A presidente Dilma Rousseff sabia que ia acontecer, seus ministros e assessores mais próximos também. Mas houve um pouco de crueldade no rito final. O PMDB gastou apenas três minutos de reunião para anunciar que estava fora do governo,
nesta terça, em Brasília. Desembarcou de uma aliança de uma década com o
PT e abriu mão de sete ministérios e mais de 600 cargos sem qualquer
piedade, pompa ou enrolação, num intervalo de tempo suficiente para
fritar um ovo. O PMDB não deixa dúvidas que considera o governo falido.
Dilma e o PT devem brigar até o fim contra o processo de impeachment que
corre na Câmara, mas o desembarque do PMDB nos termos de agora há pouco
indicam as poucas chances de sucesso dessa empreitada.
O governo Dilma vive uma sucessão de terremotos, que geram desabamentos
em sua sustentação. A saída do PMDB é o maior deles, que pode levar a
abalos menores, mas sensíveis a quem está debilitado. O próximo passo é
saber quem seguirá o mesmo caminho. Afinal, se o maior aliado, com
tantos cargos, tanta proeminência, deixou o governo com tal sem
cerimônia, o que farão partidos menores, donos de menos agrados, em um
governo em tão avançado estágio de deterioração política?
Como na
política não há espaço para heroísmos, apenas para pragmatismo, é
natural que outras legendas tomem atitude semelhante – ou, na melhor das
hipóteses, liberem seus integrantes para votar como quiserem no caso do
impeachment.
Como medida prática mais urgente, Dilma terá de escolher novos
ministros para tocar a administração nos postos abandonados pelo PMDB.
Será difícil recrutar interessados, menos ainda interessados que tragam
algo importante. A quem oferecer cargos que devem durar pouco tempo?
Poucos políticos são desinteressados o suficiente para aceitar algo
assim. Todos estão, no momento, mais interessados no vice-presidente da
República, Michel Temer, e no que pode ser seu eventual governo. O
impeachment é um processo complexo, sujeito a diversas contingências. O
governo ainda joga este jogo, ainda busca votos para barrar a
iniciativa. Entretanto, o Palácio do Planalto sabe que perdeu uma das
principais batalhas, daquelas que deixam até os líderes mais aguerridos e
fiéis sem esperança.
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