, de 13,725% no ajuste de ontem.

No noticiário político, Pesquisa Ibope/CNI com 2.002 pessoas em 142 municípios mostrou que a porcentagem dos que consideram o governo da presidente Dilma Rousseff ruim ou péssimo oscilou de 70% para 69% de dezembro para março; ótimo ou bom, passou de 9% para 10%; e regular, de 20% para 19%. Além disso, em março 82% desaprovam a maneira de governar de Dilma, mesmo patamar desde setembro de 2015, enquanto os que aprovam se manteve em 14%. Já a parcela dos que não confiam nela oscilou de 78% em dezembro para 80% em março - o pior nível desde o governo José Sarney (80% em junho de 1989).

Em relação aos fundamentos econômicos, o setor público consolidado (Governo Central, Estados, municípios e estatais, com exceção da Petrobrás e Eletrobras), apresentou déficit primário de R$ 23,040 bilhões em fevereiro, segundo o Banco Central (BC). É o pior resultado para o mês da série histórica iniciada em dezembro de 2001.

Pesquisas apontam as causas da diferença salarial entre homens e mulheres


Estudo mostra que, quando as mulheres entram num campo de trabalho em grande número, o pagamento diminui



A média anual de remuneração das mulheres teima em permanecer cerca de 20% abaixo da dos homens.

E o motivo pode ser uma realidade preocupante, segundo uma nova pesquisa: o trabalho feito pelas mulheres simplesmente não é tão valorizado.

A frase soa como uma banalidade, mas o estudo acadêmico por trás dela ajuda a explicar a persistência da diferença de pagamento apesar de fatores que há tempos eram considerados culpados haverem desaparecido. As mulheres, por exemplo, têm hoje mais anos de escolaridade do que os homens, quase tanta experiência quanto e as mesmas possibilidades de perseguir uma carreira com altos salários. A diferença salarial não pode mais ser descartada com observações simplistas de que as mulheres superam os homens em trabalhos que pagam menos, como ensino e serviço social.

Um novo estudo de pesquisadores da Universidade Cornell descobriu que a diferença entre as carreiras e as indústrias em que os homens e as mulheres trabalham se tornou recentemente a maior causa única da discrepância salarial entre os gêneros, sendo responsável por mais da metade dela. Na verdade, segundo outro estudo, quando as mulheres entram em algum campo em grandes números, o pagamento diminui - pelo mesmo trabalho que antes mais homens faziam.

Considere as discrepâncias em empregos que requerem educação formal e responsabilidade parecidas, ou habilidades, mas dividido por gênero. As remunerações médias para gerentes de tecnologia da informação (que na maioria são homens) são 27% mais altas do que para os gerentes de recursos humanos (em que a maioria é de mulheres), de acordo com dados do Escritório de Estatísticas do Trabalho. Na outa ponta do espectro salarial, encarregados da limpeza (normalmente homens) ganham 22 por cento a mais do que empregadas e faxineiras domésticas (em geral mulheres).

Quando as mulheres começam a entrar em um trabalho, "ele passa a não parecer mais tão importante para os resultados ou a requerer tanta habilidade", explica Paula England, professora de Sociologia da Universidade Nova York. "O preconceito baseado em gênero está nessas decisões."

Ela é coautora de um dos mais abrangentes estudos sobre esse fenômeno, que usa dados do censo americano de 1950 a 2000, quando a parcela de mulheres aumentou em muitos campos. O estudo, que conduziu com Asaf Levanon, da Universidade de Haifa, em Israel, e Paul Allison, da Universidade da Pensilvânia, descobriu que quando as mulheres entraram em algumas áreas em grandes números, essas carreiras começaram a pagar menos, mesmo depois de descontadas a educação, a experiência no emprego, as habilidades, a raça e a geografia.

E existe evidência substancial de que os empregadores dão menos valor a trabalhos feitos pelas mulheres. "Não é que as mulheres estão sempre pegando as vagas menores em termos de habilidade ou importância. É apenas que os patrões decidem pagar menos por elas", diz Paula.

Um exemplo flagrante pode ser encontrado no campo da recreação - trabalhar em parques ou acampamentos importantes - em vagas que eram predominantemente masculinas e se tornaram femininas de 1950 a 2000. Os salários médios por hora nesse setor diminuíram 57 pontos percentuais, contabilizando a mudança no valor do dólar, segundo uma fórmula complexa usada por Levanon. O trabalho de bilheteiro também foi de principalmente masculino para feminino durante esse período e os salários caíram 43 pontos percentuais.

A mesma coisa aconteceu quando as mulheres se tornaram designers (os pagamentos caíram 34 pontos percentuais) em grandes números, faxineiras (queda de 21 pontos percentuais) e biólogas (diminuição de 18 pontos percentuais no salário). O oposto também foi verdade quando um trabalho atraiu mais homens. Programação de computadores, por exemplo, costumava ser um trabalho relativamente insignificante feito por mulheres. Mas, quando os programadores começaram a superar as mulheres nas vagas, o setor passou a pagar mais e ganhou prestígio.

Apesar de a diferença vir diminuindo, continua grande. No geral, em setores em que os homens são a maioria a média de pagamento é de US$962 por semana - 21 por cento mais alta do que em ocupações em que a maioria é de trabalhadoras, segundo outro estudo novo, publicado pela Third Way, empresa de pesquisa que tem como objetivo promover uma política de ideias de centro.

Hoje, as discrepâncias nos tipos de trabalho de homens e mulheres dão conta de 51% da diferença salarial, uma porção maior do que em 1980, segundo uma nova pesquisa definitiva feita por Francine D. Blau e Laurence M. Kahn, economistas da Cornell.

As mulheres estão ocupando vagas que historicamente eram dos homens em mais campos administrativos do que como operárias. Ainda assim, a diferença salarial é maior em empregos administrativos que pagam mais, segundo Francine e Kahn. Uma razão para isso pode ser que esses empregos demandem mais horas de trabalho e períodos menos flexíveis, e a pesquisa mostrou que os trabalhadores são desproporcionalmente penalizados por desejar horários mais livres.

Dos 30 empregos que mais pagam, incluindo executivos-chefes, arquitetos e engenheiros de computação, 26 são dominados por homens, de acordo com os dados do Departamento de Trabalho analisados por Emily Liner, autora do relatório da Third Way. Dos 30 que pagam menos, incluindo merendeiras, domésticas e cuidadores de crianças, 23 são dominados pelas mulheres.

Muitas diferenças que contribuíram para a discrepância salarial diminuíram ou desapareceram desde 1980, claro. Hoje as mulheres em geral têm mais educação formal do que os homens e quase tanta experiência de trabalho. As mulheres passaram das tarefas administrativas para empregos de gerenciamento e se tornaram um pouco mais propensas do que os homens a ser sindicalizadas. Essas duas mudanças ajudaram a melhorar a paridade salarial, segundo a pesquisa de Francine e Kahn.

Sim, as mulheres algumas vezes escolhem ocupações que pagam menos porque são atraídas por vagas que, por acaso, oferecem salários menores, como cuidadoras ou voluntárias, ou porque querem empregos que demandam menos, já que possuem responsabilidades familiares fora do trabalho. Mas muitos cientistas sociais dizem que existem outros fatores frequentemente difíceis de quantificar, como preconceito de gênero e pressão social, que diminuem os salários para o trabalho feminino.

Paula England, em outra pesquisa, descobriu que qualquer vaga que envolva tomar conta dos outros, como enfermagem ou professor de pré-escola, paga menos, mesmo depois de descartar a parcela desproporcional de mulheres trabalhando.

Depois de peneirar os dados, Francine e Kahn concluíram que a discriminação pura pode ser responsável por nove por cento da diferença salarial. A discriminação também é capaz de, indiretamente, responder por uma porção ainda maior de discrepância salarial, segundo os pesquisadores, ao, por exemplo, desencorajar mulheres a seguir carreiras que pagam mais e que são dominadas por homens.

"Parte disso, sem dúvida, tem a ver com as preferências femininas, seja por alguns tipos de trabalho ou por flexibilidade, mas podem existir barreiras para a entrada de trabalhadoras e elas podem ser muito sutis. Isso deve acontecer porque a própria cultura e a dominância masculina sobre as carreiras agem como um impedimento", afirma Francine.


The New York Times News Service/Syndicate - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Multa do FGTS pode ameaçar trabalhadores com mais de 10 anos de contrato


O senador Donizeti Nogueira (PT/TO) apresentou no último dia 10 de março um projeto que eleva drasticamente a multa para as empresas que mantiverem em seus quadros empregados com mais de 10 anos de casa

Danilo Pieri Pereira, Administradores.com,  
 
 
Reprodução/ Valdecir Galor/SMCS

Manter um colaborar por mais de 30 anos pode render um “prêmio” amargo para as empresas brasileiras. Tramita no Senado Federal um projeto de lei que visa aumentar a multa do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em até 15% para empresas que mantiverem funcionários em seus quadros por mais tempo.

O senador Donizeti Nogueira (PT/TO) apresentou, no último dia 10 de março, o Projeto de Lei (PLS 90/16), elevando drasticamente a multa do fundo, para as empresas que mantiverem em seus quadros empregados com mais de 10 anos de casa.

Trata-se de um grave retrocesso, que pode aumentar o número de demissões e complicar ainda mais a empregabilidade de trabalhadores, afetando de forma mais contundente colaboradores com mais tempo de serviço: segundo a proposta, em caso de demissão sem justa causa de um colaborador com mais de 30 anos de contrato, a empresa responderá por uma multa de 55% do montante de todos os depósitos realizados durante a vigência do contrato de trabalho.

O aumento de alíquotas segue progressivamente a partir do décimo ano de contrato, sendo que somente não será punido, aquele empregador que mandar embora seu funcionário, antes do aniversário de 10 anos de casa, única hipótese em que a multa do FGTS continuará sendo a atual, de 40%.

Em momento de crise e dificuldade de recolocação profissional, o projeto do senador petista surge como uma bomba no mercado de trabalho e pode ocasionar a extinção de inúmeros contratos de trabalho, aumentando os gastos do governo com o seguro-desemprego. Em outras palavras, o aumento na penalidade para as empresas que mantém empregados em seus quadros por maiores períodos, por si só já representaria uma contradição, todavia a proposta se revela ainda mais dramática em tempos de crise representando uma grave ameaça ao pleno emprego e à manutenção dos postos de trabalho.

O projeto seguirá para o Plenário do Senado, onde poderão ser apresentadas emendas, até seguir para a votação final e encaminhamento para a Câmara dos Deputados.

É importante ressaltar que no próprio Congresso Nacional existem outros projetos que visam extinguir a multa do FGTS. Isso porque em demissões sem justa causa, a empresa deposita nessa conta vinculada uma indenização de 40%, calculada sobre o montante total acumulado em seu FGTS durante o contrato de trabalho.

Entretanto, a Lei Complementar 110/2001 instituiu a contribuição social adicional de 10%, incidente sobre o montante do FGTS, para os casos de demissão sem justa causa, sem prazo de vigência. Portanto, a multa não é de 40%, e sim 50%, muito embora os 10% extras não sejam destinados ao trabalhador.

Esse adicional serviria, conforme a lei, para cobrir o rombo no FGTS aberto pela decisão da Justiça de aplicar correção integral durante os planos Verão e Collor I. A multa de 10% não é depositada na conta do trabalhador, ela vai direto para os cofres do governo.

Entretanto, a multa de 10% do FGTS tornou-se indevida a partir de março de 2012 e, mesmo assim, vem sendo recolhida por milhões de empresas aos cofres federais. A multa também é tema de discussão no Poder Judiciário e aguarda a decisão em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF)


Danilo Pieri Pereira  - Advogado especialista em Direito e Processo do Trabalho e sócio do escritório Baraldi Mélega Advogados

Setor público tem déficit recorde de R$ 23 bilhões, diz BC


Ueslei Marcelino/Reuters
Fachada da sede do Banco Central em Brasília
Banco Central: em fevereiro de 2015, o déficit foi bem menor, de R$ 2,3 bilhões


O setor público consolidado, formado pela União, estados e municípios, apresentou em fevereiro último saldo negativo nas contas públicas, de acordo com dados do Banco Central (BC), divulgados hoje (30), em Brasília.

O déficit primário, receitas menos despesas, sem considerar os gastos com juros, ficou em R$ 23,040 bilhões, o pior resultado para meses de fevereiro na série histórica, iniciada em dezembro de 2001.

Em fevereiro de 2015, o déficit foi bem menor: R$ 2,3 bilhões.

Em 12 meses encerrados em fevereiro, o déficit primário ficou em R$ 125,139 bilhões, o que corresponde a 2,11% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país.

Em fevereiro de 2016, o Governo Central (Previdência, Banco Central e Tesouro Nacional) registrou déficit primário de R$ 26,433 bilhões.

Os governos estaduais acusaram superávit primário de R$ 2,109 bilhões, e os municipais de R$ 622 milhões.

As empresas estatais federais, estaduais e municipais, excluídas as dos grupos Petrobras e Eletrobras, anotaram superávit primário de R$ 662 milhões no mês passado.
 

Déficit primário


Na última segunda-feira (28), o governo enviou ao Congresso Nacional projeto para alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e permitir que a União possa fechar o ano com déficit primário de R$ 96,7 bilhões.

O novo déficit é de R$ 36,45 bilhões, maior que o anunciado em fevereiro, quando o governo tinha anunciado que pediria autorização para encerrar o ano com déficit de R$ 60,2 bilhões.

O déficit primário é o resultado negativo das contas do governo antes do pagamento dos juros da dívida pública.

O resultado negativo poderá ficar maior porque uma cláusula com valor em aberto permitirá o abatimento das renegociações das dívidas dos estados e do Distrito Federal.

Segundo o Ministério da Fazenda, a União pode deixar de receber até R$ 6 bilhões este ano, o que elevaria o déficit para R$ 102,7 bilhões.

Em fevereiro, os gastos com os juros que incidem sobre a dívida somaram R$ 29,787 bilhões, contra R$ 56,337 bilhões do mesmo mês em 2015.

O déficit nominal, formado pelo resultado primário e as despesas com juros, totalizou R$ 52,827 bilhões no mês passado, ante R$ 58,637 bilhões de fevereiro de 2015.

Em 12 meses encerrados em fevereiro, o déficit nominal ficou em R$ 638,572 bilhões, o que corresponde a 10,75% do PIB.

A dívida líquida do setor público (balanço entre o total de créditos e débitos dos governos federal, estaduais e municipais) atingiu R$ 2,186 trilhões em fevereiro, o que corresponde a 36,8% do PIB, com elevação de 1 ponto percentual em relação a janeiro.

A dívida bruta (contabiliza apenas os passivos dos governos federal, estaduais e municipais) somou R$ 4,017 trilhões ou 67,6% do PIB, alta de 0,2 ponto percentual em relação ao mês anterior.

Dilma diz que processo de impeachment da Câmara é golpista




Adriano Machado/Reuters
A presidente Dilma Rousseff. Em 23/03/2016
Dilma Rousseff: "Para o impeachment estar correto a Constituição exige que se caracterize crime de responsabilidade", disse


Brasília - A presidenta Dilma Rousseff voltou a afirmar hoje (30) que o processo de impeachment aberto contra ela na Câmara dos Deputados é golpe, porque não há crime de responsabilidade, apesar de o instrumento jurídico estar previsto na Constituição.

“É absolutamente má-fé dizer que, por isso, todo impeachment está correto. Para estar correto, a Constituição exige que se caracterize crime de responsabilidade. Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe. Não adianta fingir que nós estamos discutindo em tese o impeachment. 

Estamos discutindo um impeachment muito concreto e sem crime de responsabilidade”, disse.

Dilma fez a declaração durante cerimônia de lançamento da terceira fase do Programa Minha Casa, Minha Vida, no Palácio do Planalto.

Aos gritos de “Não vai ter golpe”, representantes de movimentos sociais presentes à solenidade se manifestavam contra o processo de impeachment na Câmara dos Deputados.

Eles também gritaram palavras de ordem contra o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o juiz federal Sérgio Moro, chamando-os de “golpistas”.

Por aclamação, o Diretório Nacional do PMDB decidiu ontem (29) deixar a base aliada do governo da presidenta Dilma Rousseff.

A decisão foi anunciada pelo senador Romero Jucá (RR), vice-presidente da legenda, que substituiu o presidente nacional do partido.

O PMDB também decidiu que os ministros do partido deverão deixar os cargos. Participaram da reunião mais de 100 membros do Diretório Nacional do PMDB.
 

terça-feira, 29 de março de 2016

O PMDB abala o governo em apenas três minutos


A saída já era esperada, mas a rapidez do anúncio mostra o desprezo do partido com o governo

LEANDRO LOYOLA 
 
29/03/2016 - 16h36 - Atualizado 29/03/2016 16h38 
 
 
A presidente Dilma Rousseff sabia que ia acontecer, seus ministros e assessores mais próximos também. Mas houve um pouco de crueldade no rito final. O PMDB gastou apenas três minutos de reunião para anunciar que estava fora do governo, nesta terça, em Brasília. Desembarcou de uma aliança de uma década com o PT e abriu mão de sete ministérios e mais de 600 cargos sem qualquer piedade, pompa ou enrolação, num intervalo de tempo suficiente para fritar um ovo. O PMDB não deixa dúvidas que considera o governo falido. Dilma e o PT devem brigar até o fim contra o processo de impeachment que corre na Câmara, mas o desembarque do PMDB nos termos de agora há pouco indicam as poucas chances de sucesso dessa empreitada.


Reunião do PMDB que oficializou a saída do partido do governo da Presidente Dilma Roussef (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)


O governo Dilma vive uma sucessão de terremotos, que geram desabamentos em sua sustentação. A saída do PMDB é o maior deles, que pode levar a abalos menores, mas sensíveis a quem está debilitado. O próximo passo é saber quem seguirá o mesmo caminho. Afinal, se o maior aliado, com tantos cargos, tanta proeminência, deixou o governo com tal sem cerimônia, o que farão partidos menores, donos de menos agrados, em um governo em tão avançado estágio de deterioração política? 

Como na política não há espaço para heroísmos, apenas para pragmatismo, é natural que outras legendas tomem atitude semelhante – ou, na melhor das hipóteses, liberem seus integrantes para votar como quiserem no caso do impeachment.

Como medida prática mais urgente, Dilma terá de escolher novos ministros para tocar a administração nos postos abandonados pelo PMDB. Será difícil recrutar interessados, menos ainda interessados que tragam algo importante. A quem oferecer cargos que devem durar pouco tempo? 

Poucos políticos são desinteressados o suficiente para aceitar algo assim. Todos estão, no momento, mais interessados no vice-presidente da República, Michel Temer, e no que pode ser seu eventual governo. O impeachment é um processo complexo, sujeito a diversas contingências. O governo ainda joga este jogo, ainda busca votos para barrar a iniciativa. Entretanto, o Palácio do Planalto sabe que perdeu uma das principais batalhas, daquelas que deixam até os líderes mais aguerridos e fiéis sem esperança. 

PMDB rompe aliança com PT e proíbe cargos no governo





Lula Marques/Agência PT
A presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer em agosto de 2015
Michel Temer e Dilma Rousseff: partido de vice e da presidente não são mais aliados
 
 
 
 
São Paulo – O PMDB confirmou na tarde desta terça-feira (29) a ruptura com o governo de Dilma Rousseff.

A decisão foi feita por aclamação em uma reunião que durou cerca de três minutos. O vice-presidente Michel Temer (presidente do PMDB), assim como os seis ministros do partido, não participaram do evento, comandado pelo senador Romero Jucá (RR).
Publicidade

"A partir de hoje, dessa reunião histórica, o PMDB se retira da base do governo Dilma Rousseff. Ninguém está autorizado a exercer qualquer cargo federal em nome do PMDB", disse Jucá. Alguns peemedebistas gritaram "Fora PT" e "Brasil pra frente, Temer presidente". 

De acordo com a moção aprovada na reunião, os seis ministros, assim como 600 membros da sigla que trabalham para o governo, "devem deixar o cargo imediatamente". Na noite de ontem, o então ministro do Turismo Henrique Alves se antecipou ao posicionamento da sigla e pediu demissão

Além da vice-presidência do Executivo e do comando da Câmara e do Senado, o PMDB também controla a maior bancada do Congresso. Sem o apoio do partido, o risco do fim de mandato de Dilma aumenta. 
 

Debandada


O temor atual do Executivo é que a saída do PMDB possa, a partir de agora, provocar a saída de outras legendas da base aliada, como o PRB e o PP.

Em entrevista a veículos de imprensa estrangeiros, o ex-presidente Lula disse que a estratégia do PT daqui para frente será o de atrair setores do PMDB que ainda são simpáticos à presidente Dilma.
 

Em 2003, quando o ex-presidente foi eleito, integrantes do PMDB ocuparam postos do governo, mesmo sem a sigla ter aderido formalmente . 

As fases do casamento

Ueslei Marcelino/ Reuters
Michel Temer e Dilma Rousseff no Palácio do Planalto - 24/11/2015

 

Começo de namoro

Em 2002, enquanto o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva sonhava com o mais alto cargo político, a maior parte do PMDB apoiava a campanha do tucano José Serra à presidência.

Depois dos resultados das eleições – Lula eleito presidente com 53 milhões de votos e o PMDB com cinco governadores, 74 deputados e 19 senadores –, as duas siglas começaram a esboçar uma aliança que foi se fortalecendo ao longo dos dois primeiros mandatos do PT.

“O Lula começou o governo com pouco PMDB e foi aumentando a participação do partido gradativamente. No final, quase todos apoiavam o ex-presidente. Durante o mensalão, ele praticamente dividiu o governo no meio com os peemedebistas”, diz Ricardo Sennes, da consultoria política Prospectiva.

O bom relacionamento culminou na escolha de Michel Temer como vice-presidente de Dilma Rousseff nas eleições de 2010.
 

A primeira crise 


Se na era Lula a articulação com o PMDB foi se desenvolvendo ao longo dos anos, com Dilma o processo foi inverso.

“Enquanto Lula abraçava todo mundo, Dilma foi centralizando sua gestão em um gabinete que só pertencia a ela. Não era nem do PT, nem do PMDB. Em 2012, em meio a muitas demissões, a presidente tirou do governo muitos peemedebistas, o que acabou desgastando a relação com Temer e outras lideranças”, diz Sennes.

Em janeiro de 2014, o PMDB chegou a cogitar uma saída drástica da base aliada depois que a presidente resistiu em dar mais um ministério à sigla, que, na época, comandava cinco pastas (Minas e Energia, Previdência, Turismo, Agricultura e Secretaria de Aviação Civil). Depois que a presidente cedeu, o partido decidiu continuar no governo.
 

Discussão de relacionamento


No segundo mandato de Dilma, os conflitos entre PT e PMDB ficaram ainda mais públicos.

Em março de 2015, o então ministro da Educação Cid Gomes (ex-PROS) foi convocado pela Câmara para dar explicações sobre uma declaração dada durante uma reunião em uma universidade. Na ocasião, Gomes afirmou que a Casa tinha de 300 a 400 parlamentares que “achacam”.

No plenário, Gomes subiu o tom e fez um apelo aos deputados "oportunistas" - que detêm cargos na administração federal, mas não dão apoio ao governo no Congresso - para que "larguem o osso".

Depois do depoimento, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o PMDB ameaçaram deixar o governo caso Gomes não fosse demitido. A demissão – que partiu de Cid Gomes – foi anunciada por Cunha antes mesmo de ter sido oficializada.
 

O filho rebelde


Em julho do ano passado, Eduardo Cunha anunciou que, sozinho, faria parte da oposição de Dilma Rousseff. A decisão foi tomada logo após o peemedebista ser acusado pelo lobista Julio Camargo de receber 5 milhões de dólares em um esquema de corrupção na Petrobras.

Depois da ruptura, o presidente da Câmara assumiu uma nova posição no jogo político, se tornando uma peça chave no processo de impeachment de Dilma – e influenciando também no aumento dos conflitos entre petistas e peemedebistas.
 

A carta de desabafo


Em dezembro, o desgaste entre PT e PMDB foi, mais uma vez, levado à público com o vazamento de uma carta desabafo escrita por Temer e enderçada à Dilma.

Em 17 parágrafos, o vice-presidente expõe suas mágoas, diz que Dilma não confia em sua figura e que ele passou os quatro primeiros anos de governo sendo um “vice decorativo”.

“Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas”, escreveu Temer.

No final da carta, uma frase dá o tom do que viria daí para a frente. “Sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção”.
 

O fim da relação?


Nesta terça-feira, o PMDB deve decidir em qual posição irá atuar daqui para a frente. Na lista de opções há desde o rompimento total da aliança e a entrega dos sete ministérios comandados pela sigla até um “abandono parcial”.

Na manhã de ontem, Dilma se reuniu com ministros peemedebistas. A atitude foi interpretada como uma das últimas tentativas do Planalto para salvar a relação entre os dois partidos. A reação dos ministros, no entanto, não foi das mais agradáveis, com alguns deles sinalizando um possível abandono do cargo.

Além da perda de votos no processo do impeachment, o temor atual do Planalto é que a saída do PMDB possa, entre outros efeitos, provocar a saída de outras legendas da base aliada, como o PRB e o PP.
 

A divisão do (maior) bem


Caso Dilma Rousseff saia da presidência, o PMDB herda o cargo de Presidente da República e se torna ainda mais poderoso, concentrando o comando do Executivo, da Câmara e do Senado. Apesar disso, garantem especialistas, o governo de Temer não será dos mais fáceis.

“O PMDB é um partido conhecido por sustentar a governabilidade. Toda a máquina do PMDB está ajeitada para eleger o máximo de deputados possíveis para, com isso, ter poder de barganha. Ele nunca mirou o Executivo então será difícil ocupar essa posição”, diz Rafael Araújo, cientista político da PUC-SP.

Um dos maiores desafios a serem enfrentados, segundo Araújo, é lidar com próprio PT, só que dessa vez como oposição. “É possível que haja uma união entre partidos menores e de esquerda e a calma do PMDB não duraria mais que dois meses. Movimentos sociais devem ocupar os espaços e o desenrolar da Operação Lava Jato pode complicar a vida de figuras do partido”, diz ele.

É quase impossível prever qual será o futuro do PMDB sem o PT e do PT sem o PMDB. As duas siglas, no entanto, dificilmente voltarão para a lua-de-mel.